Lúcia e Michael Carasso com seus dois filhos. "Era uma manhã, bem cedo, como outra qualquer, quando de repente bateram à porta e ...
Depoente: Lúcia Carasso
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Lúcia e Michael Carasso com seus dois filhos. |
Nós éramos sete. Meu pai, minha mãe, eu e mais quatro irmãos. Saímos do jeito que estávamos, com a roupa do corpo. Todos, com armas em punho, nos levaram para o carro. Foi uma longa viagem de trem, interminável, de Salonica, Grécia, para a Polônia. Todo mundo em pé, igual gado, quase sem se mexer, de tão lotado que estava. Fazia frio... Sentíamos fome, sede, medo, desespero, tudo! Não entendíamos o que estava acontecendo.
Nosso destino foi um campo de concentração na Polônia. Lá eles separaram os homens das mulheres, as mães de seus filhos, a minha mãe de mim e dos meus irmãos. Só não me separaram da minha irmã Mary, que esteve comigo durante todo o tempo e saiu viva de lá também. Meus outros irmãos eu nunca mais vi.
As crianças, na maioria dos casos, eram descartadas. Eu era muito nova, a filha caçula, não tinha nem 12 anos, mas sobrevivi porque era grande e esperta, boa para trabalhar. Além disso, tinha facilidade com línguas e aprendi a falar alemão lá dentro, o que me fez ser a tradutora oficial dos nazistas: traduzia do alemão para o grego ou espanhol. Facilitando a comunicação entre eles e nós, prisioneiras.
Os principais campos em que passei foram de Auschwitz-Birkenau, Dahau e Bergen-Belsen, na Alemanha, de onde fui salva.
O trabalho era inútil, praticamente com o objetivo de acabar com nossa força e ânimo: destruíamos casas novas, lindas, que eram dos judeus, tirando janelas, portas, tudo... As peças de valor eram separadas. Também cavávamos terra, andávamos muito, íamos e voltávamos de um lugar a outro. E sempre com gente nos vigiando. Quem parasse de trabalhar apanhava. Para podermos descansar, nós nos vigiávamos. Quando os nazistas estavam chegando, um avisava ao outro para todo mundo voltar a trabalhar. Começávamos cedo e só parávamos à noite, totalmente sem energia.
Banho era com água gelada e o sabonete era feito com os corpos das pessoas que eles matavam, ou de pancadas, ou com tiros ou nas câmaras de gás. Mas só descobrimos isso muito tempo depois... Tínhamos que estar limpinhos e arrumados no outro dia. Mas como? Lavávamos a roupa à noite, mas não dava tempo de secar. Por vezes tínhamos que torcer e colocar embaixo do colchão. Claro que não ficava seca. E aí, muitas vezes, dormíamos nus.
Da família só sobramos eu e minha irmã Mary. Muitas vezes ela dava a comida dela para mim, como um reforço, e acho que isso me ajudou a sobreviver. Com um jeitinho que não “era brasileiro”, muitas vezes ela pedia às chefes do nosso bloco algo a mais para comer, alegando qualquer desculpa. Algumas meninas, que não eram tão ruins, acabavam nos ajudando. No almoço era um caldo ralo, parecendo sujo, feito de casca de batata, sobras dos alemães. E esse caldo era muito salgado, uma forma de tortura também, porque não podíamos beber água a hora que quiséssemos. De manhã, era um café ralo apenas e, à noite, nem sempre tinha algo pra comer. Às vezes uns pedaços de pão tipo caseiro para dividir entre todas nós e só.
Dentro do campo de concentração de Auschwitz tocava uma sirene e ninguém sabia o que era aquilo. Depois, subia uma fumaça e um cheiro horrível. Só depois as pessoas foram desconfiando o que era aquilo. Eram os crematórios.
As pessoas lá dentro eram conhecidas como números. Tenho um número tatuado no braço até hoje: 39.422. Eu era uma dentre milhões de pessoas que estiveram sob a mira furiosa dos SS. Pessoas não! Porque pra eles éramos “sticks”, ou seja, peças. Nunca quis apagar esta tatuagem porque olhando para meu braço eu sei que sobrevivi.
O dia mais feliz daqueles dois anos e meio em que fiquei presa, foi quando os soldados do exército americano chegaram e gritaram: “Estão livres!” Saiu todo mundo gritando, de euforia, de surpresa, de gratidão, de alegria! Gente soltando as ferramentas de trabalho que tinham nas mãos, se jogando no chão, xingando, correndo desesperadamente de um lado pro outro, se juntando, dando as mãos... Teve gente que não acreditou.
Aí, nos levaram para o campo de refugiados na própria Alemanha. Depois, fomos para um refeitório, onde tinha lugar para todo mundo tomar banho e se vestir. Foi ali que encontrei minha felicidade! Conheci Michael, meu falecido marido, que também era grego e esteve preso como eu. E foi amor à primeira vista... Minha irmã também se apaixonou pelo melhor amigo do meu marido, se casaram e foram para os EUA.
Eu e Michael fomos para a Grécia. Ele queria ver se encontrava alguém da família dele e eu também tinha esperança de encontrar alguém da minha. Mas não achamos ninguém. Nós nos casamos e tivemos dois filhos, mas, em 1950/1951 fomos para Israel, onde meu marido tinha alguns familiares. Lá ficamos por cerca de três anos.
Pensando em sair de Israel, fomos numa agência de turismo e vimos cartazes de vários países. O do Brasil tinha uma bananeira e uma arara linda! Aquilo chamou nossa atenção, já que sempre gostamos da natureza. Vimos que ali podíamos ser felizes com nossos filhos. Foram mais de vinte dias de uma viagem terrível de navio.
Fomos para São Paulo, mas o navio parou no Rio de Janeiro e a primeira imagem que vimos foi o Cristo Redentor de braços abertos. Então tivemos certeza de que seríamos felizes aqui. Chegamos em 21 de abril de 1954, meu marido falava que era o dia do renascimento da gente. E foi mesmo! Até hoje não sei quantos anos eu tenho! rsrsrsrsr
Em São Paulo, meu marido foi camelô. Depois, viemos para Vila Velha. Ele foi camelô aqui também. Montou uma loja e fomos crescendo na vida. Construímos tudo aqui. Dois filhos, seis netos e cinco bisnetos. As últimas palavras do meu marido para mim foram: ‘Lúcia, não se esqueça da minha promessa’. A promessa era a de colocar nossa história no mundo, para que atrocidades como o holocausto nunca mais aconteçam.
Nossa história é muito triste, mas com um final muito feliz."
Lúcia Carasso.
[Depoimento especial dado à Estação Capixaba. Reprodução autorizada pela depoente.]
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Entrevistado: Silvio Roberto Scapin, apelido Xexéu, 51 anos de idade Grupo ao qual pertence: Praia do Ribeiro, Vila Velha Entrevistad...
Entrevistados: Sílvio Roberto Scapin e Antônio Marcos
Entrevistado: Silvio Roberto Scapin, apelido Xexéu, 51 anos de idade
Grupo ao qual pertence: Praia do Ribeiro, Vila Velha
Entrevistador: Fernanda de Souza
Data da entrevista: 10/03/2014.
Local / data de nascimento: 1963
Nome do pai: Haroldo Scapin, artesão e pedreiro
Nome da mãe: Wapleth Borgguinon Scapin, autônoma
Separado, 4 filhos.
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[Com quantos anos o senhor começou a pescar?]
Eu comecei a pescar com 15 anos de idade. Antes de começar a pescar eu estudava, mas matava muita aula e ia para o Convento, lá para as bandas de […]. Eu estudei ate o 2º ano do ensino médio e faltava um ano para terminar o 2º grau. Estudei no Godofredo Schneider, na Prainha de Vila Velha.
[O senhor tem irmãos?]
Um já faleceu, mas tenho três irmãs vivas.
[O que o senhor fazia antes de se envolver com a pesca?]
Antes de começar a trabalhar com a pesca já fazia algumas coisas para ganhar dinheiro, como catar jornal para vender.
[Como o senhor teve contato com a pesca?]
Eu morava com meus pais (minha família), e tive um atrito com minha irmã e me afastei de casa. Saí de casa e vim morar aqui na praia do Ribeiro, no Hotel Santa Luzia. Eu tinha 15, 16 anos de idade e fiquei por aqui mesmo. Na época o hotel era ali e a praia era pertinho, então eu ficava por aqui. Gostei do mar e da pesca, nunca gostei de bandidagem nem de drogas. Aqui, encontrei alguns pescadores e comecei a me interessar pela pesca.
[Qual a sua idade?]
Vou fazer 52 anos.
[Como o senhor aprendeu a pescar?]
Eu vim pescar por conta própria. Eu não tinha barco, mas fazia a boa companhia, ou seja, acompanhava os outros pescadores. Na pescaria um tem que ajudar o outro porque no mar não tem tanto recurso como em terra. Ia pescar com os outros pescadores e fui aprendendo.
Tanto no mar quanto em terra um precisa do outro. Em terra, se você passa mal pega um carro e vai embora. E no mar? Houve um caso aqui que nós estávamos pescando na ilha e um camarada pisou no […] e atravessou um galho no pé e varou [furou]. Foi o Carlinhos, e eu o coloquei para terra. […] Depois aconteceu com o Ailton, que escorregou na pedra, no limo, e quebrou o braço. Como é que ele podia remar? Eu o trouxe para terra. É importante que o pescador nunca vá pescar sozinho porque se acontecer algum acidente, um ajuda o outro.
[O senhor já sofreu algum acidente?]
Graças a Deus eu nunca sofri nenhum acidente no mar, mas sempre ajudei àqueles que precisam tanto no mar quanto em terra.
[O sempre pescou aqui na praia do Ribeiro?]
Toda vida pesquei aqui. Já fui a outros pontos, mas às vezes são ambientes que não fazem o meu jeito, então eu continuo aqui, prefiro aqui.
[Tem mais alguém na sua família que tenha algum contato com a pesca?]
Não, meus filhos não querem essa vida.
[E seus pais? Qual era a profissão do seu pai?]
Meu pai fazia balaústre, um tipo coluna trabalhada. Na prainha, na esquina próxima a Igreja do Rosário, tem uma casa que meu pai fez o balaústre. Minha mãe trabalhava com meu avô, era autônoma. Trabalhava com vendas, no mercado.
[Como era a pesca antigamente e como é hoje?]
Hoje reduziu muito. O que acabou com os nossos peixes foram esses prédios, essas casas que jogam desinfetante, esgoto, sabão em pó e produtos venenosos para o mar. É isso que está acabando com tudo.
[Antigamente que tipos de peixes o senhor costumava pescar?]
Antes tinha muita fartura. Pescava-se peroá, baiacu, realito e garoupa. Nem siri aqui tem mais, tinha de tudo aqui.
[Qual era a quantidade de peixes que se pescava antigamente?]
Naquela época tinha muita fartura de peixe, não tinha produtos venenosos que se jogam ao mar como hoje. Hoje está quase a zero, não tem mais como antigamente. O que ainda tem são algumas pescadinhas, mas muito fraco. Se quiser pegar um peixe tem que ir bem longe, em alto-mar, eu não vou mais a alto mar porque não vale a pena ir pescar longe, fico por aqui mesmo, pegando sururu.
[Quando foi a última vez que o senhor pescou peixe?]
A última vez que pesquei foi o ano passado, e pesquei baiacu, mas foi fraco, eu e o Wilson.
[Foi muito?]
Foi fraco. Depende do tamanho do baiacu, às vezes pegava dois baiacus grandes que davam 7, 8kg e às vezes não pegava nenhum.
