Entrevistado: Damião Miranda Ferreira
Entrevistado: Damião Miranda Ferreira
Grupo ao qual pertence: Praia de Itapoã
Entrevistador: Maria Clara Medeiros Santos Neves
Data da entrevista: 03/10/2013
Local / data de nascimento: Vila Velha, Itapuã, 27/09/1959
Nome do pai: Alarico, pescador
Nome da mãe: Maria Miranda, artesã de redes
Casado, 5 filhos.
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[O senhor pode identificar o grupo a qual o senhor pertence?]
O grupo de pesca aqui é os amigos mesmo de Itapuã mesmo, aqui nós somos cada um pra si, nós não temos grupo unido. Cada um trabalha com quem quer, quando não quer vai sozinho.
[O senhor se lembra dos seus avós?]
Minha avó Tereza nasceu e faleceu aqui em Itapuã com 101 anos, era pescadora e fazia rede, assim como minha mãe. Não tenho lembrança do que o meu avô fazia, porque quando ele morreu eu era muita criancinha, não cheguei a guardar o que ele fazia.
[Conte um pouco da história dos seus avós paternos e de seus pais.]
Não cheguei a conhecer meus avós paternos, mas trabalhavam na área de pesca, porque é de pai para filho. O mesmo ramo que eles tinham já vai ficando os filhos. Só hoje em dia que as coisas estão mais difíceis. Pescador que tem filho hoje em dia já não quer que os filhos tenham uma profissão dessas, porque não está dando futuro nenhum. Então, estão estudando para arrumar outro serviço fora porque, pesca aqui, já deu. Antigamente, dava muita coisa aqui, agora não dá mais. Depois que colocaram uma traineira aí fora, é balão ocupando a vida dos pobres aqui, não tem condições de mais nada aqui.
Me recordo um pouquinho do meu pai, ainda está vivo com oitenta e poucos anos. Esta em cima da cama adoentado, mas ainda está vivo, graças a Deus. Ele era pescador, quando não dava pescado apanhava papel pela rua e latinha. Aí bateu a doença nele devido à idade já bastante pesada, caiu de cama e quando caiu, caiu de vez, até hoje não levantou ainda, já têm uns dois anos.
[E de seus avós da parte de mãe, o senhor lembra?]
Também não me lembro dos meus avós de parte de mãe. Da minha avó Tereza, me lembro pouco, não me recordo do sobrenome. Ela trabalhou muito em roça também naquela época, depois é que ela veio para a praia e começou a fazer rede, apanhava lenha no mato, porque naquela época não tinha gás, não tinha nada, o fogão era de lenha. Ela perdeu uma vista, furou uma vista fazendo lenha, ficou com uma vista só e foi indo Deus levou embora.
[A sua mãe e sua avó participaram de alguma forma da pesca? O que elas faziam?]
Demais. Elas faziam redes para os pescadores, teciam por braça. Hoje em dia é tudo no metro. Antigamente era por braça, era R$0,50, R$0,30 uma braça de rede e o pescador fazia 15, 20 braças de rede para arrumar dinheiro para botar o que de comer dentro de casa, porque as coisas eram muito difíceis. Enquanto os maridos estavam no mar, elas estavam fazendo rede na praia.
[O senhor faz redes?]
Eu faço rede como minha avó fazia. Eu aprendi com ela.
[Aqui na praia o senhor conhece outros pescadores que fazem rede como o senhor?]
Conheço demais. A maior parte dos pescadores todos eles sabem fazer rede.
[Vocês hoje compram as redes?]
A gente compra pronta porque é mais fácil comprar pronto do que fazer, porque gasta muito tempo para construir uma rede. Hoje em dia a gente constrói uma rede de dois, três meses, coloca na água vem um barco e rouba, o baloeiro vem corta, e deixa ir embora e a gente compra uma rede pronta que não é do jeito que a gente gosta, mas sai mais barato para a gente e é mais vantagem.
[Na sua família tem tios ou tias que fazem redes?]
Já faleceram todos. Mas eles faziam. Eu tinha uma tia, que era Serafina, e outra, Eugênia, elas faziam. Os pescadores daqui antigamente só viviam da pesca mesmo, mas já morreram quase todos. Poucos pescadores têm aqui hoje em dia.
