Entrevistado: Rosalina Brasiliense
Entrevistado: Rosalina Soares da Silva Brasiliense, viúva de Olympio Brasiliense
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 21 de dezembro de 2011
Local e data de nascimento: Muqui, ES, 17 de dezembro de 1932.
Profissão: Esteticista aposentada.
VB: Como a Srª conheceu Olympio Brasiliense?
RB: Eu era amiga da Irene Lucena, que era enteada do senhor Francisco Velane e, através dele eu conheci Olympio Brasiliense, apesar de ele já me conhecer de passagem e saber de quem eu era filha e também onde eu morava.
VB: Quando foi isso?
RB: Não me lembro a data, mas foi em 1950.
VB: Onde?
RB: Na casa de D. Irene. Aqui em Vitória, na Rua Duque de Caxias.
VB: Qual era o tipo de trabalho do senhor Velane?
RB: Ele era dono do restaurante Globo, situado na Rua Duque de Caxias. Não me recordo em que ponto dessa rua o seu estabelecimento comercial ficava.
VB: Mas como foi esse conhecimento de vocês?
RB: Nós nos conhecemos e, depois ficamos noivos. Olympio frequentava a casa do senhor Velane, onde nos conhecemos para depois eu se pedida em casamento.
VB: Qual a idade que a senhora tinha na época?
RB: Aproximadamente uns 17 anos.
VB: E aí a senhora ficou noiva dele. Quando isso aconteceu?
RB: Fui pedida em casamento, depois foi comunicado ao juiz com quem eu fui criada.
VB: Quem era o juiz?
RB: Drº Armando de Souza Leão.
VB: Mas quando ele fez o pedido de casamento?
RB: Foi no dia 24 de maio de 1950.
VB: E quando foi que a senhora se casou com Drº Olympio?
RB: Ficamos noivos durante mais ou menos 10 anos, vindo a nos casar em Copacabana, no Rio de Janeiro, na Praça Serzedelo Corrêa, em 1960.
VB: A senhora ficou noiva do Olympio Brasiliense em Vitória. Quando foi isso?
RB: Em 1950.
VB: E se casaram no Rio de Janeiro?
RB: No Rio de Janeiro, na N. S de Copacabana, na Praça Serzedelo Corrêa, na igreja de N. S. de Copacabana.
VB: Por que vocês demoraram tanto tempo noivos? Nesse ínterim o que aconteceu?
RB: Eu sempre me achava muito nova. Talvez por isso não pensasse em casamento tão cedo, preferindo assim, ficar solteira.
VB: Como ele era naquela época?
RB: Uma pessoa alegre, muito educada. Era um homem muito preparado e com muitas qualidades.
VB: Quais?
RB: Educado, uma pessoa simples e de muitos conhecimentos. Tinha muito boa família e era querido por todos.
VB: Vocês se casaram no Rio de Janeiro. Por que vieram para Vitória?
RB: Porque ele residia aqui. Era em Vitória que ficava seu trabalho. Apesar de já estar aposentado, ele exercia a profissão de arquiteto. O casamento foi no RJ, porque era lá que eu morava.
VB: Onde a senhora morava, quando conheceu Drº Olympio Brasiliense?
RB: Na casa do juiz Drº Armando de Souza Leão na Rua Frei Antônio dos Mártires, 27, que ficava no Morro de São Francisco, na cidade alta.
VB: Terminado o noivado, a Srª foi para o Rio de Janeiro. Como ele a encontrou lá?
RB: A convivência com o juiz possibilitou que ele me encontrasse. Foi o juiz quem lhe deu o meu endereço. De verdade mesmo, ele nunca dera por terminado o nosso namoro.
VB: Casados no Rio de Janeiro e de volta para Vitória, onde vocês foram morar?
RB: Na Rua São Bento, nº 20, Centro de Vitória.
VB: Sobre o trabalho de Olympio Brasiliense, como e onde ele trabalhava?
RB: Ele trabalhava na Prefeitura de Vitória e tinha o escritório dele em casa mesmo, onde ele fazia os projetos dele.
VB: A senhora sabe como ele veio para Vitória, quando, por que veio para Vitória?
RB: Ele veio na época do Drº Florentino Avidos. Depois ingressou no Estado. Em seguida foi para a Prefeitura, continuando, assim, em Vitória mesmo.
VB: A senhora conheceu a família dele em Belo Horizonte? Como foi a essa convivência? Quem a senhora conheceu em Belo Horizonte? Como foi isso?
RB: Quando estávamos noivos, ele pediu permissão ao juiz para me levar até a família dele, para conhecê-la. Como ainda era tutelada, tive a permissão do juiz para conhecer a família dele. E assim, lá conheci todos os seus familiares por quem fui muito bem aceita.
VB: Quem era a mãe dele?
RB: A senhora Victalina Milagres de Paiva Brasiliense.
