Projeto do engenheiro Olympio Brasiliense. APRESENTAÇÃO O objeto desse estudo compreende o acervo de projetos arquitetônicos de au...
Olympio Brasiliense: 50 anos de arquitetura em Vitória
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Projeto do engenheiro Olympio Brasiliense. |
APRESENTAÇÃO
O objeto desse estudo compreende o acervo de projetos arquitetônicos de autoria de Olympio Brasiliense, produzidos a partir de 1925, quando de sua vinda para Vitória, sendo nossa proposta a realização de inventário, pesquisa de campo preliminar no Município de Vitória, ES, e pesquisa em instituições públicas para complementação de informações. Com a morte do autor, o acervo ficou sob a guarda da viúva e filha do engenheiro, que ainda o conservam, e em comum acordo com a família, desenvolveu-se esse projeto para sua divulgação e organização. A pesquisa de campo nos permitiu identificar e documentar fotograficamente a situação atual de parte significativa dos imóveis projetados, assim como confirmar localização. A pesquisa institucional envolveu o Arquivo Público do Espírito Santo, o Arquivo Geral da Prefeitura Municipal de Vitória e Secretaria Municipal de Obras. Outro recurso empregado foi a realização de entrevistas para obter-se novas pistas e informações pessoais e profissionais Finalmente, para enriquecer o Projeto apresentamos alguns documentos relacionados à vida pessoal do engenheiro, assim como algumas entrevistas e artigos. Agradecimentos especiais ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, ao Arquivo Municipal de Vitória, a Ana Marta Renno, a Regina Piccin Lessa, a Ruth Alves da Silva, a Isabel Costa Moraes, a Ivan Espíndula, Aristides Navarro, a Abílio Neves e a Romeu Vieira de Menezes.
FICHA TÉCNICA DO PROJETO
Coordenação, organização e preparação de páginas para internet
Maria Clara Medeiros Santos Neves (Museóloga)
Pesquisa, fotografia e inventário
Vanessa Brasiliense (Historiadora)SUMÁRIO
Olympio Brasiliense: Biografia
Documentos pessoais e profissionais
Relatório do Projeto
Inventário do acervo:
Plantas de situação - ID 001-073
Documentos profissionais - ID 074-178
Documentos Pessoais - ID 179-230
Projetos arquitetônicos - ID 231-552
Mapeamento e registros fotográficos de projetos
Amostra do acervo de projetos pertencente à família
Amostra de acervos institucionais
Artigos
Entrevistas realizadas por Vanessa Brasiliense em 2011 e 2012:
Aldezir Bachour
Darcília Moysés
Fernando Achiamé
Gelson Loiola
Ivan Espíndula Coutinho
Pedro Maia
Rosalina S. Brasiliense
Zilma Rios
Roteiro cartográfico de lembranças peregrinas - Texto de Luiz Guilherme Santos Neves
A Gazeta, Caderno Pensar, 06/04/2013
Veja também Digitalização do Acervo de Olympio Brasiliense
[Publicado originalmente no site Estação Capixaba em fevereiro de 2013]
Entrevistado: Pedro Maia Entrevistador: Vanessa Brasiliense Vila Velha, 8/10/2011. Nome completo: Pedro da Silva Maia, mas eu sempre f...
Entrevistado: Pedro Maia
Entrevistado: Pedro Maia
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vila Velha, 8/10/2011.
Nome completo: Pedro da Silva Maia, mas eu sempre fui conhecido como Pedro Maia, que é meu nome de guerra no jornal há 50 anos. Sempre assinando as matérias como Pedro Maia.
Profissão: Jornalista
Data e local de nascimento: 10 de agosto de 1940, Campos, Estado do Rio.
VB: Sr. Pedro Maia como foi que Sr. conheceu Olympio Brasiliense ?
PM: O Dr. Olympio era um cidadão bem conhecido na cidade em função das atividades dele na Prefeitura.
De dia ele não dava conversa para qualquer um, mas ele gostava de freqüentar os bares de noite, e eu como jornalista saía da redação do jornal geralmente às 10:00h, 11:00 horas, que era a horário que o jornal fechava, e ia para os bares também e começávamos a conversar e tabulava papo e essa coisa toda. E o Dr. Olympio quanto mais ele tomava uma cervejinha mais extrovertido ele ficava, e ele gostava de extrapolar aquela revolta dele de estar vendo a cidade de Vitória sendo mal gerenciada, sendo mal orientada. Isto foi em 58 foi quando eu o conheci até os anos 60 e poucos por ai. E ele sempre extrapolava essa revolta dele: isso não pode ser assim; eu já falei, eu fiz..., e nessas ocasiões ele traçava nas mesas e guardanapos as idéias que ele tinha, e que não havia sido feito, e que tinha dado errado. E a prova está ai. Vitória é uma cidade estrangulada, praticamente estrangulada, uma cidade que quando chove, desce as águas do morro e se a maré estiver cheia todo capixaba sabe como é, e também o trânsito que um negócio de doido naquele centro de Vitória, se bem que desde de 1940, nos anos 40, o Dr. Olympio já falava em deixar o centro da cidade para pedestres e estacionamento de carros grandes onde hoje em Jucutuquara, por ali no Forte de São João, no Saldanha da Gama, e outro na Vila Rubim, daqui a 30 anos ninguém passa no centro da cidade. E está ai realmente o que ele conversava com a gente nos aos 60, anos 50. Então era um cidadão, que profissionalmente ele tinha uma visão notável. Outro exemplo, e que qualquer pessoa pode notar pode olhar lá e vê que é fato, ele traçou ele fez um traçado de uma rua que começaria onde começa a Rua do Rosário, atravessaria a Graciano Neves, atravessaria a Rua Sete de Setembro, e se transformaria na Rua Gama Rosa, o mesmo traçado que esta lá até hoje, e sairia no Parque Moscoso, quer dizer seria uma paralela a antiga Av. Capixaba, Av. Jerônimo Monteiro que, assim desafogava o trânsito porque teria dois caminhos,e fizeram a metade.
