Mestre João Ribeiro, em seu erudito livro Frases feitas , onde semeou tantas migalhas de sua alta e profunda cultura, escreve o seguinte, a...

"Os três da carriola..."

1/01/2016 0 Comentários


Mestre João Ribeiro, em seu erudito livro Frases feitas, onde semeou tantas migalhas de sua alta e profunda cultura, escreve o seguinte, ao estudar a expressão popular "As três...": "Três, é número fatídico dos que conspiram ou se unem para qualquer insidia" (1ª série, p. 245):

São os três da corriola
Fumo, tabaco e sola.

E prossegue: "Corriola é uma treta de jogadores armada com uma correia de sola. No Entremez do Juiz novo das borracheiras, da literatura de cordel, ocorre a expressão:

Isto mesmo dispõe o grão Frasqueira,
No Tratado da sua Borracheira,
Capitulo 23 dos mariolas,
Numero 26 das corriolas" (Cena III)

"Os três nomes dos versos antes mencionados do folk-lore parecem-me ser um ajeitamento dos três gêneros do antigo estanco real: vinho, tabaco e sal." Da sempre lembrada informante, ouvíamos, muitas vezes, quando criança, a velha e zombeteira expressão rimada:

Eis os três da carriola:
Chico duro, Zé tabaco e Mané sola...[ 9 ]

Evidentemente trata-se da mesma frase-feita referida por João Ribeiro, e com a natural transmutação de corriola em carriola, por influência talvez de carro, e a personificação dos "três gêneros do antigo estanco real": vinho, tabaco e sal, em Chico duro, Zé tabaco e Mané sola.

Não seria de todo improvável a aproximação do vinho ao duro (Chico duro), que, segundo Morais, é "erva indiana, que embebeda por longo tempo"(Dicionário da Língua Portuguesa), caso não esteja esse "duro"por "Douro", famosa região de vinhos portugueses.

Quanto à carriola, que Morais não registrou, está averbada no Dicionário Contemporâneo de Santos Valente, conhecido por de Caldas Aulete, cuja primeira edição é de 1888: "Carriola — s. f. carro ordinário; carripana; carroça."


NOTAS


[ 9 ] Informação colhida de Albina da Silva Neves, mãe do autor.



[Alto está e alto mora — Nótulas de folclore. Vitória: edição do autor, 1954.]

Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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