[Quais eram os seus instrumentos de pesca? Como é a sua pesca, de anzol ou rede?]
Eu pesco com anzol, nunca pesquei com rede.
[Como é a preparação da pesca do anzol?]
Depende da pescaria. Tem pescaria que empata o anzol com nylon e pescaria que empata com arame. O nylon se usa para pescar peixe que não tora [quer dizer, que não corta] o peixe corta o nylon. Para pescar o baiacu tem que ser no cabo de aço porque ele corta tudo, não pode ser nylon.
[O que o senhor pesca hoje em dia?]
Hoje só tenho pescado sururu.
[Como é a pesca do sururu?]
A pesca do sururu é muito trabalhosa: tem que ir à pedra, tem que carregar os sacos nas costas. Às vezes vamos no barco a remo e às vezes, no barco a motor. Cozinhar, descascar, ensacolar e depois vender. É trabalhosa demais, é pior do que trabalhar como pedreiro.
[Atualmente a pesca é a sua única fonte de renda?]
Graças a Deus é a minha única fonte de renda. Não sou aposentado e vivo da pesca. Sou um camarada muito correto e honesto.
[Qual é a sua rotina como pescador?]
Eu acordo às 3, 4h da madrugada e não durmo mais. Antes de sair de casa cuido da minha cachorra e dou alimento para ela, pego minha bicicleta e venho, porque às 5:30, 6h o dia já está clareando. Da minha casa até aqui na praia gasto em torno de quinze minutos.
[Qual a primeira coisa que o senhor faz quando chega à praia?]
Chego e fico aguardando o dia clarear um pouco e se não tiver ninguém para ir comigo vou sozinho. Pego o barquinho e vou sozinho.
[Tem algum dia que o senhor não vem?]
Quando está chovendo eu não venho. Mas eu sei direitinho o horário da maré. Tem muito pescador que me pergunta se a maré está enchendo ou vazando. – Tá pensando o que? – Você não é pescador? – Ah, porque eu preciso olhar no calendário.
Eu não preciso de calendário, eu sei só de olhar a maré, por experiência. Agora a maré está vazando. São muitos anos. Estamos na quarto crescente e indo para a lua cheia. Agora à tarde e amanhã de madrugada a maré vai estar na baixa-mar.
[Quando o senhor vai a maré está enchendo ou vazando?]
Eu gosto quando a maré […]. São 6 horas de vazante e 6 horas de enchente. Por volta das 0:30h ela está vazando. Daqui lá no meio é muito longe e eu vou remando. […] Eu saio às 6h e vou devagarzinho e quando chego lá está vazia e tiro o sururu.
[Quanto tempo o senhor leva daqui até o ponto de pesca?]
Depende, porque tem a calmaria e o vento. Meu barco é de remo e para eu ir levo 20 minutos na calmaria e 40 minutos quanto está ventando. Lá eu fico pescando (tirando sururu), mais ou menos umahora.
[Descreva o processo da pesca do sururu? Quais são os instrumentos que tem que levar?]
A cavadeira, corda, salva vidas [colete], remo e a garateia, que é uma âncora. A âncora é aquela que se usa em navio, aqui nós chamamos de garateia. Levamos água potável para o consumo, a roupa do corpo, porque a pedra é muito quente, o tênis e a sacaria [sacos para colocar o sururu], tem que levar todos os pertences.
[Como vocês escolhem o local? Já tem um ponto fixo?]
É sempre na mesma ilha, mas depende muito do local na ilha. Não depende de onde tem mais ou menos, mas sim do volume, do conteúdo que ele tem dentro da casca [do sururu].
[E como o senhor reconhece?]
Eu quebro e vejo, tem uns mais gordos e outros mais magros. Às vezes você anda dez metros e acha alguns que tem mais casca do que conteúdo. Existem lugares que tem uns melhores, com menos casca e mais conteúdo.
[Onde fica essa ilha que vocês vão?]
Vamos pela praia do Ribeiro e atravessamos o canal, é próxima à Ilha do Boi.
[E onde fica o sururu?]
O sururu fica perto da água [que fica lavando ele, o sururu] e com a cavadeira vamos tirando, ensacando e colocando na batera para vir embora.
[Qual a quantidade que vocês pegam?]
Não dá muito, dá o suficiente para trabalhar, em torno de uns 10, 15, 12kg.
[Como vocês trazem?]
Trazemos em sacos, não colocamos em caixa de isopor porque a água do mar conserva até chegar à praia, quando chegamos colocamos à sombra para não pegar sol. Se pegar sol… Enquanto vem de lá para cá não tem problema, porque é rápido e a água do mar conserva. Quando chegamos à praia descarregamos do barco, colocamos na sombra e jogamos água salgada para limpar.
O sururu nessa época até o mês de abril e maio ele fica muito gordo, não tem mais água nele. Tem que colocar para cozinhar com água. Quando chegamos à praia preparamos o fogo, com lenha. Cozinho com um pouco de água salgada para ferver e ele mesmo já abre. Descartamos a casca, colocamos na sacolinha e pesamos.
[Como é feita a venda?]
Vendemos em Vila Velha e um pouco vendemos aqui mesmo.
[Vocês vendem no atacado ou a varejo?]
Eu prefiro vender no varejo porque o pessoal dá mais valor. As pessoas vêm aqui na praia do Ribeiro para comprar e quando não vem vendo em casa para os vizinhos.
[Vocês pescam sururu todos os dias?]
Agora não porque a maré não está boa, não está abaixando, tem uma semana que está assim. A maré tem que estar baixa para pegar o sururu nas pedras.
[Quais são os meses do sururu?]
Do final de dezembro até março. Esse ano atrasou muito devido às tempestades de novembro e dezembro, o mar ficou muito agitado. A água doce não incomoda o sururu, a água doce não tempera a água e ele engorda. O que emagrece sururu é o mar bravo […].
[E nos outros meses o que vocês fazem?]
Nos outros meses vou pescar peixe ou compro para revender. O sururu geralmente é de setembro a abril. São oito meses mais ou menos de sururu, começando em setembro e terminado em abril. Esse ano atrasou muito devido às tempestades, a maré ficou muito cheia e não deu para pegar, o mar ficou muito violento, agitado e atrasou o sururu.
[Seu Antônio qual é o seu nome completo?]
Antônio Marcos.
[Qual a sua idade?]
Tenho 67 anos.
[Como o senhor conheceu o seu Xexéu?]
Eu o conheci aqui na praia do Ribeiro, conversando, batendo papo e ficamos amigos. Comecei a pescar com ele antes de me acidentar.
[Há quantos anos o senhor está aqui?]
Tem mais de dez anos que estou aqui.
[Qual foi o seu primeiro contato com a pesca? Com que idade?]
Aos 45 anos tive meu primeiro contato com a pesca. Antes eu trabalhava em construção civil, eu era encanador, hoje eu sou aposentado.
[O senhor começou na pesca com o Xexéu?]
Eu comecei na pesca com o Xexéu, eu não tenho barco e sou ajudante do Xexéu.
[Qual a lembrança que o senhor tem da vida de pescador?]
Isso aqui é um lazer muito bom para a gente, nós ficamos aqui conversando, batendo papo, fritando e comendo peixe.
[O senhor vem todos os dias?]
Venho para a praia todos os dias, mesmo quando não vamos pegar sururu. Quando não vamos pescar, ficamos aqui batendo papo, fazendo hora para ir para casa almoçar.
[O que o senhor aprendeu com a pesca?]
Como salvar uma pessoa que caiu na água e está se afogando, aprendi tudo isso no mar. Já salvei muita gente.
[Até quando o senhor pretende pescar?]
Até quando Deus quiser, enquanto tiver vida, porque disposição eu tenho.
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelos entrevistados.]
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Entrevistado: Maria Miranda (mãe do pescador Damião Miranda Ferreira, da Praia de Itapuã) Grupo ao qual pertence: Praia de Itapoã Entr...
Entrevistada: Maria Miranda
Entrevistado: Maria Miranda (mãe do pescador Damião Miranda Ferreira, da Praia de Itapuã)
Grupo ao qual pertence: Praia de Itapoã
Entrevistador: Maria Clara Medeiros Santos Neves
Data da entrevista: 15/10/2013.
Local / data de nascimento: Itapoã, Vila Velha, ES, 22 de abril de 1928
Nome do pai: Manoel Miranda
Nome da mãe: Teresa
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Eu não sei dizer mais a minha idade, porque esqueci. Até em 1955, quando eu votei, eu sabia alguma coisa, daí eu esqueci tudo. Eu sei que meu pai tirou direitinho meu documento, depois ele foi pescar no mar, eu não sei se ele levou para o mar ou se deixou em casa com a mulher que escondeu [o documento] A mulher dele não era nossa mãe, a nossa mãe era Teresa. Quando ela o deixou [a mãe], ele arrumou uma tal de Margarida. Ela tinha muitos filhos que foram morar conosco, ele foi morar com ela.
[A senhora tinha outros irmãos, filhos da D. Teresa?]
Meus irmãos eram José Miranda, que morreu, Ermínio, Permílio e eu. Nós éramos quatro irmãos. O Dico, o mais novo, não era filho dos nossos pais. E eles se acabaram todos, todos já morreram e morreu minha mãe. Nós chamávamos de mãe, mas era avó, porque foi ela que nos criou. […] Mamãe era avó que nós chamávamos e com ela ninguém queria ir atrás, porque o negócio era diferente. Depois que nossa avó faleceu meu pai nos levou para ficar com ele. Ele foi morar lá na rua atrás do cemitério, na Rua da Abissínia, em Vila Velha. Ele comprou uma casa e foi morar lá, mas nós não quisemos ficar com ele por causa da outra mulher.
[Quando vocês foram morar com ele?]
Isso foi depois de grande, eu me lembro que tinha 12 anos de idade e meus irmãos eram mais novos do que eu. Zé Miranda foi morar na Prainha, com um pessoal que eles chamavam de Leão. O Ermínio, ele deu para a madrinha.
Aí viemos para cá de novo e ficamos todos juntos, com minha avó. Depois que minha avó morreu ficou tudo para um canto e outro e ficaram sem rumo, até eu fiquei procurando rumo, todos perdidos. Aqui nessa praia nós moramos em um terreno que era da minha mãe, depois que fizeram uma partilha de um negócio deles é que foram morar em Vila Velha, na Rua da Abissínia […] Nós viemos para a companhia da nossa avó de novo e depois todos morreram. Da minha irmandade só eu fiquei, meus irmãos já se foram todos.
[Seu pai era pescador?]
Meu pai era pescador e morreu afogado lá naquela ponta de pedra que tem ali fora, perto da ilha. Ele virou na canoa, ele, Zé Miranda e Ermínio, todos os dois pequenos. Pegou a canoa para pescar e era tempo de manjuba e com muito vento no mês de julho, com muita ventania. Ele já era um homem velho, tinha 74 anos. De algumas coisas eu me lembro bem, ele tinha 74 anos, o vento veio, virou a canoa, disseram os dois filhos ainda pequenos, mas eles falaram que foi ali naquela ponta daquela ilha ali fora. Dizem: que ele gritava muito – me acode, me acode Nossa Senhora da Penha […] ele não tinha mais força e as crianças pequenas ficaram em cima da canoa […] ali naquela ponta daquela ilha, passaram lá por fora da ilha e voltaram e o vento tocou para a barra […] 8h da noite, só os dois.
