Entrevistado: Pedro Maia Entrevistador: Vanessa Brasiliense Vila Velha, 8/10/2011. Nome completo: Pedro da Silva Maia, mas eu sempre f...

Entrevistado: Pedro Maia


Entrevistado: Pedro Maia
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vila Velha, 8/10/2011.


Nome completo: Pedro da Silva Maia, mas eu sempre fui conhecido como Pedro Maia, que é meu nome de guerra no jornal há 50 anos. Sempre assinando as matérias como Pedro Maia.
Profissão: Jornalista
Data e local de nascimento: 10 de agosto de 1940, Campos, Estado do Rio.


VB: Sr. Pedro Maia como foi que Sr. conheceu Olympio Brasiliense ?

PM: O Dr. Olympio era um cidadão bem conhecido na cidade em função das atividades dele na Prefeitura.

De dia ele não dava conversa para qualquer um, mas ele gostava de freqüentar os bares de noite, e eu como jornalista saía da redação do jornal geralmente às 10:00h, 11:00 horas, que era a horário que o jornal fechava, e ia para os bares também e começávamos a conversar e tabulava papo e essa coisa toda. E o Dr. Olympio quanto mais ele tomava uma cervejinha mais extrovertido ele ficava, e ele gostava de extrapolar aquela revolta dele de estar vendo a cidade de Vitória sendo mal gerenciada, sendo mal orientada. Isto foi em 58 foi quando eu o conheci até os anos 60 e poucos por ai. E ele sempre extrapolava essa revolta dele: isso não pode ser assim; eu já falei, eu fiz..., e nessas ocasiões ele traçava nas mesas e guardanapos as idéias que ele tinha, e que não havia sido feito, e que tinha dado errado. E a prova está ai. Vitória é uma cidade estrangulada, praticamente estrangulada, uma cidade que quando chove, desce as águas do morro e se a maré estiver cheia todo capixaba sabe como é, e também o trânsito que um negócio de doido naquele centro de Vitória, se bem que desde de 1940, nos anos 40, o Dr. Olympio já falava em deixar o centro da cidade para pedestres e estacionamento de carros grandes onde hoje em Jucutuquara, por ali no Forte de São João, no Saldanha da Gama, e outro na Vila Rubim, daqui a 30 anos ninguém passa no centro da cidade. E está ai realmente o que ele conversava com a gente nos aos 60, anos 50. Então era um cidadão, que profissionalmente ele tinha uma visão notável. Outro exemplo, e que qualquer pessoa pode notar pode olhar lá e vê que é fato, ele traçou ele fez um traçado de uma rua que começaria onde começa a Rua do Rosário, atravessaria a Graciano Neves, atravessaria a Rua Sete de Setembro, e se transformaria na Rua Gama Rosa, o mesmo traçado que esta lá até hoje, e sairia no Parque Moscoso, quer dizer seria uma paralela a antiga Av. Capixaba, Av. Jerônimo Monteiro que, assim desafogava o trânsito porque teria dois caminhos,e fizeram a metade.

Mas as duas casas que interrompiam, como era o caso de pessoas influentes na época, os chamados turcos, sírios e libaneses que são donos até hoje, eles não conseguiram. A Prefeitura não conseguiu desapropriar as casas, e as casas ficaram lá, e Vitória ficou essa zorra que está aí. Agora, quem olhar de um lá em cima, de prédio mais alto e tirar uma vista, vai notar a Rua do Rosário começa certinha com a Rua Gama Rosa, e vai sair lá no Parque Moscoso. Seria um caminho opcional, isso foi nos anos 50... e diversos outros exemplos.

VB: Qual o relacionamento estabelecido entre o Sr. e Olympio Brasiliense?

PM: É como eu falei agora a pouco. O meu relacionamento com o Dr. Olympio sempre foi muito respeitoso, ele sempre foi um cidadão que se trajava de terno completo a hora que fosse, estava sempre de terno e gravata. Agora de dia, ele passava pela gente, e logicamente o homem era um alto funcionário da Prefeitura e a gente era um reportezinho, um foca, né. Sim senhor, doutor... Tudo bem? Oi! Oi! Isso até de noite, quando a gente se encontrava nos bares, e onde ele deixava de ser a figura que ele era para ser ele mesmo, e ai ele gostava de conversar, gostava de falar de Vitória, e eu sempre gostei sobre Vitória principalmente de autoridades, de erros de autoridades e na ocasião que ele se extrapolava e esculhambava, desde Punaro Bley.... Ele sempre se mostrou um incompreendido, que as idéias dele eram usadas, mas mão eram feitas como ele queria, que fosse feito, e ele se revoltava contra isso, e aí nós ficávamos até 3, 4 horas da manhã nos botecos, até um amigo dele levar ele até em casa. Ele tinha diversos amigos ele morava ali no centro, e aí doutor? vamos! doutor, vamos embora e Carregava ele pra casa.

VB: Sobre a cronologia da vida dele, a vinda para Vitória, os trabalhos, os contatos, amigos, o senhor sabe alguma coisa?

PM: Não, não sei, ele devia falar, mas o que nós estamos conversando aqui aconteceu já há 40 anos mais ou menos. Nos anos 60, 70, 40 anos mais ou menos.

VB: O trabalho que ele desenvolveu no Espírito Santo o senhor tem lembranças?

PM: Eu tenho lembranças desse tipo de coisa, por exemplo: aquele entorno do Parque Moscoso, ele também teve uma participação grande, mas também não fizeram como ele queria que fosse feito. O Parque Moscoso ali foi criado, as casas que existiam onde hoje é a Rua Misael Pena do lado do Colégio Americano hoje, eram casas populares, as casas foram feitas para o povo. Então quando fizeram o Parque Moscoso, ele achou que o Parque Moscoso também era para o povo, mas ele não aceitava que esse tipo de residência, esse tipo de grupo habitacional ficasse do lado do quartel, que ali era o quartel central da Polícia Militar, e ele se revoltava, não se revoltava, ele protestava contra isso. Dizia que isso tinha que ser feito em outro lugar, num local onde fossem acontecer indústrias, onde já tivesse um pólo comercial, e não do lado de um quartel. De repente havia uma revolução, porque revolução naquela época era todo mês, os aviões iam detonar o quartel pegava o pessoal todo. Nessa época o criticaram pra chuchu. E realmente não era uma situação agradável de quem morava ali. Eu me lembro que em 1945, quando acabou a guerra os aviões vieram fazer uma espécie de uma festa, e foi uma correria tremenda porque achavam que iam bombardear o quartel, teve gente que até largou casa, chorou... Isso foi noticiado, mas aconteceu mesmo, havia uma possibilidade de terror, e outra coisa que ele também protestou muito, e não foi só isso tem outros casos, foi a demolição daquele prédio do quartel. Ele achava, e eu também passei achar e qualquer cidadão que tem um pingo de respeito à memória do lugar que ele vive, tem que pensar assim. Aquilo ali de qualquer maneira era um monumento, era um monumento do Espírito Santo, um quartel de uma época de revoluções, enfim e era um prédio bonito. Não havia razão de desmanchar aquele prédio. Que fizesse o SESC tudo bem, mas que deixasse lá para as pessoas terem conhecimento. Ele tinha esse respeito pela memória, e ele se batia a respeito disso. Inclusive ele me contou uma vez uma história que o Pe. Diogo Feijó, ele foi, não é exilado, ele foi banido aqui para Vitória, Regência Trina, Regência Una, isso antes de Pedro I voltar para Portugal, e ele foi banido para cá, e a Rua Duque de Caxias era a única rua que havia, o mar vinha até... Então ali naquela Rua Duque de Caxias existiam tinham prédios seculares, prédios com arquitetura portuguesa colonial e estavam desmanchando os prédios e ai ele conta inclusive que o último ato que Pedro I assinou aqui foi o seguinte: é que o Diogo Feijó reclamava o mau cheiro do lugar, ainda mais que naquela época não tinha esgoto, era feito o despejo naqueles barris e ai a coisa ficava muito pior, e o último ato de Pedro I assinou antes de ir embora para Portugal foi mandando o Diogo Feijó para fazenda dos Monjardim em Jucutuquara, já era fazenda do Barão de Monjardim, e foi a salvação de Diogo Feijó.

Eu tive uma amiga que trabalhou lá muito tempo, a Carmélia de Souza, ela trabalhava na UFES e ela ficou lá uns dois ou três anos. Então ela me contava: Pedro, o padre aparece lá, toda a noite o padre ele aparece lá. Ah! Carmélia, você enche os... Mas ela jurava que via o Diogo Feijó lá. Então essa história, foi uma história que eu tive conhecimento, fiquei sabendo por intermédio dele, ele era um cara que se interessava, o Dr. Olympio se interessava muito não só pelo futuro de Vitória, mas também pelo passado, pela memória do lugar, e ele não era daqui, ele era mineiro, mas e ele costumava dizer capixaba ...

VB: Sobre as casas populares: as casas de Jucutuquara também foram projetadas por ele?

PM: Pois é, dele também, e essa foi a bronca dele porque lá em Jucutuquara havia uma razão de ser porque existe lá uma fabrica de tecidos de juta. Então lá essas casas populares... o que se gastou nessas casas do lado do quartel tinha que ser gasto também lá, poderia se tornar um pólo industrial e não no centro de cidade, ao lado de uma Igreja Batista, ao lado de um quartel.

VB: Como o senhor definiria em poucas palavras Olympio Brasiliense?

PM: Um idealista que como todos idealistas viveram numa hora errada pra ele, porque ele tinha visão de como seriam as coisas, e os burros ou os sábios não tem, eles vivem das idéias dos idealistas, depois que é feito eles se aproveitam e um homem de visão em termos de urbanismo, sabia como as pessoas se movimentam, como vai facilitar as pessoas se movimentar e, o tráfego de veículo, e mesmo como o direito de ir e vir do cidadão.



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