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Gustav Giemsa. SUMÁRIO Explicação do tradutor Nota Prefácio I. Plano e realização da viagem II. Generalidades sobre o Espírit...

Gustav Giemsa.
Gustav Giemsa.
SUMÁRIO


Explicação do tradutor

Nota

Prefácio

I. Plano e realização da viagem

II. Generalidades sobre o Espírito Santo: solo, clima, meios de transporte

III. História e extensão da colonização no Espírito Santo

IV. Agricultura e produção

V. Roupa, habitação, alimentação e água

VI. Situação Econômica

VII. Medicina e salubridade

VIII. Estatística demográfica

IX. Observações genealógicas e antropológicas

X. A igreja, a escola, os costumes

XI. O mundo espiritual dos colonos

XII. Aclimação

Conclusão

Apêndice I

Apêndice II


[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant'Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como "Giemsa", empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais. 


As condições demográficas favoráveis indicam que os imigrantes alemães, após certo tempo, adaptaram-se ao meio sem prejuízos graves à saúde ...

As condições demográficas favoráveis indicam que os imigrantes alemães, após certo tempo, adaptaram-se ao meio sem prejuízos graves à saúde da população em geral. Wagemann acha notável a frequência com que se encontram pessoas de idade, muito vigorosas, ainda (o que corresponde à baixa mortalidade). Tivemos oportunidade de ver grande número de velhos colonos, que imigraram na infância ou na juventude. Davam psicológica e fisicamente, impressão saudável e fresca, conseqüência talvez, de uma seleção entre os imigrantes, dos quais vivem, ainda hoje, os mais fortes e mais sadios. Não é possível prever se, nas próximas gerações, se encontrarão muitas pessoas idosas. Tem-se a impressão geral de que as pessoas de meia idade não possuem, em média, a mesma resistência desses velhos imigrantes. Excetuadas as doenças, e outras causas eventuais, esse dote varia de uma família para outra, e naturalmente, depende, de maneira fundamental, das qualidades hereditárias dos imigrantes.

A adaptação verificada, as condições demográficas favoráveis, a baixa mortalidade, apesar do perigo do clima e da falta de higiene, denotam que, na realidade, as famílias de imigrantes, na sua maioria eram resistentes e fortes, qualidades do patrimônio hereditário que transplantaram, consigo, para o Brasil. Por isso, não é possível o exame do problema demográfico, sem se estudar, antes, o destino de cada família que imigrou, ao invés de partir de comunidades, sujeitas, em sua existência, a oscilações consideráveis como já vimos. Conforme nos foi possível ver, através de exemplos, a vida e o desenvolvimento de toda uma comunidade é determinada por uma única família que se distende nas relações mais extensas da parentela. A história e as qualidades características hereditárias das famílias que imigraram, considerando-se a procedência, os característicos físicos, as manifestações psíquicas, espirituais, a capacidade econômica, são do maior interesse para o problema do "meio e da herança", tão importante do ângulo raciológico e etnológico. Levantamentos genealógicos e de relações de parentesco no Espírito Santo poderiam fornecer material de inestimável valor, servindo para comparar grupos hereditariamente similares, da mesma procedência fixados em meios diversos, isto é as mesmas parentelas e famílias, na Alemanha e no Brasil. Recentemente, tem sido acentuada, repetidas vezes, a importância dessas pesquisas para a ciência antropológica (antropobiologia ou antropologia da compleição). Hans Grimm[ 1 ] por exemplo, depois de formular o problema "Como se desenvolvem as mesmas disposições hereditárias em meios diversos?", classifica a fixação de teutos no estrangeiro como experimento importantíssimo de transplantação de etnia, diz que urge se realizem novas pesquisas sobre a "Biologia dos alemães no estrangeiro".

Nossa breve estada, no Espírito Santo, não nos permitiu ocupar-nos, a fundo, com esses problemas, embora reconhecêssemos sua importância para a apreciação do desenvolvimento dos grupos étnicos de origem teuta, nesse Estado brasileiro, e para o estudo da biologia do colono, sob o ângulo da hereditariedade e do meio. Poder-se-ão considerar uma tentativa inicial, de avançar nessa direção, os dados que obtivemos, investigando diversas famílias, as medições antropológicas que tomamos e algumas árvores genealógicas que levantamos. Estamos convencidos de que os resultados do tratamento parcial desses problemas não bastam para se alcançarem conclusões de ordem geral, e por isso desistimos de formular um julgamento e de entrar numa exposição mais a fundo. Outros estudos realizados por pesquisadores, especializados em problemas antropológicos, e com critérios uniformes, poderiam continuar o trabalho utilizando nosso material.

