VIII. Estatística demográfica
Importa saber o número de componentes da população teuta, no Espírito Santo, e o seu crescimento.Os dados sobre o total de alemães, existentes no Brasil, variam consideravelmente: não se obtêm números exatos, e faltam levantamentos estatísticos oficiais. Grothe[ 1 ] em seu livro Die Deutsche in Ubersee baseado em cálculos formulados, utilizando estatísticas alemãs e brasileiras de emigração e imigração, informações sobre o crescimento demográfico e documentos de outra natureza, estima em 700.000 o número de indivíduos que falam alemão, devendo oscilar o número de pessoas, originárias da imigração de cerca de 210.000 teutos, nos anos de 1810 a 1919, entre 1.250.000 e 1.500.000[ 2 ]. No debate sobre os alemães, no Brasil, Grothe lança mão, notadamente, do trabalho de Wagemann sobre o Espírito Santo, que se ocupa a fundo, com as condições e o crescimento demográfico, nas zonas dos colonos. Conforme observa Grothe, com acerto, seriam muito de desejar outros levantamentos em determinadas regiões, de acordo com critérios uniformes.
Um conjunto de especialistas (exploradores de regiões sul-americana, professores, formados em geografia com atividade no Brasil) teriam de se encarregar dessa tarefa. Uma vez que pesquisadores isolados não poderiam dominar o material. A exploração do material existente nas Paróquias seria da maior importância, podendo fornecer, após cuidadoso trabalho, indicações seguras.
Wagemann estimou o número de alemães, no Espírito Santo no ano de 1912, em 17 a 18.000 (protestantes 12.500; católicos, 5000). Para chegar a esse resultado admitiu partindo de observações seguras numa comunidade (Santa Maria), que o número de cabeças por família era de 6; em comunidade mais jovens, de 5. A confrontação dos nascimentos e óbitos extraídos dos livros de igreja; (batizados e enterros), revelou haver, até 1912, cerca de 14.900 nascimentos para 3.000 mortes. Aplicando a mesma proporção aos católicos de origem alemã, para os quais faltam dados seguros, chega Wagemann à seguinte estimativa, para o mesmo período: (Provavelmente mais certo, segundo Wagemann):
Imigração | 2.500 | (3.000) |
Nascimentos | 19.000 | (18.000) |
Óbitos | 4.000 | (4.500) |
População | 17.500 | (16.500) |
Crescimento demográfico | 15.000 | (13.500) |
Daí deduz Wagemann que a densidade demográfica, no Espírito Santo, ter-se-ia quintuplicado num período de 30 a 65 anos. Se se aplicar, entretanto, essa proporção numérica a toda a imigração no Brasil chegar-se-ia partindo-se do número de imigrantes a números totalmente fantásticos (Grothe). São notavelmente maiores no Sul, as perdas, em muitas regiões de colonização, em virtude de emigração, volta, ou absorção por outras etnias. Grothe admite, como norma, apenas a duplicação no curso de uma geração (35 anos). No Espírito Santo, onde as circunstâncias são excepcionalmente favoráveis estima Grothe para 1930 (16 anos após os cálculos de Wagemann), supondo não terem variado as condições de existência, uma população, de origem teuta, de 25.000 almas (a população de todo o estado, nesse ano deveria atingir 587.451 almas). Seis anos depois, o número deveria oscilar entre 25.000 e 30.000, Ou já ter alcançado a casa dos 30.000 (população do Espírito Santo, brasileira, 833.276: Rio-Zeitung, 1935).
Durante nossa permanência no Espírito Santo, esforçamo-nos por conseguir dados estatísticos, que servissem para determinar o crescimento demográfico. Como sucedeu com Wagemann, utilizamos principalmente os livros de igreja das comunidades que visitamos, e, além deles relatórios paroquiais e das comunidades, e publicações do serviço de estatística das igrejas.
Pudemos extrair os números, abaixo, dos cadernos publicados em 1935, relativos ao levantamento estatístico nº 6 da igreja evangélica, com os dados organizados pelo pastor titular Hübbe , sobre a freqüência escolar dos meninos evangélicos alemães no Brasil.
Espírito Santo
Habitantes (apenas das zonas de povoamento predominantemente teuto onde se encontram as escolas das comunidades).
