Capítulo XVI
Os italianos em Vitória.
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No município de Vitória e arredores, o governo não teve a preocupação de localizar algumas famílias italianas de agricultores para garantir o abastecimento da cidade, a exemplo de São Paulo e notadamente Curitiba. Dessa maneira, a pequena comunidade italiana da capital foi se formando aos poucos, depois de 1890, constituída de negociantes, vindos uns do interior do Estado, outros do Rio de Janeiro, além de alguns imigrantes propriamente ditos, que não eram agricultores, mas artífices, operários e empregados de comércio.
Com a proclamação da república houve certo movimento de obras civis na cidade, notadamente com a ascensão de Muniz Freire, em 1892. Data dessa década a pequena comunidade que chegou a ter certa expressão.
O primeiro atrativo que a cidade ofereceu foi a sua crescente exportação de café. A produção já era apreciável, mais de duzentas mil sacas de café. Somaram-se alguns milheiros de sacas de farinha de mandioca e inúmeras toras de madeira, e o porto incrementou-se. Vieram as casas exportadoras e, com as condições econômicas que o preço do café alcançou (em média de 15$000 a arroba) nessa década, os colonos exigiram comestíveis, bebidas e manufaturas italianas.
O comércio se expandiu. Fundaram-se, sucessivamente, Fiorita & Cia., importadora e representante da Companhia de Navegação La Veloce, com viagens diretas Gênova-Vitória; Camuyrano & Cia., Pisoni & Cia. e Amadeo Gomelli.[ 36 ]
Esses importadores italianos comerciaram com negociantes do interior durante toda a fase áurea do café.
Ao mesmo tempo, o programa de obras civis da capital e a construção da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo foram retendo um certo número de operários especializados e mão-de-obra comum.
O comendador André Carloni, veterano, hoje, dos imigrantes italianos, aqui chegado pelo Adria em 1890, com sete anos de idade, com sua prodigiosa memória e lucidez de espírito forneceu-me informes valiosíssimos acerca dos primeiros italianos que se estabeleceram em Vitória.
Informes que vou reproduzir, com alguns acréscimos, de meus próprios conhecimentos, que a partir de 1908 a minha reminiscência, emocionadamente, alcança. Minha família, chegada em 1897, só se radicou na capital depois de 1910. Foi ferroviária, trabalhou no sul do Espírito Santo e na Estrada de Ferro Vitória a Minas até aquela data, quando foi trazida por Ceciliano Abel de Almeida para aterrar o Parque Moscoso. Vieram como agregados Jorge Quinamor e Sebastião De Luca.
Eis alguns nomes à época do primeiro governo de Muniz Freire: mecânico e serralheiro, Zama Carloni; marceneiro, Buzatto Pietro; carpinteiros de obras, Benetti, Zambelli, Stangerlini, Piazzarollo, Ramengui; pedreiros estucadores: Gianordoli, Becacice, Barilari, Benetti; decorador e pintor, Esperidione Astolfani, que foi o mestre de André Carloni e decorador do teatro Melpômene; ourives e relojoeiro, Trombini Antonio; pequenos negociantes, Botti Carlos, Braconi Antonio, Bonfilioli Luigi, Pizani Angelo, Bresciani Andréa; padeiro confeiteiro, Balbi Giovanni; Pandolfo, açougue; Battistela, botequim; Modenesi, venda, assim como Benezatti e Marangoni.
Marangoni se fez pedreiro e mestre da banda de São Francisco. Rampazzo, ferreiro, e Cacciari, ourives. Margarida Zanotelli (1889) foi a primeira parteira diplomada que exerceu essa função no Estado.
Empregados do comércio: Frigeri, Righieri. Foram bons remadores e Pandolfo também.
Já no fim do século chegaram: Ildebrando Resemini, Rafael Leone, Manato, alfaiates de categoria.
Rafael Bianco, relojoeiro; Antonio Gelio, maquinista mecânico que foi mestre das embarcações da Alfândega. Rosetti, Cavallini, Caetano Vello, Tosi Antonio e poucos outros, que nos escapam da memória.
A comunidade foi crescendo, praticamente, até 1908, quando Jerônimo Monteiro desfechou novo programa de obras na capital. Então vieram do interior Tironi, Pellerani, Foratini, Galerani, Pasqual Del Maestro, Capeletti, família Sarlo.
Durante esse governo vieram, trazidos por Augusto Ramos, empreiteiro das instalações elétricas, com escritório em São Paulo, Anselmo Maculan, mestre de obras que nos deu um filho senador pelo Paraná; Túlio Samorini, que se transformou de pintor em tipógrafo e dono de papelaria; Valorini, eletricista; José Monte, decorador falecido há pouco tempo, como chefe, o melhor por sinal, de distrito de conserva do DER. Até onde me ajuda a memória, são esses. Lizandro Nicoletti veio de Matilde e se estabeleceu com casa importadora e foi o pioneiro da indústria de tecidos no Espírito Santo. Praticamente criou o bairro de Jucutuquara com sua indústria de fiação e tecelagem. Pietrangelo de Biase, homem culto e de bom perfil moral, chefe de firma exportadora.
Mais tarde se estabeleceram J. B. Politti, agente consular da Itália, engenheiro e construtor (1923-1971); Giácomo Sandri, com serraria; e a família Cinelli com importante empório.
Hoje, na grande Vitória, os descendentes de italianos ocupam posição de relevo no comércio, na indústria, nas profissões liberais, nas letras e no magistério.
Não é de causar espanto, então, a grande repercussão que tem, em 1970, a ideia de criar-se uma associação, o Clube Ítalo-Brasileiro, já fundado e em funcionamento, com sede em construção na ilha do Boi e um destino certo no futuro integrado da sociedade capixaba.
A fundação ocorreu em 13 de maio de 1968. O cavaliero Luigi Petrocchi, toscano de Pistoia, foi o último representante consular de carreira. Radicou-se em Vitória com seus filhos Mário e Fiorino (1910).
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NOTAS
[ 36 ] Depoimento de André Carloni, em carta ao autor, cheia de preciosas minúcias.
[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]
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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
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