A família Seibel é um bom exemplo do destino de uma família e de seu desenvolvimento, nas gerações seguintes; seus membros, na sua maioria encontramo-los nos respectivos sítios, situados na comunidade de Laranja da Terra, quando não se reuniam em dias determinados, numa colônia ou na casa do pastor Grothe, a pedido deste.[ 2 ] A família remonta a Adam Seibel, que, segundo se sabe, nasceu em Hamm, em Worms, a 15 de novembro de 1815, imigrando para o Brasil, em 1861, com mulher e três filhos. Por ocasião de trabalhos de estrada, que os colonos tinham de fazer no início do povoamento, uma árvore caiu e feriu Adam Seibel, que morreu a 22 de janeiro de 1869. Faltam dados precisos sobre sua mulher, não se sabendo, inclusive, o nome de solteira. Dizem ter sido vítima de um acidente, a queda da parede de uma casa, recebendo ferimentos que a obrigaram a andar de bordão. Dos três filhos de Adam Seibel, Jakob, o mais velho, viera, aos 19 anos, para o Espírito Santo. Nele se entronca a parentela Seibel hoje, conhecida no Espírito Santo. Kaspar Seibel, o segundo filho, desapareceu do Espírito Santo. Não se sabe se voltou para a Alemanha ou se foi para outras zonas de povoamento da América, e lá se fixou. Quanto ao terceiro filho, Adam, diz-se que era violento e estúpido. Informam que matou um brasileiro a pata de cavalo, o que o levou à cadeia, onde morreu após longa permanência. Sua mulher foi viver com um preto. Parece que a descendência desse Adam Seibel logo se misturou com outros elementos étnicos (holandeses, luso-brasileiros) e não é mais possível reconstruir sua história. Faltam, também, dados sobre os descendentes das filhas do velho Adam Seibel.

É possível seguir, com exatidão, a descendência de Jakob Seibel, que se casou com Luisa Sarter, de Obserstein sobre o Nahe (Oldenburg), a qual ainda vivia, por ocasião de nossa visita. Luisa Sarter emigrou com seus pais, em 1861, com 12 anos de idade, tendo durado oito semanas a travessia a vela do oceano. Resistiu ao duro trabalho dos primeiros anos do povoamento, deu ao seu marido l1 filhos, e chega aos 90 anos com um vigor surpreendente. Jakob Seibel conseguiu viver muito bem no ambiente dos colonos e parece ter possuído senso e inteligência práticos. Informaram-nos que viajou muito, detendo-se muitas vezes na capital, e que falava bem o português. De seus filhos, foi Wilhelm que desempenhou, na família, o papel de líder. Foi ele quem, primeiro, organizou colônias no território da atual comunidade de Laranja da Terra, mandando vir os irmãos. Foi ele quem se ocupou com a vida da comunidade, lutando pelo desenvolvimento da instrução e transmitindo algo de suas qualidades pessoais não apenas aos parentes, mas também a toda a comunidade. Um dos poucos colonos do Espírito Santo, dotados de qualidades de liderança.

Nas gerações seguintes, essa família de origem renano-oldenburguesa mistura-se com famílias de origem pomerana. Existe, contudo, certa unidade em todas as famílias Seibel, que se manifesta na capacidade econômica, em geral boa, e no padrão de vida algo elevado. A grande vivacidade intelectual, herdada do lado renaniano, é completada, por uma mistura feliz, com a perseverança e a tenacidade do fator pomerano. Os Seibel são, sem dúvida, especialmente dotados para tarefas colonizadoras. As colônias administradas pelos Seibel Juniors (irmãos e filhos de Wilhelm Seibel) estão entre as melhores que vimos no Espírito Santo.

Constituem tarefas da pesquisa biológica em grupos étnicos alemães, no estrangeiro, observações relativas ao cabelo e à cor dos olhos, ao índice da largura e comprimento cranianos etc.; a determinação do tamanho e do peso, especialmente estudos do crescimento na juventude, em suas relações com diversos fatores que possivelmente influem no desenvolvimento dos jovens (particularidades da alimentação, trabalho corporal prematuro, rapidez do crescimento em virtude da forte irradiação solar, influência da verminose etc.). Antes de nossa visita, o doutor Saettele realizara, no Espírito Santo, pesquisas a esse respeito, as quais, em parte, prosseguimos, trabalhando em comum.[ 3 ]

Grimm pôs em dúvida a exatidão de nossa conclusão e lembrou que os valores para a Alemanha, tirados de uma tabela antiga precisavam ser corrigidos. Faltam publicações que se ocupem do peso e tamanho dos meninos pomeranos. Os valores médios, obtidos com a medição de meninos de Mecklenburg, na Alemanha do Norte, da mesma raça, estão acima daqueles apresentados pelo doutor Saettele, para as idades correspondentes. Os meninos teuto-brasileiros apresentam, em relação aos meninos do norte da Alemanha, um déficit de peso e de tamanho. Apuraram-se através de exames precisos, as seguintes divergências de peso (meninos, aos 14 anos, menos 10,2 quilos; as meninas que, na Alemanha Setentrional, apresentam, no começo da puberdade, um acentuado aumento de peso, menos 13,4 quilos; ou sejam, 26,8% de diferença para os meninos e 28% para as meninas). Aos 6 anos de idade, os meninos brasileiros são maiores do que os meninos e as meninas de Mecklenburg; aos 7 anos, sua altura é menor que a dos meninos da Alemanha Setentrional; aos 14 anos, os meninos da Alemanha do Norte são 10,8 centímetros mais altos, e as meninas, 10,2 centímetros; nessa idade a divergência dos valores vigentes para os meninos da Alemanha do norte importa, conforme o sexo, em 7 % e 6,7 %. A nossa suposição inicial de uma estatura esguia, baseada na comparação com valores médios, mais antigos, vigentes para a Alemanha, esboroa-se em face dos meninos da Alemanha Setentrional, da mesma raça. Mas, não parece improvável que, em concordância com observações de outras regiões tropicais, o crescimento seja apressado no primeiro período (até o 6º ano mais ou menos), passando, então, a retardar-se, vindo, depois, a experimentar, possivelmente, uma parada prematura. É inteiramente improvável que se trate no caso de uma modificação dos caracteres físicos, de natureza genotípica, logo após tão poucas gerações. É, antes, uma modificação do fenótipo, para o que além das influências climáticas e da alimentação, contribui, provavelmente, como fator mais importante, a verminose existente nos meninos em geral.