[Toda a sua família é daqui de Itapuã ou vieram de fora?]
Toda daqui. Meus avós, irmãos e irmãs. Moramos quase todos colados um com o outro, todos juntos e unidos.
[Alguém da sua família faz barco?]
Não. Barco não.
[E a culinária, comida com frutos-do-mar, quem faz?]
A culinária só dá para o gasto mesmo. Às vezes se quer uma coisa diferente, vai na ilha e tira para dentro de casa mesmo, para o uso. Minha esposa faz, minha mãe sabe fazer e filhas sabem fazer também.
[E os pratos?]
Normalmente fazem moqueca de sururu, tinha o burdigão que tirava do mangue, ensopadinho.
O sururu hoje em dia não pode nem tirar, tem os meses certos de tirar. Nem sei explicar qual o mês. Nós recebemos um “defeso” sobre o sururu. Todo ano nós recebemos o defeso, são quatro meses, e esse defeso é para a gente não tirar o sururu mesmo. Não pode ir à ilha para tirar o sururu.
[Qual a sua rotina, a que horas acorda e o que faz?]
Eu acordo 4h da manhã, 3h da manhã, e o que eu faço é olhar logo o mar para ver se dá para ir para dentro da água. Todo dia é dia de ir para o mar, depende de o tempo estar bom.
[Em que condições o tempo está bom?]
O que nos atrapalha é só quando bate muita frente fria. Às vezes o mar fica agitado e não dá para sair com o barquinho. Mas demais, se o mar não tiver onda e o vento estiver fraco, a gente sai de mar adentro.
[Como foi sua infância?]
A minha infância foi toda vida de pesca. Eu vivia pela praia, jogando tarrafa, pescando na beira da areia, pescando berezinho, sozinho e Deus, pescando peixinho nas beiradas. Pegando uma idade mais ou menos, meu pai foi me levando para o mar. Às vezes batia o barco enchia de água. Eles me davam conselho para eu não ir com meu pai, que meu pai ia me matar, mas a pessoa pequena é teimosa e eu ia. E graças a Deus hoje a minha profissão é essa aí.
[E as brincadeiras, tinha algum jogo?]
Nós jogávamos bola. Quando batia dia de domingo nós íamos todos para o campo jogar bola. Às vezes viajámos, entravámos num ônibus e saíamos para o Morro do Carneiro, para Goiabeiras, esses cantões aí, para o lado de Cariacica, pra jogar bola. Eu tinha uma base de uns 23, 24 anos por aí. Depois me machuquei e parei porque minha perna não dava para correr mais, essa que tenho doente aqui. Até hoje eu sinto saudades. A minha diversão era essa, bola. Chegava do mar, dia de domingo mesmo já estavam esperando, naquela época eles diziam que eu era o melhorzinho que tinha para jogar bola, e eles me esperavam, ai machuquei a perna, pronto! Nunca mais. A nossa diversão era a bola. Não tinha outra diversão.
[E a escola?]
Eu nunca fui à escola. A vez que eu fui à escola, o diretor da escola morreu e eu vim embora e não voltei mais. Eu nunca estudei, não fui alfabetizado não sei ler nem escrever.
[A rotina familiar]
É boa, todo mundo unido. Quando tem de comer todos comem, quando não tem, ninguém come, e vamos levando a vida desse jeito.
[Como é sua rotina de segunda a domingo em casa?]
Não fico muito em casa, é muito difícil. Venho sempre para a praia, meu lugar é aqui na praia.
[O senhor faz o quê na praia?]
Vou pescar, mirar a rede, pescar de linha, com três anzóis, linha de fundo com três anzóis. A gente compra sardinha aí na praia. Às vezes compramos uns 2kg de sardinha e levamos para fazer isca, e às vezes a gente mata 10kg, 15kg de peixe. Às vezes mata 1k, às vezes não mata nada, é essa a vida de pescador.
[O que é mirar rede?]
