Mostrando postagens com marcador Luiz Serafim Derenzi. Mostrar todas as postagens

SUMÁRIO Capítulo I   –  Minhas mais antigas reminiscências Capítulo II  –  Na Leopoldina e estudante em Vitória Capítulo III  –  ...



SUMÁRIO


Capítulo I – Minhas mais antigas reminiscências

Capítulo II – Na Leopoldina e estudante em Vitória

Capítulo III – Ginasiano ainda

Capítulo IV – Candidato a engenheiro — na Politécnica

Capítulo V – A Carta Geográfica

Capítulo VI – Por terras de Minas e Paraná


[DERENZI, Luiz Serafim. Caminhos percorridos — Memórias inacabadas. [Publicado posteriormente em Vitória: Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, 2002. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]


---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)


SUMÁRIO Introdução - Antes de tudo. Capítulo I - O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica. Referências de Graça...


SUMÁRIO


Introdução - Antes de tudo.

Capítulo I - O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica. Referências de Graça Aranha. Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigram os Italianos?

Capítulo II - Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das Fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do Visconde de Abrantes. Convite aos Italianos.

Capítulo III - O que foi o Espírito Santo. Seu crescimento demográfico. Importância da imigração. Paulo Viana. Fundação de Santa Isabel, Santa Leopoldina e Rio Novo.

Capítulo IV - A crise italiana. Necessidade de emigrar. Quadro estatístico.

Capítulo V - Nomes italianos na história provincial.

Capítulo VI - Pietro Tabacchi. As primeiras famílias.

Capítulo VII - Reparos. Os primeiros embarques a bordo.

Capítulo VIII - Desencontros familiares. Uma greve providencial. Caxias do Sul.

Capítulo IX - Embarques sucessivos. Quadro estatístico da população.

Capítulo X - Território ocupado pelos italianos. Com as epígrafes: Santa Teresa, Itarana, Itaguaçu, Colatina, Nova Venécia, Ibiraçu, Rio Novo, Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Venda Nova.

Capítulo XI - Fundação de Santa Teresa. Nomes que a história guardou. Sua dependência econômica a Santa Leopoldina deu-lhe prosperidade.

Capítulo XII - Os primeiros anos. As atribulações.

Capítulo XIII - Vinte e cinco anos depois. A missão do Dr. Arrigo Zettiry.

Capítulo XIV - A inspeção do Dr. Arrigo Zettiry. Colônia do Timbuí, Ibiraçu, São João de Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Alto Castelo.

Capítulo XV - Influência italiana na evolução social e econômica no Espírito Santo. Os filhos de imigrantes ganham as universidades. Os primeiros diplomados. Os industriais eminentes. Os intelectuais.

Capítulo XVI - Os italianos em Vitória.

Capítulo XVII - Um autodidata. André Carloni.

Capítulo XVIII - O construtor de estradas. Serafim Derenzi.

Capítulo XIX - Os orçamentos. Contribuições social e econômica. Adendas. Algumas canções. Nossa Senhora de Caravaggio. Documentário.


[DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Biobibliografia Fotografias Obra     Caminhos percorridos — Memórias inacabadas     Os italianos no Estado do Espírito Santo     ...



Biobibliografia

Fotografias

Obra
    Caminhos percorridos — Memórias inacabadas
    Os italianos no Estado do Espírito Santo
    Falando de Vitória (artigos publicados em jornais e outros)


-------------------------------
Consulte em Rol de Autores o verbete de Luiz Serafim Derenzi.

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 20 de março de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro a 29 de abril de 1977. Formou...


Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 20 de março de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro a 29 de abril de 1977. Formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Fez parte, quando ainda estudante, da Comissão da Carta Geográfica do Estado do Rio (1919-1921) e, recém-formado, foi diretor de Viação e Obras da Secretaria de Agricultura, Viação, Terras e Obras do Espírito Santo (1921-1924). Entre 1932 e 1934 ocupou a Diretoria de Obras da Prefeitura Municipal de Vitória. Chefiou a construção do Parque Nacional de Foz do Iguaçu, assim como trabalhou na construção de trechos ferroviários no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mais tarde foi diretor geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo (1953-1955). [Prefácio de Renato Pacheco in Derenzi, Luiz Serafim, Biografia de uma ilha, 2ª ed., Vitória: PMV, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1995.]

Além dessas atividades exerceu também a de professor, lecionando Matemática e Física no Curso Sinésio de Faria (Rio, 1918), Colégio Pedro Palácio (Cachoeiro de Itapemirim, 1923), Ginásio São Vicente de Paula (Vitória, 1926), Liceu Muniz Freire (Cachoeiro de Itapemirim, 1934) e Escola Pedro II (Vitória, 1935-1937).

Foi membro da Academia Espírito-santense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, comendador da Ordem da Solidariedade da República Italiana, cidadão teresense, sócio-correspondente do Geographical Institute of the United States of America e membro permanente do Conselho Permanente de Desenvolvimento do Espírito Santo. Recebeu diploma de Honra ao Mérito e medalha da Federação Nacional de Engenheiros.

* * *

Atividades profissionais

– Topógrafo e astrônomo da Comissão da Carta Geográfica do Estado do Rio de Janeiro (1919-1921);
– Membro da Comissão Mista ligada à questão de limites entre os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais;
– Diretor de Obras e Viação da Secretaria de Agricultura, Viação, Terras e Obras do Estado do Espírito Santo (1921-1924);
– Diretor Gerente dos Serviços Reunidos de Cachoeiro de Itapemirim, Força, Água e Esgoto (1924-1925);
– Sócio-diretor da Politti, Derenzi & Cia (1925-1927);
– Diretor de Obras da Prefeitura Municipal de Vitória (1927-1930);
– Escritório de consultoria técnica em Cachoeiro de Itapemirim (1932-1935);
– Diretor de Obras e chefe de Serviço Cadastral da Prefeitura Municipal de Vitória (1935-1938);
– Membro da Comissão de Limites Interestaduais do IBGE (1937);
– Diretor de Engenharia da Prefeitura Municipal de Vitória (1939);
– Escritório de consultoria técnica em Belo Horizonte (1939);
– Engenheiro-chefe das obras do Parque Nacional de Foz do Iguaçu, Paraná, sendo também responsável pelas obras de construção do aeroporto e do Hotel das Cataratas (1940-1944);
– Engenheiro-chefe da Construtora Socimbra, contruiu 40 quilômetros de estrada de ferro com pontes e túneis, em Santa Catarina (Criciúma) e no Paraná (ramal Monte Alegre) (1944-1947);
– Sócio-diretor da Construtora Novil e Comércio e Construções Fredolaport Ltda., construiu 50 quilômetros de estrada de ferro com dois túneis no Estado do Paraná (1947-1964);
– Diretor Geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Espírito Santo (1951-1955), introduziu no Brasil o método de pavimentação — tratamento superficial sobre base estabilizada. Nesse mesmo período foi fiscal do governo na construção da Hidroelétrica Rio Bonito, mais tarde Escelsa;
– Sócio-diretor da Incospal S.A. (1963-1971).


Obras executadas sob sua direção

– Túnel em Siderópolis, Santa Catarina;
– Dois túneis, sendo o maior com 450m no ramal de Monte Alegre, Paraná;
– Túnel de Presidente Castilho com 310m, no Tronco Principal Sul, TPS.1;
– Túnel de Jaguariaiva, com 280m;
– Ponte sobre o rio Doce, com 980m, em Linhares, Espírito Santo;
– Ponte sobre o rio Pequeno, lagoa Juparanã, com 250m, Linhares, Espírito Santo;
– Três pontes municipais em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, com 150m cada uma;
– Ponte rodoviária com 110m na entrada da cidade de Guarapari, Espírito Santo;
– Ponte sobre o rio Itapemirim, Espírito Santo, com 210m;


Publicações de sua autoria

– "Os melhoramentos urgentes de Vitória" (Estudo), Conferência no Rotary Club de Vitória, 1936.
– "Dia da árvore", Conferência no Rotary Club de Vitória, 1936.
– "O Parque Nacional de Foz de Iguaçu", memória publicada na Revista Florestal, n. 1, 1943.
– "O Espírito Santo será o maior pequeno Estado do mundo", separata da Revista Rodoviária, 1954.
– "Impressão sobre arte", aula inaugural da Escola de Belas Artes, 1954.
Biografia de uma ilha. Monografia sobre a ilha de Vitória de 1535 a 1942. Rio de Janeiro: Pongetti, 1965. (2ª edição, Vitória:Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1995.)
– "Jerônimo de Souza Monteiro", Conferência pronunciada na Federação das Academias de Letras em 27/06/1970. Revista das Academias de Letras, n. 77.
Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
História do Palácio Anchieta. Espírito Santo, Secretaria de Estado de Educação e Cultura.
– Diversos artigos sobre a cidade de Vitória em A Gazeta.



------------------------------------------------

Consulte verbete Luiz Serafim Derenzi, em PERSONALIDADES

Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do visconde de Abrantes. Convite aos it...




Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do visconde de Abrantes. Convite aos italianos.
------------------------------------------------------------

O Brasil Colônia foi um Estado fechado ao estrangeiro e por justa causa: as minas de ouro. As leis proibitivas foram taxativas e severamente aplicadas, principalmente sob o reinado de D. José, submisso à vontade férrea do marquês de Pombal, seu primeiro-ministro. (1750/1772).

O crescimento demográfico se processava lentamente. Portugal não tinha, como nunca teve, excesso de população. O indígena não se pacificou na proporção devida. Combatia o branco e recuava para o sertão desconhecido. Restava o negro.

A transferência da Corte para o Rio de Janeiro, em 1808, ofereceu ao príncipe regente este quadro singular: o Brasil isolado do mundo. D. João, nosso incontestável primeiro administrador, começou abrindo os portos à navegação de todas as bandeiras, permitindo que o Brasil se povoasse.