A constituição e o porte dos adultos não revelam num julgamento geral, nenhuma diferença notável dos de uma população rural da Alemanha Setentrional. Também hoje vêem-se numerosas, estaturas, possantes e altas; no conjunto, predomina o tipo magro, delgado; vêem-se raras pessoas com adiposidade. Até aí, pode-se falar, talvez, de uma adaptação determinada pelo meio, influenciada pelo clima e pela alimentação, ao tipo da população luso-brasileira. Também entre as mulheres e as filhas dos colonos, que, desde a juventude, realizam o trabalho do campo junto aos homens, é freqüente uma constituição robusta e possante.

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NOTAS


[ 1 ] Grimm, Hans: Körperliche Entwicklung Auslandsdeutscher Jugend, Auslandsdeutsebe Volksforschung 1938, volume 2, caderno 1, p. 130.
Grimm, Hans: Anthropologie in der Volksforschung. Ibidem, volume 2, caderno 3, p. 396.
[ 2 ] Vide, no apêndice, a árvore genealógica da família Seibel.
[ 3 ] R. Saettele: Untersuchungen an deutschstaemmigen Schulkindern im Staate Espírito Santo in Brasilien und kurze Eroerterung der Hauptkrankungen dieser Volksgrupe. Arch. f. Schiffsu. Tropenhyg. Vol. 40, Caderno 11. p. 495.


[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant'Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como "Giemsa", empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais. 

Importa saber o número de componentes da população teuta, no Espírito Santo, e o seu crescimento. Os dados sobre o total de alemães, exist...

Importa saber o número de componentes da população teuta, no Espírito Santo, e o seu crescimento.

Os dados sobre o total de alemães, existentes no Brasil, variam consideravelmente: não se obtêm números exatos, e faltam levantamentos estatísticos oficiais. Grothe[ 1 ] em seu livro Die Deutsche in Ubersee baseado em cálculos formulados, utilizando estatísticas alemãs e brasileiras de emigração e imigração, informações sobre o crescimento demográfico e documentos de outra natureza, estima em 700.000 o número de indivíduos que falam alemão, devendo oscilar o número de pessoas, originárias da imigração de cerca de 210.000 teutos, nos anos de 1810 a 1919, entre 1.250.000 e 1.500.000[ 2 ]. No debate sobre os alemães, no Brasil, Grothe lança mão, notadamente, do trabalho de Wagemann sobre o Espírito Santo, que se ocupa a fundo, com as condições e o crescimento demográfico, nas zonas dos colonos. Conforme observa Grothe, com acerto, seriam muito de desejar outros levantamentos em determinadas regiões, de acordo com critérios uniformes.

Um conjunto de especialistas (exploradores de regiões sul-americana, professores, formados em geografia com atividade no Brasil) teriam de se encarregar dessa tarefa. Uma vez que pesquisadores isolados não poderiam dominar o material. A exploração do material existente nas Paróquias seria da maior importância, podendo fornecer, após cuidadoso trabalho, indicações seguras.

Wagemann estimou o número de alemães, no Espírito Santo no ano de 1912, em 17 a 18.000 (protestantes 12.500; católicos, 5000). Para chegar a esse resultado admitiu partindo de observações seguras numa comunidade (Santa Maria), que o número de cabeças por família era de 6; em comunidade mais jovens, de 5. A confrontação dos nascimentos e óbitos extraídos dos livros de igreja; (batizados e enterros), revelou haver, até 1912, cerca de 14.900 nascimentos para 3.000 mortes. Aplicando a mesma proporção aos católicos de origem alemã, para os quais faltam dados seguros, chega Wagemann à seguinte estimativa, para o mesmo período: (Provavelmente mais certo, segundo Wagemann):

Imigração 2.500 (3.000)
Nascimentos 19.000 (18.000)
Óbitos 4.000 (4.500)
População 17.500 (16.500)
Crescimento demográfico 15.000 (13.500)

Daí deduz Wagemann que a densidade demográfica, no Espírito Santo, ter-se-ia quintuplicado num período de 30 a 65 anos. Se se aplicar, entretanto, essa proporção numérica a toda a imigração no Brasil chegar-se-ia partindo-se do número de imigrantes a números totalmente fantásticos (Grothe). São notavelmente maiores no Sul, as perdas, em muitas regiões de colonização, em virtude de emigração, volta, ou absorção por outras etnias. Grothe admite, como norma, apenas a duplicação no curso de uma geração (35 anos). No Espírito Santo, onde as circunstâncias são excepcionalmente favoráveis estima Grothe para 1930 (16 anos após os cálculos de Wagemann), supondo não terem variado as condições de existência, uma população, de origem teuta, de 25.000 almas (a população de todo o estado, nesse ano deveria atingir 587.451 almas). Seis anos depois, o número deveria oscilar entre 25.000 e 30.000, Ou já ter alcançado a casa dos 30.000 (população do Espírito Santo, brasileira, 833.276: Rio-Zeitung, 1935).

