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SUMÁRIO Capítulo I   –  Minhas mais antigas reminiscências Capítulo II  –  Na Leopoldina e estudante em Vitória Capítulo III  –  ...



SUMÁRIO


Capítulo I – Minhas mais antigas reminiscências

Capítulo II – Na Leopoldina e estudante em Vitória

Capítulo III – Ginasiano ainda

Capítulo IV – Candidato a engenheiro — na Politécnica

Capítulo V – A Carta Geográfica

Capítulo VI – Por terras de Minas e Paraná


[DERENZI, Luiz Serafim. Caminhos percorridos — Memórias inacabadas. [Publicado posteriormente em Vitória: Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, 2002. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]


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© 2001 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)


SUMÁRIO Introdução - Antes de tudo. Capítulo I - O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica. Referências de Graça...


SUMÁRIO


Introdução - Antes de tudo.

Capítulo I - O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica. Referências de Graça Aranha. Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigram os Italianos?

Capítulo II - Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das Fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do Visconde de Abrantes. Convite aos Italianos.

Capítulo III - O que foi o Espírito Santo. Seu crescimento demográfico. Importância da imigração. Paulo Viana. Fundação de Santa Isabel, Santa Leopoldina e Rio Novo.

Capítulo IV - A crise italiana. Necessidade de emigrar. Quadro estatístico.

Capítulo V - Nomes italianos na história provincial.

Capítulo VI - Pietro Tabacchi. As primeiras famílias.

Capítulo VII - Reparos. Os primeiros embarques a bordo.

Capítulo VIII - Desencontros familiares. Uma greve providencial. Caxias do Sul.

Capítulo IX - Embarques sucessivos. Quadro estatístico da população.

Capítulo X - Território ocupado pelos italianos. Com as epígrafes: Santa Teresa, Itarana, Itaguaçu, Colatina, Nova Venécia, Ibiraçu, Rio Novo, Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Venda Nova.

Capítulo XI - Fundação de Santa Teresa. Nomes que a história guardou. Sua dependência econômica a Santa Leopoldina deu-lhe prosperidade.

Capítulo XII - Os primeiros anos. As atribulações.

Capítulo XIII - Vinte e cinco anos depois. A missão do Dr. Arrigo Zettiry.

Capítulo XIV - A inspeção do Dr. Arrigo Zettiry. Colônia do Timbuí, Ibiraçu, São João de Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Alto Castelo.

Capítulo XV - Influência italiana na evolução social e econômica no Espírito Santo. Os filhos de imigrantes ganham as universidades. Os primeiros diplomados. Os industriais eminentes. Os intelectuais.

Capítulo XVI - Os italianos em Vitória.

Capítulo XVII - Um autodidata. André Carloni.

Capítulo XVIII - O construtor de estradas. Serafim Derenzi.

Capítulo XIX - Os orçamentos. Contribuições social e econômica. Adendas. Algumas canções. Nossa Senhora de Caravaggio. Documentário.


[DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

Biobibliografia Fotografias Obra     Caminhos percorridos — Memórias inacabadas     Os italianos no Estado do Espírito Santo     ...



Biobibliografia

Fotografias

Obra
    Caminhos percorridos — Memórias inacabadas
    Os italianos no Estado do Espírito Santo
    Falando de Vitória (artigos publicados em jornais e outros)


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Consulte em Rol de Autores o verbete de Luiz Serafim Derenzi.

Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 20 de março de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro a 29 de abril de 1977. Formou...


Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória, Espírito Santo, em 20 de março de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro a 29 de abril de 1977. Formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Fez parte, quando ainda estudante, da Comissão da Carta Geográfica do Estado do Rio (1919-1921) e, recém-formado, foi diretor de Viação e Obras da Secretaria de Agricultura, Viação, Terras e Obras do Espírito Santo (1921-1924). Entre 1932 e 1934 ocupou a Diretoria de Obras da Prefeitura Municipal de Vitória. Chefiou a construção do Parque Nacional de Foz do Iguaçu, assim como trabalhou na construção de trechos ferroviários no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mais tarde foi diretor geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo (1953-1955). [Prefácio de Renato Pacheco in Derenzi, Luiz Serafim, Biografia de uma ilha, 2ª ed., Vitória: PMV, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1995.]