Dizem que lá onde afundou […] da barra a onda veio e virou a canoa em cima, não tinha corda e não tinha remo, não tinha nada para amarrá-los. Aí saíram um monte de pescadores e foram procurar em algumas praias. Foram para Barra, para a Praia da Costa, foram não sei para onde e dizem que chegaram lá na praia da Barra acenderam o farol do carro direto para o mar […] que gostava muito deles e tinha um carro, saí para procurar […] dizem que parece que ouviram gritando – me acode. Tinha um tal de […], que também já morreu. […] O Antério, filho do Zeco, todos eles procurando e quando chegou na parte da tarde caíram na água e foram, dizem que aqui perto, e só viram os moleques gritando por eles […] o pai já estava morto, mas dizem que acharam os filhos em cima da canoa […] e quando chegaram lá não acharam mais e só acharam os filhos […] Esse homem nunca […] procurando, a saber, em todas as praias que todo mundo conhecia. Não tinha quem conhecesse todos eles conheciam, todo mundo gostava dele e ninguém nunca soube que ele desse em lugar algum morto, nunca.
[Qual era o nome dele completo?]
O nome dele era Manoel Miranda. A mãe da minha mãe era Juliana […] e meu avô era Afonso […] de Sousa. O meu avô não era pescador, era de roça. Não cheguei a conhecer meus avós por parte de pai, mas dizem que eram gente boa. Meu pai quando era novo não se casou com minha mãe, ele foi morar. Quando ele foi morar com minha mãe ela já tinha dois filhos do primeiro casamento, era estivador de navio, trabalhava no navio […]
[Quando a senhora veio morar aqui em Itapuã?]
Eu não me lembro, mas dizem que foi no mês de abril de 1928. Aqui não tinha nem um caminho, nem praia não tinha, era tudo mato. Tinha um homem que se chamava Luís Freitas, que colocava eles para tirar lenha aí. Era muita. Era […] Serafina, Eugênia, um tal de Luís Pedro, iam todos tirar lenha, tiravam e juntavam, e quando chegava no dia de sábado eles não tiravam. Era uns carregando aqueles paus e tirando de dentro do mato, lascando de manhã à noite, para juntar aquela lenha para ver se não tinha lenha verde para vender, para comprar um bocado de farinha, senão não comia […]
[A senhora lembra se tinha muitas ou poucas pessoas morando aqui?]
Quando nós morávamos aqui não tinha nenhuma família, só tinha aqui era cobra, jiboia e cachorro do mato. […] Era muito troço que tinha aqui no mato. Não tinha ninguém. […] Depois […] tinha um barracão do finado meu pai […] depois, eles repartiram e ficou para as bandas deles lá, que era da minha avó, que eu chamo de mãe. […] Depois, passado muito tempo, eu já estava com quinze anos é que veio […] e quem me deu roupa foi D. Rosa […]
[A senhora fazia rede? Com quem aprendeu?]
Fazia rede, trasmalho e isso foi o sustento dos meus filhos. Aprendi a fazer rede em casa mesmo. Tinha muita partilha […] D. Teresa é a que mais fazia rede mesmo. Eu fazia mais devagar, ela se sentasse aqui agora […] com três, quatro braças. Eu tenho meus dedos todos aleijados de tanto que fazia rede, agora é que não faço mais. […]
Qualquer coisa que tinha era com a benzedeira, que já faleceu.
[A senhora se lembra das cantigas?]
Eu não cantava […] quem gostava muito de cantar era de D. Teresa quando estava fazendo rede, mas eu esqueci. […]
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelo entrevistado.]
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Entrevistado: Marcelo Farik Rego Grupo ao qual pertence: Barra do Jucu Entrevistador: Fernanda de Souza Data da entrevista: 26/03/201...
Entrevistado: Marcelo Farik Rego
Entrevistado: Marcelo Farik Rego
Grupo ao qual pertence: Barra do Jucu
Entrevistador: Fernanda de Souza
Data da entrevista: 26/03/2014.
Local / data de nascimento: Barra do Jucu, Vila Velha, 1968
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[Como foi sua infância e adolescência?]
Foi como todo menino de bairro pequeno. Sempre vivi na beira do rio, pegando camarão, caranguejo, siri e pescando. Essa foi minha infância.
[Quais eram as brincadeiras que vocês tinham?]
A brincadeira favorita era brincar na beira do rio. Como nós éramos pequenos, não íamos muito à praia, mas brincávamos muito na beira do rio. Na minha infância a água do rio era 100% limpa. Agora é só poluição.
Quando voltávamos da escola tirávamos a roupa e íamos para a maré, onde minha mãe estava lavando roupa. Tomávamos banho e brincávamos de pique-esconde.
[Qual a sua escolaridade?]
Estudei até o 2º ano do 2º grau, não cheguei a fazer curso profissionalizante. Estudei na Escola Marcílio Dias, na Barra do Jucu, depois na Maria Ermelina, na Francelino Setúbal e Manoel Veloso.
[Fale sobre seus pais e avós, eles trabalhavam com pesca?]
Meu pai era de Alfredo Chaves e de descendência pomerana, daí meu sobrenome ser de descendência pomerana. Ele (meu pai) era da roça. A minha mãe nasceu e foi criada aqui na Barra do Jucu, de onde vem a experiência da prática da pescaria, dos meus avôs e tios, todos eles eram pescadores. Meu avô por parte de mãe criou 18 filhos com a pesca. Meu avô paterno tinha fazenda e sítio.
Da parte da minha mãe é que vem a habilidade da prática da pescaria. Meu avô já faleceu, mas meus tios ainda continuam na pesca.
[Foi com seus avós e tios que você teve contato com a pesca?]
Foi com meus tios, na época do meu avô eu era muito pequeno tinha uns 10, 11 anos de idade. Nessa época a pesca era muito rígida e não era qualquer pessoa que ia pescar. Hoje, é uma bagunça, qualquer pessoa coloca um barco para pescar. Antigamente tinha o capataz, que era uma pessoa que regulamentava a pesca, hoje não existe mais isso, hoje o camarada coloca um barco na beira da praia e vai pescar.
Eu comecei aprender a pescar depois dos meus 16, 17 anos, foi quando comecei a sair para o mar junto com meus tios.
[Qual a profissão do seu pai?]
Ele trabalhou um bom tempo na prefeitura e depois ele passou a cuidar de fazendas e de terrenos. Minha mãe era do lar.
[Como foi o seu primeiro contato com a pesca?]
Havia muita fartura. Na minha época de 14, 15 anos nós íamos pescar e se via mais peixe do que água, bem diferente de agora. Era muito peixe e na maioria das vezes se guardava o peixe de um dia para o outro na folha de baúna, isso era uma tradição que se usava aqui. Guardavam o peixe na beira do nosso rio, onde antigamente era o posto médico, era a peixaria dos pescadores. Hoje nós não temos mais. Dava tanto peixe que se colocava na folha de baúna e o sereno servia de refrigerador, porque nos não tínhamos urnas, nem gelo, era dessa forma que se conservava o peixe. Dava muito peixe, camarão, siri. Siri nós pegávamos com o pé, não existia bereré. Nosso rio era farto. Naquela época existia rio, agora não existe mais.
[Como você ia pescar com seus tios?]
Sempre houve a curiosidade do querer ir. – Tio me leva? E assim foi caminhando. Fui uma, duas, três vezes até começar a ir sozinho. Com meus 20 anos já não tinha mais aquele rigor como antigamente que comentei antes, dos capatazes e dos xerifes da pesca. Já começou a perder o controle e dar mais liberdade para se fazer a pescaria. Não sei se foi bom ou ruim.
[Como era a Barra do Jucu antigamente?]
Não existia a Barra do Jucu, existia aqui uma vila de pescadores. Para se ter uma ideia os pescadores antigos nem conseguiam vender os peixes aqui na vila. Como tinha muito peixe, o pescador tinha que sair para tentar vender em Vila Velha, em Coqueiral e outros locais que não me lembro do nome.
Desde a época da vila dos pescadores já havia a cultura das bandas de congo. Foi aí que nasceram as bandas de congo que participavam os pescadores mais antigos da Barra do Jucu. A participação era por amor e não por interesse financeiro.
A pesca era farta e o local era muito tranquilo.
[Como era a pesca antigamente e como é hoje?]
Isso é muito simples de se falar. O que acontece: a vida do mar necessita da vida do rio. Se o rio perde a vida, o mar também perde a vida. A quantidade de peixes que encostavam para se alimentarem na beirada do rio, hoje não chegam mais. Muitos pescadores reclamam que não tem mais cardume de sarda, chicharro e de outros peixes. É porque não temos mais o rio como era: grande, fundo e bonito, por isso não temos mais peixes na nossa costa.
A comparação que pode ser feita hoje com antigamente é que era um rio com quase 20m de profundidade, hoje tem 2m. Eu estou falando do rio porque ele alimenta o mar, todo pescador vai falar isso […] A maioria dos peixes desovam no rio.
[E a quantidade?]
Antigamente, na época da enchova que era um peixe que dava bastante, se trazia fácil uns 200, 300kg por dia. Hoje nem se pega enchova, é difícil, se pega 40, 50kg. A proporção caiu muito.
[E que tipos de peixes se pescava?]
A enchova, o xaréu, o chicharro, a sarda, a manjuba de lomba azul, uma larga. E sardinha dava pouco. Nós dávamos redadas aqui de pegar 200, 300kg para mais. Hoje ela nem chega na costa, isso acontece porque ela está nas águas mais limpas, porque a sardinha e a manjuba só nadam em águas limpas.
O baiacu sumiu e a nossa peroá desapareceu. Será que foi a pesca de linha que fez com os peixes sumissem? Eu não acredito. Porque nossa pesca de linha é bem artesanal. Acredito que seja a pesca industrial que entrou, que tenha conseguido dar esse sumiço nos peixes, juntamente com as pesquisas das nossas grandes empresas, a Petrobrás etc.
[O que você acha que tenha causado o sumiço e a redução dos peixes?]
Pelo pouco que eu sei, acredito que seja pela grande exploração que está existindo no mar e os grandes navios chamados “chupa cabras” que vêm detonando tudo. Os “chupa cabras” são navios de pesquisa.
Tenho amigos que pescam lá fora, no barranco principalmente, e dizem que quando sai um navio vem um rebocador na frente mandando todo mundo sair da frente do navio que está passando, porque ele vem com um cabo fazendo sondagem.
[São as traineiras?]
Não, a traineira é outro detalhe, elas também interferem no nosso pescado.
[Desde quando começou a aparecer essa mudança?]
Isso tem em torno de uns 20 anos para cá que vem caindo bastante. Vou fazer pela minha idade: quando em tinha 26 anos eu ia pescar peroá e conseguia trazer com pouco tempo de pesca aqui perto umas 4, 5 caixas de peroá. Hoje vou lá e nem vejo peroá.
[Atualmente a pesca é a sua única fonte de renda?]
Antes eu trabalhava em empresa. De 2005 para cá eu defini a pesca como meu único rendimento mensal e até hoje vivo exclusivamente da pesca. Eu sobrevivo da pesca, o que eu ganho, o que eu tenho e o que pago é com a pesca, com muito sacrifício e luta, mas…
[Hoje, quais são os peixes que mais se pesca?]
Hoje é a coibira e a pescadinha, que sempre tem. Uma vez ou outra nós pegamos umas pescadas, uns robalos, mas em menor quantidade.
[Esses peixes têm época ou se pesca durante todo o ano?]