Durante nossa permanência no Espírito Santo, esforçamo-nos por conseguir dados estatísticos, que servissem para determinar o crescimento demográfico. Como sucedeu com Wagemann, utilizamos principalmente os livros de igreja das comunidades que visitamos, e, além deles relatórios paroquiais e das comunidades, e publicações do serviço de estatística das igrejas.

Pudemos extrair os números, abaixo, dos cadernos publicados em 1935, relativos ao levantamento estatístico nº 6 da igreja evangélica, com os dados organizados pelo pastor titular Hübbe , sobre a freqüência escolar dos meninos evangélicos alemães no Brasil.

Espírito Santo

Habitantes (apenas das zonas de povoamento predominantemente teuto onde se encontram as escolas das comunidades).

População total Alemães Evangélicos Católicos
32.413 25.517 21.356 4.161

O número 25.517 corresponde, por conseguinte, à estimativa de Grothe, para a mesma época. Não se trata aqui, naturalmente, de dados, com exatidão absoluta, mas de aproximações, cuja obtenção (especialmente no que toca à freqüência escolar) era extraordinariamente difícil, durante 3 anos.

Vejamos os números, abaixo, do último relatório paroquial da Igreja Luterana Teuta, no Brasil, relativo a 1935, e do relatório da Comunidade Evangélica Alemã do Brasil Oriental para o 8º sínodo (29 de junho a 1º de julho) (Veja as tabelas):

Igreja Luterana Teuta do Brasil (Obra Missionária Luterana)
Comunidades (inclusive comunidades filiais) Membros da comunidade Número de almas
Criciúma 130 760
Laranja da Terra 228 1.368
Lagoa Serra Pelada 202 1.212
Limoeiro-Jatiboca 92 600
Pontal 173 1.038
Santo Antônio 167 1.002
Mutum 257 1.356
Santa Joana-Palmeira 350 2.100
Santa Maria 445 2.670
Guandu 115 800
Total 2.159 12.906

Comunidade Evangélica Alemã do Brasil Oriental (Consistório Evangélico)
Comunidades (inclusive comunidades filiais) Membros da comunidade Número de almas
Campinho 250 2.000
Leopoldina II-Jequitibá 411 3.100
Leopoldina I 144 1.415
Califórnia 409 2.410
Rio Ponto 146 1.070
Total 1.360 9.995

Os colonos de origem teuta, integrados nas comunidades luteranas e evangélicas somam, portanto:

Membros da comunidade 3.516
Número de almas 22.901

O número de almas não resulta aqui de uma contagem exata, mas de uma estimativa, realizada em relação à maioria das comunidades, multiplicando-se o número de membros por 6 (nas comunidades do Consistório Evangélico, por um coeficiente maior).

Aos protestantes atuais, cerca de 23.000, devemos acrescentar: os dissidentes (sabatistas, batistas, missurianos) os chamados "democratas", pouco numerosos, que não pertencem a nenhuma organização religiosa; e os católicos de origem alemã, cujo número, em 1912, foi calculado, por Wagemann, em 5.000. Os primeiros ainda hoje, não são numericamente importantes; em relação aos católicos só existem estimativas muito vagas, pois não é possível nenhum controle através da organização eclesiástica. Não se obtém o número de óbitos e de nascimentos, por faltar o registo de batizados e de mortes Segundo informações do padre Heinrich Otte, que visitamos em Porto do Cachoeiro, e que mostrou vivo interesse pelos problemas dos alemães, no âmbito de sua paróquia, o número dos católicos de origem alemã, na sua circunscrição, poderia oscilar entre 8 e 12.000 (se tomarmos por base o número de batizados, que nós foi fornecido, cerca de 200 por ano, e admitirmos, a grosso modo, a proporção de 40 nascimentos por mil habitantes, que, conforme veremos adiante, não é demasiadamente elevada, chegaremos à estimativa de 5.000 almas). Mesmo que esses números fossem exagerados e sejam menores que os das comunidades protestantes, o crescimento demográfico dos católicos de origem alemã, em virtude de assimilação progressiva e da perda da etnia podemos, razoavelmente, admitir que o número de colonos de descendência teuta ou que falam alemão deve importar aproximadamente em 30.000.

Wagemann, num capítulo especial, trata da proporção entre nascimentos e óbitos, confrontando com a população. Pareceu-nos relevante comparar seus resultados com verificações e cálculos dos últimos anos. Wagemann parte, entretanto, de quantidades absolutas, muito pequenas. A base dos seus cálculos são os números relativos ao ano de 1912, porque, só para esse ano, pôde determinar o número de cabeças, considerando-o como norma. Partindo daí organizou a estatística demográfica surpreendentemente favorável, de acordo com o rápido crescimento já observado.