Além dessas atividades exerceu também a de professor, lecionando Matemática e Física no Curso Sinésio de Faria (Rio, 1918), Colégio Pedro Palácio (Cachoeiro de Itapemirim, 1923), Ginásio São Vicente de Paula (Vitória, 1926), Liceu Muniz Freire (Cachoeiro de Itapemirim, 1934) e Escola Pedro II (Vitória, 1935-1937).

Foi membro da Academia Espírito-santense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, comendador da Ordem da Solidariedade da República Italiana, cidadão teresense, sócio-correspondente do Geographical Institute of the United States of America e membro permanente do Conselho Permanente de Desenvolvimento do Espírito Santo. Recebeu diploma de Honra ao Mérito e medalha da Federação Nacional de Engenheiros.

* * *

Atividades profissionais

– Topógrafo e astrônomo da Comissão da Carta Geográfica do Estado do Rio de Janeiro (1919-1921);
– Membro da Comissão Mista ligada à questão de limites entre os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais;
– Diretor de Obras e Viação da Secretaria de Agricultura, Viação, Terras e Obras do Estado do Espírito Santo (1921-1924);
– Diretor Gerente dos Serviços Reunidos de Cachoeiro de Itapemirim, Força, Água e Esgoto (1924-1925);
– Sócio-diretor da Politti, Derenzi & Cia (1925-1927);
– Diretor de Obras da Prefeitura Municipal de Vitória (1927-1930);
– Escritório de consultoria técnica em Cachoeiro de Itapemirim (1932-1935);
– Diretor de Obras e chefe de Serviço Cadastral da Prefeitura Municipal de Vitória (1935-1938);
– Membro da Comissão de Limites Interestaduais do IBGE (1937);
– Diretor de Engenharia da Prefeitura Municipal de Vitória (1939);
– Escritório de consultoria técnica em Belo Horizonte (1939);
– Engenheiro-chefe das obras do Parque Nacional de Foz do Iguaçu, Paraná, sendo também responsável pelas obras de construção do aeroporto e do Hotel das Cataratas (1940-1944);
– Engenheiro-chefe da Construtora Socimbra, contruiu 40 quilômetros de estrada de ferro com pontes e túneis, em Santa Catarina (Criciúma) e no Paraná (ramal Monte Alegre) (1944-1947);
– Sócio-diretor da Construtora Novil e Comércio e Construções Fredolaport Ltda., construiu 50 quilômetros de estrada de ferro com dois túneis no Estado do Paraná (1947-1964);
– Diretor Geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Espírito Santo (1951-1955), introduziu no Brasil o método de pavimentação — tratamento superficial sobre base estabilizada. Nesse mesmo período foi fiscal do governo na construção da Hidroelétrica Rio Bonito, mais tarde Escelsa;
– Sócio-diretor da Incospal S.A. (1963-1971).


Obras executadas sob sua direção

– Túnel em Siderópolis, Santa Catarina;
– Dois túneis, sendo o maior com 450m no ramal de Monte Alegre, Paraná;
– Túnel de Presidente Castilho com 310m, no Tronco Principal Sul, TPS.1;
– Túnel de Jaguariaiva, com 280m;
– Ponte sobre o rio Doce, com 980m, em Linhares, Espírito Santo;
– Ponte sobre o rio Pequeno, lagoa Juparanã, com 250m, Linhares, Espírito Santo;
– Três pontes municipais em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, com 150m cada uma;
– Ponte rodoviária com 110m na entrada da cidade de Guarapari, Espírito Santo;
– Ponte sobre o rio Itapemirim, Espírito Santo, com 210m;


Publicações de sua autoria

– "Os melhoramentos urgentes de Vitória" (Estudo), Conferência no Rotary Club de Vitória, 1936.
– "Dia da árvore", Conferência no Rotary Club de Vitória, 1936.
– "O Parque Nacional de Foz de Iguaçu", memória publicada na Revista Florestal, n. 1, 1943.
– "O Espírito Santo será o maior pequeno Estado do mundo", separata da Revista Rodoviária, 1954.
– "Impressão sobre arte", aula inaugural da Escola de Belas Artes, 1954.
Biografia de uma ilha. Monografia sobre a ilha de Vitória de 1535 a 1942. Rio de Janeiro: Pongetti, 1965. (2ª edição, Vitória:Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, 1995.)
– "Jerônimo de Souza Monteiro", Conferência pronunciada na Federação das Academias de Letras em 27/06/1970. Revista das Academias de Letras, n. 77.
Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
História do Palácio Anchieta. Espírito Santo, Secretaria de Estado de Educação e Cultura.
– Diversos artigos sobre a cidade de Vitória em A Gazeta.