Todo peixe tem sua época que dá maior quantidade. A coibira, na meada de dezembro até meada de março ela ainda dá bem, depois começa a aparecer uma, duas, mas em menor quantidade. O robalo entra no período de defeso, que não se pesca, e quando sai do defeso se mata 2, 3 ou 4, não é grande coisa também. O forte da sarda é de dezembro até fevereiro, mas esse ano foi bem fraco, fraquíssimo, até a sarda está começando a enfraquecer. A pescadinha esse ano foi bem melhor, nós pescamos a pescadinha à noite, o que fica mais sacrificado porque tem que pescar às 0:00h, 1h da manhã para chegar em terra às 9 ou 10h, é uma pescaria mais puxada. Antes se pescava (a sardinha) mais cedo, entre 20h até 23h, mas está bom, enquanto estiver pegando está bom.
[Como é sua rotina como pescador?]
Geralmente o pescador acorda entre 4, 4:30h. Quando se está com rede armada, seja rede de fundo ou boieira, vai-se mirar as redes, quando se está pescando de linha, vai para a linha. Esse horário de acordar é variável, como tem peixes que comem à noite, se pesca à noite e não tem hora de acordar.
O meu peixe eu não entrego para o cambista (atravessador), eu mesmo pego, beneficio, guardo e vendo para o mercado. Eu tenho duas etapas de trabalho: a do mar e a de terra. Quando chego pego meu peixe, vou para minha peixaria, limpo e guardo. Usualmente eu acordo às 4h da manhã e trabalho até às 16h com peixe. Detalhe: como nós temos umas redes boieiras armadas que miramos sempre entre 16h até as 18h, então praticamente o horário é das 4h da manhã até às 17h.
Se o peixe estiver comendo (a pescadinha), vou dar uma pescada. Saio para pescar às 4h, por volta das 8h ou 08:30h saio e miro minhas redes para não deixar o peixe ficar muito tempo e venho para terra.
[O que você faz quando chega em terra?]
Primeiro coloco a embarcação para cima, limpo o barco, junto o peixe e trago. Nós temos um morro para atravessar o peixe, um morro de 500m de subida e de descida. Venho para casa, trato e limpo todo o peixe e empacoto. Alguns eu vendo, outros coloco no meu freezer para congelar.
Limpo meu peixe em minha casa, não existe beneficiamento em praia. Eu não faço, se alguns companheiros fazem eu não vejo. Na nossa área de pesca não tem comercialização. Se vende um peixe ou outro para o turista, mas não tem banca de venda. Do outro lado da praia tem uns companheiros que colocam umas banquinhas e vendem o peixe. Mas já é em outra praia. Existem duas praias. A nossa área de pesca é na praia da Concha e tem a praia de Frente, que é o […], são duas praias diferentes.
[Como é o processo de preparação as redes?]
Existem três tipos de redes: a rede de fundo, porque fica no fundo da água, é uma rede mais baixa; a rede boieira, que fica na superfície; e a de caída, que é uma rede boieira, mas só não deixamos cair de mar abaixo. A boieira, muitas vezes, ela fica fixa.
[Você produz ou compra a rede?]
Nós compramos o pano da rede e aí entralha. Entralhar é colocar a distância de uma boia para outra e entralhar a rede na corda. Isso é entralhar rede. Depois é o chumbo que é embutido dentro da corda e entralha a parte do chumbo. Desta forma se faz a boieira e a rede de fundo.
Hoje a rede é comprada, na época do meu avô era confeccionada à mão. Uma rede dessas leva no mínimo três meses para se feita. Como hoje ela é feita à máquina, se compra a rede, coloca-se no mar e pesca-se. Nesses três meses você está pegando peixe.
[O que é linha de fundo?]
É a pesca de mão. Nesse tipo de pescaria se pega pescadinha, pé de banco, baiacu, peroá, oreocó. A linha de fundo é o anzol, a linha e o chumbo. Geralmente se joga a linha com três anzóis.
A rede de espera é uma rede boieira que fica armada, como nós temos na nossa área de pesca. Ela espera o peixe passar. A rede de fundo é a rede que fica na parte mais baixa do mar, é uma rede mais baixa, por isso que se fala rede de fundo. Pega-se vários tipos de peixes como pescadinha, pé de banco entre outros. É uma rede de fundo, mais baixa. A rede boieira, é a rede do alto, ela é flutuante, e a de fundo é mais baixa.
[E o processo de arrastão?]
O arrastão é a puxada na praia. Arrastão vem de arrasto: faz-se o cerco com uma rede e puxa-se com uma corda na praia, essa é a puxada de arrasto. Nós temos cinco ou seis redes de arrasto. Eu não sou muito chegado à rede de arrasto porque depende de várias pessoas e envolve muita gente para se fazer a puxada. É uma rede muito grande. Eu prefiro trabalhar com a boieira, a de fundo e a de linha.
[Você vai verificar suas redes todos os dias?]
Vou todos os dias, faça chuva ou sol tenho que olhar a rede. Tem que estar sempre prevenido com o tempo porque quando o tempo mudo tem que se retirar as redes e colocar em terra. Por exemplo: no sábado para o domingo entrou vento sul e colocamos nossas redes em terra, porque se o mar engrossar se perde tudo, principalmente aqui na Barra, é terrível. E se perde rede de R$ 500,00, 600,00, 700,00. Eu tenho de três a cinco redes dentro d’água, então é um prejuízo.
[O que é mirar?]
Mirar não é tirar, a rede de espera não se tira só mira, levanta-se o chumbo mirando (olhando) todo o pano para ver se tem peixe e deixa-se no mesmo lugar. Chama-se rede de espera porque ela fica esperando. Quando está rede suja tira-se, lava-se e retorna-se para o mesmo lugar. Se o mar ficar bravo, recolhe-se e traz para a terra. O peixe é tirado lá no mar e lá a rede permanece.
[Tem alguma diferença entre a rede de espera e a boieira no momento de se colocar as redes?]
Não, porque as redes são praticamente iguais, as redes são feitas no padrão. Retira-se a rede do local onde ela está com o tamanho certinho, quando se coloca é a mesma coisa. Não tem nenhuma diferença.
[Sempre se colocam os dois tipos de redes?]
Isso depende do pescador. Tem pescador que gosta de trabalhar com a de fundo e outros gostam de trabalhar com rede boieira. Eu gosto de trabalhar com rede boieira. Eu tenho rede de fundo, mas quase não trabalho com rede de fundo.
[Porque você gosta de trabalhar com a boieira?]
Porque ela trás mais rendimento de quantidade de peixes. A de fundo suja muito pelo fato dela ficar no fundo e dá muito mais trabalho e menos produção. A boieira eu posso colocar em vários pontos diferentes, e a quantidade do peixe é melhor, menos sujeira na rede e até menos trabalho, fica mais fácil de trabalhar. Isso a gente vai aprendendo com o passar do tempo, eu já sofri muito com rede de fundo.
[E a pesca de linha? Que instrumentos são necessários para esse tipo de pesca?]
Geralmente se usa um burrinho, que é um ferro que se enverga e se faz um L, com um chumbinho no meio, e coloca-se um cabo. Em uma linha vem um prendedor no burrinho. O burrinho é feito de um ferrinho de latinha de tinta com chumbo, um distorcedor com uma pernada de nylon, com três anzóis, isso é a linha de fundo e com isso se pega pescadinha. Antigamente se pegava peroá, se pega também o baiacu, é uma linha simples.
[Com quantos conjuntos desses você pesca?]
De forma geral pescamos com duas linhas, uma na direita e outra na esquerda, e se estiver bom se pesca com uma boieira, que é uma linha que se joga para trás. Coloca-se uma boia com um anzol maior, onde se pega uma espada, um xaréu ou uma enchova. Sempre se pega um peixe melhor na boieira.
[Você pesca sozinho ou você tem um ajudante?]
Frequentemente meus irmãos pescam comigo ou vou com um companheiro de pesca. Entretanto hoje em dia está difícil encontrar um companheiro certo de pesca, ajudante é mais difícil ainda.
[Porque essa dificuldade?]
Devido ao rendimento da pesca ser muito baixo. Às vezes é preferível pescar sozinho. Por exemplo: se pescar 10 ou 6kg de peixe, como se vai dividir para dois? Na época da coibira, se pegar 200kg de peixe tem que dar para o companheiro pela ajuda, tem que dar peixe para os dois que trabalharam.
A pescadinha o pessoal pesca sozinho, porque é uma pescaria fácil, tranquila de se fazer e o rendimento é bom.
[Você tem barco?]
Sim, eu tenho um barco, tinha dois, mas um eu vendi. O nome é Aquático.
[Porque esse nome?]
Porque vem de um apelido meu. De forma geral os pescadores têm apelidos. Graças a Deus, comigo nenhum apelido pegou, mas eu tinha um amigo que sempre me chamava de homem do fundo do mar, Aquático. Ele é dono de uma pizzaria. Aí, quando comprei meu barco, coloquei o nome de Aquático. Já tenho meu barco há uns dez anos, ele é o meu “ganha pão”.
[Há quanto tempo você pesca nesse ponto da Barra do Jucu?]
Desde que me entendo por pescador, sempre pesquei aqui. O meu forte sempre foi na Barra. Já fui pescar em outros lugares como no rio Mucuri, Anchieta e Piúma, mas como diversão, não como profissional.
[Quais são sua lembranças desse ponto da Barra do Jucu?]
A minha infância não foi uma infância de garoto saído, como os jovens de hoje, que vão a toda parte. Nós naquela época não tínhamos essa liberdade, era de baixo da guarda da gururumba, sempre vivemos de baixo da guarda do pai e da mãe, era regime de pai e mãe.
Daqui da Barra eu me lembro: de quando dava ribada de manjuba, não me esqueço nunca. Era manjuba de sair pelo ladrão da rede, às vezes até estourava de tanto peixe.
Meu tio Geovani era um homem de 2m e forte. Ele gritava na praia, lá de cima, – manjuba! – e o baiateiro ouvia. Essa é uma boa lembrança que tenho. Aqui sempre deu muito xaréu, ele descia aquele morro da Concha, onde nós pescamos, com cinco xaréus nas costas, cada um com 12, 15kg.
Na praia tinha muita pitangueira e nós saíamos para catar pitangas. Em um quilômetro nós catávamos 10l de pitangas, hoje não tem mais isso, acabou tudo. Lembro-me do nosso rio e da nossa ponte. Quando nós chegávamos da praia, mergulhávamos na ponte e saíamos do outro lado. Colocávamos a roupa e com isso já tinha tomado banho, não tinha chuveiro, era de baldinho, tinha o rio que nos dava esse apoio. Nós tomávamos banho nessa beirada de rio, isso fica em nossa lembrança.
Havia muita fartura de camarões e siri, isso acabou, o rio está praticamente morto, não tem mais siri nem camarão, não tem mais nada, só esgoto.
[Quais são os pontos negativos, as dificuldades da vida de um pescador?]
Eu vejo o seguinte: você tem que fazer na vida o que gosta e se ainda existem pescadores no mundo é porque eles gostam do que fazem porque se eles não gostassem do que fazem eles não seriam pescadores. […] O pescador hoje em dia, do jeito que ele está sendo sufocado, só o é porque gosta do que faz. Ninguém vai sair de casa, do quentinho, às 4:30h da manhã, debaixo de chuva, muitas vezes, para mirar rede e ganhar seu sustento. Mas ele está fazendo porque gosta. Eu faço com maior prazer. O pescador que sobrevive da pesca, o faz porque gosta, não é por brincadeira ou diversão.
[E os pontos positivos?]