Abolida a segregação do Brasil ao conhecimento universal, estrangeiros ilustres e cientistas vieram desvendar nossas riquezas naturais, divulgando-as amplamente. O Espírito Santo teve também a ventura de receber homens de ciência que o percorreram e o estudaram, e hoje seus trabalhos são documentos preciosos de história e de geografia. Não fossem eles, desconheceríamos a maravilhosa paisagem que representou a pinturesca faixa litorânea do Itabapoana ao Mucuri. Todo espírito-santense deveria ler as obras preciosas desses curiosos cientistas alienígenas: Viagem ao Brasil, nos anos de 1815 a 1817, de Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied, e a Segunda viagem, de Auguste de Saint-Hilaire, esta empreendida dois anos depois, como se fora intuito do francês sábio conferir o cientista e autocrata alemão.

Aldeias, vilas, aldeamentos de índios, sesmarias famosas, riqueza floral, costumes, história, tudo descrito com fidelidade impressionante.

Em 25 de novembro de 1808, D. João regulamenta a concessão de sesmarias, permitindo ao estrangeiro a posse de terras. De imediato chegam ao Rio franceses, ingleses, alemães, austríacos, com seus próprios recursos. São pequenos industriais, hoteleiros, artesãos e alguns agricultores.

John Luccock registra que, desde 1813, o número de estrangeiros entrados no Brasil é considerável. Provinham das colônias espanholas da América do Sul.[ 1 ] Alguns vieram também da América do Norte, da França, Inglaterra, Suécia e Alemanha. Não se menciona entrada de italianos. Aos agricultores o governo forneceu ferramentas e utensílios. Os estrangeiros ficaram isentos de serem recrutados para o serviço militar.

O interesse governamental de povoar o Brasil com colonos voluntários se prendia à eventual diminuição do tráfego, em virtude do convênio firmado com a Inglaterra e da resolução do Congresso de Viena em 1815, para a gradual abolição da escravatura.

Com esse espírito liberal foram se criando colônias nas províncias fluminenses e sulinas.

Para superar as dificuldades à entrada de não católicos, a Constituinte de 1823, embora adotando o catolicismo como religião oficial, consentiu a prática de outros credos contanto que não houvesse manifestação exterior. Liberou-se assim a vinda de ingleses, alemães e outros estrangeiros de confissões anglicana e luterana.

Nossa primeira imperatriz, apesar de nascida na Áustria, procurou proteger a vinda de alemães, por intermédio de seu amigo major Antônio Scheffer, e os agentes consulares brasileiros divulgaram os favores oferecidos, inclusive o engajamento para quem quisesse servir ao exército.[ 2 ]

De modo geral, o Brasil não só abriu as fronteiras como ofereceu o direito de propriedade e auxílios diversos aos estrangeiros que aqui se radicassem. Os alemães foram os primeiros a atender e vieram em sucessivos grupos e depois falanges, até o fim do século. Nos anos que se seguiram à Independência, os portugueses se tornaram suspeitos e se lhes criaram dificuldades, mormente porque só queriam se aplicar no comércio. Nada com a agricultura. O Ato Adicional de 1834 autorizou as províncias a fundarem colônias.[ 3 ]

Com a afluência crescente de imigrantes surgiram os primeiros incidentes, resultantes do recrutamento indiscriminado e precariedade das convenções sob as quais os estrangeiros vinham trabalhar as terras do Brasil. O governo incumbiu ao visconde de Abrantes, Miguel Calmon du Pin e Almeida, estudos concernentes a aplacar a incômoda situação.

O visconde foi à Europa, percorreu os Estados migratórios, principalmente a Alemanha, e se inteirou das causas primeiras, geradoras das discórdias.

Tudo residia na arbitrariedade do recrutamento e na propaganda exagerada de favores e vantagens não convencionados.

Tinha então a Alemanha a primazia (1848) no expatriamento de camponeses e sem trabalho. Sua população se elevava a 40.000.000 de habitantes. A Itália ainda não se atropelava tanto com a massa desocupada. O fenômeno italiano eclodiu depois de 1860.

Na Alemanha os principais agenciadores eram as sociedades de navegação, notadamente os capitães de navios. Arrebanhavam desocupados e vagabundos nas praças públicas, nas cadeias e até nos prostíbulos, na mais completa e perniciosa promiscuidade com os verdadeiros camponeses. Os agentes das companhias de navegação e os comandantes de navios recebiam comissão sobre o número de embarcados.

Os navios excediam a tonelagem, pondo em risco os viajantes e oferecendo péssimo passadio e pior acomodação.

O visconde apresentou relatório, traduzindo as críticas que se propalavam contrárias à imigração para o Brasil e aconselhou novas modalidades para o recrutamento.

Sugeriu em resumo: nomeação oficial de agentes idôneos em cada departamento ou cidade de origem de emigrantes e remuneração de 160 a 200 libras por embarque, dependendo do número de recrutados; promessa de obter do imperador honrarias e condecorações pela boa seleção. Ficaram reprimidas as avarezas das companhias de transporte e dos capitães de navios. Os emigrantes poderiam escolher uma das três seguintes modalidades:

1) Passagem paga, mas descontada da ajuda diária até o colono se estabelecer e colher a primeira safra.
2) Doação de terra, sementes e víveres, enquanto o colono não colhesse.
3) O colono compraria as terras a prestação e receberia ajuda a prazo fixo.

Esta modalidade foi a preferida, pois despertava o interesse do colono em cuidar e fazer suas terras produzirem tão depressa quanto possível.

Na primeira hipótese a companhia de navegação elevava o preço da passagem de modo a sugar o máximo da ajuda, deixando o colono em dificuldade para se manter.

Com a segunda, induzia muitos a venderem suas terras aos vizinhos prósperos e se alugarem como diaristas.

De qualquer modo, o homem era sempre encarado como simples utensílio de trabalho. Nenhuma garantia de assistência.[ 4 ]

Em ato de 23 de novembro de 1861, o governo imperial oferece favores à imigração para a província do Espírito Santo. Reflexo evidente da visita de D. Pedro II, em janeiro do ano anterior, às colônias espírito-santenses.

Na Itália, principalmente no norte, os favores oferecidos pelo Império tiveram ampla divulgação. A imprensa difundia a riqueza das terras e as maravilhas da região do rio Doce. Quando os agentes oficiais chegaram, já encontraram clima psicológico favorável.

_____________________________

NOTAS


[ 1 ] John Luccok. Notes on Brasil, apud Hélio Viana, História do Brasil.
[ 2 ] Hélio Viana, História do Brasil. Pedro Calmon, idem, idem.
[ 3 ] Pandiá Calógeras, Formação Histórica do Brasil.
[ 4 ] Visconde de Abrantes, Imigração. B. N. Vol. 325-81.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica referências de Graça Aranha, Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigr...



O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica referências de Graça Aranha, Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigram os italianos.
------------------------------------------------------------

A migração foi o fenômeno sócio-econômico mais importante do século passado, sob o aspecto demográfico.

Foi o imperativo racial resultante do novo mapa europeu traçado pelo Congresso de Viena, em 1815, após as guerras napoleônicas, que culminaram, em 1870, com o surgimento do império da Alemanha, da monarquia dual da Áustria-Hungria, do Reino da Itália e da independência dos Países Baixos. A integração resultante destes novos Estados gerou conflitos internos, alterações estruturais, empobrecimento público e, como conseqüência lógica, a falta de teto, o desemprego e a fome.

Os camponeses, os artífices e trabalhadores não qualificados são as primeiras vítimas em todas as transformações sociais. O fenômeno avultou em verdadeira calamidade nacional, notadamente na Alemanha e na Itália.

Para o excesso de população só há um remédio: emigrar. Sacrifício supremo: abandonar sua pátria, seus familiares, seus amigos, seus amores, suas aldeias nativas; trocar sua língua e seus hábitos ancestrais. Aventurar-se aos azares do destino, às vicissitudes surpreendentes do desconhecido.

Mas para muitos havia o desejo romântico da aventura, da conquista de fortuna fácil, do retorno jubiloso e rico a desafiar os antigos senhores, a arrogância dos príncipes latifundiários que os haviam explorado, a eles e a seus antepassados, e também os agentes do fisco, arbitrários e petulantes. Enfim, havia a grande legião dos que, já desamparados, não tinham opção: encontrar trabalho a qualquer preço para sobreviver.

Por feliz coincidência, as Américas precisavam movimentar suas riquezas latentes, manter o ritmo de crescimento, desbravar seus territórios descomunais, ganhar os mercados consumidores que se alargavam.

Desde o começo do século XIX recrutavam-se, com ágios, trabalhadores rurais e artífices qualificados para as duas Américas. A propaganda intensificou-se, nos países europeus, justamente no auge da crise da consolidação dos novos estados soberanos, isto é, depois de 1860.

Foi sob esse clima excepcional que se iniciou o êxodo em massa dos italianos para o Novo Mundo.

Para o nosso estudo, simples contribuição sentimental à memória dos primeiros destemidos aventureiros da sorte, que deixaram para sempre a histórica península itálica, abstemo-nos de invocar os tratados e protocolos que os induziram, em grande número, a eleger o Espírito Santo para pátria sua e de seus filhos.

O que se vai ler é um pequeno histórico das aventuras e dos sofrimentos, das lágrimas e grandezas, dos triunfos e dignidade da integração racial, do imigrante italiano com o generoso povo do Espírito Santo, do qual somos parte integrante por feliz determinação da vontade de Deus. Somos todos brasileiros, da pátria feliz da fartura e da liberdade.

Mas a imagem da Itália romântica, cavalheiresca, gloriosa e civilizadora não se apagou. Ela bruxuleia no nosso subconsciente. Comprazemo-nos em senti-la próspera, respeitada e engrandecida.

Não é fácil reconstruir o fenômeno imigratório no Espírito Santo, com a intensidade com que ele eclodiu. Nosso principal cronista, Basílio Daemon, presente aos trinta primeiros anos da chegada das diversas levas estrangeiras, se limita a registrar, com imprecisão, o número e a nacionalidade, o nome do barco e a região onde foram localizados os imigrantes.

A imprensa, inteiramente política, quase desconheceu o acontecimento social da maior importância, que iria modificar a estrutura básica da província.