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Consulte verbete Luiz Serafim Derenzi, em PERSONALIDADES

Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do visconde de Abrantes. Convite aos it...




Considerações sobre o Brasil Colônia. Abertura das fronteiras. Condições para emigrar. Sugestões do visconde de Abrantes. Convite aos italianos.
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O Brasil Colônia foi um Estado fechado ao estrangeiro e por justa causa: as minas de ouro. As leis proibitivas foram taxativas e severamente aplicadas, principalmente sob o reinado de D. José, submisso à vontade férrea do marquês de Pombal, seu primeiro-ministro. (1750/1772).

O crescimento demográfico se processava lentamente. Portugal não tinha, como nunca teve, excesso de população. O indígena não se pacificou na proporção devida. Combatia o branco e recuava para o sertão desconhecido. Restava o negro.

A transferência da Corte para o Rio de Janeiro, em 1808, ofereceu ao príncipe regente este quadro singular: o Brasil isolado do mundo. D. João, nosso incontestável primeiro administrador, começou abrindo os portos à navegação de todas as bandeiras, permitindo que o Brasil se povoasse.

Abolida a segregação do Brasil ao conhecimento universal, estrangeiros ilustres e cientistas vieram desvendar nossas riquezas naturais, divulgando-as amplamente. O Espírito Santo teve também a ventura de receber homens de ciência que o percorreram e o estudaram, e hoje seus trabalhos são documentos preciosos de história e de geografia. Não fossem eles, desconheceríamos a maravilhosa paisagem que representou a pinturesca faixa litorânea do Itabapoana ao Mucuri. Todo espírito-santense deveria ler as obras preciosas desses curiosos cientistas alienígenas: Viagem ao Brasil, nos anos de 1815 a 1817, de Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied, e a Segunda viagem, de Auguste de Saint-Hilaire, esta empreendida dois anos depois, como se fora intuito do francês sábio conferir o cientista e autocrata alemão.

Aldeias, vilas, aldeamentos de índios, sesmarias famosas, riqueza floral, costumes, história, tudo descrito com fidelidade impressionante.

Em 25 de novembro de 1808, D. João regulamenta a concessão de sesmarias, permitindo ao estrangeiro a posse de terras. De imediato chegam ao Rio franceses, ingleses, alemães, austríacos, com seus próprios recursos. São pequenos industriais, hoteleiros, artesãos e alguns agricultores.

John Luccock registra que, desde 1813, o número de estrangeiros entrados no Brasil é considerável. Provinham das colônias espanholas da América do Sul.[ 1 ] Alguns vieram também da América do Norte, da França, Inglaterra, Suécia e Alemanha. Não se menciona entrada de italianos. Aos agricultores o governo forneceu ferramentas e utensílios. Os estrangeiros ficaram isentos de serem recrutados para o serviço militar.

O interesse governamental de povoar o Brasil com colonos voluntários se prendia à eventual diminuição do tráfego, em virtude do convênio firmado com a Inglaterra e da resolução do Congresso de Viena em 1815, para a gradual abolição da escravatura.

Com esse espírito liberal foram se criando colônias nas províncias fluminenses e sulinas.

Para superar as dificuldades à entrada de não católicos, a Constituinte de 1823, embora adotando o catolicismo como religião oficial, consentiu a prática de outros credos contanto que não houvesse manifestação exterior. Liberou-se assim a vinda de ingleses, alemães e outros estrangeiros de confissões anglicana e luterana.

Nossa primeira imperatriz, apesar de nascida na Áustria, procurou proteger a vinda de alemães, por intermédio de seu amigo major Antônio Scheffer, e os agentes consulares brasileiros divulgaram os favores oferecidos, inclusive o engajamento para quem quisesse servir ao exército.[ 2 ]

De modo geral, o Brasil não só abriu as fronteiras como ofereceu o direito de propriedade e auxílios diversos aos estrangeiros que aqui se radicassem. Os alemães foram os primeiros a atender e vieram em sucessivos grupos e depois falanges, até o fim do século. Nos anos que se seguiram à Independência, os portugueses se tornaram suspeitos e se lhes criaram dificuldades, mormente porque só queriam se aplicar no comércio. Nada com a agricultura. O Ato Adicional de 1834 autorizou as províncias a fundarem colônias.[ 3 ]

Com a afluência crescente de imigrantes surgiram os primeiros incidentes, resultantes do recrutamento indiscriminado e precariedade das convenções sob as quais os estrangeiros vinham trabalhar as terras do Brasil. O governo incumbiu ao visconde de Abrantes, Miguel Calmon du Pin e Almeida, estudos concernentes a aplacar a incômoda situação.