Em 1000 alemães evangélicos 48,5 nascimentos
Em mil alemães evangélicos 7,8 óbitos
Proporção entre nascimentos e óbitos 6,1
Taxa de crescimento anual 4%
Para cada 3 a 4 famílias 1 nascimento
Para cada 22 famílias 1 óbito

Números correspondentes para a Alemanha, em 1912:

Nascimentos 28,3 por mil
Mortalidade 15,6 por mil
Crescimento demográfico 1,3%

Tentamos conseguir os números correspondentes aos últimos anos, calculando a média de uma década (1926 a 1935), na base dos relatórios paroquiais das comunidades luteranas.

Veja a tabela:

Membros das comunidades
Dados 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935
Criciúma 106 100 110 137 144 144 142 133 134 130
Laranja da Terra 365 369 220 243 242 244 210 225 225 228
Lagoa 274 174 190 190 185 185 185 202
Leopoldina 111 120
Limoeiro-Jatiboca 83 104 105 105 119 106 109 109 100 92
Pontal 130 150 150 150 150 150 160 143 172 173
Santo Antônio 171 237 300 300 330 335 156 167
Mutum 192 237
Santa Joana 275 430 320 320 322 325 325 350 350 350
Santa Maria 308 327 340 342 370 399 409 426 434 445
Sapucaia 82 95
Guandu 100 110 115 115
Total 1.460 1.695 1.690 1.708 1.837 1.858 1.970 2.016 2.063 2.139

As lacunas e as oscilações acentuadas do número de membros, em cada comunidade, se explicam com as novas fundações, separações ou uniões de comunidades ou filiais. O total refere-se a todo o território das comunidades luteranas e evidencia claramente um progresso crescente de ano para ano (de 1.460 a 2.139 no curso de 10 anos). É desnecessário uma estimativa do número correspondente de almas, uma vez que, como já se mencionou é obtido, nos relatórios mediante a multiplicação do número de membros por seis. O crescimento absoluto seria, desse modo, nessas comunidades, no curso de 10 anos, de 1.460 x 6 = 8.760 para 2.139 X 6 = 12.834, ou seja, acréscimo de 4.074. Deve-se ponderar que mesmo o número de membros muitas vezes, não é exato, mas, aproximado. Calculando-se o efetivo médio das comunidades e o número de pessoas, nesse espaço de 10 anos, chega-se ao seguinte:

Número médio de membros em todas as comunidades luteranas 1.844 (vezes 6 =)
Número médio de pessoas 11.064

Veja as tabelas:

Nascimentos
Dados 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 Total
Criciúma 27 30 36 46 45 34 41 30 27 39 364
Laranja da Terra 119 117 79 73 75 75 49 69 64 61 781
Lagoa 53 53 55 55 50 50 58 53 427
Leopoldina 17 22 39
Limoeiro-Jatiboca 22 21 29 29 33 25 17 26 25 16 243
Pontal 45 58 64 53 58 43 45 50 38 48 502
Palmeira 109 126 82 85 102 83 83 83 95 81 929
Santa Maria 86 89 87 79 84 81 103 88 121 107 925
Santo Antônio 62 86 77 85 96 76 45 49 576
Mutum 55 80 135
Sapucaia 24 15 39
Guandu 26 38 35 42 141
Total 449 478 492 504 529 481 510 519 563 576 5.101
Média anual: 510 nascimentos.


Óbitos (enterros)
Dados 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 Total
Criciúma 10 5 6 6 4 9 6 3 6 9 64
Laranja da Terra 38 30 9 18 18 12 17 13 13 9 177
Lagoa 5 5 5 5 7 7 9 10 53
Leopoldina 6 9 15
Limoeiro-Jatiboca 2 4 6 3 9 0 8 4 6 4 46
Pontal 12 13 12 16 11 18 0 8 14 7 111
Santo Antônio 1 16 12 19 12 26 7 5 98
Mutum 9 11 20
Palmeira 19 17 13 17 17 10 10 15 18 24 100
Santa Maria 18 11 17 21 16 17 18 23 29 9 179
Sapucaia 5 1 6
Guandu 9 12 7 11 39
Total 110 90 69 102 92 90 87 111 118 99 986
Média anual: 97 óbitos.


[Relação nascimentos/óbitos]
Ano Membros da comunidade Nascimentos Óbitos Em mil Crescimento (%)
Nascimentos Óbitos
1926 1.460 449 110 51,2 12,5 3,9
1927 1.695 478 90 47,0 8,8 3,8
1928 1.690 492 69 48,5 6,8 4,2
1929 1.708 504 102 49,1 9,9 3,9
1930 1.837 529 92 47,9 8,3 3,9
1931 1.858 481 90 43,1 8,0 3,5
1932 1.970 510 87 43,1 7,3 3,5
1933 2.016 519 111 42,9 9,1 3,4
1934 2.063 563 118 45,5 9,5 3,6
1935 2.139 576 99 47,9 7,7 4,0
Total 18.436 5.101 968 46,62 8,79 3,65


Média de 10 anos
Número de pessoas[ 3 ] Nascimentos Óbitos
Por ano 11.064 510 97

Desses números resultam:

Em 1000 colonos protestantes, por ano 46,1 nascimentos
Em 1000 colonos protestantes, por ano 8,7 óbitos
Taxa de crescimento 3,7%
Relação entre nascimentos e óbitos 5,3 : 1
Relação percentual entre nascimentos e óbitos 18,9%