Mas as duas casas que interrompiam, como era o caso de pessoas influentes na época, os chamados turcos, sírios e libaneses que são donos até hoje, eles não conseguiram. A Prefeitura não conseguiu desapropriar as casas, e as casas ficaram lá, e Vitória ficou essa zorra que está aí. Agora, quem olhar de um lá em cima, de prédio mais alto e tirar uma vista, vai notar a Rua do Rosário começa certinha com a Rua Gama Rosa, e vai sair lá no Parque Moscoso. Seria um caminho opcional, isso foi nos anos 50... e diversos outros exemplos.
VB: Qual o relacionamento estabelecido entre o Sr. e Olympio Brasiliense?
PM: É como eu falei agora a pouco. O meu relacionamento com o Dr. Olympio sempre foi muito respeitoso, ele sempre foi um cidadão que se trajava de terno completo a hora que fosse, estava sempre de terno e gravata. Agora de dia, ele passava pela gente, e logicamente o homem era um alto funcionário da Prefeitura e a gente era um reportezinho, um foca, né. Sim senhor, doutor... Tudo bem? Oi! Oi! Isso até de noite, quando a gente se encontrava nos bares, e onde ele deixava de ser a figura que ele era para ser ele mesmo, e ai ele gostava de conversar, gostava de falar de Vitória, e eu sempre gostei sobre Vitória principalmente de autoridades, de erros de autoridades e na ocasião que ele se extrapolava e esculhambava, desde Punaro Bley.... Ele sempre se mostrou um incompreendido, que as idéias dele eram usadas, mas mão eram feitas como ele queria, que fosse feito, e ele se revoltava contra isso, e aí nós ficávamos até 3, 4 horas da manhã nos botecos, até um amigo dele levar ele até em casa. Ele tinha diversos amigos ele morava ali no centro, e aí doutor? vamos! doutor, vamos embora e Carregava ele pra casa.
VB: Sobre a cronologia da vida dele, a vinda para Vitória, os trabalhos, os contatos, amigos, o senhor sabe alguma coisa?
PM: Não, não sei, ele devia falar, mas o que nós estamos conversando aqui aconteceu já há 40 anos mais ou menos. Nos anos 60, 70, 40 anos mais ou menos.
VB: O trabalho que ele desenvolveu no Espírito Santo o senhor tem lembranças?
PM: Eu tenho lembranças desse tipo de coisa, por exemplo: aquele entorno do Parque Moscoso, ele também teve uma participação grande, mas também não fizeram como ele queria que fosse feito. O Parque Moscoso ali foi criado, as casas que existiam onde hoje é a Rua Misael Pena do lado do Colégio Americano hoje, eram casas populares, as casas foram feitas para o povo. Então quando fizeram o Parque Moscoso, ele achou que o Parque Moscoso também era para o povo, mas ele não aceitava que esse tipo de residência, esse tipo de grupo habitacional ficasse do lado do quartel, que ali era o quartel central da Polícia Militar, e ele se revoltava, não se revoltava, ele protestava contra isso. Dizia que isso tinha que ser feito em outro lugar, num local onde fossem acontecer indústrias, onde já tivesse um pólo comercial, e não do lado de um quartel. De repente havia uma revolução, porque revolução naquela época era todo mês, os aviões iam detonar o quartel pegava o pessoal todo. Nessa época o criticaram pra chuchu. E realmente não era uma situação agradável de quem morava ali. Eu me lembro que em 1945, quando acabou a guerra os aviões vieram fazer uma espécie de uma festa, e foi uma correria tremenda porque achavam que iam bombardear o quartel, teve gente que até largou casa, chorou... Isso foi noticiado, mas aconteceu mesmo, havia uma possibilidade de terror, e outra coisa que ele também protestou muito, e não foi só isso tem outros casos, foi a demolição daquele prédio do quartel. Ele achava, e eu também passei achar e qualquer cidadão que tem um pingo de respeito à memória do lugar que ele vive, tem que pensar assim. Aquilo ali de qualquer maneira era um monumento, era um monumento do Espírito Santo, um quartel de uma época de revoluções, enfim e era um prédio bonito. Não havia razão de desmanchar aquele prédio. Que fizesse o SESC tudo bem, mas que deixasse lá para as pessoas terem conhecimento. Ele tinha esse respeito pela memória, e ele se batia a respeito disso. Inclusive ele me contou uma vez uma história que o Pe. Diogo Feijó, ele foi, não é exilado, ele foi banido aqui para Vitória, Regência Trina, Regência Una, isso antes de Pedro I voltar para Portugal, e ele foi banido para cá, e a Rua Duque de Caxias era a única rua que havia, o mar vinha até... Então ali naquela Rua Duque de Caxias existiam tinham prédios seculares, prédios com arquitetura portuguesa colonial e estavam desmanchando os prédios e ai ele conta inclusive que o último ato que Pedro I assinou aqui foi o seguinte: é que o Diogo Feijó reclamava o mau cheiro do lugar, ainda mais que naquela época não tinha esgoto, era feito o despejo naqueles barris e ai a coisa ficava muito pior, e o último ato de Pedro I assinou antes de ir embora para Portugal foi mandando o Diogo Feijó para fazenda dos Monjardim em Jucutuquara, já era fazenda do Barão de Monjardim, e foi a salvação de Diogo Feijó.