O visconde foi à Europa, percorreu os Estados migratórios, principalmente a Alemanha, e se inteirou das causas primeiras, geradoras das discórdias.

Tudo residia na arbitrariedade do recrutamento e na propaganda exagerada de favores e vantagens não convencionados.

Tinha então a Alemanha a primazia (1848) no expatriamento de camponeses e sem trabalho. Sua população se elevava a 40.000.000 de habitantes. A Itália ainda não se atropelava tanto com a massa desocupada. O fenômeno italiano eclodiu depois de 1860.

Na Alemanha os principais agenciadores eram as sociedades de navegação, notadamente os capitães de navios. Arrebanhavam desocupados e vagabundos nas praças públicas, nas cadeias e até nos prostíbulos, na mais completa e perniciosa promiscuidade com os verdadeiros camponeses. Os agentes das companhias de navegação e os comandantes de navios recebiam comissão sobre o número de embarcados.

Os navios excediam a tonelagem, pondo em risco os viajantes e oferecendo péssimo passadio e pior acomodação.

O visconde apresentou relatório, traduzindo as críticas que se propalavam contrárias à imigração para o Brasil e aconselhou novas modalidades para o recrutamento.

Sugeriu em resumo: nomeação oficial de agentes idôneos em cada departamento ou cidade de origem de emigrantes e remuneração de 160 a 200 libras por embarque, dependendo do número de recrutados; promessa de obter do imperador honrarias e condecorações pela boa seleção. Ficaram reprimidas as avarezas das companhias de transporte e dos capitães de navios. Os emigrantes poderiam escolher uma das três seguintes modalidades:

1) Passagem paga, mas descontada da ajuda diária até o colono se estabelecer e colher a primeira safra.
2) Doação de terra, sementes e víveres, enquanto o colono não colhesse.
3) O colono compraria as terras a prestação e receberia ajuda a prazo fixo.

Esta modalidade foi a preferida, pois despertava o interesse do colono em cuidar e fazer suas terras produzirem tão depressa quanto possível.

Na primeira hipótese a companhia de navegação elevava o preço da passagem de modo a sugar o máximo da ajuda, deixando o colono em dificuldade para se manter.

Com a segunda, induzia muitos a venderem suas terras aos vizinhos prósperos e se alugarem como diaristas.

De qualquer modo, o homem era sempre encarado como simples utensílio de trabalho. Nenhuma garantia de assistência.[ 4 ]

Em ato de 23 de novembro de 1861, o governo imperial oferece favores à imigração para a província do Espírito Santo. Reflexo evidente da visita de D. Pedro II, em janeiro do ano anterior, às colônias espírito-santenses.

Na Itália, principalmente no norte, os favores oferecidos pelo Império tiveram ampla divulgação. A imprensa difundia a riqueza das terras e as maravilhas da região do rio Doce. Quando os agentes oficiais chegaram, já encontraram clima psicológico favorável.

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NOTAS


[ 1 ] John Luccok. Notes on Brasil, apud Hélio Viana, História do Brasil.
[ 2 ] Hélio Viana, História do Brasil. Pedro Calmon, idem, idem.
[ 3 ] Pandiá Calógeras, Formação Histórica do Brasil.
[ 4 ] Visconde de Abrantes, Imigração. B. N. Vol. 325-81.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica referências de Graça Aranha, Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigr...



O fenômeno imigratório. Tentativa de reconstrução histórica referências de Graça Aranha, Augusto Lins e Virgínia Tamanini. Por que emigram os italianos.
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A migração foi o fenômeno sócio-econômico mais importante do século passado, sob o aspecto demográfico.

Foi o imperativo racial resultante do novo mapa europeu traçado pelo Congresso de Viena, em 1815, após as guerras napoleônicas, que culminaram, em 1870, com o surgimento do império da Alemanha, da monarquia dual da Áustria-Hungria, do Reino da Itália e da independência dos Países Baixos. A integração resultante destes novos Estados gerou conflitos internos, alterações estruturais, empobrecimento público e, como conseqüência lógica, a falta de teto, o desemprego e a fome.