População total | Alemães | Evangélicos | Católicos |
32.413 | 25.517 | 21.356 | 4.161 |
O número 25.517 corresponde, por conseguinte, à estimativa de Grothe, para a mesma época. Não se trata aqui, naturalmente, de dados, com exatidão absoluta, mas de aproximações, cuja obtenção (especialmente no que toca à freqüência escolar) era extraordinariamente difícil, durante 3 anos.
Vejamos os números, abaixo, do último relatório paroquial da Igreja Luterana Teuta, no Brasil, relativo a 1935, e do relatório da Comunidade Evangélica Alemã do Brasil Oriental para o 8º sínodo (29 de junho a 1º de julho) (Veja as tabelas):
Igreja Luterana Teuta do Brasil
(Obra Missionária Luterana)
Comunidades (inclusive comunidades filiais) | Membros da comunidade | Número de almas |
Criciúma | 130 | 760 |
Laranja da Terra | 228 | 1.368 |
Lagoa Serra Pelada | 202 | 1.212 |
Limoeiro-Jatiboca | 92 | 600 |
Pontal | 173 | 1.038 |
Santo Antônio | 167 | 1.002 |
Mutum | 257 | 1.356 |
Santa Joana-Palmeira | 350 | 2.100 |
Santa Maria | 445 | 2.670 |
Guandu | 115 | 800 |
Total | 2.159 | 12.906 |
Comunidade Evangélica Alemã do Brasil Oriental
(Consistório Evangélico)
Comunidades (inclusive comunidades filiais) | Membros da comunidade | Número de almas |
Campinho | 250 | 2.000 |
Leopoldina II-Jequitibá | 411 | 3.100 |
Leopoldina I | 144 | 1.415 |
Califórnia | 409 | 2.410 |
Rio Ponto | 146 | 1.070 |
Total | 1.360 | 9.995 |
Os colonos de origem teuta, integrados nas comunidades luteranas e evangélicas somam, portanto:
Membros da comunidade | 3.516 |
Número de almas | 22.901 |
O número de almas não resulta aqui de uma contagem exata, mas de uma estimativa, realizada em relação à maioria das comunidades, multiplicando-se o número de membros por 6 (nas comunidades do Consistório Evangélico, por um coeficiente maior).
Aos protestantes atuais, cerca de 23.000, devemos acrescentar: os dissidentes (sabatistas, batistas, missurianos) os chamados "democratas", pouco numerosos, que não pertencem a nenhuma organização religiosa; e os católicos de origem alemã, cujo número, em 1912, foi calculado, por Wagemann, em 5.000. Os primeiros ainda hoje, não são numericamente importantes; em relação aos católicos só existem estimativas muito vagas, pois não é possível nenhum controle através da organização eclesiástica. Não se obtém o número de óbitos e de nascimentos, por faltar o registo de batizados e de mortes Segundo informações do padre Heinrich Otte, que visitamos em Porto do Cachoeiro, e que mostrou vivo interesse pelos problemas dos alemães, no âmbito de sua paróquia, o número dos católicos de origem alemã, na sua circunscrição, poderia oscilar entre 8 e 12.000 (se tomarmos por base o número de batizados, que nós foi fornecido, cerca de 200 por ano, e admitirmos, a grosso modo, a proporção de 40 nascimentos por mil habitantes, que, conforme veremos adiante, não é demasiadamente elevada, chegaremos à estimativa de 5.000 almas). Mesmo que esses números fossem exagerados e sejam menores que os das comunidades protestantes, o crescimento demográfico dos católicos de origem alemã, em virtude de assimilação progressiva e da perda da etnia podemos, razoavelmente, admitir que o número de colonos de descendência teuta ou que falam alemão deve importar aproximadamente em 30.000.
Wagemann, num capítulo especial, trata da proporção entre nascimentos e óbitos, confrontando com a população. Pareceu-nos relevante comparar seus resultados com verificações e cálculos dos últimos anos. Wagemann parte, entretanto, de quantidades absolutas, muito pequenas. A base dos seus cálculos são os números relativos ao ano de 1912, porque, só para esse ano, pôde determinar o número de cabeças, considerando-o como norma. Partindo daí organizou a estatística demográfica surpreendentemente favorável, de acordo com o rápido crescimento já observado.