Eu tive uma amiga que trabalhou lá muito tempo, a Carmélia de Souza, ela trabalhava na UFES e ela ficou lá uns dois ou três anos. Então ela me contava: Pedro, o padre aparece lá, toda a noite o padre ele aparece lá. Ah! Carmélia, você enche os... Mas ela jurava que via o Diogo Feijó lá. Então essa história, foi uma história que eu tive conhecimento, fiquei sabendo por intermédio dele, ele era um cara que se interessava, o Dr. Olympio se interessava muito não só pelo futuro de Vitória, mas também pelo passado, pela memória do lugar, e ele não era daqui, ele era mineiro, mas e ele costumava dizer capixaba ...
VB: Sobre as casas populares: as casas de Jucutuquara também foram projetadas por ele?
PM: Pois é, dele também, e essa foi a bronca dele porque lá em Jucutuquara havia uma razão de ser porque existe lá uma fabrica de tecidos de juta. Então lá essas casas populares... o que se gastou nessas casas do lado do quartel tinha que ser gasto também lá, poderia se tornar um pólo industrial e não no centro de cidade, ao lado de uma Igreja Batista, ao lado de um quartel.
VB: Como o senhor definiria em poucas palavras Olympio Brasiliense?
PM: Um idealista que como todos idealistas viveram numa hora errada pra ele, porque ele tinha visão de como seriam as coisas, e os burros ou os sábios não tem, eles vivem das idéias dos idealistas, depois que é feito eles se aproveitam e um homem de visão em termos de urbanismo, sabia como as pessoas se movimentam, como vai facilitar as pessoas se movimentar e, o tráfego de veículo, e mesmo como o direito de ir e vir do cidadão.
Entrevistado: Ivan Espíndula Coutinho Entrevistador: Vanessa Brasiliense Vitória, 16/ 10/ 2011 Filho de Aquiles Ivan Coutinho e Maria C...
Entrevistado: Ivan Espíndula Coutinho
Entrevistado: Ivan Espíndula Coutinho
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 16/ 10/ 2011
Filho de Aquiles Ivan Coutinho e Maria Carmem Espíndula Coutinho, nascido em Vitória, a 11 de 01 de 1938.
Profissão: Marítimo (aposentado)
VB: Sr. Ivan, ontem tive a oportunidade de conhecê-lo e o senhor não só me ajudou a reconhecer algumas residências do projeto de Olympio Brasiliense, como também localizá-las. Conversando com o senhor, pude constatar que se tratava da Chácara Serrat, e o senhor me disse ser neto do Serrat e Trinxet. Quem eram essas pessoas?
IEC: Maria Eulália Serrat e José Ribeiro Espíndula.
VB: Serrat da parte de sua avó?
IEC: Sim, avós maternas, de origem espanhola que vieram da Catalunha. Minha avó casou-se em Vitória, com José Ribeiro Espíndula.
VB: E seu avô? Era também espanhol?
IEC: Não, meu avô era brasileiro.
VB: Quando eles vieram, de onde? O senhor sabe?
IEC: Creio que chegaram aqui antes da 2ª Guerra. Eu os conheci, meus avós tanto de pai como de mãe. Por volta de 1955, quando eu contava meus 17 para 18 anos. Nessa época eles faleceram.
VB: Quem veio da Espanha?
IEC: Minha bisavó, D. Maria Eulália Trinxet, viúva. Acho que era casada com Emílio Trinxete, e minha avó, que também se chamava Maria Eulália Serrat Trinxet.
VB: Que atividade eles tinham na Espanha antes de se mudarem para o Brasil?
IEC: Eles possuíam uma fábrica de cristais, acho que na Catalunha.
VB: Sabe por que eles vieram?
IEC: Não sei muito bem, mas desconfio que vieram por causa da revolução que houve na Espanha, com Franco.
VB: Por que escolheram Vitória?
IEC: Acredito que foi por causa dos parentes que aqui moravam. Havia muitos espanhóis morando aqui. Parra, Trinxet, Navarro, Feu Rosa parece que eram de origem espanhola, não sei não. Os Feu Rosa eram muitos amigos dos meus avós.