É gostar de se fazer o que se gosta, não estar prestando satisfação ao patrão, você é o seu patrão. A parte boa é que se você não estiver a fim de pescar, pega as redes, coloca em terra e fica três dias sem pescar. Vou descansar um pouco. É claro que tem que ter suporte, não se vai entrar em dificuldade para fazer isso, essa é uma das vantagens. Outra coisa boa é o conhecimento que se tem com o mar e com a natureza. Muitas vezes nós pescadores vamos às reuniões e chegam os engenheiros de pesca, coordenadores de projetos e querem aprender conosco, isso é muito lega, poder repassar os nossos conhecimentos, como estamos fazendo aqui.
[Qual a maior lição que você leva para sua vida da sua experiência como pescador?]
Eu creio que o que mais se aprende com a vida de pescador e que procuro passar para minha família é que a natureza merece muito respeito e além de tudo saber trabalhar com a natureza. Não adianta medir força com a natureza seja em relação ao vento, ao mar e a chuva. Hoje estamos tendo grandes exemplos sobre isso, de cidades que o mar está tomando conta e enchentes. Não adianta querer brigar com a natureza e sim respeitá-la. Não é ter medo, é respeito.
[Você pretende pescar até quando?]
Até eu me aposentar, mas não é parar de pescar, continuar pescando de uma forma […] Sempre converso com meus amigos, não é porque vamos aposentar que vamos parar de pescar. Nós não conseguimos perder a rotina, mas nosso ritmo de trabalho vai diminuindo porque a idade também chega. Eu pretendo me aposentar, mas continuar pescando com um ritmo menor: acordar às 6h, fazer uma pescaria mais leve ou outros tipos de pescaria, ajudar nosso rio, fazer passeios pelo rio, fazer outro tipo de atividade, mas dentro da área que também seja da pesca.
[Você se se imagina fazendo outra coisa que não seja trabalhando com a pesca?]
Hoje não. Já tive oportunidade para isso, posso até fazer outra coisa, mas que seja dentro do mar. Eu e o mar somos grandes parceiros. Eu mudei minha carteira de pescador pop, de pescador profissional para auxiliar de convés. Então eu tenho oportunidade de fazer um embarque. Se aparecer, tudo bem, se não, continuo na pesca tranquilamente. Mas, se acontecer de mudar quero estar dentro do mar, embarcado em um veleiro, rebocador ou em uma lancha, mas dentro do mar.
[Você gostaria de acrescentar alguma coisa?]
Eu gostaria de acrescentar nessa pesquisa o evento que aconteceu essa semana, que foi a descida do rio Jucu, no último dia 23. Eu participei como pescador, fazendo parte do rio e do mar. Gostaria de solicitar aos órgãos públicos um pouco mais de atenção para o rio. Se o rio Jucu continuar da forma como está, seco e assoreado, daqui a alguns dias não teremos mais água nem para beber. Esse é o meu pequeno recado que deixo, como pescador.
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelo entrevistado.]
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© 2014 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
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Entrevistado: Leonardo de Carvalho Vieira, apelido Cabeludo Grupo ao qual pertence: Coqueiral de Itaparica, Vila Velha Entrevistador: ...
Entrevistado: Leonardo de Carvalho Vieira
Entrevistado: Leonardo de Carvalho Vieira, apelido Cabeludo
Grupo ao qual pertence: Coqueiral de Itaparica, Vila Velha
Entrevistador: Fernanda de Souza
Data da entrevista: 21/03/2014.
Local / data de nascimento: Vila Velha, ES
Casado, 4 filhos
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[Como foi sua infância e adolescência?]
Minha infância e adolescência foram ótimas.
[Qual o tipo de brincadeiras que vocês tinham?]
As brincadeiras eram soltar pipa, pique-esconde, polícia-ladrão, bolinha de gude e pião.
[Você tem irmãos? Quantos?]
Na minha família somos quatro irmãos: dois homens e duas mulheres. Eu sou o segundo, do mais velho para o mais novo.
[Com quem você brincava na sua infância?]
Brincava com meus colegas de rua.
[Qual a sua escolaridade?]
Tenho o 2º Grau completo. Acho que com 19 anos já tinha terminado o 2º Grau. Na época era o curso normal, depois eu fiz o curso de Técnico de Contabilidade.
[Você chegou a trabalhar na área?]
Sim. Trabalhei quase dois anos em um escritório de Contabilidade, mas a natureza foi mais forte.
[E os seus pais?]
Meu pai trabalhou e se aposentou como militar da Marinha. Minha mãe é do lar.
[Seus pais tiveram contato com a pesca?]
Creio que meu pai sim, por estar na área da Marinha. O meu avô, o pai da minha mãe, foi pescador, e acredito que minha mãe tenha tido um contato maior com a pescaria.
[Conte um pouco sobre seus avós]
Meu avô, pai da minha mãe, é que fornecia o sustento da casa através da pesca. Não tenho muita recordação, porque eu era muito pequeno, não tive contato com ele, as informações que tenho foram fornecidas pela minha mãe.
[Com que idade você teve contato com a pesca?]
Eu sempre gostei do mar. Com 14, 15 anos de idade eu já pescava usando uma varinha de pesca. Ia para a beira das pedras pescar, como todas as crianças e adolescentes que gostam de pescar, depois é que ingressei na pesca.
[Quem te ensinou a pescar?]
Primeiro foi o fato de eu gostar e o convívio com os pescadores mais antigos. Sempre perguntando como é e buscando ter um conhecimento através dos pescadores mais antigos da colônia. Aos poucos se vai aprimorando, encarando o mar e aprendendo. Foi dessa forma.
[Como foi sua trajetória na pesca?]
Eu já tinha 18 anos e comecei aqui em Coqueiral, indo e vindo com os pescadores. Comecei como ajudante dos pescadores.
[Você tem barco?]
Não.
[E como você pesca?]
Pesco com os amigos que têm barco.
[Você vai todos os dias?]
Quando o mar deixa, sim. Nós dependemos muito do mar. Pelo pescador tem mar bom o ano todo, mas na prática não é bem assim, não é o ano todo que o mar está bom.
[Como era a pesca antigamente e como está hoje?]
É muito variado, é muito diferente se pescar de linha e se pescar de rede. São pescarias muito diferentes uma da outra.
A pescaria é época. Tem época da pescadinha, do baiacu e da enchova, esses são peixes de época. Às vezes o peixe dá uma sumida e quando pensa que não ele já está de volta, não sei por que motivo, acho até que seja pelo fato de se alimentarem aqui na costa. Continua-se pegando, mas não a quantidade que se pegava antigamente.
Hoje a pesca industrial está muito forte. Quem tem condições de ter um barco do tipo traineira […] A traineira é um barco grande que tem condições de fazer uma pescaria lá fora. Eles pegam os peixes que possivelmente iriam vir para aqui, para os pescadores artesanais pegarem, mas que não pegam. Acredito que seja por isso que esteja acabando a pesca por aqui. Isso é uma das causas de o peixe estar sumindo daqui da beira da praia. As grandes empresas de pescado têm impedido dos peixes chegarem até aqui, é o que todo mundo comenta. O pescador artesanal tem que viver daquilo que o mar vai dando gradativamente.
[Qual a média de quantidade que se pesca hoje?]
É muito relativo. Hoje o peixe que está dando é a pescadinha e geralmente se pega 5, 10, 15, 20kg, enquanto que antigamente era uma média de 30kg, ou seja, o dobro. Hoje está mais difícil, até quem sai no remo, que pescava aqui por perto, costeando, hoje tem que comprar um motor para ir lá fora para poder pegar o peixe, e assim vamos vivendo.
[Você tem outra fonte de renda que não seja a pesca?]
Não, a minha única fonte de renda é a pesca. Por enquanto é a pesca, vamos ver até quando conseguimos viver da pesca.
[Fale sobre os peixes e suas épocas.]
A pescadinha é no verão e logo em seguida vem o baiacu, a espada, a enchova e a sarda. É mais ou menos nessa sequência. Os pescadores seguem essa sequência, estou falando daqui, do Espírito Santo.
[Como é sua rotina como pescador?]
Acordo às 5h e todos os dias venho para a praia. Eu moro próximo à praia, venho de bicicleta, mas às vezes venho a pé. Quando venho de bicicleta gasto uns cinco minutos, é pertinho. Tomo o café e venho para a praia.
[O que você faz quando chega à praia?]
Se tiver condições de pescar, eu vou pescar, pois depende do mar. Se não, fico em terra com os amigos, com os outros pescadores conversando, ou na colônia. Sempre tem conversa sobre o que está acontecendo ou sobre o cotidiano.
[Você tem um parceiro fixo para a pesca?]
Não, quem estiver disponível e chamar, vamos. Isso acontece pelo fato de eu não ter uma embarcação.
[O que impede a saída para ir pescar?]
Ondas, essa parte de Coqueiral bate muita onda, por ser mar aberto. É diferente da Praia da Costa, da Praia do Ribeiro que dá condições de se sair. Por exemplo, na Praia da Costa e Itapuã sempre dá condições de sair. Aqui, por ser mar aberto, sofremos um pouco com as ondas. Se o mar estiver muito agitado ficamos impossibilitados de sair para pescar. A chuva não atrapalha, se o mar estiver calmo não tem diferença. Se está na chuva é para se molhar.
[Tem alguma influência da lua?]
Sim, tem influência […] Geralmente quando vem vento sul, vem chuva. O mar dá um balanço e bate onda, aí não tem como ir pescar. Fora isso, a pescaria é normal.
[Tem alguma época do ano que se sai mais para pescar?]
Geralmente no verão se sai mais. No inverno é menos, mas se pesca. No verão é sempre calmo. Eu acredito que os pescadores até batalham mais no verão para terem um dinheiro guardado para certas emergências. Todo pescador é assim.
[Quantas horas você fica no mar?]
Em média fico de quatro a cinco horas no mar. Geralmente, volto às 10h, até porque tenho que vender o peixe aqui na banca, um peixe fresquinho para poder servir a população.
[O que se faz quando vocês chegam da pescaria?]
Coloca-se o barco para cima, retira-se o material e vem para a banca. Pesa o peixe, limpa e vende.
[A que horas você retorna para casa?]
Por volta de 12h, almoço, descanso e faço tarefas do cotidiano, como rever o material de pesca. Às vezes fico o dia todo na praia. Quando tem lance de peixe de rede, fica-se o dia todo. O lance de rede não tem uma hora específica para se cercar, pode cercar pela manhã e pela tarde.
[O que é lance de peixe?]
É um cardume que vem. Nós vigiamos e cercamos com rede de arrasto, como se chama. Sabemos que está vindo pelo olhar.
[E como se faz?]
Um vai remando e o outro vai soltando a rede e cercando o cardume. Geralmente em terra tem de 8 a 10 pessoas para poder ajudar a puxar a rede. Quando Deus abençoa é bom, quando não, é bom do mesmo jeito.
[A que horas você costuma ir dormir?]
Por volta das 21h ou até antes, no mais tardar às 21:30h, porque acordo muito cedo.
[Você é casado?]
Sou casado e tenho 1 filho de 11 anos.
[O que sua esposa acha do seu trabalho como pescador?]
Quando nos conhecemos eu já pescava. Ela me apoia e não reclama.
[Você pesca nos finas de semana?]
Sim, também venho pescar aos sábado e domingos. Venho todos os dias e ela (minha esposa) entende o fato de eu ter que vir trabalhar nos finais de semana.
[Ela tem algum receio em relação ao mar?]
Acho que não.
[E o seu filho, você já o trouxe para pescar?]
Sim, ele gosta de vir e gosta bastante de água. Já passeei com ele, mas não para pescaria.
[Ele também quer trabalhar com pesca?]
Não, e eu não forço nada. Eu o incentivo a estudar bastante para que no futuro, quem sabe, ele possa vir a ser um doutor. Ele está na 7ª série.
