Sumário Penedo vai... Barca nova Periquito Maracanã Carneirinho, carneirão... A canoa virou... Tenho uma linda laranja Eu sou p...
Cantigas de roda
Sumário
Barca nova
Periquito Maracanã
Carneirinho, carneirão...
A canoa virou...
Tenho uma linda laranja
Eu sou pobre, pobre, pobre...
É de Valentim
Terezinha de Jesus
Bela condessa
Meu amor é marinheiro
Gata espichada
Ao passar da barca
Ó bela Lilia
Quebra, quebra, Gabiroba
Onde está a Margarida?
Sinhá Marreca
Pobre viúva
Os olhos de Marianita
Sereno
Bibliografia
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Ao passar da barca Me disse o barqueiro: Menina bonita Não paga dinheiro. | bis | | bis | Eu não sou bonita E nem ...
Ao passar da barca
Ao passar da barca Me disse o barqueiro: Menina bonita Não paga dinheiro. |
| bis | | bis | |
Eu não sou bonita E nem quero ser. Tenho meu dinheiro Eu pago a você. |
| bis | | bis | |
Sou a viuvinha Do conde Loureiro; Querendo casar-me Não acho quem queira. |
| bis | | bis | |
Procura na roda, Torna a procurar. Só acho fulana Para ser meu par. |
| bis | | bis | |
É, sem dúvida, uma das mais bonitas rondas do nosso repertório musical infantil, não apenas pelo sentido da letra, como também pela delicadeza da melodia. Infelizmente, parece-nos, vai-se perdendo entre nós, esta cantiga de roda.
Deve de ter ela origem portuguesa ou ibérica. Júlio Aramburu, folclorista argentino, transcreve, em seu livro El folklore de los niños, alguns versos da cantiga, não porém como ronda. Trata-se de "El caso del barquero"(p. 114):
Al pasar la barca, me dijo el barquero: Las niñas bonitas No pagan dinero. |
Segue-se a continuação do "caso", quem nem de leve nos faz lembrar a nossa roda:
Y al volver la barca me volvió a decir: las niñas bonitas no pagan dinero, se lo dice, niñas, este caballero. |
No livro de J. Aramburu não se registra a música.
Cecília Meireles ("Infância e folclore", A Manhã, 14/3/1943) cita como versão espanhola, sob o título "Passarás, não passarás", quase o mesmo "Caso del barquero" argentino. Também adianta a folclorista patrícia que a música da variante espanhola "é exatamente a mesma que as crianças brasileiras usam, quando cantam 'Sozinha eu não fico, nem hei de ficar', estribilho comum a várias cantigas de roda". Ainda segundo Cecília Meireles, "parece evidente que essa cantiga se inspira na tradição medieval do direito de peagem".
A letra da Segunda parte da nossa cantiga se assemelha à conhecida ronda espanhola "La viudita":
Soy la viudita Lo manda la ley; Quiero casarme Y no hago com quién. |
(Versão Rodrigues Marin, cf. Cancioneiro popular de Tucumán, de Juan Alfonso Carrizo, I, p. 377.)
Tal semelhança também se observa com a cantiga de roda venezuelana "Arroz com coco" no seguinte trecho do solo:
Yo soy la viudita, La hija del rey; Me quiero casar Y no hallo con quién. |
(Folklore venezolano, de R. Olivares Figueroa, I, p. 165.)
Aliás, há dessa "Viudita" uma carioca registrada pelas professoras Iris Costa Novaes, Diva Diniz Costa e Gedir de Faria Pinto, revista por Afrânio Peixoto (p. 128):
Viuvinha, Da banda d'além Quer se casar E não acha com quem. Com este, sim, Com este, não, Há de ser com aquele Do meu coração. |
É de se notar, entretanto, que a música apresentada nessa coletânea não tem a menor semelhança com a de "Ao passar da barca", lembrando, porém, a melodia com que há dezenas de anos atrás (senão também hoje) se entoavam, no interior de São Paulo, as estrofes da conhecida história da menina enterrada viva pela madrasta, por causa dos figos da figueira. E isso nos leva a novo entrelaçamento de música e letra de cantigas diversas, cuja procedência e evolução muitas vezes é difícil estabelecer.
