Revista ÍMÃ: 30 anos (1985 - 2015)
Revista ÍMÃ, n.1, 1985, capa de Burle Marx. |
30 anos depois e a Revista ÍMÃ ainda é uma referência. Estampada numa das páginas do Catálogo da Coleção de Periódicos de Plínio Doyle, ela está disponível ao público na Casa de Rui Barbosa. Catalogada na Biblioteca da Universidade de Austin, no Texas, Estados Unidos, ela pode ser lida por estudantes interessados em literatura contemporânea brasileira.
Arquivada na Biblioteca da Universidade da Flórida [onde foi motivo de seminários nos anos 90]; na Biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil; na Biblioteca Nacional, e na Biblioteca Mindlin, entre outras casas de expressão, ela também está disponível nas duas principais bibliotecas públicas capixabas: a Biblioteca Estadual e a Biblioteca da Ufes.
Revista ÍMÃ, n.1, 1985. |
A história da Revista ÍMÃ começa com um descontentamento. Trabalhava na Fundação Ceciliano Abel de Almeida, para onde fui a convite de Enyldo Carvalhinho, e via, com freqüência, uma boa quantidade de publicações voltadas à literatura, editadas em diferentes universidades brasileiras. Todas aquelas revistas literárias me pareciam livros sem graça e de poucas páginas. Invariavelmente o acabamento era o grampo lateral, que não permite a abertura total do impresso, grampo que naquela época nem era de alumínio e que, portanto, enferrujava.
Às vezes ilustradas, outras não, melhor seria que nenhuma fosse ilustrada. Se já não eram interessantes, em função do conteúdo, mais difícil ainda se tornava a leitura porque a forma não convidava. Via muitos enigmas na edição das revistas literárias. Aquelas independentes, quase sempre experimentais, eram feias. E as acadêmicas, se eram produzidas e consumidas num meio encarregado de fazer circular o conhecimento formal e até erudito, por que não eram as de melhor conteúdo e de melhor forma? Uma incógnita e uma incongruência.
Enquanto isso, nas bancas, até as revistas em quadrinhos se esforçavam para ser mais convidativas. Revistas, ao longo do tempo, adquiriram forma e acabamento muito característicos, impressas em papel mais bonito e mais durável, melhor que o papel-jornal, grampeadas ao meio, com muitas fotos, às vezes desenhos, com texto interessante. De Pais & Filhos a Playboy; de Fantasma a Luluzinha, toda revista tinha um apelo irresistível para o seu leitor. A revista literária, não! Isto pesou quando decidi fazer a Revista Ímã.
Presunção à parte, estava certa de que não queria fazer uma revista para ficar acumulando poeira, mas para ser lida. A essa altura já havia editado – e ilustrado – um livro infantil com certo requinte gráfico, o que foi um impulso para fazer uma revista. O livro reproduzia um conto, "Pulacacá", premiado em concurso do DEC. Impresso em monocromia [tinta verde] sobre papel vergé marfim, tinha ilustrações de página inteira e era acondicionado em um envelope, também em vergé, com acabamento manual: até os ilhoses que prendiam o fecho onde se enrolava o fio-urso foram cuidadosa e meticulosamente pintados de verde, o mesmo da impressão. O impressor foi João de Biasi, operando uma offset meia-folha numa pequena gráfica da Ilha de Santa Maria. Este livro me reconfirmou o afeto pelas artes gráficas e a tendência a buscar a singularidade naquilo que faço.
Decidida a fazer a revista, conversei com Ivan Alves – diagramador, autor de um projeto gráfico para o jornal A Tribuna, onde trabalhava, e uma quantidade significativa de livros – e o convidei a fazer comigo a revista. Ele aceitou na hora. Estava certa de que iríamos fazer uma revista bonita, de grande impacto. Fugir do padrão seria o primeiro diferencial: ela seria fora de formato, mais estreita, vertical. E o nome? Deveria ser de poucas sílabas e definitivo, que marcasse, impressionasse, cativasse.
ÍMÃ surgiu quase intuitivamente e não poderia ser mais preciso e adequado: de alta sonoridade, traduziu sempre a essência e a capacidade da revista, como ouvi do requintado editor Aníbal Bragança, português radicado no Brasil e criador da Pasárgada, editora de breve existência.