[Que tipo de pesca você pratica, de anzol ou de rede?]
Minha pesca é de anzol e, quando posso, pratico pesca de mergulho.
[Como é a pesca de mergulho?]
Vou de barco costeando as pedras e faço o mergulho.
[Que instrumentos você precisa para fazer a pesca de mergulho?]
Preciso de uma roupa de neoprene, uma nadadeira, de máscara, canudo e arma de mergulho.
[Como é essa arma de mergulho?]
Chama-se arbalete. Tem a arbalete e uma pneumática que é de pressão, que não se usa mais, a arbalete é a mais usada. A arbalete é de borracha, se estica a borracha para armar a lança e a outra (a pneumática) é de pressão.
[Porque se usa mais a arbalete?]
Porque é uma arma mais leve e faz pouco barulho no fundo quando se atira no peixe.
[Que outros instrumentos tem que levar?]
Leva-se uma boia sinalizadora para que as embarcações que estiverem por perto saibam que ali tem um mergulhador.
[Que tipos de peixes você pega com a prática de pesca de mergulho?]
Quando esta na época se pega sarda, enchova e sargo. Geralmente são peixes que vivem costeados às pedras.
[E como você vai?]
Geralmente saímos com a batera, de lancha, quando temos amigos que possuem lancha, ou nadando para a ilha.
[Quanto tempo se leva da praia até o ponto de mergulho?]
Geralmente é por aqui perto, nas ilhas, no costeado.
[Quanto tempo você fica pescando?]
Quando está bom, de 5 a 6 horas de pescaria.
[Você vai sozinho?]
Não, sempre vou acompanhado.
[Você tem companheiro de pesca de mergulho aqui no ponto de Coqueiral de Itaparica?]
Quando tem amigos que chamam, sim. Quando não tem vou sozinho na ilha ou no coral.
[Todos os pescadores praticam a pesca de mergulho?]
Não.
[Há quanto tempo você pratica a pesca de mergulho?]
O mesmo tempo da pesca de linha, eu associo uma à outra.
[Quem te ensinou a pesca de mergulho?]
Gostando e conversando com os mais velhos, vendo o que era preciso e fui. Hoje estou aí.
[E o que tem que ser feito para se praticar a pesca de mergulho?]
Primeiro se faz um mergulho de apneia, que é encher o pulmão de ar, desce, faz uma espera de fundo, pega o peixe e sobe. Quando não se visualiza o peixe, sobe. Assim vai-se praticando. A cada peixe que se pega, se sobe. Quando desce, e não pega, também tem que subir. Essa é a pesca de apneia, não é uma pesca de cilindro (de compressor), de garrafa como se diz. Esse tipo de pesca (de cilindro) não é permitido, porque é uma pesca predatória. A pesca de apneia é uma pesca artesanal.
[Para se praticar a pesca artesanal de mergulho tem que ter alguma autorização ou curso?]
Eu tenho minha carteira de pescador, que acho que me dá o direito de fazer a pesca artesanal, de mergulho. Quem não tem carteira de pesca, me parece que se tira uma guia pelo site do IBAMA e se paga anualmente. Essa guia dá uma credencial de 15kg de peixe e mais um exemplar.
[Qual a pesca que você mais gosta?]
Eu gosto mais da pesca de mergulho, pratico duas vezes por semana. Às vezes faço pescaria de linha, associo.
[Como você define se vai pescar de anzol ou de mergulho?]
Depende do mar. Se o mar estiver bom vou de linha. Se amanhã o mar estiver bom de novo, vou para o mergulho. Venho, vejo o mar, e se der condições vou em casa, e busco o meu material de mergulho. Como é perto tenho condições de fazer isso.
[E como é a pesca de anzol? Que instrumentos têm que levar?]
Linha, chumbo, anzol, iscas (sardinha ou tainha) que compramos, o barco e o lanchinho.
[Tem tipo de linhas e de anzol?]
Tem linha mais grossa ou mais fina. De acordo com o peixe. Aqui na beira se pesca com linha mais fina. Se for pescar em alto mar a linha é mais grossa, porque são peixes maiores.
[Os anzóis tem diferença de acordo com o peixe?]
Sim, se for pescar um peixe maior, o anzol tem que ser maior. Se for pescadinha, o anzol é menor. Levamos vários tipos de anzóis, chegando lá (no local da pescaria) é que vamos ver o que se vai usar. Se tiver pescadinha usa-se um anzol menor. Se tiver espada usa-se um anzol maior com um pedacinho de aço, porque a espada corta muito a linha. Se não tiver o aço se perde muito anzol. Na época do baiacu tem que se pescar um anzol maior e com aço porque ele corta a linha.
[E as redes?]
Cada rede tem uma malha, malha maior ou menor, de acordo com o peixe.
[Qual a diferença entre rede de fundo, rede de espera e rede de arrasto?]
E rede de arrasto é uma rede que se usa na beira da praia. A rede de fundo e espera coloca-se no mar num dia e se mira no outro dia. No outro dia recolhe a rede para dentro do barco, tira os peixes e torna a deixar no mesmo lugar.
[Qual a diferença da rede fundo para a rede de espera?]
Aparentemente é a mesma coisa. Chama-se rede de fundo, porque ela fica no fundo de um dia para o outro. As duas ficam no mar. A rede de arrasto fica aqui na praia. Cerca o peixe, tira da água e recolhe para o barco para se fazer uma nova saída para cercar outros peixes se tiver.
[Você sempre pescou aqui no ponto de Coqueiral de Itaparica?]
A maior parte aqui.
[Quais foram os outros lugares que você já pescou?]
Já pesquei na Bahia. Aqui no município de Vila Velha já pesquei em Itapuã e na Praia da Costa. Quando os amigos chamam eu vou. Mas sempre pesco aqui em Coqueiral.
[Quais são sua lembranças dos locais de pesca?]
Só guardo boas lembranças. O que mudou aqui é que hoje tem prédios, mas ainda continua sendo um bom local de pesca.
[Você já sofreu algum acidente no mar?]
Graças a Deus, não.
[Por quanto tempo você pretende continuar pescando?]
Pescaria é vida, o mar é a vida. Vou continuar pescando até quando puder.
[O que você mais aprendeu com a pescaria, o que você leva como lição de vida?]
A humildade. As pessoas que aqui trabalham são humildes e comunicativas. Aqui um depende do outro. Às vezes tem um atrito, como em todo lugar.
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelo entrevistado.]
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© 2014 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
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Entrevistado: Fábio Firme Grupo ao qual pertence: Barra do Jucu Entrevistador: Fernanda de Souza Data da entrevista: 28/03/2014. Lo...
Entrevistado: Fábio Firme
Entrevistado: Fábio Firme
Grupo ao qual pertence: Barra do Jucu
Entrevistador: Fernanda de Souza
Data da entrevista: 28/03/2014.
Local / data de nascimento: Vitória, ES,1957.
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[Como foram sua infância e adolescência?]
Minha infância foi com meus avós. Eles eram fazendeiros aqui (na Barra), e em Viana. Durante a semana eu estudava, e ajudava o meu pai nas lojas. Ele era comerciante na Vila Rubim, e nos feriados e finais de semana ia para a fazenda do meu avô. Ficava contando nos dedos os dias que faltavam para os feriados para ir para a fazenda. Era muito divertido, pois reuniam os primos, primas e tinha muitos animais para montaria. Fazíamos fogueira e roda de violão próximo ao casarão. Brincávamos de escorregar nas palhas de coco ou em tábuas molhadas, e descíamos o morro. Era uma aventura além de se quebrar braço, e se ralar todo. Quando não estava na fazenda estava em outro terreno do meu avô, em Caçaroca. Nós saímos de Santo Antônio de canoa remando, passávamos pelas 5 pontes, entrávamos em um rio onde hoje é o prédio da Polícia Federal e íamos pelo rio Marinho. Na época não era poluído e os peixes pulavam dentro d’água. O meu avô batia com a vara na beira do junco, e os peixes pulavam para dentro da canoa. Meu avô dizia: meu filho você quer ver peixe à noite? E eu dizia: Vô, vamos pescar à noite? E saíamos eu, e ele para pescar à noite. Ele colocava o lampião na canoa, vestia o colete em mim, e ia remando, adernando a canoa e batendo nos matos. Com a claridade aquilo ficava branco dentro da canoa, chamava-se sairu. Pegávamos baldes e enchíamos cestos de 100 a 200k. Então, durante a semana eu estudava. Quando morei em Vitória estudava no Salesiano, e depois vim estudar em Vila Velha no Marista. Estudei até o 2º grau, completo. Fiz vestibular para engenharia, mas abandonei o estudo. Comecei a trabalhar, e também trabalhava com meu pai. Desde cedo gostei de trabalhar, e de ter meu dinheiro. Tinha vida boa, tinha carro e tudo mais. Sempre trabalhei e corri atrás. Mas, sempre tive essa vida aqui. Não tenho o que reclamar. Estou bem graças a Deus.
[Seus pais e avós tiveram contato com a pesca?]
Meu avô materno, sim. Ele pescava muito camarão e robalo aqui no rio. Eles chamavam [o rio] de Caçaroca, hoje está tudo poluído. A Braspérola e a Real Café poluíram tudo. A água era cristalina. Havia um lugar chamado a “boca da vala”, que era muito fundo e tinha uma passagem que era uma ponte. Passava-se por ela e balançava. Nós olhávamos lá em baixo, mais ou menos a uns 15 m de altura, e víamos os robalos. Batíamos a linha e eles mordiam a isca. Era um lugar muito fundo e dava muito peixe. Meus avôs viviam disso. Viviam da pesca e dos laranjais. Naquela época vendia-se muita cana, ele tinha muito gado. Meu avô chamava-se Mariano Varejão Filho.
O meu avô era português. Tinha os cabelos brancos e olhos azuis, na fazenda tem a fotografia dele. Minha avó foi pega a laço, chamava-se mãe Cíntia, ela era índia. Meu avô era muito trabalhador e inteligente. Era um homem de visão. O Morro do Moreno foi dele, depois vendeu. Tinha fazendas em Viana e no Rio Marinho. Tinha muita terra e era muito trabalhador. Nas fazendas tinha muita hortaliça e tinha muita gente. Eles vendiam muito para o mercado e assim foram desenvolvendo um comércio. Uns ficaram no interior, e outros vieram para a cidade e se dedicaram ao comércio. Eram em nove irmãos, duas mulheres e sete homens. Hoje só tenho uma tia viva, com 93 anos de idade, que por sinal é muito linda.
A história dos meus pais é muito grande e bonita.
Tem uma passagem muito interessante que é o seguinte: as meninas de Caçaroca eram muito bonitas. Na época havia uns bailes aqui (na Barra do Jucu), e em Caçaroca. Então, os parentes dos meus pais vinham de Caçaroca para fazer os bailes aqui (na Barra do Jucu), e vinham pelo rio Jucu de canoa remando. Depois, eles subiam até Caçaroca com as meninas, e pegavam os cavalos para retornarem para as fazendas. [...] O pessoal daqui da Barra conta como era antigamente. O meu pai tocava muito, e minha mãe adorava cantar.
[Com quem e com que idade você aprendeu a pescar?]
Eu aprendi com meu avô. Eu o via pescar e achava interessante, lembro-me como se fosse hoje, levei uma surra da minha mãe. Peguei um puçá, arranquei o arco, juntei as malhas em cima, amarrei um cordão e embaixo amarrei umas pedras. Saí pela beira da maré jogando aquele troço. Quando minha mãe me achou eu estava todo cheio de lama e por isso levei uma surra debaixo do chuveiro. [...]. Mesmo assim fui aprendendo. Depois, meu pai comprou uma tarrafa, fui jogar tarrafa e pescando. Eu gosto muito de estar no mar e no rio, mexendo com peixes, tratar de badejos de 20, 25k, [...].
Eu acho que é genético, esse lance de pescaria é herança do meu avô materno. Pela parte do meu avô paterno é mais criação de gado e fazendas. Eu também gosto de animais, tanto que meus primos [por parte de pai] trabalham com gado e plantações. [...].
[Como era a pesca antigamente e hoje?]
Isso aqui era a coisa mais linda do mundo em termos de fartura de peixe. Na época da enchova, quando se colocava um trasmalho aqui, logo em seguida quando se levantava dava uma quebra. A quebra é quando se coloca o transmalho, tudo retinho nas boias, e quando se levanta dá umas quebras. Pegavam-se muitas enchovas, robalos de 15 a 20k, mero, caranha, e sarda. Era fora do comum a quantidade que se pegava.
Ali, na maré, depois da ponte, se mergulhava para pegar camarão. Quando se mergulhava e passava-se a mão no cabelo, parecia que não tinha cabelos devido à lanolina da água. Era uma água preta, mas pura lanolina. Colocavam-se as mãos nas locas e pegavam-se aqueles grandes camarões. Hoje em dia é tudo poluído. Em relação a hoje posso dizer que diminuiu 70%. Acabou tudo. Está tudo poluído. O peixe ainda vem devido ao curso, vem na [?], mas não é aquele peixe que fica aqui, rodando. Quando ele entra e sente alguma coisa, ele abre fora, não fica passeando. Aqui dava muito mero. O mero parava aqui e morava, isso quando não tinha poluição. Você ia lá e matava o peixe. O rio ainda tem peixes, mas está muito poluído. Há 30 anos isso aqui era uma fortaleza de peixes. Chegava-se no riacho, pegava-se o peixe, e amarava-se no pau. Eram cinco ou seis viagens pela manhã, às 10:00h, que é hora das miradas por aqui, e às 16:00h.
O peixe não tinha o valor que tem hoje e era de todos os tipos com muita fartura. Hoje quem ainda vive da pesca aqui é porque é trabalhador, porque é muito complicado viver só da pesca. Às vezes se pesca e outras não, fica a desejar. Não se pode contar só com a pesca, naquela época podia-se contar. Colocava-se o trasmalho e pegava-se peixes em todos os horários pela manhã e pela parte da tarde.
Aqui tem um peixe chamado guaibira, o baiacu. Daqui da cerca, quando se passava, só se via guaibira, que é um excelente peixe, como o bacalhau. Seja assado ou frito, como moqueca ou desfiado na torta. Eu e o Marcelo pegamos em janeiro 600kg de guaibira em uma pescada. Na época dela até deu mais ou menos, mas, antigamente era o ano todo, com muita fartura. O xaréu e o sururu da Barra são os mais gostosos, porque o rio desemboca em cima da ilha. [...] ele é filtrador, bate muito e até chegar lá ameniza a poluição.
Mas tem poluição, tem esse esgoto que desce aí, que vem da região cinco, desemboca todo aqui. Essa poluição cai toda no rio. E o que vem de Araçás? É muita coisa. Isso fez com que ficasse poluído. É certo que para o mar, o que não for agradável, ele coloca para fora, mas a água ela vai poluindo. Foi uma queda de 70% ou mais da quantidade de peixes que davam por aqui.
[Você acha que foi só a poluição que causou a queda na quantidade de peixes ou tem outros fatores?]
Não foi só a poluição. A poluição a que me refiro é em relação à nossa costa. Outro fator são as traineiras, que estão detonando tudo, e as perfurações da Petrobrás. A dragagem que fizeram na baía de Vitória foi jogada aqui. As dragas vinham no baixinho e por trás dos navios, abriam as comportas e jogavam. A lama foi batendo nas pedras e foi subindo. Os buracos estão cheios de lama da baía de Vitória. Aquilo é poluição da baía de Vitória. O mar tanto joga as correntes para fora quanto joga para dentro. Os pinguins chegam aqui porque são caminhos, correntes de águas que vão e vem. Da mesma forma é a poluição, vai para fora e vem para a costa, aí acaba. Cadê as nossas peroás? Com essas perfurações que fizeram, os “chupas cabras” e as explosões elas nunca mais voltam. A Petrobrás está fazendo e acontecendo e as traineiras estão acabando com tudo. Se o pescador artesanal estiver ali fora pescando e a Capitania passar, vão em cima do pescador. Se o pescador não estiver documentado eles multam e rebocam a embarcação, mas o pescador tem filhos para criar, e aí?
E os grandões? E os barcos que saem da Cibrazen, na Praia do Suá? Saem na 2ª feira, e retornam na 6ª feira com 60, 70 toneladas de peixe. Já saem daqui com o sonar ligado e sabem onde está o cardume de peixe a 30km. Quando estão vindo do mar para descarregar em terra já saem no caminho sabendo a quantos graus ao sul, leste, norte e já vão em cima. E quando chegam lá jogam aquelas redes monstruosas. Já sabem a profundidade, onde tem pedras ou não. Então as traineiras, a poluição e a Petrobrás [...], eles não fazem nada por ninguém. As traineiras estão acabando com tudo. A manjuba e a sardinha, que davam demais em Itapuã, esse ano deu pouca coisa. Tudo isso devido à Petrobras e às traineiras. E eles nada fazem. O pessoal que está pescando a pescadinha agora está se virando nisso aí, e quando acabar a pescadinha?
Antigamente se saía aqui e, com uma hora de mar adentro, se matava de uma a três caixas de peroás todos os dias. Hoje não se acha nem uma. Se não tivessem essas pescadinhas aí os pescadores iriam passar perrengue, vão ter que encarrar um trabalho como ajudante de pedreiro para não passar perrengue, não tem jeito. Aqui mesmo tem várias perfurações e as explosões no fundo do mar que acabam com tudo. A Petrobrás, as traineiras e a poluição se juntaram, e foi à gota d’água. E cada vez vai ficar pior, ninguém vai fazer nada para ajudar. Na nossa costa, de Regência para cá, pelo que tenho de conhecimento, todo mundo tem reclamado. É só poluição e nada mais.
Se o pescador tiver um barco a motor e ficar lá fora dois dias ele ainda arruma alguma coisa. Aqueles que trabalham com batera aqui na costa, Deus me livre! E quando se coloca a rede o mar vem e leva tudo embora e aí?
Se não se tiver um capital de giro, fica-se a desejar. É complicado, só vai piorando, e eles não fazem nada. Estão vendo o que está estampado, mas não fazem nada pelo pescador artesanal. Temos o CEAPS que criou o defeso, que é de quatro meses. Eu acho que o defeso do sururu deveria de ser pelo menos de seis meses porque o pessoal está atacando muito as pedras. Eu tirava dez sacos, não tiro mais. Tem vários barcos que tiram por dia 40, 50 sacos. As pedras não resistem, então o defeso de quatro meses, de setembro a dezembro – ele fecha em 1º de setembro e abre em 1º de dezembro –, eu acho um prazo muito curto, deveria ser de pelo menos seis meses para poder dar tempo, mas não fazem isso porque têm que pagar. O certo deveria ser um ano, porque o sururu [...] Se você for ver as pedras onde ele está [o sururu] está tudo preto e pequeninho, está um pouco atrasado. Se fossem dados seis meses ele ficaria melhor.
[Atualmente a pesca é a sua única fonte de renda?]
Sim.
[Dá para viver só da pesca ou tem que complementar com outra coisa?]
Tenho que complementar com outras atividades. Se gasta muito e a gente tem que dar nossos pulos.
[Viver da pesca hoje é complicado?]
Para o pescador artesanal, sim.
[Como é sua rotina como pescador?]
Acordo às 04:30h da manhã, pego os peixes e vou vender. Chego em casa às 21:30h, isso é quase todos os dias.
[Você tem ponto fixo?]
Não, onde tem barco descarregando eu vou. Escolho os melhores peixes, compro, pago mais caro e exijo a qualidade. Se tenho qualidade, tenho preço. Eu optei só pela pesca, que eu não largo, e faço porque eu gosto, e tirar o sururu. Aqui só quem tira sururu sou eu e o Marcelo [...]
O mergulhador liga para mim, porque eu pago o melhor preço e pago em cash. Chegou, paguei. O pescador que vem do mar cansado [...] o peixe vem direto para minha mão. É até engraçado porque o pescador já separa o peixe para mim porque ele sabe que pago em dinheiro. A minha clientela é grande porque tenho um bom peixe. É caro, não vendo barato, sou careiro, mas tenho qualidade.
[Relate as etapas do seu trabalho?]
No dia que chega a barca eu vou comprar o peixe para revender. Separo, peso, trato, encero, ensacolo e empacoto, isso quando não tenho freguês. Tem fregueses que pegam inteiro, outros pegam sem tratar, outros exigem que corte o peixe, outros querem ou não com a cabeça. Vendo muito para restaurante e entrego em domicílio.
Eu só vivo de sunga, aqui eles dizem que quando estou de bermuda não estou legal. A sunga é o meu dia a dia. No meu condomínio não ando de sunga porque não é permitido, mas no meu dia a dia é sem camisa e de sunga de praia, pode estar chovendo ou fazendo sol, com vento sul ou norte, fico assim direto, não tem jeito.
[Você não tem uma rotina muito definida, de fazer a mesma coisa todos os dias, como é isso?]
Tenho uma rotina diversificada e é raro eu fazer dois dias a mesma coisa. Às vezes estou no camarão, no peixe ou no sururu. Agora estou no sururu mas, se chegar peixe, estarei no peixe e no sururu. Às vezes vou para o barco, outras, vou comprar peixe. Eu só compro peixe vivo, às vezes chego e vejo que não serve. Sou muito enjoado, fico no máximo dois ou três dias na mesma rotina, senão acabo estressando.
[Como é a preparação da rede? Desde a compra até colocar no mar, o que tem que ser feito?]
Antigamente a rede era feita de barbante, de tucum, de onde se retiravam os fios. Era um tipo de nylon muito reforçado. Hoje não se faz mais, hoje compramos as redes prontas. Tem pessoas que fazem, mas é muito tempo para se preparar, dependendo do tamanho e da malha, então é mais fácil se comprar o pano de 70, de 80 com determinada malha. Compra-se o pano, estica-se e só entralha as boias na corda e o chumbo, e a rede está pronta.
Antigamente levava-se de um a dois meses para se fazer uma rede. A tarrafa é feita à mão, mas também é feita na máquina. O pessoal opta por aquela que é feita à mão porque fica mais perfeita e ela se abre toda, o que não acontece quando é feita na máquina, porque afunila. As redes que são feitas na máquina têm um detalhe: dependendo dos peixes, quando batem na malha, correm e furam a malha. Quando a rede é feita à mão a malha não corre. Quanto mais grosso o nylon mais a malha aperta. [...] se puxa e ela volta para o lugar. De acordo como o peixe bate, ele fica ou não, às vezes nem fura, a malha corre e o peixe passa pelo buraco. Por um lado ficou mais barato e é mais rápido. Outro problema é que os fazedores de redes foram morrendo ou não querem mais fazer porque já estão idosos e não têm mais aquela força para apertar o nó. Hoje compramos a rede, amarramos em uma árvore, pegamos malha por malha, amarramos por cima e por baixo, colocamos um peso de 100kg em baixo. Ferve-se uma água, coloca-se uma escada e joga-se a água quente no olho. Se vê que cede um tanto do nylon aí, se fecha o nó e se aperta. O peso, quando a água quente bate, ele estica, daí se fazer esse processo.
[Quais são os tipos de redes e qual a diferença de uma para outra?]
No caso a pescadinha tem que ser uma malha fina e menor, um nylon 35, 40. Para um peixe maior, um nylon 60. Para a enchova um nylon 90 ou 100. Cada peixe tem uma malha, um nylon. Quanto maior o peixe, maior tem que ser a resistência do nylon e mesmo assim fura. Naquele tempo tinha um nylon bom, do tipo nilon. Hoje não tem mais o nilon, o que tem é tudo falsificado.
Para a costa o trasmalho é mais baixo e para fora o trasmalho é mais alto. Tem trasmalho de 100 malhas de altura, de 30, 40m de altura, depende muito da qualidade do peixe.
Naquela época tinha um nylon que se chamava de rede traiçoeira e foi proibida. Era um nylon resistente, o peixe batia e não furava, embolava mas não furava. Devido a este tipo de nylon dessa rede traiçoeira diziam que se estava matando muita lagosta. Na realidade ela tinha um tempo de vida maior, então acharam melhor acabar com essa rede. Aí passaram a pagar certa importância para as pessoas entregarem esse tipo de rede. Muitas entregaram, aproximadamente 80%. Dizem que ela mata muito mais do que a de nylon comum, mas não é. O nylon comum mata mais do que essa rede, só que essa rede de nylon tipo seda é mais resistente do que o nylon que se usa frequentemente. Cada peixe tem uma bitola de malha: a pescadinha, a sarda e a enchova. Se você colocar um nylon de 50 para enchova ela fura, a não ser se ela agarrar. Se colocar um nylon de 100 ela vai bater e vai ficar.
[Como são as redes de fundo e de espera?]
As redes de fundo são duas garateias. Entralha-se boia e chumbo e a altura é que se deseja. Lá fora se larga uma boia com a garateia, com ferro pesado, com bastante marra, e se estica a favor da água, coloca-se uma boia em cima e uma em baixo. Se largar muito fora se marca pelos morros. Vai, puxa pela boia, recolhe a rede, mira e larga novamente.
A de espera também se arma, só que ela é boieira. Se mira todos os dias e deixa lá. No verão são três miradas: pela manhã cedo, às 10:00h, e à tarde. Geralmente na rede de fundo se faz o seguinte: mirou pela manhã e à tarde, se não deu peixe eles miram pela manhã. Aí o peixe dá e não se mirou à tarde, quando chega pela manhã o peixe está todo estragado.
Eu digo o seguinte: se colocou a rede lá tem que mirar pela manhã e à tarde. Se não deu pela manhã não vai dar pela parte da tarde? A rede está lá e ela está caçando, aí o peixe dá, mas se perde o peixe, já aconteceu muito isso.
A rede boieira também. A rede boieira é alta e tem a possibilidade de apanhar o peixe. Se colocar a rede de sete metros em um lugar de profundidade de sete metros ela fica da face até em baixo e a possibilidade de se pegar o peixe é grande.
A rede de fundo, não. Se tiver três metros ela vai pegar o peixe que estiver na profundidade de três metros, o peixe que passa por cima não pega. As redes de fundo podem ser de nylon 100, e podem ser malha grande ou pequena, fica a critério de cada pessoa. Mas nas redes de fundo se usa mais um nylon mais fino, que é para peixes menores. Todos os pescadores que usam rede de fundo usam um nylon mais grosso, quanto mais rede melhor.
[Você tem redes?]
Sim, elas estão em terra devido ao tempo. Eu sou muito cuidadoso com minhas redes: são todas branquinhas e guardadas certinhas porque são caras. Tenho redes de 5, 6 anos que você não diz que tem todo esse tempo, isso é devido ao cuidado.
[Em que ponto você coloca suas redes?]
Coloco aqui na barra ou lá por fora. Quando eu coloco, miro todos os dias pela manhã e pela tarde.
[Você também pratica a rede de arrasto?]
Já pesquei muito, já matei muito peixe aqui, eu remava muito e colocava muita rede, mas depois fui cansando e não trabalhei mais com rede de arrasto. Era eu e Helinho que pescávamos e dava muito peixe. Aqui [na Barra] há 35 anos dava lance de se matar de três a cinco mil quilos de peixes, isso quando tinha peixe. [...] Hoje é lá uma vez ou outra que isso acontece, só por milagre, o peixe não vem porque está poluído, passa por fora, o peixe vem e quando chega passa por fora, pega a corrente e vai embora.
Outro fator que também contribuiu para a escassez de peixes foi a Tubarão, porque acabou muito com a nossa corrente de água, uma vez que o peixe vem na corrente da água. Ainda tem corrente, mas não é tanto como tinha. São vários fatores que se juntaram e atrapalharam.
[Você tem praticado a pesca de linha de fundo?]
Não, porque não tem mais peixe, o que está se pegando é a pescadinha, que está tendo agora. Mata-se de 30 a 100kg de pescadinha e depois se coloca a linha e não se pega nada. Vai-se pela manhã, fica-se até das 5:00h às 10:00h, e quando olha para a caixa está vazia. E o pescador que tem filhos para alimentar? O cara pira. Você não pode ir lá fora com um motor de 5.5, se for pode pegar uma tempestade e não voltar, e aí?
[Descreva a prática da linha de fundo?]
Se faz um arco, do tipo de um bodoque, e no meio dele dá uma voltinha, coloca-se a chumbada e divide. Faz-se um tipo de anelzinho e amarra-se a linha com três anzóis. Qualquer toque que der o chumbo balanceia e aí você sente, bate no fundo e você recala com as duas braças. Aquela linha fica chumbada e qualquer toque que o peixe der você pega. O arco é para se ter um tato do peixe, às vezes o peixe é tão sabido que quando você puxa ele já comeu a isca.
[Que tipo de isca você usa?]
Quando eu vou pescar eu gosto de levar uma sardinha, um camarão ou uma tainha, eu gosto de levar vários tipos de iscas, eu gosto de ter opção. Tem pescador que não leva nada [...].
[Como é feita a retirada do sururu e quais são os perigos?]
É um processo muito perigoso. Eu retiro nos lugares mais perigosos, aonde ninguém vai, onde bate. Se você cair em cima de uma pedra daquela pode ir direto para o hospital porque é só craca e corta muito. Além disso, tem que ter muito preparo físico porque se retira no grapuá e é duro. Eu sou rápido: em uma hora e meia eu tiro a minha cota de dez sacos, eu não gosto de tirar mais, é trabalhoso e cansativo. É como se fala: é um dinheiro que é ouro, mas deixa-se o couro. [...].
[Onde você começou a pescar?]
Foi em Santo Antônio, no cais do avião, próximo ao Sambão do Povo. Antigamente se chamava cais do avião, ali aterrissavam aviões na água. Eu comecei em Vitória, no cais do avião, próximo a Ilha das Caieiras, em Santo Antônio, onde é hoje a rodoviária, na Ilha do Príncipe, era um michouro [?], isso há 40 anos.
[Quando você veio para Vila Velha?]
Vim quando meus pais compraram uma casa aqui para passarem o verão. Vieram passar o verão e ficaram. Ficávamos aqui e na Praia da Costa.
[Você tem ponto fixo?]
Não tenho ponto fixo, sou igual a cigano: estou lá, estou cá e não paro. Se eu ficar em um lugar parado, fico doido. Fico aqui na Barra, no Ribeiro, na Prainha, Itaparica, Itapuã, Barra Seca, Barra Nova e Conceição da Barra. Não tenho lugar certo.
[Quais são suas lembranças desses pontos de pesca?]
Daqui da Barra me lembro de que quando saía para pescar em uma hora de pescaria voltava com a cesta cheia de peixes: de robalo, tainha e ticupá. Se fosse ao rio com dois, três metros de água, já estava com uma peixada, moqueca de robalo, de ticupá e de caramelo. Era muito peixe. Aqui de frente àquele prédio, que se chamava puleiro, se ia pescar com isca de camarão vivo, se colocava a vara de pescar na areia e se ferrava aqueles robalos de 800g ou de um quilo, ia lá e apanhava, era muita fartura de peixe. Camarão, quando se passava nas pontas da pinguela, de lá se via os camarões pitu passando. Tinha muito caranguejo e siri. Ainda tem caranguejo e siri, mas não como antigamente, hoje está tudo mudado e vai mudar mais para pior.
[Você tem alguma história que você gosta de contar?]
Têm várias com o Marcelo, meus tios e primos. Íamos pescar e matávamos caranhas de 30, 40kg, colocava no pau e trazia.
Uma vez nos fomos pescar eu, o tio do Marcelo e um tio meu que morreu. [...] Eram mais ou menos 17:00h, e matamos três caranhas grandes. O Luís pegou todas as iscas e jogou dentro d’água, quando viemos embora ele escorregou na pedra, e já era da noite, ele caiu, mas não largou o peixe [...]. Ele ficou todo ralado.
Aqui tem muita história. Mas não é história de pescador, são histórias mesmo. Eu e o Marcelo já matamos muito peixe grosso por aí.
Uma vez fui pescar com o Brega do restaurante e matamos uma raia de cento e poucos quilos, era em torno das 10h da noite. Ele disse a raia está grávida e quando ele abriu a barriga da raia ficou desesperado – O que nós fizemos? E começou a colocar os filhotes dentro d’água. Era um tempo bom e hoje só ficamos nas histórias e nas lembranças.
[Quais são os pontos positivos e negativos da vida de um pescador?]
O bom é quando vamos pescar e que encontramos o peixe, é uma maravilha. Vai-se na ansiedade de se matar um peixe e quando chega vende. Depois toma uma pinga ou uma cerveja. O ponto negativo é quando chega lá fora, não consegue pescar nada e volta com a caixa vazia e ainda ter que colocar a embarcação para cima. Aí ele coça a cabeça, olha para terra e diz: meu Deus do céu, o que eu vou fazer?
Agora, quando o pescador vai e trás a caixa cheia, pega o peixe e vende, no outro dia está com aquela ansiedade de ir pescar novamente. Antigamente, era assim. Hoje em dia o pescador, se não for passar dois três dias lá fora, quando ele volta é só decepção e tristeza. Ele vai mesmo para enganar em casa para dizer que está pescando.
[O que você mais aprendeu na vida de pescador?]
Só pelo fato de se estar no mar, é uma coisa fantástica. A natureza é perfeita. Você está ali parado e vê aquele cardume de peixe. Às vezes dá de cara com um cação grandão. Outras está pescando, trabalhando pra lá e pra cá, e embarca um badejo, uma pescada. São momentos que marcam pelo resto da vida, é muito bonito, só quem vai lá é que sabe. Agora, quando se pega uma rebordosa aí fora, umas tribuzonas, pede-se a Deus para se livrar dos pecados.
[O que são tribuzonas?]
Tribuzonas é tempo, são tempestades. Só peguei uma vez. A tribuzona aí fora é feia: fecha o tempo e o mar bate muito, só se ouve o rádio chamando, o telefone não pega e você naquele [...], não presta. A vida de pescador é muito ingrata, arriscada e não tem peixe. Antigamente era bom.
[Até quando você pretende pescar?]
Eu não paro de pescar nunca, só quando eu morrer. O contato com a natureza é muito bom. Sempre estamos aprendendo alguma coisa e sempre somos surpreendidos com novas coisas. A gente pensa que sabe das coisas.
[Entrevista exclusiva para o site Estação Capixaba. Reprodução autorizada pelo entrevistado.]
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