Em comparação com os dados apresentados por Wagemann verifica-se ainda, um resultado extraordinariamente bom, no último decênio, embora tenha havido um pequeno deslocamento para o lado desfavorável. Deve-se no caso, porém, que o cálculo de Wagemann se refere, apenas a 1 ano, Por conseguinte, só é possível uma comparação, se se conceder ao número de Wagemann o significado de uma norma para aquela década. Mas, segundo demonstra nossa tabela, as oscilações de um ano para outro, são tão manifestas, que a diferença poderia ser casual. Contudo, pode-se dizer que não houve nenhuma modificação substancial no crescimento demográfico, em relação ao ano de 1912, que o número de nascimentos importava em 18,9 por 1.000 habitantes (18,0 por mil em 1934). O número e a mortalidade pouco oscilam, e a taxa de crescimento é bem alta. Mesmo a relação percentual entre nascimentos e óbitos, concorda, de maneira quase absoluta, com os 19% obtidos por Wagemann.

Para comparação, seguem, abaixo, os dados demográficos, relativos ao Reich alemão, em 1935.

O número de nascimentos (no Reich, incluindo o Sarre), de 1.261 273 importava em 18,9 por 1.000 habitantes (18,0 por mil em 1934). O número de nascimentos, nas grandes cidades alemãs, era, então, de 345.095, ou seja, 15,4 por mil. Berlim e as cidades mais importantes da Saxônia apresentam a menor proporção de nascimentos, e a maior, as cidades industriais da Silésia (19,1 por mil), seguidas pelas cidades industriais renano-vestfálicas, com 168 por mil. Nas cidades portuárias o número de nascimentos atingia 16,4 por mil; em Berlim, 13,9; nas cidades importantes da Saxônia, 12,7 por mil.

O número de óbitos, de 791.912 representava 11,8 por mil (10,9 por mil em 1934). O excedente de nascimentos era, por conseguinte, de 71 por mil (quando, entre os colonos teutos no Espírito Santo, era de 37,0 por mil ou 3,7%).

Dados demográficos da França, nos últimos dez anos:

Por cem mil habitantes
Anos Nascimentos Óbitos Excedente de nascimentos
1933 16,3 15,8 +0,5
1934 16,1 15,1 +1,0
1935 15,2 15,7 -0,5
1936 19,0 17,5 +1,5

A verificação da mortalidade por classes de idade, especialmente a mortalidade infantil esclarece bastante o problema do crescimento demográfico. Seguimos o critério de Wagemann, na classificação por grupos de idade: menos de 1 ano, de 1 a 10 anos, de l0 a 60, e mais de 60.

O estudo de Wagemann refere-se a 4 comunidades (2 na região alta e 2 na região baixa), e, baseando-se nos números obtidos para 10 anos, verifica que 20% dos meninos que morrem, na região alta, têm menos de 1 ano (27%, na Alemanha, no mesmo ano, isto é, em 1912). Para cada grupo de 100 nascidos vivos, sucedem, 2,7 a 4,2 óbitos, contra 15 a 20, na Alemanha, uma mortalidade extraordinariamente reduzida, portanto. A mortalidade infantil, na região alta, é pouco mais elevada, e Wagemann aduz que a mortalidade infantil aumentaria com a altitude, em virtude das imolações mais fortes da temperatura. Para a classe de 1 a 10 anos, resultaram números relativamente altos, 20% da mortalidade total (contra 10% na Alemanha), o que perfaz apenas 3 a 4% do número de nascimentos (contra 6%, na Alemanha).

Os dados que apresentamos se referem a uma comunidade da região baixa e a uma da região alta (Laranja da Terra, e Santa Maria), abrangendo 3 décadas, e não apenas uma, como nos cálculos de Wagemann.

Veja as tabelas:

Mortalidade por grupos de idade
Laranja da Terra
Ano Menos de 1 ano 1 a 10 anos 10 a 60 anos Mais de 60 anos
1915 1 1 0 1
1916 2 1 0 1
1917 6 1 3 1
1918 2 2 0 0
1919 3 1 5 0
1920 2 3 5 0
1921 2 0 0 0
1922 3 1 3 0
1923 13 2 2 2
1924 11 6 3 3
1925 5 9 8 5
1926* 9 6 17 0
1927**
1928 3 0 5 1
1929 6 4 5 2
1930 10 3 5 0
1931 8 2 2 0
1932 5 4 3 5
1933 3 3 4 3
1934 3 3 4 3
1935 4 0 4 1
Total 101 52 78 28
Natimortos -19
Sub-total 82
*Epidemia de tifo 
**Óbitos não registrados.