Os camponeses, os artífices e trabalhadores não qualificados são as primeiras vítimas em todas as transformações sociais. O fenômeno avultou em verdadeira calamidade nacional, notadamente na Alemanha e na Itália.

Para o excesso de população só há um remédio: emigrar. Sacrifício supremo: abandonar sua pátria, seus familiares, seus amigos, seus amores, suas aldeias nativas; trocar sua língua e seus hábitos ancestrais. Aventurar-se aos azares do destino, às vicissitudes surpreendentes do desconhecido.

Mas para muitos havia o desejo romântico da aventura, da conquista de fortuna fácil, do retorno jubiloso e rico a desafiar os antigos senhores, a arrogância dos príncipes latifundiários que os haviam explorado, a eles e a seus antepassados, e também os agentes do fisco, arbitrários e petulantes. Enfim, havia a grande legião dos que, já desamparados, não tinham opção: encontrar trabalho a qualquer preço para sobreviver.

Por feliz coincidência, as Américas precisavam movimentar suas riquezas latentes, manter o ritmo de crescimento, desbravar seus territórios descomunais, ganhar os mercados consumidores que se alargavam.

Desde o começo do século XIX recrutavam-se, com ágios, trabalhadores rurais e artífices qualificados para as duas Américas. A propaganda intensificou-se, nos países europeus, justamente no auge da crise da consolidação dos novos estados soberanos, isto é, depois de 1860.

Foi sob esse clima excepcional que se iniciou o êxodo em massa dos italianos para o Novo Mundo.

Para o nosso estudo, simples contribuição sentimental à memória dos primeiros destemidos aventureiros da sorte, que deixaram para sempre a histórica península itálica, abstemo-nos de invocar os tratados e protocolos que os induziram, em grande número, a eleger o Espírito Santo para pátria sua e de seus filhos.

O que se vai ler é um pequeno histórico das aventuras e dos sofrimentos, das lágrimas e grandezas, dos triunfos e dignidade da integração racial, do imigrante italiano com o generoso povo do Espírito Santo, do qual somos parte integrante por feliz determinação da vontade de Deus. Somos todos brasileiros, da pátria feliz da fartura e da liberdade.

Mas a imagem da Itália romântica, cavalheiresca, gloriosa e civilizadora não se apagou. Ela bruxuleia no nosso subconsciente. Comprazemo-nos em senti-la próspera, respeitada e engrandecida.

Não é fácil reconstruir o fenômeno imigratório no Espírito Santo, com a intensidade com que ele eclodiu. Nosso principal cronista, Basílio Daemon, presente aos trinta primeiros anos da chegada das diversas levas estrangeiras, se limita a registrar, com imprecisão, o número e a nacionalidade, o nome do barco e a região onde foram localizados os imigrantes.

A imprensa, inteiramente política, quase desconheceu o acontecimento social da maior importância, que iria modificar a estrutura básica da província.

As autoridades convencionais se limitaram ao censo demográfico. É pouco para um estudo, um levantamento retrospectivo. As fontes informativas, raras e difíceis. Nosso Instituto Histórico é jovem e, por conseguinte, carente ainda de documentos. Museus, o Estado só veio a constituí-los ontem, em relação ao acontecimento centenário. Começam apenas a nascer as sociedades de cunho memorativo e de congregação racial.

Todo desbravamento ou pioneirismo cria heróis, vive dramas, gera legendas.

Recordar esses heróis, reviver esses dramas e preservar essas legendas é engrandecer, para a posteridade, o patrimônio cultural do povo.

A história se constrói com a seqüência dos acontecimentos no espaço e no tempo. Ela concatena a transmutação da raça.

O estudo das ciências sociais, não obstante o devotamento do professor Renato Pacheco em difundi-las em nosso Estado, com ensaios significativos, só foi aí introduzido há poucos anos, nos cursos superiores. A semente está lançada e germina, porém, as safras minguadas ainda para que se exponham à degustação pública.