As autoridades convencionais se limitaram ao censo demográfico. É pouco para um estudo, um levantamento retrospectivo. As fontes informativas, raras e difíceis. Nosso Instituto Histórico é jovem e, por conseguinte, carente ainda de documentos. Museus, o Estado só veio a constituí-los ontem, em relação ao acontecimento centenário. Começam apenas a nascer as sociedades de cunho memorativo e de congregação racial.

Todo desbravamento ou pioneirismo cria heróis, vive dramas, gera legendas.

Recordar esses heróis, reviver esses dramas e preservar essas legendas é engrandecer, para a posteridade, o patrimônio cultural do povo.

A história se constrói com a seqüência dos acontecimentos no espaço e no tempo. Ela concatena a transmutação da raça.

O estudo das ciências sociais, não obstante o devotamento do professor Renato Pacheco em difundi-las em nosso Estado, com ensaios significativos, só foi aí introduzido há poucos anos, nos cursos superiores. A semente está lançada e germina, porém, as safras minguadas ainda para que se exponham à degustação pública.

O fenômeno da imigração italiana, que afetou, marcadamente, o panorama sócio-econômico da nossa província, no último quarto do século passado, está formulado. Ninguém até o presente se atreveu a pesquisá-lo em profundidade. É tarefa que os professores de sociologia e seus discípulos devem enfrentar. O assunto é sedutor. Há testemunhas ainda vivas e muito material a ser coletado. Compete a esta geração reverenciar aqueles heróicos aventureiros, que se despediram para sempre de seus maiores, suas aldeias e sua pátria, em busca de felicidade, enfrentando a imponderabilidade do destino.

Comemorar-se-á o centenário da vinda das primeiras caravanas recrutadas, nos altiplanos da Itália milenar, por Pietro Tabacchi, em convênio com o Ministério da Agricultura, de 31 de maio de 1872. É dever de gratidão e júbilo, não só dos ítalos-brasileiros como do próprio governo do Estado, promover estudos e festejos que relembrem acontecimento de tanta importância.

Imigrantes foram meus pais. Guardo nos escaninhos da memória os transes angustiantes, entremeados de lágrimas e desânimos, até que raiasse a primavera alegre da esperança.

Quero hipotecar minha solidariedade póstuma, meu reconhecimento, a toda aquela falange pobre de dinheiro, mas rica de idealismo e amor à família. Não herdei documentos, mas ouvi, desde a minha infância, distante de setenta anos, a litania pungente dos mistérios dolorosos, recitados com emoção resignada, dos que tiveram coragem, perseverança e fé.

Em homenagem a todos os italianos que, com suor e lágrimas, fertilizaram o solo do Espírito Santo, para que seus filhos sorrissem, cantassem e vivessem melhores dias, escrevo estas páginas.

Graça Aranha, no imortal Canaã, escreveu a partitura sinfônica do melodrama da imigração no Espírito Santo. A grandeza telúrica do cenário, o capricho surpreendente da orografia desordenada, as montanhas ora desnudas, ora encobertas por soberba floresta tropical, as águas cantantes e despedaçadas por tombos contorcidos, os vales divagentes e iluminados furtivamente por raios de sol, são o leit-motiv da obra, de tecedura fortemente colorida de panteísmo. O colono desbravador é apenas um comparsa, uma pausa na viagem deslumbrante de Milkau e Lentz.

Milkau, personagem central, filosófico e doutrinário de Graça Aranha, discorre e concatena a cultura haurida em Recife. Lentz o contradita para despertar-lhe novos temas. E o diálogo descamba para a análise global da civilização que deve surgir. É o profético anúncio da terra da promissão.

Augusto Emílio Estelita Lins, o poeta, jurista e psicólogo erudito, com sua obra crítica e interpretativa — Graça Aranha e o Canaã —, prestou incalculável serviço, não só às letras brasileiras, como para a anatomia topológica da imigração teuto-italiana em nosso Estado. Identificou e ouviu muitos daqueles tantos pequenos e humildes personagens que Graça encontrou em sua viagem deslumbrante. É um subsídio inestimável.

Virgínia Tamanini romanceia melhor o imigrante. Viaja com ele e com ele desbrava a mata. Luta e sofre e chora os mortos. Persevera e canta os dias alegres de bonança. Karina simboliza uma das tantas famílias que seguiram o curso diário daquela vida, com as nuances inesperadas dos acontecimentos. Encarna o realismo do matriarcado da mulher italiana, enérgica, resoluta e amorosa.

Este ensaio, já disse, é o meu depoimento, a seqüência das imagens que se formaram, na minha pré-adolescência, geradas pelos colóquios e diálogos do pequeno mundo em que evoluí. A colaboração de amigos, a pesquisa nos arquivos e publicações de estudiosos da formação de seus municípios, respondem por esta monografia.

* * *

Por que emigraram os italianos? Porque a fecundidade da raça foi superior à produtividade e superfície do seu território. A mecanização da indústria, com o aperfeiçoamento da máquina a vapor, criou o trabalho mecânico em série, substituindo a mão-de-obra. Veio a riqueza como fruto do carvão e do aço. Os Estados desprovidos desses recursos naturais viram-se assoberbados com a perda dos mercados de manufaturados. A Itália tinha toda sua economia fundada no artesanato de classe, na produção das obras de arte, na agricultura e no turista que se ia instruir em seus museus e monumentos e gozar das belezas incomparáveis de seus recantos privilegiados.

Os países que, por circunstâncias históricas ou previdências econômicas, haviam criado seus impérios coloniais, não sofreram o impacto do desemprego nem a crise da superpopulação. As colônias eram fontes de matérias-primas, de produção de gêneros de substância e de espaço vital, não só para o excesso humano como para o emprego de capital ávido de rendimento. E surgiram os impérios coloniais e capitalistas da Inglaterra, da França, da Holanda e da Alemanha. Espanha e Portugal viveram e vivem as glórias conquistadas pelas descobertas do século XVI. As grandes crises sofridas pelos portugueses e espanhóis se originaram do luxo de suas cortes e desgoverno de suas monarquias descalibradas.

Todos esses Estados detentores de imensas colônias não tiveram preocupações maiores com o fenômeno demográfico. Ao contrário, ofereciam favores e facilidades a quem lhes fosse trabalhar as terras distantes.

Diversamente se passou com a Itália.

Desprovida das matérias-primas fundamentais para ingressar na concorrência do mundo industrial, revolucionado pela máquina, a mão-de-obra se aviltou para compensar o preço do carvão e do ferro que lhe era imposto pelos países que os possuíam.

As sedas de Milão, os veludos de Turim e Veneza, os linhos da Toscana, as obras de arte de Florença e Roma, os vinhos e as olivas das encostas férteis dos Alpes e dos Apeninos, o artesanato caprichoso dos paizettos, os espetáculos de seus teatros famosos, suas paisagens encantadoras, os lagos sonhadores, seus monumentos seculares, suas catedrais, basílicas, e santuários milagrosos, o Vaticano monumental, já não bastavam para alimentar a receita do tesouro pátrio. Unificada, constituída em Estado soberano, renascendo de suas próprias cinzas, curando as feridas que a invalidaram de sua grandeza criadora, para orgulho consolador da civilização cristã de que fora mater et magister, exigiu a Itália, de seus filhos, o sacrifício supremo da expatriação: que em outros continentes se associassem com outros povos, e esculpissem a imagem de seu gênio criador.

E os italianos emigrados lhe curaram a anemia, fortificaram-na e lhe restituíram a velha grandeza. Foram as remessas constantes, os jorros contínuos dos filhos a l'estero que lhe criaram a marinha mercante e lhe enriqueceram os bancos famosos, restauraram igrejas, construíram hospitais, dignificaram os anciãos, confortaram famílias, ampliaram e consolidaram patrimônios arruinados. Foi o ouro juntado com sangue e lágrimas, conquistado em terras adotivas, que permitiu que a Itália construísse sua rede ferroviária, perfurasse seus túneis infindáveis e saneasse suas lagunas e cidades adoecidas pela contagem dos anos.

A emigração, para a Itália, é razão de Estado. Ela precisa do jorro permanente do ouro que lhe fortifica a economia pública, suas finanças difíceis, manipuladas por seus homens de governo.

Foram os vinte e quatro milhões de expatriados para o Novo Mundo que, de 1870 aos nossos dias, permitiram a prosperidade interna da Itália, as comemorações festivas e exuberantes do seu cinquentenário de país independente, como bem acentua Constantino Ianni. A emigração tornou-se "a válvula de segurança" da economia, como se vulgarizou dizer entre os economistas conservadores. O fenômeno emigratório para a Itália é o responsável pelas relações internacionais de amizade e simpatia de que goza a península entre todas as nações civilizadas. O italiano, pelo seu temperamento ordeiro, trabalhador, apegado à família, sabe se adaptar, em uma miscigenização sem preconceitos raciais, nacionalizando-se sem esquecer sua origem. Compenetra-se de sua missão econômica: a grandeza da raça é inversamente proporcional à pujança do solo e ao seu complexo geográfico.

Mas não vamos sangrar a ferida de nossos antepassados, aberta em holocausto à civilização que derramou, no privilégio insuperável de guardiã das ciências, das artes, da religião de Cristo Senhor Nosso. Guardemos sua imagem, projetando-a, bela, perfumada e enriquecida pelo sacrifício e martírio de nossos pais. E orgulhemo-nos da grandeza do Brasil que estamos erigindo como pátria da felicidade reconquistada.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Giovanni Papini, o vulcânico escritor que, de 1917 a 1950, iluminou o mundo das letras italianas e cujos lampejos coruscaram em todas as...



Giovanni Papini, o vulcânico escritor que, de 1917 a 1950, iluminou o mundo das letras italianas e cujos lampejos coruscaram em todas as latitudes culturais, esgrimiu-se com muitos dos espadachins intelectuais que não fumavam do mesmo tabaco de seu cachimbo. Porque vaidoso, sarcástico, irreverente, não poupou os tímidos e indecisos. Escudou-se em sólida e brilhante cultura humanística.