F. J. de Santa-Anna Nery, em seu livro Folk-lore brésilien, editado em Paris, em 1889, registra à página 23 os versos da "Viuvinha", em forma que diz ter sido recolhida na Bahia.
É curioso observar que, nessa versão baiana, traduzida para o francês há mais de sessenta anos, aparecem quase exatamente os mesmos versos cantados até hoje no Espírito Santo e no Rio de Janeiro:
Je suis la petite veuve Des parages de là-bas; Je veux me marier, Mais ne sais avec qui; Avec celui-ci, oui, Avec celui-là, pas, Avec celui-ci, oui, Que j'aime bien. |
É pena que Santa-Anna Nery não registrasse também a música de "La petite veuve", como o fez com "Senhora dona Sancha" e "Caranguejo não é peixe".
Voltemos, porém, ao nosso "Ao passar da barca". Essa cantiga, também conhecida como "O barqueiro" ou "Viuvinha do conde Loureiro", é corrente em vários recantos do Espírito Santo.
Localizamo-la em Vitória, Vila Velha, Itaquari, Cariacica, Manguinhos, Nova Almeida, Santa Teresa, Itarana, Mimoso do Sul, Fundão, Bom Jesus de Itabapoana, Ibiraçu, Linhares, Santa Leopoldina e São Mateus.
Quase todas as crianças cantam: "Ao pássar da barca", acentuando a 1ª sílaba do verbo "passar". Variantes de Fundão, Nova Almeida, Itarana e Linhares cantam: "Ao passo da barca". Em roda cantada em Vitória, por meninas de várias localidades do interior, ouvimos: "Ao pássar a barca", provavelmente a forma primitiva da canção, idêntica ao "Al pasar la barca" do "Caso del barquero" acima citado.
Outras variantes: "Eu ganho dinheiro / Pra pagar você", "Eu trago dinheiro / Eu pago a você", "Não tenho dinheiro e pago a você", "Não tendo dinheiro...", "Por Ter meu dinheiro...".
Na 2ª parte:
Sou a solteirinha Que vim de Belém; Pretendo casar Mas não acho com quem. Sou a viuvinha Quem vim de Belém... Sou a viuvita Do conde Loureira; Quero casar E não acho quem queira. Sou a viuvita Do conde Laurita... |
Modo de brincar: Cantiga dialogada. Faz-se a roda e, dentro ou fora dela, fica a "viuvinha". Rodam e cantam a cantiga até "Menina bonita não paga dinheiro". A "viuvinha" responde, cantando, até "Não acho quem queira". Segue-se o coro: "Procura na roda..." e, afinal, a resposta da viúva, escolhendo aquela que deve ser o "seu par". Esta vai, por sua vez, ser a "viuvinha", repetindo-se a roda até cansarem.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Seu príncipe está lá dentro, A senhora onde é que está? A senhora dona Elsa Sempre mostra o que é: É uma gata espich...
Gata espichada
Seu príncipe está lá dentro, A senhora onde é que está? A senhora dona Elsa Sempre mostra o que é: |
|
É uma gata espichada Na boca do jacaré. |
| bis | |
Conhecido também pelos nomes de "Senhor príncipe" e "Seu príncipe", este é um dos velhos brinquedos de roda em nossa terra capixaba. Sentimos, entretanto, estar ele cedendo o passo a outras rodas que às crianças parecem mais modernas, como "O pião", o "samba lêlê", o "Eu vi uma pastora", o "Meu irmão", "Meu limoeiro", o "Quebra, quebra, gabiroba" e outras.
Recolhemos versões em vários municípios do Estado, mas poucas são as variantes: "O príncipe está lá dentro", "Senhor príncipe está lá dentro", "Se o seu príncipe...", "Seu prince..."; "A senhora está, está", "A senhora estão, não está", "A senhora cá está"; "Sempre amostra o que é", "Que se mostre o que é".
Alexina de Magalhães Pinto, em Os nossos brinquedos (p. 60), registra a seguinte variante de Minas, sob o título "Olha o bicho":
Olha o bicho Que está lá dentro, Senhoras, deixá-lo estar, Senhora D. Fulana Sempre mostra o que é: É uma gata espichada Na boca do jacaré. |
A variante musical mineira difere da nossa em dois pontos: falta-lhe completamente a primeira parte, e a Segunda, embora seja de igual motivo, é cantada em ritmo bem diverso que, por ser menos espontâneo e menos condizente com a vivacidade da letra, torna, a nosso ver, mais desgraciosa a cantiga.