O fenômeno da imigração italiana, que afetou, marcadamente, o panorama sócio-econômico da nossa província, no último quarto do século passado, está formulado. Ninguém até o presente se atreveu a pesquisá-lo em profundidade. É tarefa que os professores de sociologia e seus discípulos devem enfrentar. O assunto é sedutor. Há testemunhas ainda vivas e muito material a ser coletado. Compete a esta geração reverenciar aqueles heróicos aventureiros, que se despediram para sempre de seus maiores, suas aldeias e sua pátria, em busca de felicidade, enfrentando a imponderabilidade do destino.

Comemorar-se-á o centenário da vinda das primeiras caravanas recrutadas, nos altiplanos da Itália milenar, por Pietro Tabacchi, em convênio com o Ministério da Agricultura, de 31 de maio de 1872. É dever de gratidão e júbilo, não só dos ítalos-brasileiros como do próprio governo do Estado, promover estudos e festejos que relembrem acontecimento de tanta importância.

Imigrantes foram meus pais. Guardo nos escaninhos da memória os transes angustiantes, entremeados de lágrimas e desânimos, até que raiasse a primavera alegre da esperança.

Quero hipotecar minha solidariedade póstuma, meu reconhecimento, a toda aquela falange pobre de dinheiro, mas rica de idealismo e amor à família. Não herdei documentos, mas ouvi, desde a minha infância, distante de setenta anos, a litania pungente dos mistérios dolorosos, recitados com emoção resignada, dos que tiveram coragem, perseverança e fé.

Em homenagem a todos os italianos que, com suor e lágrimas, fertilizaram o solo do Espírito Santo, para que seus filhos sorrissem, cantassem e vivessem melhores dias, escrevo estas páginas.

Graça Aranha, no imortal Canaã, escreveu a partitura sinfônica do melodrama da imigração no Espírito Santo. A grandeza telúrica do cenário, o capricho surpreendente da orografia desordenada, as montanhas ora desnudas, ora encobertas por soberba floresta tropical, as águas cantantes e despedaçadas por tombos contorcidos, os vales divagentes e iluminados furtivamente por raios de sol, são o leit-motiv da obra, de tecedura fortemente colorida de panteísmo. O colono desbravador é apenas um comparsa, uma pausa na viagem deslumbrante de Milkau e Lentz.

Milkau, personagem central, filosófico e doutrinário de Graça Aranha, discorre e concatena a cultura haurida em Recife. Lentz o contradita para despertar-lhe novos temas. E o diálogo descamba para a análise global da civilização que deve surgir. É o profético anúncio da terra da promissão.

Augusto Emílio Estelita Lins, o poeta, jurista e psicólogo erudito, com sua obra crítica e interpretativa — Graça Aranha e o Canaã —, prestou incalculável serviço, não só às letras brasileiras, como para a anatomia topológica da imigração teuto-italiana em nosso Estado. Identificou e ouviu muitos daqueles tantos pequenos e humildes personagens que Graça encontrou em sua viagem deslumbrante. É um subsídio inestimável.

Virgínia Tamanini romanceia melhor o imigrante. Viaja com ele e com ele desbrava a mata. Luta e sofre e chora os mortos. Persevera e canta os dias alegres de bonança. Karina simboliza uma das tantas famílias que seguiram o curso diário daquela vida, com as nuances inesperadas dos acontecimentos. Encarna o realismo do matriarcado da mulher italiana, enérgica, resoluta e amorosa.

Este ensaio, já disse, é o meu depoimento, a seqüência das imagens que se formaram, na minha pré-adolescência, geradas pelos colóquios e diálogos do pequeno mundo em que evoluí. A colaboração de amigos, a pesquisa nos arquivos e publicações de estudiosos da formação de seus municípios, respondem por esta monografia.

* * *

Por que emigraram os italianos? Porque a fecundidade da raça foi superior à produtividade e superfície do seu território. A mecanização da indústria, com o aperfeiçoamento da máquina a vapor, criou o trabalho mecânico em série, substituindo a mão-de-obra. Veio a riqueza como fruto do carvão e do aço. Os Estados desprovidos desses recursos naturais viram-se assoberbados com a perda dos mercados de manufaturados. A Itália tinha toda sua economia fundada no artesanato de classe, na produção das obras de arte, na agricultura e no turista que se ia instruir em seus museus e monumentos e gozar das belezas incomparáveis de seus recantos privilegiados.

