R.A., funcionária pública
48 anos, natural de Vitória, funcionária pública estadual, sempre morou em Vitória, residindo atualmente na Praia do Canto e trabalhando na Serra.
– A minha relação com Vitória é de uma afetividade muito grande. Sou apaixonada pela ilha! É muito bom morar aqui! Pontos positivos: gosto da proximidade com o mar, da Praia do Canto, e de ainda poder me deslocar com pouco tempo para os lugares que quero ir! Pontos negativos: a violência crescente que assola o país como um todo, a insegurança, as calçadas mal feitas, a falta de cordialidade.
– A cidade é muito bonita, bem cuidada. O transporte público é de uma realidade caótica, assim como o trânsito que parece piorar a cada dia. Considero a oferta de ensino satisfatória, no que tange ao número de vagas, porém penso ser possível melhorar a sua qualidade, especialmente no que se refere à oferta de informações e dinâmicas pedagógicas que se assemelhem ao ensino privado. O atendimento à saúde está ruim, especialmente porque não há compromisso da classe médica para com a saúde. Em minha opinião a saúde é ruim também no atendimento particular, vide o CIAS. A oferta de lazer é pequena, compensada, entretanto, pelas praias. Faltam teatros, falta maior mobilização cultural! O custo de vida em Vitória é alto.
– Vitória ainda mantém um padrão de qualidade (bom) dos seus serviços, o que a coloca de maneira diferenciada em relação a outras cidades. Não obstante, se analisado o aspecto micro, ou seja, cada um dos itens relacionados anteriormente, observa-se que Vitória se destaca positivamente, porém não é grande o bastante, como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e muito menos São Paulo. Essa ressalva é importante porque ao mesmo tempo em que crescem as cidades urbanas e consequentemente a oferta de serviços, pioram as condições de usufruto de uma população que se vê excluída do processo. Sobre este aspecto acho que há um esforço do poder público em compensar as diferenças de acesso, porém ainda não é possível considerar satisfatórios os resultados.
– Infelizmente eu vejo Vitória daqui a 10, 20 anos de uma maneira pessimista. Cresce no país uma lógica de predomínio da vantagem a todo o custo e isto deverá ser reproduzido nas cidades. As pessoas ficarão sós. Não bastasse este aspecto mais filosófico, o crescimento urbano das cidades provoca uma fragmentação nociva e tudo se torna mais complicado. O trânsito, a problemática da habitação, saneamento e condições de vida urbana. A angústia urbana se instala. Tomara que Vitória saiba crescer. Vejo turistas pela cidade. Embora aqui se concentrem os de negócios, vejo turistas pela ilha. Não sei o que fazem! Mas espero que gostem!
– Dizem que o capixaba é uma pessoa fechada, sem muitas sociabilidades. Não penso assim; acho o capixaba até meio provinciano, o que permite conhecer e dar-se a conhecer com maior facilidade. Acho que o capixaba, de uma forma geral, não é um ufanista e, muito pelo contrário, ele às vezes critica demais. Não acho o capixaba um bom cidadão nas ruas, especialmente os motoristas, que considero uns mal-educados.
– De uma forma geral o capixaba não conhece a sua própria história. Também não acho que Vitória disponibilize meios frequentes pro capixaba esbarrar com a sua história. Fatos marcantes aconteceram em nosso território, tais como a investida de Maria Ortiz contra os holandeses.
– Acho que o capixaba come de tudo. Tem em sua cozinha influências da comida baiana, mineira e outras. Eu como peixe com frequência.
– Acho que de uma forma geral o capixaba é um conservador e preserva as suas elites. Tem uma consciência pequena dos problemas políticos e procura, na maioria das vezes, não se envolver. A classe política é aristocrática. Os estudantes participam pouco da cena política. Não, o capixaba não é um exemplo de cidadania.
– Acho que ainda predominam na ilha os jovens e as mulheres. Vitória ainda não envelheceu, como já é possível perceber em outras cidades e é o que deverá acontecer no país como um todo, daqui a algum tempo. As pessoas são claras. Não se pode falar de um sotaque próprio do capixaba, até porque a influência mineira e carioca é muito grande. Sim, muitas expressões, muitas gírias, tais como pocar.
– A Praia do Canto é o meu lugar preferido. Gosto de correr bem cedinho no aterro e ver toda aquela luminosidade deitar sobre o mar. Considero a Curva da Jurema um dos locais mais lindos da ilha. A cara de Vitória é o Penedo, a bem da verdade agora com uma cicatriz!
– Pra Vitória eu diria: Vá com cuidado! Cresça devagar, respeitando o seu tempo.
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