VB: Onde essas famílias de descendentes espanhóis se localizaram em Vitória?
IEC: Serrat e Trinchet, no centro de Vitória.
VB: O senhor sabe que tipo de atividade desenvolveram aqui?
IEC: Meu avô, eu não sei. Meu tio Altamiro Serrat Espíndula, porém, tinha uma fábrica de velas em casa e consertava guarda chuva.
VB: Como seus avós adquiriram a chácara?
IEC: Acho eu eles tinham muito dinheiro quando chegaram aqui, porque montaram uma fábrica de cerveja, onde hoje é a Santa Casa de Misericórdia. Outro dia eu entrei na Da Casa com minha esposa, e eu vi o quadro dessa fábrica, acho que ali na Praça Costa Pereira.
VB: Sobre a chácara, o senhor sabe da delimitação da chácara?
IEC: Acho que esta quadra, que vai até a Rua Padre Nóbrega e a Escadaria Serrat. Essa chácara pertencia a eles. Abrangia a Rua Coronel Monjardim, Escadaria Piedade, Rua Pe. Nóbrega, Rua Aristides Navarro e Rua Uruguai.
VB: Como era a chácara?
IEC: Quando a conheci, já estava loteada. Alguns terrenos foram doados; outros, vendidos.
VB: Doaram para particulares ou para o Estado?
IEC: Não sei.
VB: Essa residência foi de seus avós?
IEC: Não, aqui foi dos meus pais. Esta residência foi meu pai quem a construiu, sempre morei aqui.
VB: Onde sua bisavó e avó moraram aqui em Vitória?
IEC: Aqui na ladeira Serrat. Onde hoje é o edifício Espíndula, nº 22, era um casarão. Eu lembro que tinha uma empregada, Virgínia Concarre, que veio da Itália e trabalhou desde os 17 anos, ficando nesse casarão até sua morte, com 96 anos. Mesmo depois do falecimento de todos, ela ficou morando no casarão.
VB: O senhor recorda de nomes de pessoas antigas que moraram na antiga Chácara Trinxet?
IEC: Temístocles, Amilcar, Messina; Jorge Boueri construiu esse edifício aí; José Serrat Espíndula, Roberto Serrat Espíndula e toda a família. Romualdo Gianordoli, falecido, que é casado com minha prima Maria Ângela Espíndula, que mora naquela casa lá.
VB: Como conheceu Olympio Brasiliense.
IEC: Eu o conheci no bar da D. Noêmia. Fernando Adinet que morou aqui, falava muito nele, inclusive ele tinha um apelido: Espanta Leão.
VB: Quem era Fernando Adinet? Onde trabalhava? Como conhecia Olympio Brasiliense?
IEC: Ele trabalhava no armazém de café da Cesmag, e faleceu com 62 ou 63 anos, não sei como conheceu Olympio Brasiliense. Lembro-me de que falava muito nele.
VB: Quais pessoas o senhor conheceu ou conhece que também conheciam Olympio Brasiliense?
IEC: Aldo Barrilário era um italiano, campeão sul americano de natação pelo Flamengo e Vicente Balbi, dono da mercearia Fluminense na Praça Costa Pereira.
VB: O Senhor conheceu ou sabe de algum projeto de Olympio Brasiliense?
IEC: Não, só o conhecia de nome e de vista no bar da D. Noêmia, bar Piraquê, que ficava ali na Ladeira São Bento e Rua Graciano Neves.
VB: O senhor mencionou um certo diário de sua bisavó, onde ele estaria?
IEC: Esse diário foi escrito em catalão por minha bisavó, onde conta a história desde que partiu da Espanha para cá. Ele foi traduzido para o espanhol e português. O original eu emprestei para meu irmão mais velho, que faleceu e a viúva não sabe onde está, mas um primo tem uma cópia.
Entrevistado: Gelson Loiola Entrevistador: Vanessa Brasiliense Data da entrevista: 27 de outubro de 2011. Profissão: Policial Militar d...
Entrevistado: Gelson Loiola
Entrevistado: Gelson Loiola
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Data da entrevista: 27 de outubro de 2011.
Profissão: Policial Militar da reserva PMES, professor, escritor.
Data e local de nascimento: Vitória-ES, 15 de outubro de 1951.
VB: Como conheceu Olympio Brasiliense? Ou como teve informações sobre ele?
GL: O nome de Olympio Brasiliense veio à tona, quando durante pesquisas realizadas em 2009, para elaboração do livro sobre A evolução histórica da Polícia Militar do Espírito Santo: 1800-2010, em fase de conclusão, nas comemorações do aniversário de 101 anos do coronel reformado da PMES Amado Ribeiro dos Santos, realizada na residência de seu genro, coronel da reserva Caliman, ocasião que tive a honra de conhecer a entrevistadora e historiadora Vanessa Brasiliense, que durante a nossa conversa, informou-me sobre dados relacionados com projeto de construção do Quartel de Maruípe elaborado por seu pai, Olympio Brasiliense. Conforme inserido na citada obra nos seguintes termos:
“Em 1931, o Quartel do Moscoso em virtude dos problemas já abordados, com relação ao peso da obra e a consistência deficiente do terreno, segundo Assis (1935), ocorre o desabamento de algumas paredes e do telhado exigindo novos reparos, ocasião em que o comandante geral Regimento Policial Militar capixaba, tenente-coronel Carlos Marciano de Medeiros promove a construção de mais dois pavilhões, um para o Rancho e outro para o Serviço de Saúde da Corporação capixaba, minimizando a situação.