Mirar rede de fundo é recolher a rede para ver se tem peixe pegado nela, é rede de fundo, de espera. Saio de casa 4h, e até ajeitar saio daqui umas 5h. Se eu estou com a rede pertinho, às 8h estou em terra. Depois que chego em terra pego uma rede pra consertar, porque sou eu mesmo que conserto, e vou fazendo hora, até mais tarde por volta das 16, 17h, voltar no mar para recolher as redes de novo e ver se tem peixe agarrado.
Quando pego peixe vendo pro consumidor daqui mesmo, na banca. Porque não tem quantidade mais para vender para o mercado e o pouco que tem a gente vende aqui mesmo.
[Como funciona a venda, até que horas? Quem vende?]
Quando tem peixe a venda é o dia todo. Às vezes eu vendo, às vezes coloco um filho ou filha para vender. Minha cunhada também mexe com pesca, eu deixo com ela vendendo.
Quando não estou aqui na venda, estou consertado rede. No mar vou duas vezes, de manhã cedo e à tarde. Ademais eu fico consertando rede. Quando não dá pra eu ir pescar de anzol, porque quando tem peixe, mais ou menos às 8h, a gente pega o barco e corre para o mar para pescar de novo e vem de lá 13, 14h, mas quando está ruim não perde tempo, fica acertando as redes que estão guardadas.
[E o arrastão?]
O arrastão só lá pro mês de janeiro mais ou menos, para colocar arrastão, se vier peixe para cá, porque está muito difícil. Está muito difícil peixe para cá, com esse monte de traineiras atrapalhando a gente aí, está muito ruim.
[Além da pesca faz alguma outra atividade para aumentar a renda?]
Não. A minha única fonte de renda é a pesca. Quando não dá pescado, fico em casa dormindo.
[Como é feito o arrastão? Tem algum horário certo?]
Não tem hora. Toda hora, o dia todo, quando tem peixe. Quando tinha, porque agora não tem mais para isso. Desde o ano passado ninguém botou arrastão ainda, porque não veio um cardume de peixe mais.
[No grupo existe alguma função específica para cada um? Por exemplo, alguém pega o barco, coloca a rede de espera, ninguém trabalha com o senhor?]
Não, é cada um para si. Cada pescador, o que pode, o que é mais ou menos, tem suas armadilhas, que compra, ou então ele trabalha sozinho, às vezes com um filho dele, com um companheiro dele. A gente não bota na mão de outro porque é muito difícil, porque o outro não vai ter o mesmo cuidado de trabalhar com o objeto da gente. A gente mesmo botando de vez em quando já perde, mas sendo dono não tem problema nenhum.
[Com que idade o senhor começou a trabalhar na pesca?]
Eu comecei a trabalhar na pesca com 15 anos de idade. Eu já pescava com meu pai, ia para o mar com o meu pai. Eu pratico todos os tipos de pesca, de vara de anzol, a de espera, e a de rede de arrastro. São essas as formas de pesca.
[E outros pescados?]
Eu não trabalho. Só trabalho com sururu quando é época que pode tirar. Outros mariscos, não. O caranguejo eles trazem lá da Bahia para vender aqui.
[Descreva o processo de pesca de anzol.]
A gente pesca lá fora no mar com um barco desses aí, nós botamos só duas linhas, Às vezes com três anzóis, com dois anzóis, pega um peixe em um, outro peixe em outro. Não é em quantidade, é um em um, às vezes por sorte vem dois. Se a gente começar a pescar umas 7h, às vezes lá pelas 12, 13h a gente está com 20kg de peixe, às vezes 25kg, quando está boa a pesca. E ademais, a gente fica com os anzóis no fundo do mar que não acha nem um peixe para comer a isca e a gente tem que vir embora.
[Como é feita a pesca de espera?]
A espera a gente coloca ela lá e não tem horário para colocar, coloca e deixa armada. Se colocar hoje, amanhã vai lá recolher de manhã cedo. Se tiver peixe agarrado a gente tira aquele peixe, arma de novo e à tarde volta para ver se malhou mais algum.
[Como é que é arrumar essa rede de espera?]