Em 1000 alemães evangélicos | 48,5 nascimentos |
Em mil alemães evangélicos | 7,8 óbitos |
Proporção entre nascimentos e óbitos | 6,1 |
Taxa de crescimento anual | 4% |
Para cada 3 a 4 famílias | 1 nascimento |
Para cada 22 famílias | 1 óbito |
Números correspondentes para a Alemanha, em 1912:
Nascimentos | 28,3 por mil |
Mortalidade | 15,6 por mil |
Crescimento demográfico | 1,3% |
Tentamos conseguir os números correspondentes aos últimos anos, calculando a média de uma década (1926 a 1935), na base dos relatórios paroquiais das comunidades luteranas.
Veja a tabela:
Membros das comunidades
Dados | 1926 | 1927 | 1928 | 1929 | 1930 | 1931 | 1932 | 1933 | 1934 | 1935 |
Criciúma | 106 | 100 | 110 | 137 | 144 | 144 | 142 | 133 | 134 | 130 |
Laranja da Terra | 365 | 369 | 220 | 243 | 242 | 244 | 210 | 225 | 225 | 228 |
Lagoa | 274 | 174 | 190 | 190 | 185 | 185 | 185 | 202 | ||
Leopoldina | 111 | 120 | ||||||||
Limoeiro-Jatiboca | 83 | 104 | 105 | 105 | 119 | 106 | 109 | 109 | 100 | 92 |
Pontal | 130 | 150 | 150 | 150 | 150 | 150 | 160 | 143 | 172 | 173 |
Santo Antônio | 171 | 237 | 300 | 300 | 330 | 335 | 156 | 167 | ||
Mutum | 192 | 237 | ||||||||
Santa Joana | 275 | 430 | 320 | 320 | 322 | 325 | 325 | 350 | 350 | 350 |
Santa Maria | 308 | 327 | 340 | 342 | 370 | 399 | 409 | 426 | 434 | 445 |
Sapucaia | 82 | 95 | ||||||||
Guandu | 100 | 110 | 115 | 115 | ||||||
Total | 1.460 | 1.695 | 1.690 | 1.708 | 1.837 | 1.858 | 1.970 | 2.016 | 2.063 | 2.139 |
As lacunas e as oscilações acentuadas do número de membros, em cada comunidade, se explicam com as novas fundações, separações ou uniões de comunidades ou filiais. O total refere-se a todo o território das comunidades luteranas e evidencia claramente um progresso crescente de ano para ano (de 1.460 a 2.139 no curso de 10 anos). É desnecessário uma estimativa do número correspondente de almas, uma vez que, como já se mencionou é obtido, nos relatórios mediante a multiplicação do número de membros por seis. O crescimento absoluto seria, desse modo, nessas comunidades, no curso de 10 anos, de 1.460 x 6 = 8.760 para 2.139 X 6 = 12.834, ou seja, acréscimo de 4.074. Deve-se ponderar que mesmo o número de membros muitas vezes, não é exato, mas, aproximado. Calculando-se o efetivo médio das comunidades e o número de pessoas, nesse espaço de 10 anos, chega-se ao seguinte:
Número médio de membros em todas as comunidades luteranas | 1.844 (vezes 6 =) |
Número médio de pessoas | 11.064 |
Veja as tabelas:
Nascimentos
Dados | 1926 | 1927 | 1928 | 1929 | 1930 | 1931 | 1932 | 1933 | 1934 | 1935 | Total |
Criciúma | 27 | 30 | 36 | 46 | 45 | 34 | 41 | 30 | 27 | 39 | 364 |
Laranja da Terra | 119 | 117 | 79 | 73 | 75 | 75 | 49 | 69 | 64 | 61 | 781 |
Lagoa | 53 | 53 | 55 | 55 | 50 | 50 | 58 | 53 | 427 | ||
Leopoldina | 17 | 22 | 39 | ||||||||
Limoeiro-Jatiboca | 22 | 21 | 29 | 29 | 33 | 25 | 17 | 26 | 25 | 16 | 243 |
Pontal | 45 | 58 | 64 | 53 | 58 | 43 | 45 | 50 | 38 | 48 | 502 |
Palmeira | 109 | 126 | 82 | 85 | 102 | 83 | 83 | 83 | 95 | 81 | 929 |
Santa Maria | 86 | 89 | 87 | 79 | 84 | 81 | 103 | 88 | 121 | 107 | 925 |
Santo Antônio | 62 | 86 | 77 | 85 | 96 | 76 | 45 | 49 | 576 | ||
Mutum | 55 | 80 | 135 | ||||||||
Sapucaia | 24 | 15 | 39 | ||||||||
Guandu | 26 | 38 | 35 | 42 | 141 | ||||||
Total | 449 | 478 | 492 | 504 | 529 | 481 | 510 | 519 | 563 | 576 | 5.101 |
Média anual: 510 nascimentos.