VB: E a irmã?
RB: A irmã Drª Iracema Brasiliense, irmã de Drº Moacyr Brasiliense, a outra irmã Juracy Brasiliense casada com Drº Joubert Guerra.
VB: Quanto tempo a Srª ficou em Belo Horizonte?
RB: Eu fiquei lá durante dois anos, morando com a minha futura sogra. Nesse tempo tive conhecimento da vida social e da vida familiar deles. Foi um período de aprendizagem, numa família de muito trato, com hábitos e atitudes da hight society. Assim eu tinha que ficar lá para aprender todos esses hábitos.
VB: Lá em Belo Horizonte a senhora conheceu alguma pessoa de destaque nacional, da convivência dos Brasilienses?
RB: Sim, Drº Juscelino Kubitschek, que na época era presidente e muitos ministros também. Drº Tancredo Neves, porque eles eram frequentadores da residência do Olympio Brasiliense, em Belo Horizonte.
VB: Depois que a senhora se casou e vieram para Vitória, em que locais Drº Olympio Brasiliense trabalhou?
RB: Na Prefeitura, que ficava aqui no Centro da cidade, numa casa até muito bonita, que já foi demolida e onde hoje é uma praça. Ainda têm ao lado as salas de engenharia, ainda existe o prédio, onde funcionavam as salas de engenharia.
VB: A Srª conhece algumas obras de Olympio Brasiliense em Vitória?
RB: Diversas.
VB: Quais?
RB: O Centro de Saúde, Hospital Getúlio Vargas, a casa do Drº Mário Pretti, além de outras obras que ele fez, mas que no momento não estou lembrando. Muitas dessas obras eu tomei conhecimento.
VB: A partir dos anos 60, pelo que eu pude levantar, Drº Olympio Brasiliense teve um declínio em termos de projetos. A que a senhora atribui a isso?
RB: Ele me disse que ele gostava mesmo dos desenhos daquelas casas, palacetes, aquelas casas bonitas que ele fazia que já não estavam mais tendo tanto êxito por causa dos prédios que seriam construídos a partir daquela época.
VB: Ele não gostava de construir prédios?
RB: Não, ele não gostava de construir prédios, porque os projetos dele eram muito minuciosos e prédios, para ele, eram caixotes.
VB: Então ele gostava mesmo era de desenhar casas?
RB: Casas, palacetes era o que ele escolhia para desenhar.
VB: Então a senhora acredita que ...
RB: É, foi por causa disso que houve queda no trabalho dele.
VB: Nos anos 70, ele se afastou da vida profissional, por quê?
RB: Porque ele esteve muito doente e, por isso, teve que ser internado, em Belo Horizonte, com problemas sérios de saúde. Quase morreu, por causa de uma operação muito melindrosa, que o deixou um ano e sete meses hospitalizado, no Júlia Kubitschek.
VB: Por que a senhora foi a guardiã de todos os projetos de Dr. Olympio Brasiliense? O que levou a senhora a guardar todos esses projetos?
RB: Eu sempre admirei muito os trabalhos de Olympio. Por outro lado, seria uma lembrança muito bonita para a filha dele. Inclusive, ele desenvolveu um projeto muito caro. Foi o Sacre-Couer de Marie aqui em Vitória, que foi premiado na França e, a filha dele tem o projeto. Assim, essa admiração pelos projetos de Olympio sempre existiu. Eu era uma admiradora dos trabalhos dele.
VB: Que projeto foi mais marcante para a senhora?
RB: A casa do Drº Mário Pretti, o Sacre Couer de Marie e duas casas que ficam perto do Palácio, cujos donos eu não os conheço. São duas casas com escadas, inclusive uma tem um mirante.
VB: Sobre Belo Horizonte a senhora tem notícia de algum projeto dele lá?
RB: O Edifício Miraci, que era da família, foi um projeto de Olympio. Se teve outros eu não tomei conhecimento.
VB: Sobre a vida de vocês, no dia-a-dia, ele era uma pessoa sociável?
RB: Ele era sociável e, frequentava o Clube Vitória e o Praia Tênis. Só eu que ia muito pouco, pois não tinha tempo. A minha filha ainda pequena, precisava de mim à noite.
VB: A senhora havia falado comigo que ele trabalhou no Ed. Percy?
RB: Ou esse edifício. Antes de nos casarmos ele tinha nesse prédio um escritório, mais precisamente no 4º andar.
VB: Na Barão de Monjardim?
RB: Sim, depois ele passou para o 1º andar.
VB: Sobre os amigos dele, a senhora se lembra de alguns?
RB: Lembro-me de alguns. Um deles, porém, em especial: o Dr. Aldezir Bachour. Também recordo-me de Filé, Quinzinho, Edgard Feitosa, Alevino Basset, Gato Pretti, Pelota Pretti, entre outros,
VB: Como a senhora definiria o profissional Olympio Brasiliense?