Também difere da nossa a maneira de brincar a roda na variante mineira, pois a esta falta a parte rítmica dos saltos da "gata espichada" e da sua escolhida — movimentação que dá tanta graça e ruído à versão capixaba.
Modo de brincar: Faz-se a roda bem aberta; no centro, isolada, uma das crianças. As outras, de mãos dadas, vão rodando e cantando até "A senhora dona fulana (nome da do centro) sempre mostra o que é". Aí param todas, repetindo muitas vezes: "É uma gata espichada / na boca do jacaré", estrepitosamente, acompanhando o canto de palmas na cadência da melodia. Enquanto isso, a criança do centro põe-se diante de outra da roda por ela escolhida, e ambas saltas várias vezes, abrindo e fechando os braços e as pernas, como polichinelos, ao ritmo do compasso binário da cantiga. Recomeça-se a roda, indo para o centro a escolhida, e assim até que todas as crianças tenham sido a "gata espichada".
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Meu amor é marinheiro, Ó marinheiro! Mora nas ondas do mar, Ó marinheiro! Tomara que a maré seque, Ó marinheiro! Para o meu amo...
Meu amor é marinheiro
Meu amor é marinheiro, Ó marinheiro! Mora nas ondas do mar, Ó marinheiro! Tomara que a maré seque, Ó marinheiro! Para o meu amor saltar, Ó marinheiro! |
É esta uma das cantigas de roda mais conhecidas no Espírito Santo. Rara é a criança que a não saiba cantar. Pudemos localizá-la em Vitória, Argolas, São Torquato, Vila Velha, Cariacica, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Barra de Itapemirim, Ibiraçu, Linhares e São Mateus.
Há variantes muito ligeiras: umas substituem o "Tomara [pronunciando sempre Tomará] que a maré seque", por "Tomará que a maré enche", "que a maré desce". Outras, em lugar de "Para o meu amor saltar", cantam "Para o meu amor voltar", "Para o meu amor chegar", "Para o meu amor passar", "Para o meu amor salvar".
Não vimos nem a letra nem a melodia referidas em qualquer dos cancioneiros, velhos ou modernos, citados neste livreto. E a cantiga é, entre nós, das mais divulgadas e antigas.
Modo de brincar: Como toda roda de estribilho, cantam-na as crianças em coro, inclusive o "'O marinheiro!". Depois, cada uma "tira" a sua trovinha, cantando o coro o "'O marinheiro!" no final de cada verso. Assim:
Solo: | Nossa Senhora da Penha Aonde ela foi morar? Lá no alto da pedreira Toda cercada de mar. |
Coro: | Meu amor é marinheiro, ó marinheiro! Etc., etc. |
Coro: | Ó marinheiro! Ó marinheiro! Ó marinheiro! Ó marinheiro! |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Emissário: Onde mora a bela condessa, Língua de França, onde nasceu? Condessa: O que quer com a bela condessa Língua d...
Bela condessa
Emissário: | Onde mora a bela condessa, Língua de França, onde nasceu? |
Condessa: | O que quer com a bela condessa Língua de França, onde nasceu? |
— Senhor rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas E levar você também. |
|
— Eu não dou as minhas filhas, Nem por ouro , nem por prata, Nem por sangue de Aragão, Para casar com esse ladrão. |
|
— Tão contente que eu me vinha E tão triste que eu me vou, Por causa da bela condessa Que sua filha me negou. |
|
— Volte atrás, bom cavalheiro, Por ser um homem de bem Subie naquele outeiro Escolhei daquelas três: Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar. |
|
— Assentai aqui menina, Para coser e bordar, Que do céu lhe há de vir Uma agulha e um dedal. O dedal será de ouro, A agulha será de prata, Palmatória de marfim Para a mestra castigar. |
A "Bela condessa" ou "Senhora condessa" é uma das mais antigas canções de roda. Cantam-na, ainda hoje, principalmente as crianças do interior do Estado. As variantes que conseguimos recolher são de Vitória, Conceição da Barra, São Mateus, Santa Leopoldina e doutros municípios do interior.