Óbitos (enterros)
Média anual: 97 óbitos.Dados | 1926 | 1927 | 1928 | 1929 | 1930 | 1931 | 1932 | 1933 | 1934 | 1935 | Total |
Criciúma | 10 | 5 | 6 | 6 | 4 | 9 | 6 | 3 | 6 | 9 | 64 |
Laranja da Terra | 38 | 30 | 9 | 18 | 18 | 12 | 17 | 13 | 13 | 9 | 177 |
Lagoa | 5 | 5 | 5 | 5 | 7 | 7 | 9 | 10 | 53 | ||
Leopoldina | 6 | 9 | 15 | ||||||||
Limoeiro-Jatiboca | 2 | 4 | 6 | 3 | 9 | 0 | 8 | 4 | 6 | 4 | 46 |
Pontal | 12 | 13 | 12 | 16 | 11 | 18 | 0 | 8 | 14 | 7 | 111 |
Santo Antônio | 1 | 16 | 12 | 19 | 12 | 26 | 7 | 5 | 98 | ||
Mutum | 9 | 11 | 20 | ||||||||
Palmeira | 19 | 17 | 13 | 17 | 17 | 10 | 10 | 15 | 18 | 24 | 100 |
Santa Maria | 18 | 11 | 17 | 21 | 16 | 17 | 18 | 23 | 29 | 9 | 179 |
Sapucaia | 5 | 1 | 6 | ||||||||
Guandu | 9 | 12 | 7 | 11 | 39 | ||||||
Total | 110 | 90 | 69 | 102 | 92 | 90 | 87 | 111 | 118 | 99 | 986 |
[Relação nascimentos/óbitos]
Ano | Membros da comunidade | Nascimentos | Óbitos | Em mil | Crescimento (%) | |
Nascimentos | Óbitos | |||||
1926 | 1.460 | 449 | 110 | 51,2 | 12,5 | 3,9 |
1927 | 1.695 | 478 | 90 | 47,0 | 8,8 | 3,8 |
1928 | 1.690 | 492 | 69 | 48,5 | 6,8 | 4,2 |
1929 | 1.708 | 504 | 102 | 49,1 | 9,9 | 3,9 |
1930 | 1.837 | 529 | 92 | 47,9 | 8,3 | 3,9 |
1931 | 1.858 | 481 | 90 | 43,1 | 8,0 | 3,5 |
1932 | 1.970 | 510 | 87 | 43,1 | 7,3 | 3,5 |
1933 | 2.016 | 519 | 111 | 42,9 | 9,1 | 3,4 |
1934 | 2.063 | 563 | 118 | 45,5 | 9,5 | 3,6 |
1935 | 2.139 | 576 | 99 | 47,9 | 7,7 | 4,0 |
Total | 18.436 | 5.101 | 968 | 46,62 | 8,79 | 3,65 |
Desses números resultam:
Em 1000 colonos protestantes, por ano | 46,1 nascimentos |
Em 1000 colonos protestantes, por ano | 8,7 óbitos |
Taxa de crescimento | 3,7% |
Relação entre nascimentos e óbitos | 5,3 : 1 |
Relação percentual entre nascimentos e óbitos | 18,9% |
Em comparação com os dados apresentados por Wagemann verifica-se ainda, um resultado extraordinariamente bom, no último decênio, embora tenha havido um pequeno deslocamento para o lado desfavorável. Deve-se no caso, porém, que o cálculo de Wagemann se refere, apenas a 1 ano, Por conseguinte, só é possível uma comparação, se se conceder ao número de Wagemann o significado de uma norma para aquela década. Mas, segundo demonstra nossa tabela, as oscilações de um ano para outro, são tão manifestas, que a diferença poderia ser casual. Contudo, pode-se dizer que não houve nenhuma modificação substancial no crescimento demográfico, em relação ao ano de 1912, que o número de nascimentos importava em 18,9 por 1.000 habitantes (18,0 por mil em 1934). O número e a mortalidade pouco oscilam, e a taxa de crescimento é bem alta. Mesmo a relação percentual entre nascimentos e óbitos, concorda, de maneira quase absoluta, com os 19% obtidos por Wagemann.
