Tratava-se de uma elevação rochosa baixa com rara vegetação situada na frente da praia de Inhoá e da pedra do Cruzeiro. A importância dessa...

A extinta ilha da Forca na enseada da Prainha


Tratava-se de uma elevação rochosa baixa com rara vegetação situada na frente da praia de Inhoá e da pedra do Cruzeiro. A importância dessa ilha no cenário histórico de Vila Velha está no fato de que, quando Vasco Fernandes Coutinho iniciou o assentamento do primeiro povoado, o fez seguindo o padrão usado pelos conquistadores do seu tempo. Esse modelo consistia na edificação de três componentes básicos: a igreja, para atender ao compromisso da fé católica do povo português e do seu Rei com o Vaticano, seria desde logo o primeiro abrigo dos catequistas enviados por Deus. Num dos lados do templo deveria estar a Casa da Administração, onde era instalado o órgão encarregado das relações da capitania com a corte e, do outro lado, a Casa da Justiça ou Cadeia, com pelourinho, responsável pela obediência ao cumprimento das regras e dos direitos de todos. Mas em Vila Velha parece que, por falta de braços para o trabalho ou devido à presença do índio vingativo e perigoso, tenha Vasco instalado provisoriamente o pelourinho nessa pequena ilha existente na baia da Prainha. Ali ergueu a forca para executar os bugres mais violentos e rebeldes; daí a razão do nome.

De J.J. Gomes da Silva Neto [1888: 104] colhemos o relato seguinte:

...Houve antigamente no Rio de Janeiro uma praga de alcoviteiras mulheres de mantilhas, pela gente devota chamadas beatas, e pelos rapazes alcunhadas baratas as quais eram vistas em todos os atos religiosos! E até execuções criminais que então se faziam na Prainha. Como eram admitidas em todas as casas de família, e desta franqueza resultou a perdição de muitas moças solteiras e casadas! Também existiu ali um assassino de profissão e por antonomásia — beato do Carmo —, o qual vivia constantemente na igreja dos Carmelitas, quase sempre em estação, de braços abertos, beijando o chão etc...

Se em algum tempo essa ilha guardou segredo de crimes cometidos por fanáticos que vinham da igreja dos Carmelitas ou de qualquer outro lugar para fazerem justiça em nome de Deus ou da Igreja, ai está o depoimento narrado por Gomes Neto, mas, para os vila-velhenses do início do século XX, o local não passava de uma bela ilha que enfeitava o aprazível sítio histórico além de uma escola natural dos meninos que se iniciavam na arte da pesca.

O professor EurÍpedes Queiroz do Valle [1971: 185] diz que ela é assim denominada por ter sido nela que os primeiros colonizadores puniram os criminosos e condenados à morte e, de outro comentarista, consta o holocausto do português Robério Dias por ter se rebelado diante dos compatriotas como sendo o homem que apontava aos nativos quais eram os colonos que os brutalizavam por não se sujeitarem ao trabalho e também àqueles que violentavam e maltratavam as jovens índias.


[SANTOS, Jair. Falando de Vila Velha. Vila Velha, 2002. Reprodução autorizada pelo autor.]

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Jair Santos é arquiteto e professor aposentado, natural de Alegre, ES, autor dos livros Vila Velha, onde começou o Estado do Espírito Santo e A igrejinha do Rosário.

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