Pessimista e agnóstico na mocidade, teve a lisura de consciência de confessá-la em L'Uomo Finito, onde externou corajosamente seus complexos de feiura e de incompreendido. É dolorosamente cético.

No Crepúsculo Dei Filosofo ensaia seus pendores de pensador autônomo. Em Parole e Sangue, põe sua alma inquieta à mostra, sem segredo. Procurando a verdade, encontra-se com Deus e converte-se ao catolicismo, torna-se polêmico, escreve a Vida de Cristo em linguagem vigorosa, como se o Filho de Deus vivesse hoje, neste mundo de misérias, de ambições desmedidas, de orgulho e egoísmo. É sua obra máxima, que o consagra entre os ortodoxos do catolicismo.

Como bom toscano estuda a vida de Dante Alighieri — Dante Vivo — em que o poeta do cristianismo medieval ressuscita com todas as características humanas de seu tempo: pecados, paixões, partidarismo político e religiosidade. É o mais belo e realístico retrato do imortal autor da Divina Comédia. Com toda ênfase de polemista italiano, no prefácio ele diz com arrogância peninsular que, para se escrever a biografia do sumo poeta, é preciso ser italiano, fiorentino, católico, artista e poeta. Porque só um italiano, fiorentino, poeta e católico pode compreender Dante.

Achei pretensiosa mas lógica a sua afirmativa e encontrei, não obstante a minha humildade, justificativa para escrever este ensaio sobre a imigração italiana no Espírito Santo. Com efeito, sou capixaba, filho de imigrantes e historiador, circunstâncias que reputo necessárias e indispensáveis ao cometimento.

Julgo-me capaz de rememorar o drama vivido por aquela falange de aventureiros marcada pelo destino que, abandonando seus maiores, nas aldeias onde nasceram e amaram, vieram povoar o sertão bruto do Espírito Santo e o elegeram como a Pátria da Promissão.

* * *

Cem anos são passados. Sucederam-se três gerações e representamos hoje, os descendentes, trinta por cento do milhão e oitocentos mil habitantes do Estado. Desbravamos possivelmente a metade do território. Cabe-nos grande parte do progresso e civilização que o Espírito Santo desfruta na federação brasileira. Orgulhamo-nos desta obra porque a porfia foi incomensurável: vencer a agressividade da natureza, os caprichos orográficos, a impotência e abandono dos governos. Só mesmo a perseverança e a fé dos filhos da península dos Apeninos poderiam realizar.

Confronte-se a prosperidade das colônias italianas de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul... A raça é a mesma e oriunda das mesmas províncias. Por que a diferença do bem-estar e fortuna? O meio físico, o solo, a proteção que receberam das autoridades respondem à pergunta.

Porém tudo passou. Somos felizes por integrar a comunidade espírito-santense, parcela ponderável da pátria brasileira.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Vinte e cinco anos depois. A missão de Arrigo Zettiry. ------------------------------------------------------------ A medida extrema ...



Vinte e cinco anos depois. A missão de Arrigo Zettiry.
------------------------------------------------------------

A medida extrema tomada pelo governo italiano, proibindo a emigração para o Estado do Espírito Santo, foi o resultado das reclamações formuladas pelos meios consulares, através de muitos anos, subestimadas pelas autoridades estaduais. A catástrofe da "colônia Muniz Freire" foi a gota d'água fatal. Em que consistiam as reclamações?

Todas tinham fundamento. Não foram atendidas. Muitas não dependiam de despesas, eram de ordem administrativa.

A disparidade de lotes, por exemplo. O colono não tinha opção e não estava habilitado a escolher esta ou aquela gleba. Uns receberam terras facilmente cultiváveis, outros encostas pedregosas ou terras frias, impróprias para a cultura do café e mesmo para a do milho. Ainda hoje, nos municípios de Santa Teresa, Alfredo Chaves e Rio Novo, há áreas imensas despovoadas, que foram abandonadas e invadidas pela samambaia.

Falta de estradas para o tráfego de tropas.

O Espírito Santo desconheceu os tílburis, as diligências e os carretões puxados por parelhas de dois ou quatro muares, muito freqüentes nos Estados do sul.

Assistência médica e farmacêutica esteve ausente. Instrução faltava para os próprios brasileiros urbanizados nos povoados ou vilas. Em Matilde, Virgínia, Santa Teresa, pelo menos, os colonos construíram escolas e contrataram professores, patrícios naturalmente, e as autoridades locais, sem motivos aceitáveis, se apossaram das mesmas para transformá-las em delegacias de polícia! E as arbitrariedades praticadas por estas cresciam ao sabor da santa política chefiada por falsos coronéis, vingativos e desumanos.

Época houve em que as colônias foram varridas por bandos de jagunços que praticavam toda a sorte de barbaridades. Quando o destacamento policial chegava, com o devido atraso, o inquérito causava os mesmos danos. Esse estado de coisas durou praticamente até o governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), que pôs cobro a todos os abusos administrativos. Na Itália, os jornais contrários ao gabinete Giolitti desencadearam severa crítica, cujo resultado foi o interdito Prinetti. Uma sobrinha do primeiro ministro, em 1892, esteve no Espírito Santo e percorreu a colônia de Alfredo Chaves. Tomei apenas conhecimento dessa viagem, sem comentários, em documentos Imigração, no Arquivo Nacional. A senhorita Giolitti, que veio como jornalista, o que terá visto e sentido?[ 32 ]

Em 13 de dezembro de 1901, o ministro Prinetti comissiona Arrigo de Zettiry, alto funcionário das Relações Exteriores, para inspecionar as condições dos colonos italianos nos Estados do Espírito Santo e Minas Gerais. É um documento sereno, judicioso, imparcial e de grande valor histórico, pois representa um inquérito sobre os vinte e cinco anos de existência da imigração italiana e dá a verdadeira situação econômica da mesma, justamente na curva da grande crise que afetou o Estado, cujos efeitos repercutiram até 1908, como se pode constatar confrontando-se o quadro demonstrativo da receita nos vinte primeiros anos da república.

Zettiry chegou a Vitória nos primeiros dias de fevereiro de 1902. Regia o consulado da Itália o Cav. Rizzardo Rizzeto, em substituição recente de Elmano Lanz, triestino, muito amável, relacionado largamente não só em Vitória, pois era comerciante, como em todas as colônias por sua prestimosidade. Em conferência com essas autoridades régias, Zettiry se inteirou, em primeira mão, dos fatos e esquematizou o programa de visitas às colônias. No prólogo de seu minuciosíssimo relatório teceu oportunos comentários sobre o panorama crítico que o Estado atravessava e, por conseguinte, seus habitantes. Empreendeu, orientado pelo amável Lanz, sozinho suas viagens pelo norte. Começou por Santa Teresa, que ainda estava traumatizada pela tragédia de 1897, a jagunçada, ocorrida em São João de Petrópolis, onde perderam a vida os italianos Giovanni Villaschi, Giuseppe Perini, Giuseppe e Giovanni Benetti, um súdito austríaco e alguns brasileiros a eles afeiçoados. Fez suas considerações gerais sobre o desânimo dos pequenos proprietários, desceu o rio Santa Maria e chegou às margens do rio Doce, cujo loteamento já recebera o nome de Colatina. Concluiu que, se o preço do café não reagisse, a lavoura desse produto seria abandonada. Minudenciou em seguida as colônias de Matilde, Carolina, Iracema, Maravilha e Deserto, que foram, como ele disse, o coração do ex-núcleo de Castelo.

Resumiu, enfim, com comentários gerais, os grupos esparsos de colonos de Alfredo Chaves, Rio Novo e Cachoeiro. Feita essa introdução, observou: "Lo Stato di Spirito Santo é oggi uno stato quasi fallito." Se o governo federal não o houvesse ajudado a pagar a dívida externa, os banqueiros estrangeiros teriam se apossado das mesas de renda. Escolas fechadas, subvenções às colônias suspensas, enfim sentiu o que a história registra do governo infeliz de Henrique Coutinho. E se o governo, por acaso, tentasse novamente colonizar o rio Doce repetir-se-ia o drama ocorrido em 1895 no núcleo Muniz Freire, que ocasionou a proibição da emigração para o Estado.

Em suma, ressaltou que as colônias estavam vivendo o clima aflitivo da crise do café, fenômeno generalizado por contingências imponderáveis.

____________________________

NOTAS


[ 32 ] Enriqueta Giolitti, L'emigracione al Brasile.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Os primeiros anos. As atribulações. ------------------------------------------------------------ A provação por que passou o imigrante...


Os primeiros anos. As atribulações.
------------------------------------------------------------

A provação por que passou o imigrante, além da resistência hostil do meio físico: clima, floresta e toda a gama de obstáculos à penetração, recai sobre as condições simplistas do acordo estatuído entre os governos brasileiro e italiano. Não se resguardaram os princípios fundamentais dos direitos humanos. O imigrante era considerado apenas como um instrumento animal de trabalho. Uma vez que se lhe assegurasse a subsistência, todos os demais atributos ficavam sob os desígnios da sorte.

O Império exigia que o imigrante fosse "agricultor, sadio, laborioso, moralizado, maior de 2 anos e menor de quarenta e cinco, salvo se fosse chefe de família e com a tolerância de 20 poderem pertencer a outras profissões."

Garantia-se-lhe a posse da terra e o não ser recrutado para a guerra. Pequena ajuda sob forma de diária &smdash; jornal era a expressão usada — enquanto se apossasse da gleba e colhesse a primeira colheita de mantimento. Analisado hoje, sob a luz dos direitos humanos, este regime só diferia da escravidão por não terem eles capatazes e por poderem locomover-se. Os demais favores corriam por conta da cordura de S. M. Imperial, que sempre teve os colonos debaixo de certo espírito de humanidade.

O governo italiano, por seus representantes diplomáticos, apenas se limitava a registrar e intervir, em casos extremos, com suas habilidades pessoais, com raros êxitos.