Para comparação, seguem, abaixo, os dados demográficos, relativos ao Reich alemão, em 1935.
O número de nascimentos (no Reich, incluindo o Sarre), de 1.261 273 importava em 18,9 por 1.000 habitantes (18,0 por mil em 1934). O número de nascimentos, nas grandes cidades alemãs, era, então, de 345.095, ou seja, 15,4 por mil. Berlim e as cidades mais importantes da Saxônia apresentam a menor proporção de nascimentos, e a maior, as cidades industriais da Silésia (19,1 por mil), seguidas pelas cidades industriais renano-vestfálicas, com 168 por mil. Nas cidades portuárias o número de nascimentos atingia 16,4 por mil; em Berlim, 13,9; nas cidades importantes da Saxônia, 12,7 por mil.
O número de óbitos, de 791.912 representava 11,8 por mil (10,9 por mil em 1934). O excedente de nascimentos era, por conseguinte, de 71 por mil (quando, entre os colonos teutos no Espírito Santo, era de 37,0 por mil ou 3,7%).
Dados demográficos da França, nos últimos dez anos:
Por cem mil habitantes
Anos | Nascimentos | Óbitos | Excedente de nascimentos |
1933 | 16,3 | 15,8 | +0,5 |
1934 | 16,1 | 15,1 | +1,0 |
1935 | 15,2 | 15,7 | -0,5 |
1936 | 19,0 | 17,5 | +1,5 |
A verificação da mortalidade por classes de idade, especialmente a mortalidade infantil esclarece bastante o problema do crescimento demográfico. Seguimos o critério de Wagemann, na classificação por grupos de idade: menos de 1 ano, de 1 a 10 anos, de l0 a 60, e mais de 60.
O estudo de Wagemann refere-se a 4 comunidades (2 na região alta e 2 na região baixa), e, baseando-se nos números obtidos para 10 anos, verifica que 20% dos meninos que morrem, na região alta, têm menos de 1 ano (27%, na Alemanha, no mesmo ano, isto é, em 1912). Para cada grupo de 100 nascidos vivos, sucedem, 2,7 a 4,2 óbitos, contra 15 a 20, na Alemanha, uma mortalidade extraordinariamente reduzida, portanto. A mortalidade infantil, na região alta, é pouco mais elevada, e Wagemann aduz que a mortalidade infantil aumentaria com a altitude, em virtude das imolações mais fortes da temperatura. Para a classe de 1 a 10 anos, resultaram números relativamente altos, 20% da mortalidade total (contra 10% na Alemanha), o que perfaz apenas 3 a 4% do número de nascimentos (contra 6%, na Alemanha).
Os dados que apresentamos se referem a uma comunidade da região baixa e a uma da região alta (Laranja da Terra, e Santa Maria), abrangendo 3 décadas, e não apenas uma, como nos cálculos de Wagemann.
Veja as tabelas:
Mortalidade por grupos de idade
Laranja da Terra
Laranja da Terra
Ano | Menos de 1 ano | 1 a 10 anos | 10 a 60 anos | Mais de 60 anos |
1915 | 1 | 1 | 0 | 1 |
1916 | 2 | 1 | 0 | 1 |
1917 | 6 | 1 | 3 | 1 |
1918 | 2 | 2 | 0 | 0 |
1919 | 3 | 1 | 5 | 0 |
1920 | 2 | 3 | 5 | 0 |
1921 | 2 | 0 | 0 | 0 |
1922 | 3 | 1 | 3 | 0 |
1923 | 13 | 2 | 2 | 2 |
1924 | 11 | 6 | 3 | 3 |
1925 | 5 | 9 | 8 | 5 |
1926* | 9 | 6 | 17 | 0 |
1927** | ||||
1928 | 3 | 0 | 5 | 1 |
1929 | 6 | 4 | 5 | 2 |
1930 | 10 | 3 | 5 | 0 |
1931 | 8 | 2 | 2 | 0 |
1932 | 5 | 4 | 3 | 5 |
1933 | 3 | 3 | 4 | 3 |
1934 | 3 | 3 | 4 | 3 |
1935 | 4 | 0 | 4 | 1 |
Total | 101 | 52 | 78 | 28 |
Natimortos | -19 | |||
Sub-total | 82 |
*Epidemia de tifo
**Óbitos não registrados.
Distribuição percentual por grupos de idade
I | II | III | IV |
20,2%
|
21,5%
|
38,0%
|
20,3%
|
41,7% |
Mortalidade por grupos de idade
Santa Maria
Santa Maria
Ano | Menos de 1 ano | 1 a 10 anos | 10 a 60 anos | Mais de 60 anos |
1915 | 4 | 1 | 3 | 6 |
1916 | 2 | 4 | 9 | 1 |
1917 | 4 | 1 | 1 | 5 |
1918 | 2 | 4 | 8 | 1 |
1919 | 2 | 4 | 3 | 7 |
1920 | 0 | 8 | 6 | 1 |
1921 | 2 | 4 | 9 | 4 |
1922 | 2 | 4 | 6 | 3 |
1923 | 1 | 2 | 3 | 1 |
1924 | 2 | 7 | 6 | 2 |
1925 | 7 | 5 | 2 | 2 |
1926 | 7 | 4 | 4 | 5 |
1927 | 6 | 3 | 3 | 3 |
1928 | 8 | 1 | 8 | 1 |
1929 | 12 | 3 | 9 | 4 |
1930 | 9 | 2 | 10 | 1 |
1931 | 8 | 0 | 7 | 2 |
1932 | 5 | 2 | 7 | 6 |
1933 | 8 | 2 | 7 | 9 |
1934 | 12 | 7 | 13 | 2 |
1935 | 4 | 3 | 3 | 1 |
Total | 107 | 71 | 127 | 67 |
Natimortos | -40 | |||
Sub-total | 67 |
Batizados e enterros
Laranja da Terra
Ano | Batizados | Enterros em geral | Enterros de indivíduos com menos de 1 ano |
1915 | 16 | 3 | 1 |
1916 | 25 | 4 | 2 |
1917 | 24 | 11 | 6 |
1918 | 35 | 4 | 2 |
1919 | 38 | 9 | 3 |
1920 | 38 | 10 | 2 |
1921 | 51 | 2 | 2 |
1922 | 50 | 7 | 3 |
1923 | 64 | 19 | 13 |
1924 | 92 | 23 | 11 |
1925 | 94 | 27 | 5 |
1926 | 111 | 32 | 9 |
1927 | 83 | 30 | ? |
1928 | 80 | 9 | 3 |
1929 | 73 | 17 | 6 |
1930 | 75 | 18 | 10 |
1931 | 77 | 12 | 8 |
1932 | 49 | 17 | 5 |
1933 | 69 | 13 | 3 |
1934 | 64 | 13 | 3 |
1935 | 61 | 9 | 4 |
Total | 1.269 | 289 | 101 |
Natimortos | -19 | -19 | |
Sub-total | 270 | 82 |
Batizados e enterros
Santa Maria
Santa Maria
Ano | Batizados | Enterros em geral | Enterros de indivíduos com menos de 1 ano |
1915 | 93 | 14 | 4 |
1916 | 107 | 16 | 2 |
1917 | 89 | 11 | 4 |
1918 | 87 | 15 | 2 |
1919 | 81 | 16 | 2 |
1920 | 94 | 15 | 0 |
1921 | 95 | 19 | 2 |
1922 | 106 | 15 | 2 |
1923 | 90 | 7 | 1 |
1924 | 73 | 17 | 2 |
1925 | 82 | 16 | 7 |
1926 | 88 | 20 | 7 |
1927 | 80 | 14 | 6 |
1928 | 103 | 18 | 8 |
1929 | 79 | 28 | 12 |
1930 | 86 | 22 | 9 |
1931 | 83 | 17 | 8 |
1932 | 103 | 20 | 5 |
1933 | 88 | 26 | 8 |
1934 | 123 | 34 | 12 |
1935 | 107 | 11 | 4 |
Total | 1.937 | 371 | 107 |
Natimortos | -40 | -40 | |
Sub-total | 331 | 67 |
Daí resulta, em relação a Laranja da Terra, o seguinte:
Cerca, de 20 óbitos (21,2%) para 100 nascidos vivos;
Cerca de 7 óbitos (6,4%) faltando dados para 1927, de indivíduos com menos de 1 ano para 100 nascidos vivos;
Relação entre nascimentos e óbitos: 4,7 : 1;
Cerca de l0 óbitos, de indivíduos com menos de l0 anos (10,5%, mais exatamente), para 100 nascidos vivos.