O fato ocorrido leva o tenente-coronel Medeiros a solicitar ao engenheiro Olimpio Brasiliense, (pai da historiadora capixaba Vanessa Brasiliense), em dezembro de 1931, a elaboração de um projeto arquitetônico para construção de um novo aquartelamento para a Corporação Policial Militar do Espírito Santo, conforme consta do seguinte documento:
'Olympio Brasiliense
Encaminha ao ten-cel Carlos Marciano de Medeiros
30 de janeiro de 1933.
Tendo V,Excia, em dezembro de 1931, me autorizado à confecção de um projecto para o novo quartel do Regimento Policia Militar deste estado, logo iniciei os estudos e posteriormente de acordo com o nosso entendimento, passei a elaborar o ante-projecto.
Assim venho fazer a entrega do ante-projeto junto, nas condições em que se encontrava quando suspenso em dezembro de 1932.
Amº Attº Obgdº
Olympio Brasiliense'” [transcrito do original – propriedade de Vanessa Brasiliense]
“Assim, Olympio Brasiliense, autor de muitos projetos na capital e no interior do Estado, inclui entre os seus feitos, o primeiro projeto do Quartel da PMES de Maruípe, iniciado e concluído 1932, não sendo executado em virtude do inicio da “Revolução Constitucionalista de 1932”, sendo enviado a comando da Corporação em 30 de janeiro de 1933, após o fim da revolução, conforme documento original de posse da citada historiadora.” [transcrição da obra “A evolução histórica da Polícia Militar do Espírito Santo: 1800-2010”, autoria de Gelson Loiola, em fase de conclusão]
Devido ao fato, me interessei em pesquisar um pouco sobre sua origem e suas obras que tiveram início no governo de Florentino Avidos (1924-1928).
VB: Qual o relacionamento estabelecido com Olympio Brasiliense?
GL: Olympio Brasiliense faleceu em 1985, apesar de já estar na PMES havia 10 anos, passei a maior parte atuando pela PMES no interior (1979-1985) em Colatina e (1986-87) em Nova Venécia- ES, e infelizmente não conheci pessoalmente o Dr. Olympio.
VB: O que sabe sobre: cronologia de OB, sua vinda para Vitória, seu trabalho, seus contatos e amigos?
GL: O que sei obtive através de pesquisa em publicações pela mídia capixaba, onde consta que Olympio Brasiliense, nasceu em 1903, na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Fez seus estudos na Escola de Engenharia de Ouro Preto e na Escola Mineira de Agronomia e Veterinária de Belo Horizonte. Veio para o Espírito Santo no inicio do governo de Florentino Avidos em 1924, onde passou a integrar a equipe da Comissão dos Serviços de Melhoramentos do governo do Estado. Casou-se com Dª. Rosalina da Silva Brasiliense e trabalhou na Prefeitura Municipal de Vitória, onde se aposentou.
VB: O que sabe sobre o trabalho que Olympio Brasiliense desenvolveu no Espírito Santo?
GL: Em 2009, o Mercado São Sebastião, de Jucutuquara, inaugurado em 1949, completou 60 anos, então resolvi escrever uma carta ao Jornal A Tribuna para enfatizar o fato, e na pesquisa descobri que o projeto é de autoria de Olympio Brasiliense, assim como me faz crer que a casa que fica ao lado, e que está sendo restaurada pela Prefeitura Municipal de Vitória, e o prédio da delegacia local, também sejam de sua autoria. A mídia cita algumas obras dentre as quais se destacam o Centro de Saúde de Vitória, o Colégio Salesiano de Vitória, o Hospital Getúlio Vargas, o Hospital Infantil de Vitória, o Mercado São Sebastião. No no interior do Estado, o Museu Mello Leitão.
Esta publicação levou ao jornalista de A Tribuna, Pedro Maia, a publicar um artigo em sua coluna “Cidade Aberta”, em homenagem a Olympio Brasiliense, no dia 10 de julho de 2009, quando então passei a saber um pouco mais sobre o homenageado.
VB: Conheceu seus projetos?
GL: Sim, pessoalmente por ocasião em que sua filha (entrevistadora) Vanessa Brasiliense organizava o material (fotografias e mais de 300 projetos), para a Mostra que foi realizada na Aliança Francesa, em Vitória-ES.
Devo acrescentar que Olympio Brasiliense foi um dos fundadores do Iate Club do Espírito Santo. Ata de fundação:
"Ata de fundação de um clube esportivo como se segue: Aos seis ( 6 ) dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e quarenta e seis ( 1946 ) , nesta cidade de à rua Sete de Setembro, onde se acha estabelecida a Casa Bancaria Peixoto & Cia Ltda, às 17 horas e 30 minutos reuniram-se os snrs. Oswaldo de Freitas Victor, Otorino Avancini, Eurico Ildebrando, Aurelio Ruschi, Olympio Brasiliense, Walter Ribeiro, Hubert Leslie Howard, Cicero Sudré, Joaquim Ribeiro Gonçalves, José Taquínio da Silva, Raul Leão Castello e Asdrubal de Resende Peixoto, afim de fundarem um club com a finalidade principal de incentivar a pratica do esporte de barco a vela. Ao projeto de estatutos apresentado foram feitas emendas e sugestões pelos presentes e foram tratadas digo e foram tomadas as seguintes deliberações:
• Considerar fundado o "Club" com a denominação de 'Yatch Club do Espírito Santo'" [http://www.ices.com.br/port/clube.asp] [grifo nosso].
Entrevistado: Fernando Achiamé Entrevistador: Vanessa Brasiliense Vitória, 03/01/2012. Local e data de nascimento: Colatina, ES, 22 de...
Entrevistado: Fernando Achiamé
Entrevistado: Fernando Achiamé
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 03/01/2012.
Local e data de nascimento: Colatina, ES, 22 de fevereiro de 1950.
Profissão: Historiador.
Profº Achiamé, a nossa entrevista será em torno de Olympio Brasiliense.
VB: O senhor conheceu Olympio Brasiliense?
FA: Não, Vanessa. Pessoalmente eu não o conheci. Mas em 1982 eu fiz um concurso público para professor da UFES na área de Teoria e História da Arquitetura. Como o curso de arquitetura estava novo, fui logo nomeado e passei a lecionar disciplinas ligadas à Teoria e História da Arquitetura, e Estética, ficando lá de 82 a 97. E neste contato eu era o único com formação em História, tinha alguns engenheiros e professores e a maioria arquitetos e nessa época eu ouvi falar nessa figura, nesse profissional, que marcou, sem dúvida, a paisagem arquitetônica construtiva e até mesmo urbanística de Vitória durante um período. Cheguei a ter notícias de trabalhos que hoje em dia se chama de TCC Trabalho de Conclusão de Curso. Na época, era monografia final, projeto final de alunos que se interessaram por estudar a obra de Olympio Brasiliense, como também de um outro chamado Joel da Escócia, que morava na Praia do Canto. Com a obra de Olympio Brasiliense tive contatos esparsos, nessa época. Tempos depois esse contato foi ampliando quando você, Vanessa, organizou uma belíssima exposição, na Aliança Francesa, juntamente com Maria Clara Medeiros Santos Neves.
O importante é que valorizemos esse profissional. Na época eram poucos os arquitetos e a maioria formada no Rio e em Belo Horizonte. Após formados vinham para cá trabalhar na formação de profissionais em arquitetura.
Eu, enquanto professor na época, notava que os alunos do curso de arquitetura da UFES não esqueceram aqueles antigos profissionais, que mesmo não sendo arquitetos de formação, valorizaram os projetos da arquitetura. Isso é que me chamou atenção: de valorizar aquele antigo profissional, no caso Olympio Brasiliense. Se não me engano, ele era formado em engenharia, não é verdade? Com a criação do CRA, Conselho Regional de Arquitetura, em 2011, houve a separação do CREA, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, uma vez que antes era tudo junto. Mas agora a arquitetura separou. Mas desde os 30 e poucos, que eram juntos e a gente vê um entrosamento, apesar de que havia uma certa rivalidade, isso é até normal. Aqui no Espírito Santo, pode-se citar o engenheiro Gracelli, que apesar de não ter formação acadêmica em arquitetura, fez belíssimos prédios e casas. Como Gracelli, tivemos outros arquitetos nessa mesma situação, porém, renomados na criação de projetos e obras estruturais. No entanto, mais importante que isso é valorizar o profissional, que é feito dele mesmo e de suas circunstâncias. A exemplo disso, cita-se Olympio Brasiliense, que, para o Estado, foi um profissional requisitado pela sua competência. Veio para trabalhar e projetou o Quartel da Polícia Militar. Na época, esse trabalho era encomendado pelo serviço público estadual, apesar das limitações. Acredito que coube, também, a Olympio Brasiliense o projeto do Hospital de Maruípe e Getúlio Vargas, que antes era um patronato e hoje é o Hospital Universitário.
Enfim, Olympio Brasiliense foi pioneiro na arquitetura do Espírito Santo, não só no projeto, mas também na questão estrutural da obra. Na época ele já projetava construções mais arrojadas, fugindo das construções coloniais de pedra e cal, de madeira antiga, dos sobrados, enfim. E, dominando a nova técnica, Olympio Brasiliense, em sua engenharia, vai adequá-la a uma linguagem mais eclética, visando não só o projeto como também à obra pronta, funcionando bem e em pé.
E com uma linguagem da época esse arquiteto lidera projetos. Com construção no estilo art déco, bem dos anos 20, 30... deu-se início ao Quartel da Polícia Militar, com aquele estilo despojado e revestido em pó de pedra. Era no período da II Guerra Mundial a construção desse quartel, que logo depois de pronto o Exército o requisitou para ser ali a sede do Comando da Artilharia de Costa. Isso contrariou a Polícia Militar, que teve que voltar para o seu antigo quartel no Parque Moscoso, onde ficou por um tempo até o término da guerra. Após a desocupação voltaram ao seu local devido.