Com a proclamação da república, as terras devolutas e os núcleos coloniais passaram à jurisdição dos Estados. O Espírito Santo viveu sempre sob um regime muito deficitário. Não tinha condições financeiras para manter o ritmo, embora de penúria, que a monarquia emprestava aos núcleos em nosso Estado. Apressou-se, então, a emancipação dos mesmos, o que os relegou à própria sorte. As dificuldades cresceram. As diárias de ajuda, de atrasadas, passaram a ser pagas em vales descontados por negociantes, os quais não primavam todos pela honestidade. Alguns encarregados de colônias se mancomunavam com fornecedores, sempre em prejuízo do colono, é claro. A justiça se tornou extorsiva. E a polícia, arbitrária e perigosa, quando não salteadora. Caso houve de inventário em que as custas eram superiores ao monte do de cujus.

Graça Aranha, juiz municipal por quatro meses, relata cenas com asco, em seu Canaã. Os colonos, com a dificuldade de locomoção para Vitória, confiavam aos auxiliares da administração de terras o encaminhamento dos processos de compra de suas colônias, entregando-lhes passaportes, recibos provisórios, medições e memoriais com o respectivo quanto a pagar.

Muitos e muitos foram fintados por essa categoria de funcionários. Em Araguaia, o escândalo atingiu o calamitoso. Houve intervenção do cônsul, mas o processo movido contra o funcionário faltoso foi arquivado por ter este um irmão deputado!

O pior aconteceu aos que receberam terras impróprias ao cultivo por serem em grande parte ocupadas por pedreiras ou despenhadeiros intransitáveis.

Estes não foram só prejudicados, passaram miséria, como veremos. O governo primou pela ausência, não proporcionou mudas, sementes, gado, muares, nem ao menos um simples moinho de fubá.

Em Matilde houve festa cívica no dia em que chegaram duas mós, importadas por um italiano. Daí por diante a polenta teve melhor sabor.

Mas o café fascinava a todos. Embora demandasse cinco anos para florir, o seu preço fazia esquecer as agruras dos dias passados. Os que chegaram até os meados de 1880 e obtiveram terras adequadas conseguiram construir suas casas, quase todas de dois pavimentos, de esteios ou tijolos, cobertas de folhas de zinco. As telhas eram importadas e o frete e transporte tornavam-nas quase proibitivas. Os que mais lutaram continuaram a habitar suas casas de paredes de barro e cobertas de tabuinhas. Mas depois de 1895 o preço do café foi caindo de tal modo que as colônias beiraram a miséria.

O clima e as pragas castigaram muito os habitantes das águas dos dois Piraquês: maleita, beribéri, opilação, cobras e formigas. Até os periquitos e maitacas, em verdadeiros enxames, devoravam os milharais e plantações de arroz.

Os primeiros anos foram mesmo de provação. O governo de Muniz Freire (1892-1896) fomentou a imigração, mas com desacerto quanto ao território escolhido. A falta de assistência motivou medidas extremas do governo italiano, por intermédio do ministro das Relações Exteriores, Prinetti.

Foi proibida a emigração italiana para o Espírito Santo.

Caso único em todo o Brasil. Não obstante todas as provações por que passaram, foram as colônias de origem imigratória que impulsionaram o progresso no Estado. Superaram os velhos latifúndios da orla marítima. Venceram todos os obstáculos, inclusive o desamparo político.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Fundação de Santa Teresa. Nomes que a história guardou. Sua dependência econômica de Santa Leopoldina deu-lhe prosperidade. ------------...


Fundação de Santa Teresa. Nomes que a história guardou. Sua dependência econômica de Santa Leopoldina deu-lhe prosperidade.
------------------------------------------------------------

O município de Santa Teresa é o que tem sua história melhor conhecida e registrada. Justifica-se: Virgílio Lambert, participante da primeira turma de imigrantes, escreveu um diário de viagem, relatando os episódios e nomeando todos os companheiros da aventurosa empresa. Além do mais, a posição geográfica, o clima e a índole dos primeiros moradores urbanos da colônia em formação e uma série de circunstâncias fortuitas deram notoriedade excepcional não só ao território como à sua gente: sua situação em ponto obrigatório de pernoite dos que demandavam o porto de Cachoeiro de Santa Leopoldina, vindos de Colatina, Itarana, Itaguaçu, Afonso Cláudio e redondezas, propiciou o comércio de hospedagem e botequins. A frequência dos viajantes e a boa acolhida que se lhes dispensava concorreram para que a Vila das Alterosas, também apelido do pequeno burgo criado pela sua elite, se tornasse um centro de agradável pouso passageiro. O comércio de Santa Leopoldina prestigiava Santa Teresa com créditos ilimitados e afeições familiares. Grande parte das duas populações se revezava em suas festas comemorativas. Vitória, a capital, era pouco conhecida entre a maioria dos dois povos quase irmãos. As autoridades consulares, notadamente o conde Beverini, com séquito selecionado, entre eles Ildebrando Resemini, Pietro Buzatto, nomes que me vêm à memória no momento, visitavam a miúdo a esperançosa colônia. Os frades capuchinhos recebiam visitadores ilustres de sua Ordem. Aos poucos Santa Teresa alargava sua fama de núcleo de famílias festivas e acolhedoras.

As uvas, as violetas e as rosas de seus quintais e jardins eram atrativos para valorizar as refeições típicas e as ceias, cujas iguarias, ao sabor da Alta Itália, eram condimentadas com esmero. Os viajantes participavam de serenatas e cantorias em que a imagem da pátria distante convidava aos tragos do vinho sempre generoso no embalo da saudade. Santa Teresa capitalizava simpatia e amizade. Nenhum povo prestigiou mais as autoridades, principalmente as judiciárias. Ufanavam-se de sua vila e julgavam-na sua e muito sua. Os episódios de sua formação e origem eram lembrados com orgulho. A história estava sempre presente em todas as charlas como argumento comprovador. Quem poderia contestar Leonel Soares, o oficial de Registro, ou Laureano do Bonfim, que fora comissionado para fundar o município e primeiro tabelião? Ou Giuseppe Ruschi, o agrimensor que mediu e retificou quantidade considerável de prazos?

Mas o cenário romântico, que impressionou Graça Aranha, teve seu profeta, seu oficiante no altar do culto panteísta: Orlando Bonfim, o grande cultor, não só das belezas naturais, como do homem e da família teresenses. Na tribuna, na imprensa, nas festas, ele foi a voz de louvor à terra de Canaã.

Quando as comunicações com a capital do Estado e os municípios circunvizinhos se tornaram acessíveis ao tráfego motorizado, Santa Teresa se fez centro de atrações turísticas. Os intelectuais queriam conhecer o cenário que Graça Aranha celebrara: o povo, a cidade risonha, alegre, acolhedora e de moças bonitas, os convidavam ao descanso e ao prazer.

Gozou Santa Teresa do privilégio de, por muitos anos, ser a única cidade ligada à capital por estrada de rodagem. Alcançou apogeu que não lhe será jamais contestado.

Mas não nos retardemos em retratar a história de sua fundação, contribuição honrosa, para este memorialista bisonho, do Walfredo Zamprogno, comendador da Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana, ilustre vice-cônsul dessa república, e filho digno do vale fecundo das Tabocas.

Município de Santa Teresa — Notícia Histórica

"A área hoje ocupada pelo Município de Santa Teresa esteve compreendida nos antigos núcleos coloniais Antônio Prado e Bocaiúva, pertencendo, até 25 de novembro de 1890, ao município de Santa Leopoldina, do qual foi nessa data desmembrado pelo decreto nº 57.

"Esses núcleos foram criados pelo governo imperial a fim de receber a colonização estrangeira, notadamente a italiana, tendo-se procedido à respectiva demarcação territorial e divisão em lotes, depois do levantamento dos cursos de água principais. Os lotes coloniais locados eram de forma retangular ou quadrangular, com uma área de 302.500m², medindo 275m de frente para os cursos d'água, por 1.100m de fundo, ou 550m de lado, os quadrangulares. Já existiam colonos italianos no núcleo de Conde d'Eu, posteriormente Pau Gigante, hoje Ibiraçu, tendo o governo feito seu enviado à Europa, em busca de imigrantes, um dos irmãos Tabacchi, o de nome Pietro, residente naquele núcleo.

"Em uma de suas viagens à Europa, a de 1873, percorreu a Alta Itália e parte da Áustria, demorando-se no Trentino, de onde era filho. Fez ele intensa propaganda dos objetivos de sua viagem, chegando a publicar folhetos sobre a região a ser colonizada, os quais foram amplamente divulgados na Itália e Áustria.

"Enquanto Tabacchi, na Europa, organizava as suas primeiras levas de emigrantes, a região de Santa Teresa era visitada pelos primeiros colonos dos muitos que haviam chegado ao Espírito Santo a bordo do vapor francês Sofia, desembarcados no porto de Santa Cruz, e dali conduzidos para o núcleo de Conde d'Eu.

"Foi em 1874 que alguns desses imigrantes italianos, por motivos de insalubridade do local e em virtude das péssimas condições de vida a que eram submetidos, abandonaram as suas então recentes moradias na fazenda Santana, próxima a Ibiraçu, pertencente a um tal Dr. Guaraná, e enveredaram pelas matas virgens do vale do rio Timbuí, à procura de um clima que mais se aproximasse do da Alta Itália. Registramos-lhes os nomes, numa deferência especial, pois na ocasião, lá no município de Santa Teresa, não haviam ainda chegado os encarregados da demarcação das terras, tendo sido eles, portanto, os primeiros a pisar o solo teresense. Ei-los pois: Paulo Casotti, Bernardo Comper, Lazaro Tonini, Giuseppe Paoli, Francesco Bassetti, Anibale Lazero, Daniele Palauro, Abramo Zurlo e Sebastiano Zamprogno.[ 31 ]

"Aos 12 dias do mês de abril de 1875, Tabacchi fez partir em um trem, da cidade de Trento, a primeira leva de imigrantes, destinada ao Havre. Em 17 de abril levantava ferros dessa cidade o navio Rivadávia, trazendo em seu bojo sessenta famílias vênetas e trentinas. Em viagem direta chegaram ao Rio de Janeiro a 9 de maio, e foram em seguida encaminhados a Barra do Piraí, onde ficaram concentrados até 17 do mesmo mês, sendo reembarcados, posteriormente, para Vitória, onde saltaram a 31. Abastecidos pelo governo de gêneros alimentícios e instrumentos para o trabalho da terra, iniciaram a viagem rumo a Santa Teresa, viajando em canoas, até o então Porto de Cachoeiro.