Os países que, por circunstâncias históricas ou previdências econômicas, haviam criado seus impérios coloniais, não sofreram o impacto do desemprego nem a crise da superpopulação. As colônias eram fontes de matérias-primas, de produção de gêneros de substância e de espaço vital, não só para o excesso humano como para o emprego de capital ávido de rendimento. E surgiram os impérios coloniais e capitalistas da Inglaterra, da França, da Holanda e da Alemanha. Espanha e Portugal viveram e vivem as glórias conquistadas pelas descobertas do século XVI. As grandes crises sofridas pelos portugueses e espanhóis se originaram do luxo de suas cortes e desgoverno de suas monarquias descalibradas.

Todos esses Estados detentores de imensas colônias não tiveram preocupações maiores com o fenômeno demográfico. Ao contrário, ofereciam favores e facilidades a quem lhes fosse trabalhar as terras distantes.

Diversamente se passou com a Itália.

Desprovida das matérias-primas fundamentais para ingressar na concorrência do mundo industrial, revolucionado pela máquina, a mão-de-obra se aviltou para compensar o preço do carvão e do ferro que lhe era imposto pelos países que os possuíam.

As sedas de Milão, os veludos de Turim e Veneza, os linhos da Toscana, as obras de arte de Florença e Roma, os vinhos e as olivas das encostas férteis dos Alpes e dos Apeninos, o artesanato caprichoso dos paizettos, os espetáculos de seus teatros famosos, suas paisagens encantadoras, os lagos sonhadores, seus monumentos seculares, suas catedrais, basílicas, e santuários milagrosos, o Vaticano monumental, já não bastavam para alimentar a receita do tesouro pátrio. Unificada, constituída em Estado soberano, renascendo de suas próprias cinzas, curando as feridas que a invalidaram de sua grandeza criadora, para orgulho consolador da civilização cristã de que fora mater et magister, exigiu a Itália, de seus filhos, o sacrifício supremo da expatriação: que em outros continentes se associassem com outros povos, e esculpissem a imagem de seu gênio criador.

E os italianos emigrados lhe curaram a anemia, fortificaram-na e lhe restituíram a velha grandeza. Foram as remessas constantes, os jorros contínuos dos filhos a l'estero que lhe criaram a marinha mercante e lhe enriqueceram os bancos famosos, restauraram igrejas, construíram hospitais, dignificaram os anciãos, confortaram famílias, ampliaram e consolidaram patrimônios arruinados. Foi o ouro juntado com sangue e lágrimas, conquistado em terras adotivas, que permitiu que a Itália construísse sua rede ferroviária, perfurasse seus túneis infindáveis e saneasse suas lagunas e cidades adoecidas pela contagem dos anos.

A emigração, para a Itália, é razão de Estado. Ela precisa do jorro permanente do ouro que lhe fortifica a economia pública, suas finanças difíceis, manipuladas por seus homens de governo.

Foram os vinte e quatro milhões de expatriados para o Novo Mundo que, de 1870 aos nossos dias, permitiram a prosperidade interna da Itália, as comemorações festivas e exuberantes do seu cinquentenário de país independente, como bem acentua Constantino Ianni. A emigração tornou-se "a válvula de segurança" da economia, como se vulgarizou dizer entre os economistas conservadores. O fenômeno emigratório para a Itália é o responsável pelas relações internacionais de amizade e simpatia de que goza a península entre todas as nações civilizadas. O italiano, pelo seu temperamento ordeiro, trabalhador, apegado à família, sabe se adaptar, em uma miscigenização sem preconceitos raciais, nacionalizando-se sem esquecer sua origem. Compenetra-se de sua missão econômica: a grandeza da raça é inversamente proporcional à pujança do solo e ao seu complexo geográfico.

Mas não vamos sangrar a ferida de nossos antepassados, aberta em holocausto à civilização que derramou, no privilégio insuperável de guardiã das ciências, das artes, da religião de Cristo Senhor Nosso. Guardemos sua imagem, projetando-a, bela, perfumada e enriquecida pelo sacrifício e martírio de nossos pais. E orgulhemo-nos da grandeza do Brasil que estamos erigindo como pátria da felicidade reconquistada.

[In DERENZI, Luiz Serafim. Os italianos no Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974. Reprodução autorizada pela família Avancini Derenzi.]

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Luiz Serafim Derenzi nasceu em Vitória a 20/3/1898 e faleceu no Rio a 29/4/1977. Formado em Engenharia Civil, participou de muitos projetos importantes nessa área em nosso Estado e fora dele. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)