VB: O senhor falou de trabalhos na UFES que mencionaram Olympio Brasiliense. O senhor lembra que trabalhos foram esses?
FA: Olha, eu não tenho uma lembrança precisa. Mas um desses trabalhos eu tenho certeza de que foi um projeto de graduação. Muitas vezes os alunos os faziam em dupla ou em grupo de três, alguns individuais. São trabalhos que, obrigatoriamente, Vanessa, estão depositados na Biblioteca do Centro de Artes ou, melhor ainda, no NAU, que é o Núcleo de Arquitetura e Urbanismo. Os alunos foram à Prefeitura, fizeram levantamento dos projetos e assim conheceram a obra, que não se restringiu apenas a prédios públicos. Também, Olympio Brasiliense atuou na área particular, fazendo muitos projetos de casas na época: Praia Comprida, Praia do Canto, no Centro da cidade. Enfim, era uma pessoa dotada de muita sensibilidade. A noção que tenho é que Olympio Brasiliense fez projetos tanto na área governamental, como na particular. Penso que ele trabalhou até fora de Vitória.
Ele era uma pessoa requisitada, um profissional reconhecido. Havia também outros profissionais, como Moacyr Fraga, um arquiteto bem velhinho, formado no Rio. Eu me lembro das páginas semanais, aos domingos, num encarte de A Gazeta, um caderno ligado a coisas de cultura. Isso nos anos 60 mais ou menos, eu garoto ainda, já começava a ler jornal [...] e esse Moacyr Fraga, se não me engano, era um arquiteto, mas era teórico que divagava, fazia elucubrações, tendo seu mérito, sem dúvida, porém, como projetista. Olympio Brasiliense, não, ele era notável, pois “botava a mão na massa”, que ele fazia e o cliente ficava satisfeito com isso, porque ele o atendia bem, fosse esse cliente um particular, fazendo sua casinha de veraneio aqui na Praia do Canto, ou a sua casa maior, no centro da cidade, ou o Estado, construindo diversos tipos de programas. E Olympio Brasiliense, enfrentava, de fato ele era um arquiteto, sem dúvida nenhuma.
VB: O senhor gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
FA: Não. Gostaria, sim, de parabenizá-la e a Maria Clara Medeiros Santos Neves, por essa iniciativa, ressaltando a minha alegria de resgatar a memória desse brasileiro, mineiro, depois capixaba, que aqui constituiu família. A arquitetura capixaba se engrandece com esse profissional que tantas construções fez aqui no Estado. Tem sua obra valorizada, reconhecida e divulgada.
Entrevistado: Darcília Moysés Entrevistador: Vanessa Brasiliense Vitória, 07/03/2012 Data e local de nascimento: Cachoeiro de Itapemir...
Entrevistado: Darcília Moysés
Entrevistado: Darcília Moysés
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 07/03/2012
Data e local de nascimento: Cachoeiro de Itapemirim, 24 de outubro de 1948.
Profissão: Professora, atualmente na direção da Aliança Francesa.
VB: Como você conheceu Olympio Brasiliense?
DM: Antes de conhecer o profissional Olympio Brasiliense, o grande responsável por uma série de obras em Vitória, eu conheci o marido de uma amiga de minha mãe.
Verdade é que Rosalina, na época, era amiga de minha mãe. Ela era filha dos donos da casa que minha mãe ficava hospedada quando ia ao Rio. E, assim, quando fui apresentada a Olympio, aqui em Vitória, eu já tinha conhecimento de sua esposa. Tinha eu nesse tempo uns 13 anos e talvez, por ser ainda bem jovem, não reparasse em determinadas coisas que a gente só começa a perceber mais tarde.
VB: E mais tarde, qual foi a impressão que você teve de Olympio?
DM: Mais tarde, como eu já freqüentava a casa de Olympio, eu o via sempre ouvindo música. Aliás, ele trabalhava ouvindo música. Havia em sua casa uma vitrola, ou seja, uma eletrola e era nela que seu pai gostava de ouvir ópera.
Para entrar na casa de Olympio, passava-se antes pela sala de trabalho, havia ali uma imensa mesa de madeira de engenharia. Ali, ele ficava às voltas com suas plantas e projetos. E, dentro desse metiê, havia música.
Nessa convivência, fui percebendo quão importante era esse homem, tanto para Vitória como para a Prefeitura. E não era apenas eu que reconhecia isso. Também seus amigos, pessoas que tinham um nível cultural alto, aliás, havia um jornalista, entre outros que freqüentavam a casa de Olympio e depositavam nele muita importância. Desses amigos, lembro-me do Feitosa e de um outro chamado Bachour. Nessa época comecei a ouvir a respeito da ponte Florentino Avidos e Olympio Brasiliense foi um dos que trabalhou na organização para receber a ponte vinda da Alemanha. Era na década de 30, e Olympio esteve presente nesse projeto. Enfim, ficamos sabendo que Olympio era de uma família conceituada, tinha feito estudos em escolas tradicionais em Minas Gerais. Mas isso foi àquela coisa da voz do outro, que foi ressoando, e que foi incorporando as informações que eu tinha do Olympio. Lembro-me de Olympio, também como dançarino de tango, quando ele deu um “show”, exibindo-se muito bem, no casamento de minha irmã. Era, como de costume, casamento em casa, e Olympio aproveitou para mostrar que não só em projetos ele era bom como também em dança, ele dançava tango muito bem, diga-se de passagem.
Hoje, a visão, que eu tenho de Olympio é de um intelectual, que usava uma piteira e gostava de música, sem deixar de lado a sua engenharia. Essa Vitória, que hoje aí está, é a Vitória de depois de Olympio, cujo nome está ligado à transformação na década de 30, em que o dedo desse homem esteve em diversos pontos de construção. Tão importante foi a sua figura como agente na história de nossa cidade, que, hoje, encontra-se registrado na memória de seus conhecidos.
Olympio Brasiliense era um cara feliz. Tinha seu próprio universo e vivia dentro dele curtindo o que gostava; amigos, cerveja, piteira, música... Ele era um cara que tinha um refinamento, evidentemente de uma outra época, não era dos anos 60, mas ele trazia um refinamento que era um pouco mais antigo até, e exatamente por isso chamava a atenção.
Quando você nasceu, ele ficou muito feliz. Foi um dia de vitória. Foi muito engraçado porque ele bateu lá em casa para avisar a mamãe para a gente sair correndo, para ajudar a Rosa. E ele estava super feliz, porque ele era muito idoso e para ele era uma vitória, ver a continuidade dele. Eu tenho muitos flashes nesse sentido. Eu me lembro que no seu primeiro aniversário, eu gostava muito de fazer docinho, fazer bolo, essa coisa toda, e eu me lembro dele todo empolgado porque ele ia fazer o seu primeiro aniversário. Seu bolo foi um V, eu não sabia ainda confeitar tanto, mas enfim, colocamos umas flores e eu me lembro que, eu não sei como surgiu a conversa, eu virei pra ele e falei: - não é muito fácil fazer isso não! E ele virou pra mim e disse: - É se fosse um V gótico seria pior ainda. Você está feliz ainda porque é um V retinho. Eu me lembro como se fosse hoje. E aí os amigos dele vieram, o Alevino Basset que era amigo dele, o Feitosa era um cara muito culto, muito inteligente, jornalista, ele morava ali no Edifício Glória.
VB: Como era Olympio Brasiliense?
DM: Ele era uma pessoa divertida. Ele não era uma pessoa pra baixo, era uma pessoa empreendedora no sentido dentro daquilo que ele acreditava, ele fazia um universo dentro dele. Ele tinha um universo muito particular, e dentro deste universo ele era uma cara que era feliz, a gente pode dizer que ele viveu feliz dentro desse universo. Ele curtia as coisas dele, ele curtia os amigos, ele curtia a cerveja boa dele, ele curtia a piteira dele. Ele não fumava: puf! puf! Não. Ele levava tempo, você sentia pelo gesto dele fumando que havia ritual, havia prazer, existem gestos que traduzem um mundo interior, e nesse caso a gente percebia isso. Agora, era uma cara que tinha um universo muito especial, muito dele e da turma dele. As pessoas que ficavam à margem dele, não estou falando à margem no sentido pejorativo, mas à margem dentro de um comportamento que é muito peculiar, que é muito próprio, que está muito ligada a pessoa dentro de um certo nível de intelectualidade, geralmente elas ficam à margem. Eu me lembro que ele conversava muito com o meu padrasto. Eu mesma não cheguei a conversar tanto com ele porque, a última vez que eu vi Olympio, eu acho que eu tinha 20 anos, 22 anos no máximo. Havia uma diferença muito grande. Mas, eu me lembro dele conversando muito com meu padrasto que era um homem muito culto também, seu padrinho Elias Albuquerque de Carvalho, eles conversavam muito.
VB: Você acha que ele se destacava pela intelectualidade em função do trabalho?
DM: Era a sua intelectualidade oriunda do trabalho e da experiência de vida que ele tinha. Olympio Brasiliense era produto de uma pessoa desenvolvida com um elevado grau de criatividade. E não fora só os estudos que lhe deram isso, apesar de ter passado por determinadas escolas e desfrutado de excelentes conhecimentos.
VB: Como você definiria Olympio Brasiliense?
DM: Olympio era um mundo, o qual construiu com excentricidade e muita cultura. Ele era um cara inteligentíssimo, uma pessoa culta, uma pessoa meio excêntrica, exatamente por causa dessa particularidade de ter um mundo já construído.
VB: Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
DM: Ele construiu seu nome, deixando não uma; mas várias construções como contribuição para a cidade de Vitória, que hoje guarda na memória seu eterno caminhar pelas ruas desta cidade. Seus passos estão ali impregnados marcando uma época de vitórias. Nos caminhos por que ele trilhou, passam hoje vidas que anonimamente sequer sonham quão importantes foi a contribuição desse homem na construção de Vitória, que longe de ser uma cidade planejada, guarda nas entranhas a memória de Olympio Brasiliense.
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