RB: Um grande arquiteto, um grande projetista, um grande engenheiro.
VB: Sabemos que Olympio Brasiliense gostava da boemia. Qual a relação dele com a boemia e o trabalho? Porque ele é dono de mais de 300 projetos dentro de Vitória, e sabemos que ao mesmo tempo ele era um grande boêmio. Como é que ele separava isso, qual o resumo da vida dele quando estava trabalhando?
RB: Ele gostava da boemia, mas quando estava desenvolvendo seus projetos ele não saía de casa, pois era trabalho a noite inteira. Isso me fazia muito mal, porque eu achava que ele se desgastava muito.
VB: Ainda sobre Olympio Brasiliense: como ele era no dia-a-dia?
RB: Calmo, calado, agia mais do que falava. No dia a dia, era tranquilo. Agora, quando ele ia desenvolver um projeto à noite ele não saía para fazer farra em lugar nenhum. Trabalhava a noite toda. Quando saía, no entanto, só voltava no outro dia.
VB: Dessa boemia a senhora se lembra dos amigos que o acompanhavam?
RB: Todos eles se reuniam, mas eu não sei nem onde e nem com quem ele levava a sua vida boêmia.
VB: Sobre os amigos dele a senhora comentou mencionou Pretti e Srº Bachour. E sobre o Srº Durval Avidos?
RB: Drº Durval Avidos veio lá de Belo Horizonte. Eles eram muito amigos. Inclusive para o casamento da minha filha, ele foi convidado. Nessa época, Olympio já era falecido.
VB: O que a senhora gostaria de acrescentar sobre Olympio Brasiliense?
RB: Ele foi um ótimo esposo, um bom pai e um grande amigo. Ele sempre considerou todos os amigos, sempre respeitou todas as famílias, sempre foi uma pessoa íntegra.
VB: A senhora gostaria de deixar alguma mensagem, uma homenagem talvez?
RB: Que Deus esteja com ele em lugar onde que foi planejado para ele.
VB: De uma forma geral como a senhora definiria Olympio Brasiliense?
RB: Ele era uma pessoa que planejava o objetivo, que ele queria alcançar. Quando ele ia fazer alguma coisa, aquilo tinha que ser feito.
VB: Ele era uma pessoa dada a inovações, ele gostava de coisas novas?
RB: Sim, ele era uma pessoa bem evoluída.
VB: Se ele vivesse hoje, ele acompanharia toda essa evolução?
RB: Até certo ponto, sim. Como ele era muito família, talvez achasse estranho essa maneira de os jovens viverem hoje, afastados do convívio familiar. De modo geral, Olympio vivia para casa, para a família.
VB: O relacionamento dele com a filha? Como era?
RB: Ele adorava a filha. Não era aquele pai de sair passeando com a filha, pra aqui e pra ali. Mas todo ano ele gostava de viajar com ela a fim de distraí-la.
Ele gostava muito de passear, de viajar, mas tinha pouco tempo para isso, devido aos projetos que desenvolvia. Muitas vezes íamos a Belo Horizonte, visitar a família, principalmente no aniversário da minha sogra, no dia 12 de junho. Eram três dias de festa. No Natal e Ano Novo íamos para lá também. Depois vínhamos embora para a rotina. Quem viajava mais era eu que, de vez em quando, ia ao Rio, onde passava uma semana com minha filha.
VB: A Srª comentou sobre o Drº Armando de Souza Leão, que foi seu pai de criação, qual era o relacionamento do Drº Souza Leão e Olympio Brasiliense?
RB: Na certa eram conhecidos daqui de Vitória. Olympio era muito bem relacionado, e eles se davam bem. Iam a clubes e tinham conhecimentos na sociedade. Ele frequentava o Clube Vitória junto com o Srº Armando Souza Leão. Quando eu fiz 20 anos, era moda apresentar a moça, e eu fui apresentada.
VB: O que a encantou em Olympio Brasiliense?
RB: A sua beleza interior era notável. Era, também, muito educado e sabia tratar uma moça. Muito delicado no trato, o que me encantou muito. O respeito que dispensava ao próximo era incontestável e isso marcava a sua maneira de ser.
VB: Pode-se dizer que era um “amante a moda antiga”? De mandar flores?
RB: Ele era um amante à moda antiga, daqueles que mandavam presentes recobertos com um buquê de flores. E quem não gosta disso?
VB: Alguma passagem a marcou, e hoje é uma recordação eterna?
RB: Foi a linda festa dos 400 anos de Vitória. Olympio me deu uma passagem de avião para que eu viesse participar desse evento. Isso foi uma surpresa.
VB: Onde foi essa festa?
RB: Em Vitória, por todos os lugares. Vitória inteira estava em festa, afinal. Fiquei hospedada na casa dos Rios, assisti à festa, mas tive que voltar.
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