Trata-se de roda do tipo "escolha de noiva", como a "Eu sou pobre, pobre, pobre", porém muito mais característica.
Cecília Meireles, em "Infância e folclore", dedicou a este folguedo, interessante estudo, desenvolvido em cinco artigos (A Manhã, de 7, 9, 10 e 22 de abril, e 16 de maio de 1942). Neles cita a inteligente folclorista inúmeras variantes brasileiras e portuguesas, além de versões da Espanha, Chile, Argentina, Venezuela e México — o que prova a larga difusão desta cantiga, assim em português como em espanhol.
Na versão anotada em Conceição da Barra e transcrita acima, bem como numa das variantes de São Mateus (transcrita adiante), há, segundo nos parece, evidente enxerto de fragmento de algum romance velho, o que não ocorre em nenhuma das variantes referidas por Cecília Meireles, nem em outras que também conhecemos, como a citada por José A. Teixeira, em Folclore goiano, p. 352; a por Julio Aramburu, em El folklore de los ninos, p. 87; a que registra Eduardo M. Torner, em El folklore en la escuela, p. 109. É o trecho em que a Condessa oferece as três filhas, mencionando-lhes os nomes:
Uma se chama Maria Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar. (Conceição da Barra) Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais velha e mais formosa Chama-se Estrela do Mar. (São Mateus) |
Confrontem-se, por exemplo, estes versos com o romance de "Faustina", e as versões da "Nau Catarineta", in Romanceiro português, de Vitor Eugênio Hardung, I, p. 22 e 141.
A versão colhida em Santa Leopoldina substitui "Língua de França, onde nasceu", por "Língua de prata de Dona Alença"; outra variante capixaba canta o mesmo verso assim: "Língua de prata dona Lionença" — evidentes alterações da que se canta em Ouro Preto — "Língua de prata de ouro e nobreza" (Cecília Meireles, A Manhã, 10/4/1942).
Interessante é a acentuada tendência das crianças capixabas em nasalizarem a palavra "Condessa", pronunciando "Condensa".
Nas versões brasileiras citadas por Cecília Meireles — variantes paraenses, carioca e mineira — em em quatro das versões capixabas, o pretendente ou emissário dirige, às filhas da condessa, "amabilidades" jocosas, o que não ocorre na variante de Conceição da Barra, que mantém, ainda hoje, o aspecto singelo e sério do folguedo.
Da "Bela Condessa", além da melodia que aqui fixamos, conhecemos três outras — a que se vê no Guia prático, n. 39, intitulada "Condessa"; a recolhida por Juan Alfonso Carrizo, em Cantares tradicionales del Tucumám, p. 49, sob o título "Hilo de oro, hilo 'i plata"; e a que figura, com o nome de "Las hijas del rey moro", em El folklore en la escuela, loc. cit.
A música registrada no Guia prático, em arranjo de Villa-Lobos, além de aproveitar os motivos de outras cantigas de roda ("Constança, meu bem Constança" e "A viuvinha"), não apresenta a mais leve semelhança com a suave melodia capixaba, e como que se desatavia dos encantos naturais que, em regra, caracterizam as melodias do folclore musical infantil.
Ressalte-se aqui, mais uma vez, que a preocupação cardinal dos autores deste caderno de cantigas, primeiro de uma série, é fixar, fielmente, rigorosamente, a letra e a música das canções de roda, recolhidas diretamente da fonte oral infantil, isto porque sempre tiveram, em alta linha de conta, que "a virtude máxima do folclorista é a fidelidade" (Luís da Câmara Cascudo).
As duas outras versões musicais — ambas de procedência argentina — também diferem acentuadamente da nossa. A primeira é allegro, vivaz, com início quase marcial. A segunda, moderato e — interessante! — reproduz exatamente, na parte final, a melodia correspondente ao responso da Ladainha de Todos os Santos "Te rogamus, audi nos", em canto Gregoriano.
Modo de brincar: Quase não difere no Brasil a maneira de brincar esta roda, segundo o depoimento de Cecília Meireles. Forma-se uma fila de crianças, de mãos dadas — é a condessa e as filhas. Do outro lado, sozinho, o emissário. Canta-se o longo diálogo, em movimentos de vai e vem, como os da cantiga "Eu sou pobre, pobre, pobre". Escolhida a primeira "noiva", que fica "assentada" no lugar onde estava o emissário ou o acompanha nas embaixadas seguintes — a dramatização se repete até serem todas as filhas da condessa, escolhidas como noivas dos reis.