Distribuição percentual por grupos de idade
I II III IV
20,2%
21,5%
38,0%
20,3%
41,7%


Mortalidade por grupos de idade
Santa Maria
Ano Menos de 1 ano 1 a 10 anos 10 a 60 anos Mais de 60 anos
1915 4 1 3 6
1916 2 4 9 1
1917 4 1 1 5
1918 2 4 8 1
1919 2 4 3 7
1920 0 8 6 1
1921 2 4 9 4
1922 2 4 6 3
1923 1 2 3 1
1924 2 7 6 2
1925 7 5 2 2
1926 7 4 4 5
1927 6 3 3 3
1928 8 1 8 1
1929 12 3 9 4
1930 9 2 10 1
1931 8 0 7 2
1932 5 2 7 6
1933 8 2 7 9
1934 12 7 13 2
1935 4 3 3 1
Total 107 71 127 67
Natimortos -40
Sub-total 67


Batizados e enterros
Laranja da Terra
Ano Batizados Enterros em geral Enterros de indivíduos com menos de 1 ano
1915 16 3 1
1916 25 4 2
1917 24 11 6
1918 35 4 2
1919 38 9 3
1920 38 10 2
1921 51 2 2
1922 50 7 3
1923 64 19 13
1924 92 23 11
1925 94 27 5
1926 111 32 9
1927 83 30 ?
1928 80 9 3
1929 73 17 6
1930 75 18 10
1931 77 12 8
1932 49 17 5
1933 69 13 3
1934 64 13 3
1935 61 9 4
Total 1.269 289 101
Natimortos -19 -19
Sub-total 270 82


Batizados e enterros
Santa Maria
Ano Batizados Enterros em geral Enterros de indivíduos com menos de 1 ano
1915 93 14 4
1916 107 16 2
1917 89 11 4
1918 87 15 2
1919 81 16 2
1920 94 15 0
1921 95 19 2
1922 106 15 2
1923 90 7 1
1924 73 17 2
1925 82 16 7
1926 88 20 7
1927 80 14 6
1928 103 18 8
1929 79 28 12
1930 86 22 9
1931 83 17 8
1932 103 20 5
1933 88 26 8
1934 123 34 12
1935 107 11 4
Total 1.937 371 107
Natimortos -40 -40
Sub-total 331 67


Daí resulta, em relação a Laranja da Terra, o seguinte:

Cerca, de 20 óbitos (21,2%) para 100 nascidos vivos;
Cerca de 7 óbitos (6,4%) faltando dados para 1927, de indivíduos com menos de 1 ano para 100 nascidos vivos;
Relação entre nascimentos e óbitos: 4,7 : 1;
Cerca de l0 óbitos, de indivíduos com menos de l0 anos (10,5%, mais exatamente), para 100 nascidos vivos.

Em relação a Santa Maria:

Cerca de 17 óbitos (17,1%) para 100 nascidos vivos;
Cerca de 3 a 4 óbitos (3,5%), de indivíduos com menos de 1 ano, para 100 nascidos vivos;
Relação entre nascimentos e óbitos: 5,2 : 1;
Cerca de 7 óbitos (7,1%), de indivíduos com menos de 10 anos, para 100 nascidos vivos.

No tocante à mortalidade infantil (de indivíduos com menos de l0 anos), relativamente elevada, nossos números não contradizem os de Wagemann: (Santa Maria) e 55,7%, 41,7% (Laranja da Terra) da mortalidade total; ou 10,5% e 7,1% dos nascidos vivos, números esses que são, aliás, mais altas que os de Wagemann. A mortalidade dos lactentes (com menos de 1 ano) representa respectivamente, 34,2% e 20,2% da mortalidade total, ou 6,4% e 3,5 dos nascidos vivos (na Alemanha, a mortalidade dos lactentes atingia, em 1934, 6,6 por 100 nascidos vivos).

Em discordância com os levantamentos de Wagemann, estão as condições mais desfavoráveis que observamos nas comunidades da região baixa: preponderam a mortalidade dos lactentes e a mortalidade infantil em geral (de todos os indivíduos com menos de 10 anos), embora os números devam ser considerados modestos em relação aos de outros países, especialmente em relação aos dos países com um número de nascimentos tão elevado, onde, em regra, se verifica maior mortalidade infantil. Apresentamos, a propósito, de maneira destacada, as classes de idade, a fim de evidenciar como são grandes as oscilações dos pequenos números absolutos, e como pode ser influenciado, por circunstâncias excepcionais, o resultado total, quando se escolhem períodos muito curtos (é o que demonstra por exemplo, Laranja da Terra, com os números anormalmente elevados, do ano de 1926, relativos à classe dos 10 aos 60 anos, em conseqüência de uma epidemia de tifo). Por certas razões, parece mais provável que a mortalidade dos lactentes e a total, nas zonas mais baixas, deva ser mais elevada do que na região alta. Justamente a mortalidade dos lactentes dependerá, em geral, mais de perturbações alimentares (as quais no clima mais quente da região baixa são mais freqüentes) do que de oscilações de temperatura, mencionadas por Wagemann (livros de igreja, das comunidades da região baixa); a gastroenterite Brechdurchfall consta, amiúde, como causa-mortis. Utilizando as mesmas fontes, obtivemos resultados diversos, em relação às comunidades da região alta e da região baixa, o que mostra a necessidade de prudência na exploração de números dessa natureza, e a facilidade de se chegar a conclusões erradas. Estamos certos de que nosso material é insuficiente, necessitando ser completado com verificação da mesma natureza, no maior número possível de comunidades e no período mais longo possível num trabalho que só poderia ser realizado num tempo bem maior do que aquele de que dispusemos. A discordância seria dificilmente interpretada, como uma modificação que se manifestou depois das pesquisas de Wagemann, e evitamos, por isso, tirar conclusões de natureza remota, da comparação com outros dados de Wagemann.