"Na partida de Vitória, agregou-se à coluna dos imigrantes um brasileiro, o Juca Quintais, que os acompanhou tornando-se comerciante, logo que instalados no barracamento de Santa Teresa. Foi Juca Quintais o pai do primeiro teresense. As primeiras construções feitas foram o barracamento para abrigo dos imigrantes, a casa do vice-diretor de imigração, Franz von Lipp, e a do Juca Quintais, que nela instalou seu estabelecimento comercial. Entre outras famílias de imigrantes, integravam essa coluna as de Virgílio Lambert, Antonio Lambert, Fedele Martinelli, Andrea Martinelli, Felippo Bortolini, Eugenio Cuel, Lorenzo Dipré, Paolo Paoli, Giovani Battista Paoli, Pietro Margon, Antonio Margon, Giovanni Angeli, Luigi Angeli, Cirilo Bellumat, David Casteluber, Mateo Dalprá, Giorgio Martinelli, Giorgio Gasperazzo, Massimo Gasperazzo, Domenico Gasperazzo, Domenico Cozzer, Antonio Coser, Angelo Coser, Giovanni Broseghini, Alessandro Felippi, Celeste Rosa, Pietro Costa, Giuseppe Dallapiccola, Paolo Montibeler, Luigi Zotelle, Pietro Postai, Lazero Andreata, Francesco Rover, Tomaso Armelini, Giacomo Passamani, Pietro Rassele, Giuseppe Margon, Paolo Zotelle, Antonio Zanetti, Baldassare Zonta, Pietro Valandro, Luigi Tomazelli; Pietro Lens, Adone Avancini, Giovanni Moschen, Enrico Paoli, Pietro Avancini, Giuseppe Bortolini, Daniele Mer, Giacinto Felippi, Domenico Montibeler, Albino Scalzer, Lorenzo Margon, Acchile Mosmago, Angelo Margon, Antonio Margon, Luigi Angeli, Francesco Scalzer, Antonio Palauro, Domenica Echer, Augusto Palauro.

"No dia 26 de junho do mesmo ano (1875) foi feito, portanto, o sorteio dos lotes coloniais e entrega dos mesmos aos colonos. A escolha desta data pelos colonos italianos prendeu-se ao fato de ser ele o dia consagrado a São Virgílio, padroeiro do Trentino. Ainda não tinha nome o agrupamento de barracas, opondo-se von Lipp a que fosse São Virgílio. Aconteceu porém que, no dia 15 de outubro, à sombra do grande Pau Peba, onde se reuniam, à hora do Angelus, os imigrantes, uma devota de nome Maria Zonta colocou [ali] uma imagem de Santa Teresa, trazida da Itália. Desde então passou a chamar-se Santa Teresa a sede improvisada para o núcleo Antônio Prado. Em 1876, novas levas de imigrantes lá aportaram, ainda provenientes do norte da Itália e do Trentino, embarcados no porto de Havre diretamente para o Espírito Santo, tendo passado o Natal ao largo de Vitória, nos navios franceses Fenelon e Rivadávia, novamente. Enumeramos aqui, entre outras, as famílias de: Domenico Broilo, Fortunato Broilo, Giuseppe Corteletti, Giovanni Carlini, Domenico Tamanini, Daniele Rizzi, Anselmo Frizzera, Domenico Taffner, Tomazo Briddi, Antonio Perini, Antonio Roatti, Mansuetto Briddi e Carlo De Carli.

Outros vieram pelos navios Adria e Polcevere, ainda partindo de portos franceses. Os vênetos e os lombardos vieram diretamente da Itália nesse mesmo ano, tendo embarcado em Gênova, no navio Colômbia, direto para o Rio de Janeiro, e baldeados para outra embarcação que os trouxe até Vitória, onde chegaram no mês de outubro, daqui rumando para Santa Teresa. Desta feita encontravam-se, dentre outros, os seguintes italianos, com suas respectivas famílias: Andrea Gasparini, Battista Rossi, Augusto Bolognini, Ferdinando Giugni, Giovanni Battista Luppi, Giovanni Zanca, Luigi Pasolini, Emiliano Ferrari, Luigi Guaitolini, Sebastiano Toresani, Gaetano Silingardi, Angelo Aleprandi, Giovanni Milli, Domenico Mellotti, Giuseppe Rondelli, Luigi Pretti, Pietro Ferrari, Carlo Có, Antônio Có, Fedele Garosi, Augusto Garosi, Giuseppe Benedusi, Angelo Armani, Biagio Graziotti, Alessandro Bonatto, Luigi Bianchi, Giuseppe Simonassi, Michele Fritolli, Giuseppe Regatiere, Enrico Cerchi, Basilio Costa, Angelo Guerra, Giacomo Maestrini, Biaggio Ferrari, Giovanni Dalmaschio, Angelo Pozzati, Enrico Dalcomune, Michele Gastaldi, Felippo Vigano, Abramo Cagliari, Santo Storari, Ferdinando Zampieri, Luigi Bason, Vittorio Gasparini, Francesco Pittol, Luigi Luppi, Giacomo Ferrari, Giuseppe Graziotti, Angelo Graziotti, Giovanni Giovanni, Carlo Medani, Cesare Lodi, Cesare Ferrari, Gerolamo Mattedi.

"Voltou à Europa, neste ano, Tabacchi, trazendo em sua companhia o padre Domenico Martinelli, que celebrou a primeira missa em Santa Teresa, no dia 27 de junho de 1876, exatamente no local onde está edificada aquela cidade. Em 1877, recebeu nova corrente imigratória, chefiada pelo Capitão João Birchler, Guilherme Graff, João Jacob Schneider e Carlos Nippes.

"Vinham da Suíça e da Alemanha e rumaram para o centro do núcleo, estabelecendo-se no vale do rio 25 de Julho, hoje distrito daquele município. No mesmo ano, lá chegaram os poloneses, tendo sido localizados no vale do rio 5 de Novembro, em torno do atual patrimônio de Santo Antônio, anteriormente chamado patrimônio dos Polacos.

"Como se observa, no município, foi introduzida a colonização estrangeira nos anos de 1875 a 1877, tendo sido recebidos, como se vê, imigrantes italianos, alemães, poloneses e suíços.

"De 1877 a 1890 ainda chegaram, em pequenos grupos, alguns colonos, como sempre, na sua grande maioria, italianos. Do número de estrangeiros, calculados em 3.500, no ano de 1897, aproximadamente 80% eram de italianos.

"Era diretor-geral de colonização Santana Lopes, e vice-diretor Franz von Lipp, que tinha como auxiliares os agrimensores Julião Floriano do Espírito Santo, Guilherme Schumalowsky, polonês, e Charles Peletan, francês. O vice-diretor von Lipp era oficial do exército regular austríaco, tendo aportado ao Brasil vindo do México, onde exercia as funções de ajudante de campo de S. A. Maximiliano da Áustria. Em 1882, fundou-se a primeira escola em terras teresenses. Era uma escola particular, regida pelo médico suíço Dr. Emílio Haussler, mandado vir pelos colonos suíços e alemães, localizados no rio 25 de Julho.

"Retirando-se em 1889 o Dr. Haussler, foi a regência da escola confiada ao professor Anton Blaser, que a regeu por muitos anos.

"Em 1880 ficaram concluídas as obras de uma modesta igreja, na qual foi aposta a pomposa inscrição: duomo dedicato a San Virgilio. Foi em 26 de junho que nela se celebrou a primeira missa. O imperador Pedro II mandou os sinos do campanário, que hoje servem à matriz da cidade.

"Ainda em 1880, passaram por aquela região os engenheiros com as linhas de estudo da Estrada de Ferro Vitória a Peçanha. Visitou aquelas paragens, no início de sua colonização, um embaixador de S. M. Francisco José, imperador da Áustria e rei apostólico da Hungria; seguiu-se a visita de duas princesas da Baviera, acompanhadas por um barão, que não nos fizeram boas referências no livro de viagem por elas publicado, em 1887, na Alemanha. Haviam julgado que, decorridos apenas seis anos do início da colonização, viriam encontrar aqui seus compatriotas já instalados em suntuosos castelos. Aliás, é bom que se diga, as referências não lisonjeiras foram feitas unicamente aos seus patrícios.

"Uma vez localizados, feitas as primeiras derrubadas e construídas as primeiras habitações, iniciaram os colonos o cultivo da terra. A cultura do café foi a que mais ocupou a sua atividade, seguindo-se-lhe as do milho e de outros cereais.

"Nas zonas altas, principalmente, onde se acha hoje o distrito da sede, fizeram, com bons resultados, a cultura da videira, até agora explorada.

"Pelo colono Virgílio Lambert foi iniciada uma pequena cultura do bicho-da-seda, também com magníficos resultados. Esta cultura, que não logrou, então, qualquer incentivo dos poderes públicos, serviu para demonstrar a sua praticabilidade naquela região. A primeira produção foi obtida em 1880; mais tarde chegou a ser obtida, com o trabalho de uma só pessoa, uma produção de 25 quilos de casulos no espaço de 45 dias.