Transcrevemos abaixo, algumas das versões capixabas da "Bela condessa".
De São Mateus:
— Aonde mora a bela condessa, Vinda de França, onde nasceu? — O que queres com a bela condessa, Vinda de França, onde nasceu? — Senhor Rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas, Carregar você também. — Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de alemão Para casar com este ladrão. — Tão contente que eu me vinha E tão triste já me vou, Por causa da bela condessa Que sua filha me negou. — Volte cá bom cavalheiro, Escolhei a qual quiser. Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais velha e mais formosa Chama-se Estrela do Mar. — Esta eu quero, esta não quero, Esta come requeijão, Esta bebe ovo choco, Esta é do meu coração. |
De Santa Leopoldina:
— Onde mora a senhora condessa, Língua de prata de Dona Alença, Seu rei mandou buscar Sua filha para casar. |
|
— Minha filha não vai lá Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de lagarta. Volte a cabo cavaleuri Escolhei neste monteiro |
bis |
— Esta quero, esta não quero, Come queijo, requeijão, Vim buscar meu coração. |
bis |
De Vitória:
— Senhora dona condessa, Língua de prata dona Lionença. O rei mandou buscar Uma das filhas para casar. — Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de lagarta. — Tão alegre que vim, Tão triste que voltarei, Pelas filhas da condessa Que nenhuma levarei. — Volta cá meu cavalheiro, Escolhei destas seis A que for mais bela E contigo levareis. — Esta quero, esta não quero, Esta come pão da cesta, Bebe vinho da galheta, Come queijo, requeijão, Vim buscar meu coração. |
De Vitória (morro de São Francisco):
— Onde mora a bela condessa, Filha de França, onde nasceu? — Aqui mora a bela condessa, Filha de França, onde nasceu. — Meu rei mandou-me aqui Buscar uma de vossas filhas. — Minhas filhas eu não dou, Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de lagarta. — Tão alegre que eu vinha, Tão triste vou voltando. — Volte, volte cavaleiro, Escolhei a qual quiser. — Esta quero, esta não quero, Esta como requeijão, Esta como o pão da cesta, Esta é do meu coração. |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Terezinha de Jesus Deu uma queda foi ao chão, Acudiu três cavalheiros, Todos três chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, O segu...
Terezinha de Jesus
Terezinha de Jesus Deu uma queda foi ao chão, Acudiu três cavalheiros, Todos três chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, O segundo seu irmão, O terceiro foi aquele Que Teresa deu a mão. Tanta laranja madura, Tanto limão no chão, Tanto sangue derramado Dentro do meu coração. |
Canção de roda muito conhecida e querida no Espírito Santo. As versões quase não diferem da que aqui registramos. Apenas uma, de Colatina, acrescenta-lhe a quadra:
Da laranja quero um gomo, Do limão quero um pedaço, Da fulana quero um beijo De você quero um abraço. |
O mesmo ocorre em variante carioca, citada por Cecília Meireles ("Infância e folclore", A Manhã, 20/02/1942).
A cantiga foi também recolhida por Alexina de Magalhães Pinto, frei Pedro Sinzig e pelos maestros Villa-Lobos, J. Gomes Júnior e J. Batista Julião. Nota-se, porém, nas versões desses autores, a preocupação de salvar a concordância. Em Cantigas das crianças e do povo (Alexina de Magalhães Pinto), p. 64, o 3o verso da 1a quadra é "Acudiram três cavaleiros"; em O Brasil cantando, n. 310 — "Acudiram três senhores"; no Guia prático, n. 123, e em Ciranda, cirandinha..., n. 26 — "Acodem três cavalheiros". Essa correção ou polimento como que altera e constrange a melodia, tirando-lhe — a nosso ver — o sabor espontâneo e popular que é evidente na versão capixaba.
A variante mineira que se lê em Cantigas das crianças e do povo, termina pela seguinte quadrinha que completa o ingênuo "enredo" da cantiga:
Terezinha levantou-se, Levantou-se lá do chão E sorrindo, disse ao noivo — Eu te dou meu coração! |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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