Iniciada a parceria com Ivan, comecei a pensar nos colaboradores, nos textos e ilustrações para o primeiro número. Falei com Marco Antônio Neffa [que ilustrou uma página de Luiz Melodia e foi o maestro das duas antológicas festas na Ilha da Fumaça], Reinaldo Santos Neves... Falei com Hilal, Atíllio Colnago, Joyce, Lando...
Vitória não é uma cidade cosmopolita, e uma característica local me aborrecia: a circunscrição do autor local – salvo raríssimas exceções – ao seu espaço geográfico. Foi assim que apresentei aos colaboradores a outra característica fundamental da revista: tirar de dentro de Vitória o autor de Vitória. Como fazer isto senão colocando-o ao lado do escritor de fora, já consagrado, preferencialmente do Rio e São Paulo? Lembro aqui comentário de Arnaldo Antunes, feito quando de seu primeiro lançamento de livro, na capital carioca: “O Rio de Janeiro é a caixa de ressonância brasileira”. Em 1985 era exatamente assim. Talvez ainda seja.
Fui ao Rio. Na Livraria Taurus, folheando jornais, li uma notícia em que Waly Salomão falava sobre música popular. Há um bom tempo não via Waly nos jornais. Li e conclui que o compositor de Vapor Barato e Mal Secreto era o nome certo para a primeira entrevista da ÍMÃ. Morando quatro ou cinco quadras acima da Taurus, logo depois do canal do Leblon, ele estava bem perto. Liguei e pouco mais tarde traçávamos planos na varanda do Guanabara. Verborrágico, prolixo, entusiasmado, cheio de amigos, exigente e seletivo, uma máquina de atrair holofotes, era o parceiro certo para o que havia idealizado: literariamente, unir a alta cultura e a cultura de massa. A primeira coisa que ele fez – e que marcou o nosso primeiro encontro – foi uma galanteria: pediu dois conhaques flambados. Não sou muito afeita a álcool, mas não tive tempo de avisar, a ordem já fora dada. Pior: naquele momento passa pela calçada um capixaba (Atílio) que me vê, para na calçada para um cumprimento. Rouba-me a atenção justo quando o garçom inicia o espetáculo pirotécnico com a taça de conhaque. Waly reclama, gargalha (uma de suas marcas), deixa claro que ficara enciumado com o que lhe parecera descortesia, e pede para o garçom repetir o feito e selamos nossa – infelizmente breve – amizade.
Antes mesmo de ser convidado para o posto de co-editor Waly já arregimentava Cícero – como ele chamava Antônio Cícero Lima – seu inseparável parceiro poético; me falava de quem achava indispensável na revista: Hélio Oiticica, de quem tinha inéditos, Arnaldo Antunes, Torquato Netto... Enfim, de todas as suas preferências, quase todas minhas também. Seu entusiasmo crescente e sua vontade de participar foram fundamentais à abrangência e qualidade de conteúdo que a revista alcançou.
Um desenho inédito de Burle Marx foi a capa da ÍMÃ número 1. Foi a primeira demonstração de força e qualidade da revista, lançada com Júlio Bressane, Waly Salomão, Paulo Leminski, Antônio Cícero, Hélio Oiticica, Luiz Melodia, Alice Ruiz, Jamil Snege, Bernardo e Sandro Medeiros, Reinaldo Santos Neves, Luiz Busatto, Ivan Alves, Leo, Renato Pacheco, Bernadeth Lyra, Tatagiba, Flávio Sarlo, Marcos Tavares, Gelson Penha e Valdo Motta. O time de ilustradores: Hilal Sami Hilal, Attílio Colnago, Joyce Brandão, Marco Antônio Neffa e Lando. Oito autores de fora, capixabas, mais os nossos artistas da ilustração. Graficamente, o diferencial da revista estava no formato, no papel e no desenho. Cortada no 18 x 31cm, vertical, já denotava sóbria elegância na forma. Diagramada com mais contragrafismos que grafismos na maioria das páginas e impressa no papel couché brilho, configurava uma edição de luxo, confirmada na entrevista – com Waly Salomão – encartada nas páginas centrais, impressa em papel vergé.