"Remetido o produto para a exposição de Berlim, em 1886, logrou obter medalha de bronze; em 1889, na Exposição de Paris, obteve menção honrosa. Deixou Virgílio Lambert, sobre esta cultura, interessante estudo, a que juntou valiosas observações feitas durante os onze anos em que se dedicou à sericicultura. Transcrevemos uma nota publicada a esse respeito, pela Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, em 18 de setembro de 1880:

'Remetido do Espírito Santo, o colono italiano Virgílio Lambert, que, na colônia Leopoldina, em Santa Teresa do Timbuí, fez, há cerca de três anos, uma plantação de amoreiras e, em janeiro deste ano, começou a criação do bicho-da-seda.
Mostrou-nos o laborioso colono um quadro em que se vêem as diversas fases do bicho e duas meadas de excelente seda.
A indústria da seda é de grande futuro para o país, porque, além do grande desenvolvimento que aqui atingem as amoreiras, conservam-se elas verdes em quase todo o ano, o que permite um número maior de reproduções do bicho do que se obtém na Europa. O atual Sr. Ministro da Agricultura prestaria mais um bom serviço se encorajasse o laborioso colono.'

"Por portaria de 25 de fevereiro de 1889, o Exmo. Sr. D. João Batista Correia Nery, Bispo de Vitória, nomeou o primeiro vigário de Santa Teresa, padre Marcelino Maroni D'Agnadello, expedindo a provisão que criava a paróquia, isso após a visita efetuada, a 18 de fevereiro do mesmo ano, pelo referido prelado àquela então povoação.

"Em 1899, D. João Nery pediu frades à Missão Fluminense dos Capuchinhos do Morro do Castelo para a paróquia de Santa Teresa.

"Lá chegaram, em 29 de novembro de 1899, os Revmos. frei Eugenio de Comiso, vigário, e frei Caetano de Comiso, coadjutor, ambos procedentes da Sicília, Itália. Em 1º de junho de 1902 foi colocada a primeira pedra da atual matriz, tendo sido as obras conduzidas pelo engenheiro Guilherme Oates.

"Ainda em 1902 fundaram os padres capuchinhos um colégio que trouxe grandes benefícios à instrução e educação de um elevado número de chefes de família, lavradores, comerciantes e profissionais liberais que honraram e honram o município, dentro e fora do Estado.

"O colégio obteve incentivo e auxílios de materiais didáticos e escolares do então cônsul italiano nesta cidade, Giovanni Batista Beverini, grande oficial da Coroa da Itália. Foi dado ao colégio, inicialmente, o nome de Rita Beverini Machiavelli, em homenagem à falecida esposa do então cônsul italiano. Posteriormente, o mencionado colégio passou a ser denominado Colégio Ítalo-Brasileiro. Em 1935 foi este colégio transformado no atual seminário Seráfico São Francisco de Assis.

"A instalação oficial do município de Santa Teresa verificou-se a 22 de fevereiro de 1891, levada a efeito solenemente pelo presidente do governo municipal de Santa Leopoldina.

"Nessa ocasião, foi empossada a Intendência Municipal de Santa Teresa, assim constituída: presidente: Jerônimo Vervloet (luxemburguês); intendente: Fortunato Broilo (italiano), Alexandre Felipe (austríaco), Emílio Haussler (suíço) e Julião Floriano do Espírito Santo (brasileiro).

"Convém notar que eram bem outros os tempos: cinco diferentes nacionalidades compunham uma administração harmônica do município e todos visavam apenas o progresso e o engrandecimento daquele rincão.

"Para que se tenha uma ideia do que foi a imigração italiana no município de Santa Teresa, transcrevemos o seguinte fato, tirado do livro Geografia do Estado do Espírito Santo, do autor Carlos Mattos, em 1925: 'A população do município de Santa Teresa é aproximadamente de 19.000 habitantes, composta em sua grande maioria de estrangeiros que, com exceção de alguns belgas e alguns suíços, são italianos.

"Um anúncio, em 1900 dizia: Santa Teresa é atualmente um dos municípios mais importantes e mais ricos do Estado e sua grandeza devemo-la principalmente aos mesmos tenazes imigrantes italianos que a fundaram e a seus numerosíssimos descendentes.

Primeiros moradores de Valsugana Nova
06 de abril de 1879

SANTA TERESA – Estado do Espírito Santo

1 – Santo Botassi
2 – Emilio Romagna
3 – Giuseppe Dallapiccola
4 – Domenico Gozzer
5 – Domenico Gasperazzo
6 – Giovanni Angeli
7 – João Bender
8 – Paulo Paoli
9 – Antonio Rosi
10 – Antonio Zanetti
11 – Vittorio Piva
12 – Mansueto Dalcolmo
13 – Francesco Rover
14 – Paulo Montibeller
15 – Paulo Zottele
16 – Sebastiano Zamprogno
17 – Pietro Costa
18 – Giordano Dalmaso
19 – Angelo Valandro
20 – João Souza
21 – Giorgio Martinelli
22 – Giovanni Paoli
23 – Mateo Dalpiva
24 – Angelo Armelini
25 – Giocondo Cetto
26 – Fedele Martinelli

Ass. José Romagna – 02/8/1957."

Obs.: Cópia do original que, se encontra na Igreja de São Luís, em Valsugana Nova, município de Santa Teresa, Espírito Santo.

____________________________

NOTAS


[ 31 ] Sebastiano Zamprogno emigrou para o Brasil (Espírito Santo, Santa Teresa), com a esposa (Irene) e filhos (Angelo, Giuseppe, Antônio, Décimo, Gioconda, Maria, Luigi e Giocondo. Este último era meu avô).

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Até os idos de 1940, os vanguardeiros, que bela juventude, quando se reportaram a Ilha, chamavam-na carinhosamente de Cidade Presépio. E Vi...


Até os idos de 1940, os vanguardeiros, que bela juventude, quando se reportaram a Ilha, chamavam-na carinhosamente de Cidade Presépio. E Vitória, vista do continente, tinha mesmo uma romântica silhueta de cidade bucólica.

A mata, rematando os morros, emoldurava a cidade alta e a parte baixa espreguiçava-se, na seqüência de sobrados de dois ou três pavimentos, em amistosa intimidade de parentesco próximo.

O povo caminhava despreocupadamente nas ruas, os bondes cruzavam-se nos dois sentidos e os automóveis não atropelavam ninguém.

O trânsito só se avolumava ao cair da tarde quando as normalistas e os ginasianos deixavam as aulas e os servidores públicos encerravam o expediente.

Então o Café Globo, dos irmãos Trinchet, e o Bar Petrópolis, do lusitano Eusébio, se enchameavam de fregueses. Lá o café custava um tostão e a pinga se bebia temperada com mate queimado ou traçada com Cinzano.

O Eusébio, mais evoluído, novo na praça, oferecia chope bem gelado e, como tira-gosto, pitus a mil e duzentos a dúzia.

Aqui a preferência era dos jovens e se ouvia discos seletos de bonita música: La Comparcita, Romana, Mariu.

O Café Globo, mais discreto, era o preferido dos velhos. Na esquina da Farmácia Aguirre, chamada esquina do pecado, os desembargadores, discretamente, comiam amendoim torrado e molhavam, com seus humildes olhares, as moças bonitas solteironas. Às seis e meia todo o mundo ia embora jantar, e depois Cinema Glória.

No mar alguns botes remavam para Paul, e de quando em quando um navio, abotoado por saveiros se abastecia de toneladas de café, com grande alegria dos funcionários que sabiam que nesse mês as folhas seriam pagas.

Fora da política a vida corria mansa, tranquila.

A Vida Capixaba, do Manoel Pimenta, e a Canaan, do Carlos Madeira e do Adolfo Monjardim, relatavam os acontecimentos sociais e nelas a mocidade expandia sua vocação literária.

Firmaram-se, com crônica, poemas, versos e fantasias: Eugenio Sete, Salvador Thevenard, Paulo Freitas, Ruy Côrtes, Alvimar Silva, Almeida Cousin, Beresfor Moreira, Antônio Pinheiro, Celso Bonfim, Abílio de Carvalho, Arlete Cipreste... na culminância luziam Jair Tovar, Estelita Lins, Teixeira Leite, Ciro Vieira da Cunha, Virginia Tomanini, Saul de Navarro, Ernesto Guimarães.

Pontificaram nas escavações históricas e prosódicas Mário Freire e Elpídio Pimentel.

Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco ressuscitavam a riqueza de nosso folclore. No comentário jornalístico, José Sete e Garcia de Resende se defrontavam com o infatigável Mesquita Neto.

Queiroz do Valle, em seus Micrólogos, valorizava os capixabas e promovia os tímidos com aquela sua linguagem cristalina como as águas frescas das montanhas. Encarnando-se em Júlio Verne profetizava a realidade do progresso desfrutado hoje em nossa Capital.

A Ilha de Duarte de Lemos era nossa, dos capixabas ou dos velhos afeiçoados, os devotos de Nossa Senhora da Penha.

Prosperava suavemente. As mulheres ainda escondiam a anatomia dos quadris e os homens... usavam paletós. As freiras e os padres vestiam batinas. As ruas não engarrafavam e os automóveis não matavam ninguém.

II

Passaram-se os tempos. A Ilha progredia lenta e seguramente. A cidade estendia-se ligando novos núcleos dando-lhes feições de bairros autônomos: Jucutuquara, Ilha de Santa Maria, Gurigica, Maruipe, Praia Comprida, Santo Antônio, sempre modesta, se espichava para os mangues e subia para os morros alcançando Caratoíra.

As autoridades municipais sabiam que o centro urbano era limitado em área útil. Procurava-se fazer a cidade ganhar novos espaços. Carlos Lindenberg ousou, sim era ousar naquele tempo, unir Vitória a Vila Velha com ampla avenida apta a se povoar. Veio Jones Santos Neves e ganhou os alagados marinhos do Cine Glória à Bento Ferreira , enriquecendo a superfície da ilha. Completou a Avenida Vitória e rasgou, em alinhamento a via Fernando Ferrari de Goiabeiras até o Planalto de Carapina, numa antevisão de um polo da Grande Vitória, que a Vale do Rio Doce, com o porto de Tubarão tornaria realidade. Mas, os condutores, hiper estimaram a utilização do solo em altura, saturando as vias já estreitas, tornando-as intransitáveis e perigosas.

Não obstante o prestígio merecido dos últimos e atual governo, encarrearem dilúvios de cruzeiros, os técnicos, se embaraçam bisantinamente, em construir a segunda e terceira ponte, o terminal rodoviário e o centro de abastecimento, soluções salvadoras.

Vitória tornou-se a Portaria do Inferno para tormento de seu povo herdeiro de um futuro esperançoso.


[DERENZI, Luiz Serafim. Cidade presépio... portaria do inferno. In A Gazeta, 29/10/1976. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]


---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Um dos problemas fundamentais do tráfego urbano da cidade é o da localização da estação rodoviária, já velho, de vinte e cinco anos. Talv...


Um dos problemas fundamentais do tráfego urbano da cidade é o da localização da estação rodoviária, já velho, de vinte e cinco anos.

Talvez, o signatário deste tópico tenha sido o primeiro a pensar em solvê-lo quando diretor do DER.

As gerações de 1950/55 devem se lembrar que de São Torquato para Vitória o cruzamento com a Estrada Vitória a Minas era de nível, em rampa e curva, três óbices condenados pela Engenharia de Tráfego.

Eram freqüentes os sustos e desastres nas horas de manobra dos trens de minérios.

Certo dia aconteceu que um trem de vagões vazios, com mais de quinhentos metros de comprimento, vindo de recuo, colheu um caminhão, arrastando-o e matando o motorista. A obstrução da passagem durou umas dez horas, e o engarrafamento teve mais de um quilômetro de extensão!

Buzinadas e palavrões se atropelaram pelo espaço.

A imprensa brindou o governo com todos os argumentos dos que tem barriga vazia.

O dirigente do DER foi o mais atingido. Estimulado pelo governador Santos Neves expus o problema. Só havia uma solução. Prolongar-se o alinhamento da Ponte Florentino Avidos (Cinco pontes), com passagem superior à Estrada de Ferro, desapropriar os mangues até o Rio Marinho e abrir nova pista.

Em dois meses os estudos e orçamentos estavam terminados.

Mas o problema não interessava somente ao DER. A Companhia Vale do Rio Doce participava da temática prioritariamente.

Graças à alta compreensão do general Juraci Magalhães, então presidente daquela empresa, dividimos o valor dos viadutos em concreto — Cr$5.000, dos velhíssimos — meio a meio e partimos para a solução.

Em dez meses solucionei o problema, só não pavimentei a pista. Era prematuro. O aterro se abateria fatalmente.

O incidente me fez pensar nos destinos a curto prazo, da evolução do tráfego em Vitória.

O DER construía a estrada Carlos Lindenberg e, por delegação do DNER, a Rio-Bahia e a Vitória-Belo Horizonte — trechos espírito-santenses.

Em poucos anos, o tráfego dentro de Vitória se tornaria caótico.

Como o DER tinha a precária verba de pouco mais de Cr$ 100.000.00, por ano, sobrava tempo para planejar. E planejei com realismo sem fantasia de governo rico. As estatísticas me forneceram elemento cruéis. Uma média diária de 40 caminhões de bois de madeira. A construção da ponte de Linhares progredia razoavelmente. O transporte de madeira e gado vindo do Norte, sem contar com os demais produtos iriam sacrificar o tráfego urbano.

Problema insolúvel. Então projetei a variante de contorno à ilha, de Campo Grande a Carapina, que aliviaria o tráfego imprevisível Norte-Sul. O DER não pôde construir esse ramal e não obteve verba específica da União, mas o projeto foi aprovado como indispensável, e quinze anos depois realizado.

Concomitantemente, a saída de Vitória para o Sul se fazia por Vila Velha, Jucu-Amarela.

Era um absurdo. O óbice único residia na desapropriação da faixa Jardim América ao trevo de Viana, já em franca valorização.

Em entendimento com o proprietário do loteamento da Fazenda Itacibá, falecido Expedito Garcia, homem inteligente e sagaz, fiz-lhe compreender que com a construção da BR-101 e 266 — Vitória/Rio/Belo Horizonte, o maior beneficiado seria ele mesmo. E fizemos um acordo de cavalheiros. A desapropriação, tanto da faixa para o Rio, como de ltaparica-Cariacica foi feito a preço simbólico.

O Governo assumia o compromisso de levar água e luz e asfaltar até os primeiros quilômetros apenas concluídos e nessas combinações o DER adquiriu uns duzentos metros de frente, beirando os vinte mil metros quadrados (atual área da Viação Itapemirim) com o fim de instalar os departamentos técnicos e possível Estação Rodoviária.

Depois do Governo Santos Neves, nuvens e furacões assolaram o Espírito Santo.

Hoje a Estação Rodoviária atingiu o máximo de intensidade de prejuízo ao tráfego interestadual e municipal.

É uma verdadeira calamidade pública subestimada pelos últimos governos, e, que engasga os ilustres executivos do Estado e da Capital. Querem solucionar o impasse. Pelo amor de Deus afastem Bento Ferreira como solução. O tráfego da Ilha está saturado. Como judiciosamente declarou o economista Arlindo Villascki Filho, construam-se três ou quatro pontes, só servirão para agravar o engarrafamento do tráfego urbano pelo aumento do número de veículos por minuto nas estreitas ruas de Vitória.

Só há dois pontos dignos da Estação Rodoviária: Campo Grande ou Carapina.

Eu prefiro este último já que foi escolhido como cidade industrial, tornando-se em breve ponto de concentração humana.

Dinheiro não é obstáculo: Vendam os boxes às empresas de viação.


[DERENZI, Luiz Serafim. Estação rodoviária. In A Gazeta, 18/02/1976. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]


---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

João Rodrigues da Silva, negociante português e próspero, por volta de 1894, se não me falham as notas, construiu, na rua Sete de Setembro,...


João Rodrigues da Silva, negociante português e próspero, por volta de 1894, se não me falham as notas, construiu, na rua Sete de Setembro, fundo dos Pelames, alagadiço e campo que demandava o Convento do Carmo, bela residência retangular, sobrado, em meio jardim, defendido por muro e gradil de ferro, pintado de azul com portais brancos. Um aprazível palacete de preço. Ali nasceu grande parte do clã numeroso dos Rodrigues da Silva, cujo neto conspícuo, pelo lado materno, é jurista e ex-senador Jeferson de Aguiar.

O Governo Municipal situava-se na cidade alta, em casarão pouco recomendável, oriundo da era lusitana.

O engenheiro Henrique de Novaes, elevado a prefeito da Capital, em 1916, elaborou um plano de melhoramento urbano perfeitamente lógico. Precisava de mais espaço e conforto para trabalhar. Adquiriu o palacete do senhor João Rodrigues da Silva, fez melhorias internas e transformou a propriedade privada em edifício público, acabando o jardim e muros de vedação.

O doutor Novaes, no silêncio da crise que a primeira grande guerra desencadeou, não pôde realizar seu plano urbanístico. Mas foi meticulosamente desapropriando grande parte dos pardieiros que interferiam no seu plano de descolonização.

Fez o esqueleto físico que seria aproveitado por Florentino Avidos.

O preço do café era propício.

O serrano Octávio Índio do Brasil Peixoto, cunhado do doutor Avidos, foi o Prefeito de Vitória no Governo eminentemente realizador. Entendeu de ampliar a sede da Prefeitura.

Trazido pela fama dos grandes melhoramentos que se realizavam em Vitória, aportou um famoso arquiteto tchecoslovaco, Joseph Pitlick, autor do pavilhão de sua pátria nascente, nas comemorações do nosso primeiro centenário de independentes.

Octávio Peixoto deu-lhe a projetar a ampliação e reforma da Prefeitura.

O arquiteto projetou com arte e economia um palacete neo-clássico, Luiz XVI, com especificações adequadas ao estilo, inclusive mobiliário e decoração.

A obra foi posta em concorrência. Concorreram André Carloni, Lucióla e Companhia e Politti Derenzi, da qual eu era diretor. Ganhamos o pleito por duzentos e sessenta e poucos contos, se a memória não me trair.

Eu dirigi com o entusiasmo da minha juventude profissional. Fiscalizou a construção o engenheiro Francisco Menescal, que se acapixabou, deixando viúva, linda moça da família Bataglia.

O edifício foi construído rigorosamente dentro do projeto a especificações: lajes em concreto, telhado em peroba campo, com cobertura de telhas tipo marselha. Escada em mármore carrara, gradil e portões em ferro batido, corrimão em metal, executado por Ricardo Simões, serralheiro que viera de Portugal, guarnecer o pavilhão português na falada exposição centenária. Soalhos de madeira seca, acapú é pau setim, vindos de Belém do Pará, tetos, sancas, florões, em gesso, esculpidos por um príncipe russo, exilado, cujo passaporte eu li, Waldemar Bogdanoff. Este notável escultor permaneceu muitos anos em Vitória e decorou o interior de nossa Catedral. O mobiliário, em estilo império, é trabalho da Read Star, famosa mobiliadora que dominou o mercado de móveis finos do Rio de Janeiro.

Os passos comuns, pavimentados em cerâmica alemã.

Os anos se passaram. A cidade cresceu, o edifício ficou pequeno. Construiu-se novo palácio, em estilo moderno, tipo gaiola com alçapões justapostos para apanhar passarinhos. Mal acabado, pisos de oficina pobre, e para lá se transferiu o "Paço Municipal".

O edifício velho, mas nobre, foi indicado para sede da Academia de Letras, museu, pinacoteca, enfim, para atividades culturais que a cidade reclama.

— Não! Disseram as autoridades. Será praça!

E bons milhões de cruzeiros se dispenderam para demolir o vetusto edifício já com o musgo das cimalhas, dos seus 51 anos. A praça ridícula teve brinquedos plásticos que duraram oito dias. Vai servir aos mendigos a cuspir os males trazidos pelo vento sul. Mas as propriedades circundantes ganharam gabarito de 2 pavimentos para novos espigões.

Parabéns aos investidores. Pêsames aos intelectuais.


[DERENZI, Luiz Serafim. O largo do cuspe. 12/9/1975. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]


---------
© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
---------

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)