As redes de espera são umas redes de trinta metros cada uma, a gente às vezes emenda quatro, cinco redes uma na outra e botamos lá no meio do mar e deixamos. Botamos duas boias pra ver onde ficou, pra marcar o lugar dela, e deixamos lá. Quando não passa um peixe grande que carrega ou passa um barco que carrega também ela fica lá pescando, procurando peixe pra gente. Ela é fixada nas âncoras. Ela tem as âncoras para aguentar ela. Onde coloca ela fica ali mesmo, no mesmo local. Dependendo do peixe, se tiver bom mesmo, ela fica lá até semanas. Depois tira porque ela suja muito e já vai enfraquecendo o nylon, a linha dela. A gente tem que tirar lavar direitinho, para depois colocar de novo.
[Descreva o arrastão]
O arrastão é uma coisa muito rápida. Às vezes a gente está sentado na praia, olhando pro mar, olhando pra maré, aí aparece um cardume. Daqui a gente vê o cardume e às vezes vem uma mancha em cima d’água, e a gente conhece o peixe. Às vezes ele vem pulando fora d’água. A gente sai com o arrastão e faz o cerco, aí junta uma turma. O pessoal aparece de uma hora pra outa. Às vezes ficam cinco de um lado, cinco de outro e vai puxando a rede, e o pescado vem dentro. Têm vezes de apanhar 500kg, às vezes 200kg, 100kg, tem vezes que apanha até mais do que isso. Mas tudo quando dava peixe, às vezes apanhava mais de 1.000, 2.000kg de peixe aí. Mas hoje em dia está muito difícil, não está dando mais nada.
Quando apanhamos muito peixe aqui nós temos o telefone lá do mercado da Vila Rubim, que vem com o baú e carrega o peixe pra lá. Faz o preço e vende pra eles. Vende pra eles pra pagarem daqui a um mês, às vezes dois meses, é o pescado que nós vendemos para eles lá.
[Descreva o arrastão. Quantos vão no barco?]
Comigo, só um mais. Somos em dois que saímos no barco, um rema e outro joga a rede.
[Como é jogar a rede?]
Jogar a rede é jogar a rede fora do barco espalhando. Às vezes o cardume está em uma boa posição, o cara vai remando e outro vai espalhando a rede e vai sair certinho, tem a prática. Depois puxa para a terra, o barco chega e o pessoal puxa para a praia com as cordas para puxar a rede.
[Quem ajuda na puxada?]
Os que ajudam na puxada na praia são amigos nossos de Itapuã, às vezes têm muitos de fora. Às vezes a gente agrada uns conhecidos aqui da praia com dinheiro, na hora que recebe o pescado, e os de fora a gente agrada dando um peixe para levar pela ajuda. Às vezes nós pagamos, dependendo do peixe que pega. Se pegar 5ookg de peixe e der R$1.000 – dá mais, mas vamos botar R$1.000 – R$500 pra o dono da rede e R$ 500 pra dividir com 20, 30 pessoas que ajudaram a puxar o peixe.
[Calendário da pesca.]
Em janeiro e fevereiro dá muita sardinha, pescadinha. A sardinha é de rede de arrastro e a pescadinha é de anzol. Lá fora e é a época que dá muito, esperamos dar, porque está meio ruim também.
O baiacu é mês de agosto, setembro, mas não deu, deu muito pouco. Setembro é época de espada, também não deu espada. Está ruim!
[e o camarão?].
Aqui nós não temos rede para pescar camarão. Camarão os barcos vem da Praia do Suá, prainha de Vila Velha, prainha da Glória vem pescar camarão aqui na nossa área, é quando eles rasgam as nossas redes aqui. Às vezes tem uma rede no caminho, pegam o camarão passam e rasgam tudo e pronto.
[e o chicharro?]
O chicharro é nessa época também, já era para estar dando, época de setembro era para estar dando, o peixe galo, mas não está dando nada. O peroá sumiu, tem mais de 10 anos que parou de dar peroá aqui. O foco dela era em Guarapari, mas Guarapari usava puçá para pescar, não usavam anzol, e pegavam as grandes, as pequenas e acabaram com tudo, acabou lá, aqui também faltou. E não está arrumando peroá aqui nem para remédio.
[A que horas o senhor sai da praia?]