Apesar disso, os nossos números podem proporcionar certas indicações seguras, principalmente em comparação com os resultados obtidos por Wagemann; essas indicações devem ter validade geral e confirmar-se-iam, também, com a obtenção de um material estatístico maior. Em concordância com Wagemann, podemos classificar como favoráveis as condições demográficas, embora em diversas comunidades, na área de povoamento teuto, se verifiquem números mais desfavoráveis do que os da norma admitida por Wagemann, para 1912. A abundância de filhos e a mortalidade relativamente pequena proporcionam ainda um excedente apreciável. Número elevado de nascimentos, de 50 por 1.000, e mais, encontra-se em diversas regiões da terra (Índia, várias partes da Rússia), mas está sempre conjugado com mortalidade muito alta. Nos países com higiene desenvolvida, de mortalidade pequena, o número de nascimentos não é tão alto, de modo que a taxa de crescimento, em regra, atinge 1 a 2%. O aumento de cerca de 4%, significando que uma população se duplica em 18 anos e se triplica em 35, no curso de uma geração, é algo absolutamente fora do comum.

Não podemos dizer se existe igual excedente de nascimentos, no mesmo território e nas mesmas condições, tratando-se de outras nacionalidades e raças fixadas no Espírito Santo (luso-brasileiros, mulatos, negros, italianos), pois não nos foi possível arranjar os dados correspondentes, embora fosse muito interessante a comparação Como já mencionamos, faltam estatísticas das quais se pudessem extrair dados dessa natureza, relativos aos diversos grupos de população, do Espírito Santo.

Nossas verificações demonstram que, até agora, não existe nenhuma indicação de que o crescimento demográfico, entre os colonos de origem alemã, comece a modificar-se, e de que retroagiria, em futuro próximo. Não será impossível uma diminuição da taxa de crescimento, o que dependerá, fundamentalmente, do tamanho do espaço onde as gerações seguintes obterão alimentos, da intensidade da exploração da terra em poder dos povoadores de origem teuta, e do progresso da miscigenação da população alemã com outros elementos e da correspondente renúncia à própria etnia.

Por sugestão do professor Wagemann, à disposição de quem pusemos nosso material estatístico, os seus resultados e os nossos foram submetidos a prova, por um trabalho matemático-estatistico do doutor Boehm[ 4 ] (Instituto de Pesquisa da Conjuntura). Serviram de material estatístico os dados sobre nascimento e óbitos, coligidos por Wagemann, nos anos de 1860 a 1912, e os que coligimos, de acordo com o mesmo critério, relativos aos anos de 1926 a 1935. Partindo-se desse material, procurou-se calcular a população e saber se o número de nascimentos e de óbitos mostram um deslocamento sistemático no curso do tempo ou se oscilam, mais ou menos casualmente, em torno de uma média determinada. Para um cálculo exato da taxa de crescimento, conforme Boehm salienta, teria de se conhecer toda a emigração e sua composição, segundo as classes de idade e o sexo, do mesmo modo que a população total, posterior. Uma crítica importante contra os cálculos, que o próprio Wagemann já tinha levantado, é a de que importa levar em conta a composição, segundo a idade, da população de emigrantes. Uma vez que numa emigração, só entram em linha de conta pessoas em boa idade, a mortalidade dessa população tem de ser menor e o número de nascimento, maior, do que numa população secularmente radicada. Embora nos primeiros tempos do povoamento e nas levas repetidas de emigrantes tenha atuado a composição por idade, conduzindo a uma onda do crescimento demográfico, essa influência, segundo as reflexões e os cálculos apresentados por Boehm, deve ter perdido sua maior eficácia, por volta do ano de 1390. Sucedeu, então, um enfraquecimento do movimento ondulatório de nascimentos e da população, como conseqüência natural do desenvolvimento da primeira geração de emigrantes e após a segunda emigração, na década dos 70. Os números revelam, nos anos de 1891 a 1912 e de 1926 a 1935, um desenvolvimento relativamente constante. A população, do mesmo modo que os nascimentos e os óbitos, oscila em torno de uma média eventual, no exato sentido matemático. Daí conclui Boehm: "A taxa de crescimento da população de colonos teutos no Espírito Santo, a partir de 1890, mais ou menos, importa em cerca de 4%, conforme Wagemann, e, durante os últimos 10 anos, como Giemsa e Nauck calcularam. Essa taxa de crescimento, confirmada pelos números de nascimentos e de óbitos, vale para os 31 anos observados. Não se observam diferenças substanciais entre o tempo anterior e o posterior à guerra".


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NOTAS


[ 1 ] H. Grothe: Die Deutschen in Ubersee, Zentralverl. Berlim, 1932.
[ 2 ] População do Brasil: 1920, 30.635.605; 1935, 47.794.874; 1945, 61.272.210 (previsão) (Rio Zeitung, 1935).
[ 3 ] Cálculo do número de pessoas pelo número médio dos membros da comunidade de 1844 e o coeficiente 6 (1844 x 6 = 11.064).
[ 4 ] Boehm: Die Bevölkerungsvermehrung einer deutschen Bauernsiedlung in dem Tropen (Espírito Santo). Vierteljahrshefte zur Konjunkturfoschung 1937, 11. Jahrgang. Heft 3, Teil a, 339.

[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant'Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como "Giemsa", empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais.