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Desenho com base em fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves, 2001. Apresentação Zepelim (crônica) , de Luiz Guilhe...

Desenho com base em fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves, 2001.
Desenho com base em fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves, 2001.


Zepelim (crônica), de Luiz Guilherme Santos Neves

Acervo do site Estação Capixaba:

    Fotografias (produzidas por Guilherme Santos Neves)
    Envelopes
    Cartões


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Maria Clara Medeiros Santos Neves, coordenadora do site ESTAÇÃO CAPIXABA, é museóloga formada pela Universidade do Rio de Janeiro e pós-graduada em Biblioteconomia pela UFMG, autora do projeto do Museu Vale e de diversas publicações. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Desenho a partir de fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves Apresentação A aeronave denominada "dirigível", mai...

Desenho a partir de fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves
Desenho a partir de fotografia por Maria Clara Medeiros Santos Neves


Apresentação


A aeronave denominada "dirigível", mais conhecida como zepelim, foi concebida pelo conde Ferdinand von Zeppelin e o primeiro voo — realizado pelo Luftschiff Zeppelin 1, ou LZ1 — data de 2 de julho de 1900, com decolagem de uma grande balsa no lago Constance, perto de Friedrichshafen, ao sul da Alemanha.

O conde Ferdinand Adolf August Heinrich Zeppelin nasceu em Constance, Baden, Alemanha, a 8 de julho de 1838, e morreu em Charlottenburg, a 8 de março de 1917, tendo iniciado seus projetos a partir de 1890. A esses projetos se associaram outros técnicos alemães como Hugo Eckener (1869-1954), piloto de primeira classe que ajudou a treinar pilotos e a popularizar o dirigível no transporte aéreo de passageiros; Wilhelm Maybach (1846-1929), engenheiro e industrial que trabalhou com um dos pioneiros da indústria automotiva, Gottlieb Wilhelm Daimler (1834-1900), e que, juntamente com seu filho Carl, organizou em 1909 uma companhia em Friedrichshafen para construção de motores de aparelhos aeronáuticos, atuando nesse sentido como subsidiária da organização Zeppelin.

Apesar de numerosos obstáculos e fracassos iniciais, o conde Zeppelin não desistiu de seu objetivo, transformando-se, com o tempo, num símbolo nacional. Em 1908 o governo imperial alemão adquiriu o LZ3 para fins militares.

Os dirigíveis tiveram participação destacada na fase inicial da Primeira Guerra, com mais de cem aparelhos sendo usados pelo exército alemão para fins de reconhecimento e bombardeio. Com o desenvolvimento dos aeroplanos, porém, reduziu-se acentuadamente seu emprego nos últimos anos da guerra.

Terminada a guerra, a organização Luftschiffbau Zeppelin promoveu excursões em dirigíveis, com voos realizados nos limites da Alemanha. Em seguida, foram feitos voos mais audaciosos, tanto ao Polo Norte como à Palestina. Em 1929 o Graf Zeppelin realizou um voo promocional ao redor do mundo, comandado por Hugo Eckener, partindo de Friedrichshafen e passando por Nova York, Los Angeles e Tóquio antes de retornar ao ponto de origem. A partir de meados da década de 30 a empresa organizou viagens regulares transportando passageiros para o Rio de Janeiro, assim como para Lakehurst, Nova Jersey, nos Estados Unidos.

Outros países — como Estados Unidos, Inglaterra e Itália — se dedicaram à construção de zepelins, sendo a Inglaterra um dos que mais se destacaram.

O zepelim se revelou um transporte bastante seguro, tanto que acumulou mais de um milhão de milhas de voo sem perda de vida. Todavia, em 6 de maio de 1937, o Hindenburg (LZ129) se incendiou ao descer em Chicago, provocando mortes entre os passageiros e tripulantes. A tragédia, que fora filmada pela imprensa, chocou a opinião pública mundial, comprometendo definitivamente a utilização desse tipo de transporte.

Um dos últimos zepelins alemães, o Graf Zeppelin (ou Conde Zepelim, em homenagem ao inventor), com prefixo LZ127, ao que tudo indica o mais bem-sucedido dos dirigíveis da companhia, realizou o maior número de viagens - 590 ao todo - cobrindo 1,7 milhões de milhas aproximadamente entre os anos de 1928 e 1937, sendo desmontado em 1940. Foram construídos 119 zepelins entre 1900 e 1938.

Recentemente a Zeppelin Luftschifftechnik GmbH construiu um dirigível dentro de uma linha denominada LZ NT (Nova Tecnologia), que combina a experiência adquirida e tecnologia, materiais e processo construtivo modernos, sendo o primeiro desses novos zepelins denominado LZ N07. Seu voo inaugural deu-se em 18 de setembro de 1997, realizando-se a partir dessa data diversos outros. Ele foi concebido para excursões aéreas de pequena distância e com capacidade para 12 passageiros e dois tripulantes. O advento dos zepelins inspirou a criação de materiais gráficos, por parte de vários países, especialmente selos e carimbos postais comemorando os voos mais importantes.

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Os zepelins, cujos primeiros exemplares eram rígidos, apresentam forma fina e alongada — como de uma salsicha —, com comprimento variando de 128 (LZ1) a 245 metros (LZ129) e diâmetro, de 11,7 (LZ1, 2, 3) a 45,5 metros (LZ129, 130). Seu invólucro — com estrutura em alumínio, metal leve e estável, e amarração de arame —, era preenchido, em sua maior parte, por hidrogênio distribuído em várias células, enquanto o espaço restante era ocupado pelos camarotes dos passageiros. Na parte externa e inferior havia também a nacelle (barquinha), que era ocupada pela tripulação e que também era responsável pela ventilação dos compartimentos de passageiros.

Inicialmente os compartimentos de passageiros eram equipados com grande simplicidade, mas depois tornaram-se luxuosos, dispondo inclusive de água corrente, tanto quente como fria. O LZ129 e o LZ130, por exemplo, tinham salas bastante espaçosas a ponto de conterem um piano de cauda e uma sala para fumantes especialmente equipada por causa do risco de explosão. Outras comodidades também estavam disponíveis, como um salão de jantar, um bar e ainda um saguão espaçoso.

As aeronaves eram também equipadas com dois motores a diesel. Os primeiros, menos possantes, foram criados por Daimler (motores Daimler a diesel). Já o LZ127 apresentava cinco motores de 550hp criados por Maybach, que desenvolviam uma velocidade de até 128 km/h.

Mais tarde as aeronaves passaram a utilizar o hélio em lugar do hidrogênio, como no caso do LZ126, Los Angeles, que foi especialmente fabricado para os Estados Unidos.

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A exposição apresentada no site inclui fotografias produzidas na passagem do Graf Zeppelin por Vitória, ES, todas de autoria do Prof. Guilherme Santos Neves (1906-1989), além de envelopes e cartões postais colecionados também pelo Prof. Guilherme que registram o transporte de correspondências por meio daquele dirigível. Todo esse material, datado de 1930 a 1935, integra o acervo da família Santos Neves e do site Estação Capixaba.


Maria Clara Medeiros Santos Neves
Coordenadora do site Estação Capixaba
Organizadora da exposição


Maria Clara Medeiros Santos Neves, coordenadora do site ESTAÇÃO CAPIXABA, é museóloga formada pela Universidade do Rio de Janeiro e pós-graduada em Biblioteconomia pela UFMG, autora do projeto do Museu Vale e de diversas publicações. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Foto de Guilherme Santos Neves, anos 1930. Luiz Guilherme Santos Neves Quando Ivo via a uva viu também o zepelim. Um zepelim era um...

Foto de Guilherme Santos Neves, anos 1930.
Foto de Guilherme Santos Neves, anos 1930.

Luiz Guilherme Santos Neves

Quando Ivo via a uva viu também o zepelim. Um zepelim era um acontecimento raro e inesperado.

Ivo viu o Zepelim e se surpreendeu com sua aparição repentina, sua chegada sem aviso prévio e sem alarde, sem um toque preparatório de clarim, sem exalar sequer um perfume alado e prenunciador, surgindo silente como uma nuvem indissolúvel, quase pedindo vênia para se fazer presente, sendo ele próprio o presente presenteado a Ivo, presenteado à cidade.

Quando Ivo viu o zepelim este estava rente ao Penedo avançando sobre as águas verdes da baía, nave entrando no porto pelo ar em voo letárgico como que impulsionado pela brisa.

Ivo viu o zepelim primeiro de frente, quando ergueu a vista por acaso. De frente, o zepelim ainda não era zepelim, parecia, na verdade, um balão argênteo com sua cestinha de vime. Virou zepelim quando se fez ligeiramente oblíquo e seu corpo de cetáceo se desenhou contra o azul do céu.

Ivo soube então do que se tratava, que pássaro brilhante era aquele diante de seus olhos assombrados, porque já conhecia o zepelim das páginas ilustradas. Eram páginas de uma revista alemã que o pai recebia antes que receber revistas alemãs a domicílio se tornasse um hábito suspeito e perigoso, quando a guerra se derramava pela Europa e África, neves e desertos. Mas os tempos ainda não tinham se tornado belicosos, havia uvas para serem vistas por Ivo e zepelins que flutuavam no ar como torpedos inofensivos.

Mais tarde, Ivo saberia que houve alguém na cidade, de olho atento e dedo presto, que acionou a máquina de tirar retratos para segurar o zepelim sobre a cidade, fixando-lhe a imagem graças aos mistérios dos sais e dos ácidos que o eternizaram na foto que Ivo reveria tantas vezes.

Mais tarde Ivo também saberia que o zepelim não era o pássaro imortal que parecia ser quando Ivo o viu pela primeira e única vez em sua vida, mas um mero artefato voador, frágil e inflamável, que virou fuligem capítulo final de sua existência.

Quando Ivo viu o zepelim o zepelim viu a cidade. Viu que a cidade era pequena e dócil, espremida entre uma rama de mar, que lhe fazia de porto, e as montanhas revestidas de matas, que lhe faziam de selva, e que isto era bom para a cidade. Viu que a cidade praticamente se bastava com a longa avenida que a cortava acompanhando o caminho do mar, e que nessa avenida moviam-se bondes para o coletivo transporte dos seus habitantes, e que isso bastava à cidade e aos seus habitantes. Viu que esses habitantes formavam um povo tranqüilo e que todos pareciam amistosos e cívicos, o que era de fundamental importância na vida de todos. Viu que na cidade havia uma praça central e redonda, assinalada por palmeiras imperiais, e que, pouco antes da praça, havia uma igreja branca tendo na frente duas outras palmeiras imperiais, à qual se chegava através de escadaria, e que logo depois da praça uma catedral de torres pontiagudas e vidros multicoloridos precedia um palácio em forma de convento, servido também por uma escadaria larga e arejada, com estátuas no corrimão. Viu mais o zepelim que havia muitas outras escadarias na cidade, porque a cidade se fizera no morro e viu que, em barcos a remo, catraieiros passavam pessoas de um lado para outro da baía em cujo fundo sobressaíam cinco pontes cunhadas em aço, importadas da pátria do zepelim.

O zepelim viu assim que a cidade se mostrava gentil e fraterna e dela se enamorou à primeira vista colhida do alto, num rasgo de amor conjugal, sem pressentir que, naquele momento de enlevo, sua alma já estava presa na foto da cidade onde ficou gravada para sempre, mesmo depois de se ter dissolvido, frágil e inflamável, seu corpo cetáceo.

[In Santos Neves, Luiz Guilherme, Escrivão da frota, Vitória: Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, 1997.]
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Luiz Guilherme Santos Neves (autor) nasceu em Vitória, ES, em 24 de setembro de 1933, é filho de Guilherme Santos Neves e Marília de Almeida Neves. Professor, historiador, escritor, folclorista, membro do Instituto Histórico e da Cultural Espírito Santo, é também autor de várias obras de ficção, além de obras didáticas e paradidáticas sobre a História do Espírito Santo. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)