Ignorei possíveis restrições, inclusive as orçamentárias, e usei as possibilidades do mercado local. Usei o papel couché para miolo e capa, e tanto nesse primeiro número quanto nos demais, papel diferenciado para os encartes. Na impressão, a revista usou, desde o início, cor chapada, que é uma coisa que exige bastante de quem opera as máquinas. Usaria, na número 4, o verniz para formar uma segunda cor. Quer dizer, além de reunir textos de autores consagrados aos textos de iniciantes, daqui e de outros lugares, numa política de abrir mercado, a forma sempre teve o mesmo peso dado ao conteúdo. O design da revista era de fato singular, de impacto. Bom de ver e de comentar. Impressionada que ficara quando conheci o trabalho de Herb Lubalin e Mo Lebowitz, fiz um pedido ao Ivan: os nomes dos autores, mais que os títulos, teriam que ser o grande destaque: muita caixa-alta e corpos gigantes. Mudança de escala e de paradigmas. Ninguém, senão Ivan, ele próprio um grande designer e também admirador dos mestres das artes gráficas, conseguiria materializar o meu pensamento. Bem mais que isso: Ivan produziu, para a revista, um trabalho maravilhoso, autoral, que não poderia ser feito para um jornal diário, comercial. Passou horas na prancheta, usando o projetor, desenhando. Foram inúmeras as minhas idas a Jucutuquara, ao seu estúdio, que se transformaria – junto com a minha sala de visitas – na redação da ÍMÃ. Ficávamos tardes ali, trabalhando, às vezes olhando o pátio da Escola Técnica. Algumas vezes na companhia de Marco Antônio Neffa, um dos primeiros entusiastas do projeto, convidado a ser o primeiro co-editor. Ivan se distraía colorindo, cada uma de uma cor, as tampas de bueiro da sua rua. No primeiro número, fazer a revista foi ainda um jeito novo de superar os tediosos dias de Carnaval, quando você não consegue fazer nada, quando praticamente tudo fica parado.
Desde o primeiro número a revista encontrou alta receptividade. O lançamento em Vitória, na Ilha da Fumaça, é antológico. O lançamento no Rio, na Livraria Dazibao, foi um acontecimento. A livraria ficou tomada. A calçada também. A pequena nota na coluna Informe JB, no Jornal do Brasil, foi a primeira notícia fora do circuito capixaba.
Em São Paulo, o lançamento foi na Escola de Comunicação da Faap. José Simão, Gigante Brasil, Renó, José Miguel Wisnick, artistas plásticos, jornalistas e muita gente mais que fazia ou ouvia poesia estava lá.
Revista ÍMÃ n.2, 1986, capa de César Cola. |
O miolo manteve o couché brilho. As duas entrevistas, de Caetano Veloso e do cineasta Julio Bressane, repetem o vergé. Mas a entrevista de Caetano Veloso ganha destaque, prolongando-se em um encarte separado, em papel jornal, em formato pouco menor que o do tablóide da época.
O lançamento capixaba volta a acontecer na Ilha da Fumaça; o lançamento no Rio ganhou o Mistura Fina, sofisticado bar que unia apresentações, ao vivo, de jazz e de jovens cantores, como os estreantes Vítor Ramil e Adriana Calcanhoto. O mestre de cerimônia foi Jorge Salomão. Foi marcado um lançamento em São Paulo, no Singapura Slink, organizado à distância por Waly Salomão e Patrícia Casé.
Revista ÍMÃ n.2, 1986. |
Fausto Fawcet fez ali sua primeira apresentação pública. E ali recebi um surpreendente e emblemático presente: o CD Bruhahá Babélico. Entregue no momento certo. Idealizando a Revista ÍMÃ número 3, convidei Leminski para fazer a co-edição. Achei que poderia iniciar uma série de dupla nacionalidade e não foi difícil decidir que este número contemplaria autores brasileiros e japoneses, porque Leminski, além de praticante de judô sempre teve uma curiosidade muito grande pela literatura japonesa, tanto é assim que boa parte de sua poesia foi produzida na forma de hai-kai. Na capa o samurai – um show à parte – de Bruno Liberati empunha um pincel que escreve ÍMÃ, em ideogramas: gentileza de um professor de japonês do Centro de Estudos Nipônicos de Vitória, que inclusive escreveu a palavra nas suas duas acepções.
Revista ÍMÃ n.3, 1986, capa de Liberati. |
Revista ÍMÃ n.3, 1986, poema de Shan. |
Chegamos ao número 4 com a decisão de manter a edição de dupla nacionalidade. Desta vez, Brasil e Portugal. Quando anunciei a opção por Portugal, Leminski foi cético. Mas uma sua pergunta – “Quantas pessoas no mundo falarão português?” – só reafirma a minha decisão, afinal, muita gente, mesmo, fala português. Se a ÍMÃ fosse internacionalmente distribuída iria para Macao, para Portugal, para o Timor Leste, para Goa... Sem falar em pequenas ilhas aqui e ali, como brazilianistas, poetas e professores norte-americanos... Não. A revista não se restringiria – como não se restringiu – ao Brasil, apenas, se houvesse uma distribuição abrangente.