Depois do almoço eu tiro um cochilo em minha casa, tiro um cochilo na beira da televisão. Às 14h me levanto e venho cuidar das minhas redes. Vou dormir lá pelas 9, 10h da noite, vou descansar pensando no dia de amanhã para sair de novo. É a vida!
[Onde compra os materiais que o senhor usa na pesca?]
Eu compro em Vila Velha, próximo da pracinha de Vila Velha, em uma casa de material de pesca que tem ali. E ademais quando vou a Vitória, compro um pano de rede mais em conta, porque lá é mais fácil, a casa lá é grande e tem tudo o que a gente quer o que é preciso. Agora fica em Campo Grande, era em Vitória e mudou para lá. Era na Enseada do Suá. Todo o tipo de material de pesca a gente compra lá.
[Quantos são os tipos de rede?]
Tem dois tipos de rede pesca. Uma é a rede boieira e a outra é a rede de fundo. A rede boieira ela pesca boiada, a gente bota as varas e ela fica boiada em cima d’água. A de fundo ela desce pro fundo, ela pesca só no fundo, às vezes ela tem 3 metros, 4 metros e pode botar num local de 30 metros de fundura, ela vai pescar lá em baixo, pega o peixe que passa no fundo mesmo.
[e como se retira?]
Para tirar a gente recolhe ela todinha dentro do barco pra depois colocar de novo, tira o peixe e depois coloca de novo. Pra colocar no fundo a gente coloca duas âncoras em cada ponta e vai remando e vai arriando ela, quando chega no final, arreia a outra âncora e pronto, deixa ela lá. Essa também é uma pesca de espera, que tem duas modalidades, a de fundo e a boieira.
Tem outra boieira que é de arrastro, aqui da beirada. Essa a gente só usa quando é muita quantidade de peixe, porque às vezes os cardumes chegam na beirada. Às vezes tem cardume que faz 500kg, às vezes 1.000kg, 200kg. Elas aguentam até 3.000kg de peixe. Elas têm 600m de extensão.
[Onde o senhor compra os seus barcos?]
Meus barcos eu já comprei todos usados. Ainda não consegui comprar um novo no estaleiro. Tem estaleiro perto, na beira da penitenciária na Glória, na Vila Batista tem outro estaleiro grande, mas os meus há muitos anos que eu comprei, já usados. De vez em quando fura, boto pra consertar, salta um prego, mando um cara vir pregar, e vou aguentando eles até hoje, remendando eles até hoje.
[E sobre os ventos e marés ao longo do ano?]
Maré forte para nós aqui, que a gente respeita mais, é a maré de março. Antigamente, ela costumava bater no meio da rua aí, é a maré mais brava para nós aqui e os ventos, as frentes frias, só no inverno mesmo. Vai chegando o verão, aquele vento de rapidez , bate, acalma uma hora tá bonito, outra hora tá feio.
[O senhor sabe de algum pescador que tenha morrido no mar?]
Minha mãe conta que um tio meu morreu no mar e que nunca foi encontrado. Tem o parente de um rapaz aqui que foi para o mar. Era para eu ir. Pegaram um tempo ruim lá fora, o barco sumiu. Outro barco de fora achou os três companheiros dele. Eles estavam em quatro, acharam três. O outro até hoje não foi encontrado. Isso tem uns três ou quatro anos.
[Como é feita a preparação das redes?]
A gente compra as partes da rede, compra as tiras de rede. A gente compra as tiras de rede, às vezes tem três metros de largura cada uma. Às vezes quatro metros, 5 metros de comprimento, e aí vai emendando uma na outra para fazer a rede. Compra as boias, o chumbo, os cabos. Isso a gente mesmo sabe montar. O difícil é fazer, se a malha é menor gasta muito tempo para fazer e como hoje em dia tem tudo pronto, a gente mais compra pronto do que faz.
[Quantos barcos o senhor tem?]
Eu tenho dois barcos a remo, que se chamam bateras, e vai fazer uns oito a dez anos que eu tenho. Uma se chama África do Sul e a outra que está com a rede ali, é Graziela.
O Clarissa nós vendemos há muito tempo. Vendemos porque não serviu muito pra nós, pra eu pescar, e vendemos, e esse é da minha filha, da Josi.
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelo entrevistado.]
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