Em relação a Santa Maria:
Cerca de 17 óbitos (17,1%) para 100 nascidos vivos;
Cerca de 3 a 4 óbitos (3,5%), de indivíduos com menos de 1 ano, para 100 nascidos vivos;
Relação entre nascimentos e óbitos: 5,2 : 1;
Cerca de 7 óbitos (7,1%), de indivíduos com menos de 10 anos, para 100 nascidos vivos.
No tocante à mortalidade infantil (de indivíduos com menos de l0 anos), relativamente elevada, nossos números não contradizem os de Wagemann: (Santa Maria) e 55,7%, 41,7% (Laranja da Terra) da mortalidade total; ou 10,5% e 7,1% dos nascidos vivos, números esses que são, aliás, mais altas que os de Wagemann. A mortalidade dos lactentes (com menos de 1 ano) representa respectivamente, 34,2% e 20,2% da mortalidade total, ou 6,4% e 3,5 dos nascidos vivos (na Alemanha, a mortalidade dos lactentes atingia, em 1934, 6,6 por 100 nascidos vivos).
Em discordância com os levantamentos de Wagemann, estão as condições mais desfavoráveis que observamos nas comunidades da região baixa: preponderam a mortalidade dos lactentes e a mortalidade infantil em geral (de todos os indivíduos com menos de 10 anos), embora os números devam ser considerados modestos em relação aos de outros países, especialmente em relação aos dos países com um número de nascimentos tão elevado, onde, em regra, se verifica maior mortalidade infantil. Apresentamos, a propósito, de maneira destacada, as classes de idade, a fim de evidenciar como são grandes as oscilações dos pequenos números absolutos, e como pode ser influenciado, por circunstâncias excepcionais, o resultado total, quando se escolhem períodos muito curtos (é o que demonstra por exemplo, Laranja da Terra, com os números anormalmente elevados, do ano de 1926, relativos à classe dos 10 aos 60 anos, em conseqüência de uma epidemia de tifo). Por certas razões, parece mais provável que a mortalidade dos lactentes e a total, nas zonas mais baixas, deva ser mais elevada do que na região alta. Justamente a mortalidade dos lactentes dependerá, em geral, mais de perturbações alimentares (as quais no clima mais quente da região baixa são mais freqüentes) do que de oscilações de temperatura, mencionadas por Wagemann (livros de igreja, das comunidades da região baixa); a gastroenterite Brechdurchfall consta, amiúde, como causa-mortis. Utilizando as mesmas fontes, obtivemos resultados diversos, em relação às comunidades da região alta e da região baixa, o que mostra a necessidade de prudência na exploração de números dessa natureza, e a facilidade de se chegar a conclusões erradas. Estamos certos de que nosso material é insuficiente, necessitando ser completado com verificação da mesma natureza, no maior número possível de comunidades e no período mais longo possível num trabalho que só poderia ser realizado num tempo bem maior do que aquele de que dispusemos. A discordância seria dificilmente interpretada, como uma modificação que se manifestou depois das pesquisas de Wagemann, e evitamos, por isso, tirar conclusões de natureza remota, da comparação com outros dados de Wagemann.
Apesar disso, os nossos números podem proporcionar certas indicações seguras, principalmente em comparação com os resultados obtidos por Wagemann; essas indicações devem ter validade geral e confirmar-se-iam, também, com a obtenção de um material estatístico maior. Em concordância com Wagemann, podemos classificar como favoráveis as condições demográficas, embora em diversas comunidades, na área de povoamento teuto, se verifiquem números mais desfavoráveis do que os da norma admitida por Wagemann, para 1912. A abundância de filhos e a mortalidade relativamente pequena proporcionam ainda um excedente apreciável. Número elevado de nascimentos, de 50 por 1.000, e mais, encontra-se em diversas regiões da terra (Índia, várias partes da Rússia), mas está sempre conjugado com mortalidade muito alta. Nos países com higiene desenvolvida, de mortalidade pequena, o número de nascimentos não é tão alto, de modo que a taxa de crescimento, em regra, atinge 1 a 2%. O aumento de cerca de 4%, significando que uma população se duplica em 18 anos e se triplica em 35, no curso de uma geração, é algo absolutamente fora do comum.
Não podemos dizer se existe igual excedente de nascimentos, no mesmo território e nas mesmas condições, tratando-se de outras nacionalidades e raças fixadas no Espírito Santo (luso-brasileiros, mulatos, negros, italianos), pois não nos foi possível arranjar os dados correspondentes, embora fosse muito interessante a comparação Como já mencionamos, faltam estatísticas das quais se pudessem extrair dados dessa natureza, relativos aos diversos grupos de população, do Espírito Santo.
Nossas verificações demonstram que, até agora, não existe nenhuma indicação de que o crescimento demográfico, entre os colonos de origem alemã, comece a modificar-se, e de que retroagiria, em futuro próximo. Não será impossível uma diminuição da taxa de crescimento, o que dependerá, fundamentalmente, do tamanho do espaço onde as gerações seguintes obterão alimentos, da intensidade da exploração da terra em poder dos povoadores de origem teuta, e do progresso da miscigenação da população alemã com outros elementos e da correspondente renúncia à própria etnia.
Por sugestão do professor Wagemann, à disposição de quem pusemos nosso material estatístico, os seus resultados e os nossos foram submetidos a prova, por um trabalho matemático-estatistico do doutor Boehm[ 4 ] (Instituto de Pesquisa da Conjuntura). Serviram de material estatístico os dados sobre nascimento e óbitos, coligidos por Wagemann, nos anos de 1860 a 1912, e os que coligimos, de acordo com o mesmo critério, relativos aos anos de 1926 a 1935. Partindo-se desse material, procurou-se calcular a população e saber se o número de nascimentos e de óbitos mostram um deslocamento sistemático no curso do tempo ou se oscilam, mais ou menos casualmente, em torno de uma média determinada. Para um cálculo exato da taxa de crescimento, conforme Boehm salienta, teria de se conhecer toda a emigração e sua composição, segundo as classes de idade e o sexo, do mesmo modo que a população total, posterior. Uma crítica importante contra os cálculos, que o próprio Wagemann já tinha levantado, é a de que importa levar em conta a composição, segundo a idade, da população de emigrantes. Uma vez que numa emigração, só entram em linha de conta pessoas em boa idade, a mortalidade dessa população tem de ser menor e o número de nascimento, maior, do que numa população secularmente radicada. Embora nos primeiros tempos do povoamento e nas levas repetidas de emigrantes tenha atuado a composição por idade, conduzindo a uma onda do crescimento demográfico, essa influência, segundo as reflexões e os cálculos apresentados por Boehm, deve ter perdido sua maior eficácia, por volta do ano de 1390. Sucedeu, então, um enfraquecimento do movimento ondulatório de nascimentos e da população, como conseqüência natural do desenvolvimento da primeira geração de emigrantes e após a segunda emigração, na década dos 70. Os números revelam, nos anos de 1891 a 1912 e de 1926 a 1935, um desenvolvimento relativamente constante. A população, do mesmo modo que os nascimentos e os óbitos, oscila em torno de uma média eventual, no exato sentido matemático. Daí conclui Boehm: "A taxa de crescimento da população de colonos teutos no Espírito Santo, a partir de 1890, mais ou menos, importa em cerca de 4%, conforme Wagemann, e, durante os últimos 10 anos, como Giemsa e Nauck calcularam. Essa taxa de crescimento, confirmada pelos números de nascimentos e de óbitos, vale para os 31 anos observados. Não se observam diferenças substanciais entre o tempo anterior e o posterior à guerra".
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NOTAS
[ 1 ] H. Grothe: Die Deutschen in Ubersee, Zentralverl. Berlim, 1932.
[ 2 ] População do Brasil: 1920, 30.635.605; 1935, 47.794.874; 1945, 61.272.210 (previsão) (Rio Zeitung, 1935).
[ 3 ] Cálculo do número de pessoas pelo número médio dos membros da comunidade de 1844 e o coeficiente 6 (1844 x 6 = 11.064).
[ 4 ] Boehm: Die Bevölkerungsvermehrung einer deutschen Bauernsiedlung in dem Tropen (Espírito Santo). Vierteljahrshefte zur Konjunkturfoschung 1937, 11. Jahrgang. Heft 3, Teil a, 339.
[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant'Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].
Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como "Giemsa", empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais.
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