E começa então a seleção de autores. Os portugueses Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Gastão Cruz, Vergílio Alberto Vieira e José Carlos Soares somaram-se aos capixabas Reinaldo Santos Neves [mais uma vez ilustrado por Attilio Colnago], Silvio Barbieri, Adílson Vilaça, Gilson Soares, Valdo Motta, Marcos Tavares. E aos nomes nacionais: Bombom, Chacal, Alex Varela, Arnaldo Antunes, Torquato Neto, Luiz Melodia e, claro, Paulo Leminski. Um cavalheiro, e docemente surpreendente, envia dois inéditos. Foi decepcionante a ÍMÃ não ter podido ficar pronta no prazo previsto: Leminski se foi antes.
A essa altura a redação já estava no Rio de Janeiro, mas a seleção dos autores, a diagramação e parte da composição saíram prontas de Vitória. O sistema usado tanto em Vitória quanto no Rio, a fotocomposição, é um sistema que garante matrizes de altíssima resolução, o que assegura uma impressão de qualidade. Esta viria a ser feita na Gráfica Riachuelo, no centro velho da cidade. No Rio também seria impresso o número seguinte, que foi rodado na CBAG, instalada em São Cristóvão. A número 1 fora impressa, em Vitória, na Artgraf, de José Carlos, onde também se imprimiu o segundo número. A número 3, na Espírito Santo, de Darinho Cruz.
Revista ÍMÃ n.4, 1990, capa de Lando. |
De novo dois encartes. O primeiro, em formato tablóide e em papel jornal, com uma singela, poética e envolvente entrevista de Luiz Melodia, registrada pelo fotógrafo carioca Sérgio Cardoso que captou, sensivelmente, o clima do encontro: um belo presente à revista e aos leitores.
Revista ÍMÃ n.4, 1990. |
Em Vitória o lançamento acontece na Capela Santa Luzia, junto com a abertura de uma exposição de Lando, o autor da pintura reproduzida na capa. Novamente um acontecimento de alta repercussão, inesquecível. O lançamento no Galpão do Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, foi algo à parte. Glória Pires, Jorge Salomão, uma equipe inteira da Cope [centro de excelência cibernética da Universidade Federal do Rio de Janeiro], performances, Paulo Muniz, o fotógrafo de Juscelino Kubitschek e João Goulart... Impossível lembrar tanta gente na constelação de grandes nomes que estiveram lá, pela revista.
O número 5 foi todo produzido no Rio de Janeiro. Uma das surpresas: Trimano, o grande ilustrador argentino que se radicou no Brasil ainda nos anos 60 (e pode ser conferido na foto histórica da carta de apresentação do número 1 da Veja), numa visita, me diz que gostaria de ilustrar a ÍMÃ. Custei a crer, ele que tantas exigências costumava fazer em relação ao trabalho, e que já me dissera, quase como uma reprimenda, que a revista era caríssima... Logo, elitista. Sendo ele argentino, achei que deveria ficar com as páginas de Jorge Luís Borges e de Juan Gelman. Imaginei uma afinidade natural, um afeto pela gente do próprio país...
Mais surpresas: eu havia conhecido a produção de Gelman na redação de O Globo, onde trabalhava da Editoria de Economia. Um redator da Internacional me mostra um livro, eu me surpreendo com a beleza e força dos poemas e não tive dúvidas: era um nome indispensável à revista número 5 que, mais que dupla cidadania, trazia uma sintética tripla cidadania, ao incorporar o surpreendente Leo Masliah, reconhecido pianista, músico e poeta uruguaio.
Pois bem: o jornalista Gelman e o desenhista Trimano haviam trabalhado junto antes de deixarem a Argentina, ainda num período de extrema dificuldade como costuma ser o início da carreira de jornalistas, poetas e ilustradores. Ambos estavam na mesma redação e chegaram a dividir a mesma kitchenette. E Trimano o reencontra justamente através da ÍMÃ.
Apaixonada pelos poemas de Gelman, faço, num impulso, a tradução de todo o seu livro, e depois de muitas ligações para Buenos Aires, para o Jornal Página Um, vou localizá-lo na cidade de Novo México. Enviei a tradução, ele me respondeu com as suas ponderações e custo a crer que os contratempos de mudanças fizeram desaparecer tradução e carta. Muito pior! Mais uma vez, dolorosamente: Gelman, Prêmio Cervantes de Literatura em 2007, nos deixou no início do ano passado, sem que o visse, o abraçasse. Permanece a vontade e a certeza de que o livro vai sair um dia.
Revista ÍMÃ n.5, 1992, capa de Lula Palomanes. |
Em Vitória o lançamento deste número acontece na Fafi. Um momento inesquecível. Foi a última vez em que estive com o amigo Amylton de Almeida, jornalista e documentarista premiado, que filmava O Amor está no Ar. Saíra das locações para levar-me um abraço e a Autobiografia de Hermínia Maria. Acompanhei a redação do livro, no entanto saí de Vitória bem antes de ele ser editado. A Fafi é um espaço bem grande, e estava cheia. Era uma noite de alegria que se rompe tristemente com a notícia de que acabara de ser assassinado o biólogo José Carlos Vinha. Amylton morreria pouco mais de dois anos depois, deixando inacabado seu longa-metragem.
Revista ÍMÃ n.5, 1992. |
No Rio o lançamento foi no Museu da República, na varanda interna que dá para o grande jardim. Muita gente, mas muita mesmo, estava lá. A Livraria da República, a varanda e o jardim foram tomados. Tanta gente que nem consigo enumerar, mas não posso deixar de falar de Kátia Bento, Trimano e Aníbal Bragança. A repercussão, imensa, manteve a tradição. Saiu matéria grande na Folha de São Paulo, no Globo. Jornal do Brasil e Estadão registraram. O Estadão se enganou ao dizer que a revista era capixaba: não mais. Desde o número 4 estava sendo feita no Rio, mas o jornalista autor da notícia, paulista que havia morado em Vitória, onde estivera no lançamento da ÍMÃ 3 [e entrou na fila dos pedidos de publicação], foi perdoado. Afinal, tudo que pretendeu foi enaltecer um trabalho de alta qualidade surgido fora do Rio e de São Paulo.
O encarte desta vez é um adesivo no formato da revista, com mini-poemas de autores brasileiros, entre eles os capixabas – e amigos queridos – Carlos Chenier e Tércio Moraes. Mantinha-se, desta forma, a singularidade da edição.
Ainda hoje não sei dizer o motivo exato porque não segui a recomendação feita por carta pelo bibliófilo, grande leitor e autor Plínio Doyle: “Peço licença para uma lembrança: não é aconselhável incluir “encartes” em cada número, que soltos facilmente se extraviam, prejudicando a coleção”.
Ele repetiria a recomendação por telefone. E tinha toda razão. Eu mesma não tenho mais que um exemplar do tablóide-encarte do número 4, com a entrevista de Melodia e o outro belo e disputadíssimo encarte sanfonado. Com o número 5 aconteceu a mesma coisa: na minha coleção, dos dois exemplares, só um está com o adesivo. Um deles se perdeu. Especialmente a folha de adesivos foi muito cobiçada. E, contra a minha vontade, extraviada.
Escrever, editar, projetar, desenhar e diagramar são atividades que arrebatam. Fazer um livro, um jornal, uma revista, é trabalhar apaixonadamente ainda que existam dificuldades práticas, como superar as limitações financeiras.
A paixão com que fizemos a ÍMÃ, e os cuidados que tivemos não foram suficientes para evitar erros de revisão e outros percalços, como situações delicadas vividas no momento em que foi preciso recusar um poema. Situação mais difícil ainda quando a edição de texto é dividida. Sobre a revista preciso dizer que renego o design de algumas páginas, em duas de suas edições. Páginas de responsabilidade minha e não do Ivan, é preciso que fique claro. Mas a ÍMÃ atraiu leitores! Lida por pessoas comuns e eruditas, alcançou repercussão internacional e integra importantes coleções no Brasil e em outros países. É mais que um projeto gráfico arrojado, a mistura de erudição e simplicidade popular, a reunião de autores consagrados e iniciantes: é uma publicação importante, que fez história e contribuiu para a renovação editorial.
[Veja também entrevista com a autora publicada no site Tertúlia]
Sandra Medeiros Sandra Medeiros é jornalista, designer e escritora. (Para obter mais informações sobre o autor clique aqui)
Há como publicar a primeira edição da Revista Ímã neste site?
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