Introdução Um não é promessa de outro, mas também não se quer único (não é uma negação plena do Dois). Não é uma Unidade tampouco (...
UM
Introdução
Um não é promessa de outro, mas também não se quer único (não é uma negação plena do Dois). Não é uma Unidade tampouco (não se presta a universal).
Um é a união de ritmos relidos e reescritos por Fabiano e Wanderson (os arranjadores). Transcriação do Folclore, e só.
Um é fruto do desafio feito por Reinaldo Santos Neves para que eu tentasse fazer jazz com os temas folclóricos que o seu pai havia gravado há várias décadas. Acho que perdi. De jazz, no sentido estrito do termo, o disco não é. Deixei- me levar pela força inerente aos temas. Creio que ganhei musicalmente.
Agradeço a Kátia Moreira e toda a equipe da Comunicação Interativa, ao grande talento Solé, aos músicos que participaram da longa e recordista jornada, à paciência (quase perdida) da rapaziada da Lei Rubem Braga, às empresas que apoiaram o projeto, e a Reinaldo Santos Neves (que concebeu o projeto).
Apresentação - Reinaldo Santos Neves
Faixas
Ilustrações
[Reprodução no site Estação Capixaba autorizada por Luiz Romero de Oliveira (Salsa)]
Ao passar da barca Me disse o barqueiro: Menina bonita Não paga dinheiro. | bis | | bis | Eu não sou bonita E nem ...
Ao passar da barca
Ao passar da barca Me disse o barqueiro: Menina bonita Não paga dinheiro. |
| bis | | bis | |
Eu não sou bonita E nem quero ser. Tenho meu dinheiro Eu pago a você. |
| bis | | bis | |
Sou a viuvinha Do conde Loureiro; Querendo casar-me Não acho quem queira. |
| bis | | bis | |
Procura na roda, Torna a procurar. Só acho fulana Para ser meu par. |
| bis | | bis | |
É, sem dúvida, uma das mais bonitas rondas do nosso repertório musical infantil, não apenas pelo sentido da letra, como também pela delicadeza da melodia. Infelizmente, parece-nos, vai-se perdendo entre nós, esta cantiga de roda.
Deve de ter ela origem portuguesa ou ibérica. Júlio Aramburu, folclorista argentino, transcreve, em seu livro El folklore de los niños, alguns versos da cantiga, não porém como ronda. Trata-se de "El caso del barquero"(p. 114):
Al pasar la barca, me dijo el barquero: Las niñas bonitas No pagan dinero. |
Segue-se a continuação do "caso", quem nem de leve nos faz lembrar a nossa roda:
Y al volver la barca me volvió a decir: las niñas bonitas no pagan dinero, se lo dice, niñas, este caballero. |
No livro de J. Aramburu não se registra a música.
Cecília Meireles ("Infância e folclore", A Manhã, 14/3/1943) cita como versão espanhola, sob o título "Passarás, não passarás", quase o mesmo "Caso del barquero" argentino. Também adianta a folclorista patrícia que a música da variante espanhola "é exatamente a mesma que as crianças brasileiras usam, quando cantam 'Sozinha eu não fico, nem hei de ficar', estribilho comum a várias cantigas de roda". Ainda segundo Cecília Meireles, "parece evidente que essa cantiga se inspira na tradição medieval do direito de peagem".
A letra da Segunda parte da nossa cantiga se assemelha à conhecida ronda espanhola "La viudita":
Soy la viudita Lo manda la ley; Quiero casarme Y no hago com quién. |
(Versão Rodrigues Marin, cf. Cancioneiro popular de Tucumán, de Juan Alfonso Carrizo, I, p. 377.)
Tal semelhança também se observa com a cantiga de roda venezuelana "Arroz com coco" no seguinte trecho do solo:
Yo soy la viudita, La hija del rey; Me quiero casar Y no hallo con quién. |
(Folklore venezolano, de R. Olivares Figueroa, I, p. 165.)
Aliás, há dessa "Viudita" uma carioca registrada pelas professoras Iris Costa Novaes, Diva Diniz Costa e Gedir de Faria Pinto, revista por Afrânio Peixoto (p. 128):
Viuvinha, Da banda d'além Quer se casar E não acha com quem. Com este, sim, Com este, não, Há de ser com aquele Do meu coração. |
É de se notar, entretanto, que a música apresentada nessa coletânea não tem a menor semelhança com a de "Ao passar da barca", lembrando, porém, a melodia com que há dezenas de anos atrás (senão também hoje) se entoavam, no interior de São Paulo, as estrofes da conhecida história da menina enterrada viva pela madrasta, por causa dos figos da figueira. E isso nos leva a novo entrelaçamento de música e letra de cantigas diversas, cuja procedência e evolução muitas vezes é difícil estabelecer.
F. J. de Santa-Anna Nery, em seu livro Folk-lore brésilien, editado em Paris, em 1889, registra à página 23 os versos da "Viuvinha", em forma que diz ter sido recolhida na Bahia.
É curioso observar que, nessa versão baiana, traduzida para o francês há mais de sessenta anos, aparecem quase exatamente os mesmos versos cantados até hoje no Espírito Santo e no Rio de Janeiro:
Je suis la petite veuve Des parages de là-bas; Je veux me marier, Mais ne sais avec qui; Avec celui-ci, oui, Avec celui-là, pas, Avec celui-ci, oui, Que j'aime bien. |
É pena que Santa-Anna Nery não registrasse também a música de "La petite veuve", como o fez com "Senhora dona Sancha" e "Caranguejo não é peixe".
Voltemos, porém, ao nosso "Ao passar da barca". Essa cantiga, também conhecida como "O barqueiro" ou "Viuvinha do conde Loureiro", é corrente em vários recantos do Espírito Santo.
Localizamo-la em Vitória, Vila Velha, Itaquari, Cariacica, Manguinhos, Nova Almeida, Santa Teresa, Itarana, Mimoso do Sul, Fundão, Bom Jesus de Itabapoana, Ibiraçu, Linhares, Santa Leopoldina e São Mateus.
Quase todas as crianças cantam: "Ao pássar da barca", acentuando a 1ª sílaba do verbo "passar". Variantes de Fundão, Nova Almeida, Itarana e Linhares cantam: "Ao passo da barca". Em roda cantada em Vitória, por meninas de várias localidades do interior, ouvimos: "Ao pássar a barca", provavelmente a forma primitiva da canção, idêntica ao "Al pasar la barca" do "Caso del barquero" acima citado.
Outras variantes: "Eu ganho dinheiro / Pra pagar você", "Eu trago dinheiro / Eu pago a você", "Não tenho dinheiro e pago a você", "Não tendo dinheiro...", "Por Ter meu dinheiro...".
Na 2ª parte:
Sou a solteirinha Que vim de Belém; Pretendo casar Mas não acho com quem. Sou a viuvinha Quem vim de Belém... Sou a viuvita Do conde Loureira; Quero casar E não acho quem queira. Sou a viuvita Do conde Laurita... |
Modo de brincar: Cantiga dialogada. Faz-se a roda e, dentro ou fora dela, fica a "viuvinha". Rodam e cantam a cantiga até "Menina bonita não paga dinheiro". A "viuvinha" responde, cantando, até "Não acho quem queira". Segue-se o coro: "Procura na roda..." e, afinal, a resposta da viúva, escolhendo aquela que deve ser o "seu par". Esta vai, por sua vez, ser a "viuvinha", repetindo-se a roda até cansarem.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Seu príncipe está lá dentro, A senhora onde é que está? A senhora dona Elsa Sempre mostra o que é: É uma gata espich...
Gata espichada
Seu príncipe está lá dentro, A senhora onde é que está? A senhora dona Elsa Sempre mostra o que é: |
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É uma gata espichada Na boca do jacaré. |
| bis | |
Conhecido também pelos nomes de "Senhor príncipe" e "Seu príncipe", este é um dos velhos brinquedos de roda em nossa terra capixaba. Sentimos, entretanto, estar ele cedendo o passo a outras rodas que às crianças parecem mais modernas, como "O pião", o "samba lêlê", o "Eu vi uma pastora", o "Meu irmão", "Meu limoeiro", o "Quebra, quebra, gabiroba" e outras.
Recolhemos versões em vários municípios do Estado, mas poucas são as variantes: "O príncipe está lá dentro", "Senhor príncipe está lá dentro", "Se o seu príncipe...", "Seu prince..."; "A senhora está, está", "A senhora estão, não está", "A senhora cá está"; "Sempre amostra o que é", "Que se mostre o que é".
Alexina de Magalhães Pinto, em Os nossos brinquedos (p. 60), registra a seguinte variante de Minas, sob o título "Olha o bicho":
Olha o bicho Que está lá dentro, Senhoras, deixá-lo estar, Senhora D. Fulana Sempre mostra o que é: É uma gata espichada Na boca do jacaré. |
A variante musical mineira difere da nossa em dois pontos: falta-lhe completamente a primeira parte, e a Segunda, embora seja de igual motivo, é cantada em ritmo bem diverso que, por ser menos espontâneo e menos condizente com a vivacidade da letra, torna, a nosso ver, mais desgraciosa a cantiga.
Também difere da nossa a maneira de brincar a roda na variante mineira, pois a esta falta a parte rítmica dos saltos da "gata espichada" e da sua escolhida — movimentação que dá tanta graça e ruído à versão capixaba.
Modo de brincar: Faz-se a roda bem aberta; no centro, isolada, uma das crianças. As outras, de mãos dadas, vão rodando e cantando até "A senhora dona fulana (nome da do centro) sempre mostra o que é". Aí param todas, repetindo muitas vezes: "É uma gata espichada / na boca do jacaré", estrepitosamente, acompanhando o canto de palmas na cadência da melodia. Enquanto isso, a criança do centro põe-se diante de outra da roda por ela escolhida, e ambas saltas várias vezes, abrindo e fechando os braços e as pernas, como polichinelos, ao ritmo do compasso binário da cantiga. Recomeça-se a roda, indo para o centro a escolhida, e assim até que todas as crianças tenham sido a "gata espichada".
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Meu amor é marinheiro, Ó marinheiro! Mora nas ondas do mar, Ó marinheiro! Tomara que a maré seque, Ó marinheiro! Para o meu amo...
Meu amor é marinheiro
Meu amor é marinheiro, Ó marinheiro! Mora nas ondas do mar, Ó marinheiro! Tomara que a maré seque, Ó marinheiro! Para o meu amor saltar, Ó marinheiro! |
É esta uma das cantigas de roda mais conhecidas no Espírito Santo. Rara é a criança que a não saiba cantar. Pudemos localizá-la em Vitória, Argolas, São Torquato, Vila Velha, Cariacica, Santa Leopoldina, Santa Teresa, Barra de Itapemirim, Ibiraçu, Linhares e São Mateus.
Há variantes muito ligeiras: umas substituem o "Tomara [pronunciando sempre Tomará] que a maré seque", por "Tomará que a maré enche", "que a maré desce". Outras, em lugar de "Para o meu amor saltar", cantam "Para o meu amor voltar", "Para o meu amor chegar", "Para o meu amor passar", "Para o meu amor salvar".
Não vimos nem a letra nem a melodia referidas em qualquer dos cancioneiros, velhos ou modernos, citados neste livreto. E a cantiga é, entre nós, das mais divulgadas e antigas.
Modo de brincar: Como toda roda de estribilho, cantam-na as crianças em coro, inclusive o "'O marinheiro!". Depois, cada uma "tira" a sua trovinha, cantando o coro o "'O marinheiro!" no final de cada verso. Assim:
Solo: | Nossa Senhora da Penha Aonde ela foi morar? Lá no alto da pedreira Toda cercada de mar. |
Coro: | Meu amor é marinheiro, ó marinheiro! Etc., etc. |
Coro: | Ó marinheiro! Ó marinheiro! Ó marinheiro! Ó marinheiro! |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Emissário: Onde mora a bela condessa, Língua de França, onde nasceu? Condessa: O que quer com a bela condessa Língua d...
Bela condessa
Emissário: | Onde mora a bela condessa, Língua de França, onde nasceu? |
Condessa: | O que quer com a bela condessa Língua de França, onde nasceu? |
— Senhor rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas E levar você também. |
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— Eu não dou as minhas filhas, Nem por ouro , nem por prata, Nem por sangue de Aragão, Para casar com esse ladrão. |
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— Tão contente que eu me vinha E tão triste que eu me vou, Por causa da bela condessa Que sua filha me negou. |
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— Volte atrás, bom cavalheiro, Por ser um homem de bem Subie naquele outeiro Escolhei daquelas três: Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar. |
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— Assentai aqui menina, Para coser e bordar, Que do céu lhe há de vir Uma agulha e um dedal. O dedal será de ouro, A agulha será de prata, Palmatória de marfim Para a mestra castigar. |
A "Bela condessa" ou "Senhora condessa" é uma das mais antigas canções de roda. Cantam-na, ainda hoje, principalmente as crianças do interior do Estado. As variantes que conseguimos recolher são de Vitória, Conceição da Barra, São Mateus, Santa Leopoldina e doutros municípios do interior.
Trata-se de roda do tipo "escolha de noiva", como a "Eu sou pobre, pobre, pobre", porém muito mais característica.
Cecília Meireles, em "Infância e folclore", dedicou a este folguedo, interessante estudo, desenvolvido em cinco artigos (A Manhã, de 7, 9, 10 e 22 de abril, e 16 de maio de 1942). Neles cita a inteligente folclorista inúmeras variantes brasileiras e portuguesas, além de versões da Espanha, Chile, Argentina, Venezuela e México — o que prova a larga difusão desta cantiga, assim em português como em espanhol.
Na versão anotada em Conceição da Barra e transcrita acima, bem como numa das variantes de São Mateus (transcrita adiante), há, segundo nos parece, evidente enxerto de fragmento de algum romance velho, o que não ocorre em nenhuma das variantes referidas por Cecília Meireles, nem em outras que também conhecemos, como a citada por José A. Teixeira, em Folclore goiano, p. 352; a por Julio Aramburu, em El folklore de los ninos, p. 87; a que registra Eduardo M. Torner, em El folklore en la escuela, p. 109. É o trecho em que a Condessa oferece as três filhas, mencionando-lhes os nomes:
Uma se chama Maria Outra se chama Guiomar, A mais formosinha delas Chama-se Estrela do Mar. (Conceição da Barra) Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais velha e mais formosa Chama-se Estrela do Mar. (São Mateus) |
Confrontem-se, por exemplo, estes versos com o romance de "Faustina", e as versões da "Nau Catarineta", in Romanceiro português, de Vitor Eugênio Hardung, I, p. 22 e 141.
A versão colhida em Santa Leopoldina substitui "Língua de França, onde nasceu", por "Língua de prata de Dona Alença"; outra variante capixaba canta o mesmo verso assim: "Língua de prata dona Lionença" — evidentes alterações da que se canta em Ouro Preto — "Língua de prata de ouro e nobreza" (Cecília Meireles, A Manhã, 10/4/1942).
Interessante é a acentuada tendência das crianças capixabas em nasalizarem a palavra "Condessa", pronunciando "Condensa".
Nas versões brasileiras citadas por Cecília Meireles — variantes paraenses, carioca e mineira — em em quatro das versões capixabas, o pretendente ou emissário dirige, às filhas da condessa, "amabilidades" jocosas, o que não ocorre na variante de Conceição da Barra, que mantém, ainda hoje, o aspecto singelo e sério do folguedo.
Da "Bela Condessa", além da melodia que aqui fixamos, conhecemos três outras — a que se vê no Guia prático, n. 39, intitulada "Condessa"; a recolhida por Juan Alfonso Carrizo, em Cantares tradicionales del Tucumám, p. 49, sob o título "Hilo de oro, hilo 'i plata"; e a que figura, com o nome de "Las hijas del rey moro", em El folklore en la escuela, loc. cit.
A música registrada no Guia prático, em arranjo de Villa-Lobos, além de aproveitar os motivos de outras cantigas de roda ("Constança, meu bem Constança" e "A viuvinha"), não apresenta a mais leve semelhança com a suave melodia capixaba, e como que se desatavia dos encantos naturais que, em regra, caracterizam as melodias do folclore musical infantil.
Ressalte-se aqui, mais uma vez, que a preocupação cardinal dos autores deste caderno de cantigas, primeiro de uma série, é fixar, fielmente, rigorosamente, a letra e a música das canções de roda, recolhidas diretamente da fonte oral infantil, isto porque sempre tiveram, em alta linha de conta, que "a virtude máxima do folclorista é a fidelidade" (Luís da Câmara Cascudo).
As duas outras versões musicais — ambas de procedência argentina — também diferem acentuadamente da nossa. A primeira é allegro, vivaz, com início quase marcial. A segunda, moderato e — interessante! — reproduz exatamente, na parte final, a melodia correspondente ao responso da Ladainha de Todos os Santos "Te rogamus, audi nos", em canto Gregoriano.
Modo de brincar: Quase não difere no Brasil a maneira de brincar esta roda, segundo o depoimento de Cecília Meireles. Forma-se uma fila de crianças, de mãos dadas — é a condessa e as filhas. Do outro lado, sozinho, o emissário. Canta-se o longo diálogo, em movimentos de vai e vem, como os da cantiga "Eu sou pobre, pobre, pobre". Escolhida a primeira "noiva", que fica "assentada" no lugar onde estava o emissário ou o acompanha nas embaixadas seguintes — a dramatização se repete até serem todas as filhas da condessa, escolhidas como noivas dos reis.
Transcrevemos abaixo, algumas das versões capixabas da "Bela condessa".
De São Mateus:
— Aonde mora a bela condessa, Vinda de França, onde nasceu? — O que queres com a bela condessa, Vinda de França, onde nasceu? — Senhor Rei mandou-me aqui, Buscar uma de vossas filhas, Carregar você também. — Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de alemão Para casar com este ladrão. — Tão contente que eu me vinha E tão triste já me vou, Por causa da bela condessa Que sua filha me negou. — Volte cá bom cavalheiro, Escolhei a qual quiser. Uma se chama Maria, Outra se chama Guiomar, A mais velha e mais formosa Chama-se Estrela do Mar. — Esta eu quero, esta não quero, Esta come requeijão, Esta bebe ovo choco, Esta é do meu coração. |
De Santa Leopoldina:
— Onde mora a senhora condessa, Língua de prata de Dona Alença, Seu rei mandou buscar Sua filha para casar. |
|
— Minha filha não vai lá Nem por ouro nem por prata, Nem por sangue de lagarta. Volte a cabo cavaleuri Escolhei neste monteiro |
bis |
— Esta quero, esta não quero, Come queijo, requeijão, Vim buscar meu coração. |
bis |
De Vitória:
— Senhora dona condessa, Língua de prata dona Lionença. O rei mandou buscar Uma das filhas para casar. — Eu não dou as minhas filhas Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de lagarta. — Tão alegre que vim, Tão triste que voltarei, Pelas filhas da condessa Que nenhuma levarei. — Volta cá meu cavalheiro, Escolhei destas seis A que for mais bela E contigo levareis. — Esta quero, esta não quero, Esta come pão da cesta, Bebe vinho da galheta, Come queijo, requeijão, Vim buscar meu coração. |
De Vitória (morro de São Francisco):
— Onde mora a bela condessa, Filha de França, onde nasceu? — Aqui mora a bela condessa, Filha de França, onde nasceu. — Meu rei mandou-me aqui Buscar uma de vossas filhas. — Minhas filhas eu não dou, Nem por ouro nem por prata Nem por sangue de lagarta. — Tão alegre que eu vinha, Tão triste vou voltando. — Volte, volte cavaleiro, Escolhei a qual quiser. — Esta quero, esta não quero, Esta como requeijão, Esta como o pão da cesta, Esta é do meu coração. |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Terezinha de Jesus Deu uma queda foi ao chão, Acudiu três cavalheiros, Todos três chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, O segu...
Terezinha de Jesus
Terezinha de Jesus Deu uma queda foi ao chão, Acudiu três cavalheiros, Todos três chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, O segundo seu irmão, O terceiro foi aquele Que Teresa deu a mão. Tanta laranja madura, Tanto limão no chão, Tanto sangue derramado Dentro do meu coração. |
Canção de roda muito conhecida e querida no Espírito Santo. As versões quase não diferem da que aqui registramos. Apenas uma, de Colatina, acrescenta-lhe a quadra:
Da laranja quero um gomo, Do limão quero um pedaço, Da fulana quero um beijo De você quero um abraço. |
O mesmo ocorre em variante carioca, citada por Cecília Meireles ("Infância e folclore", A Manhã, 20/02/1942).
A cantiga foi também recolhida por Alexina de Magalhães Pinto, frei Pedro Sinzig e pelos maestros Villa-Lobos, J. Gomes Júnior e J. Batista Julião. Nota-se, porém, nas versões desses autores, a preocupação de salvar a concordância. Em Cantigas das crianças e do povo (Alexina de Magalhães Pinto), p. 64, o 3o verso da 1a quadra é "Acudiram três cavaleiros"; em O Brasil cantando, n. 310 — "Acudiram três senhores"; no Guia prático, n. 123, e em Ciranda, cirandinha..., n. 26 — "Acodem três cavalheiros". Essa correção ou polimento como que altera e constrange a melodia, tirando-lhe — a nosso ver — o sabor espontâneo e popular que é evidente na versão capixaba.
A variante mineira que se lê em Cantigas das crianças e do povo, termina pela seguinte quadrinha que completa o ingênuo "enredo" da cantiga:
Terezinha levantou-se, Levantou-se lá do chão E sorrindo, disse ao noivo — Eu te dou meu coração! |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Que é de Valentim, Valentim traz, traz? Que é de Valentim? É um bom rapaz! Que é de Valentim? Valentim sou eu! Bela moreninha ...
É de Valentim
Que é de Valentim, Valentim traz, traz? Que é de Valentim? É um bom rapaz! Que é de Valentim? Valentim sou eu! Bela moreninha Que este par é meu! |
Cantado em vários pontos do Estado, o "Valentim" é uma das canções de roda mais alegres e maviosas do vasto repertório musical infantil. Recolhemos variantes em Vitória, Santa Leopoldina, Linhares e Vila Velha. Este brinquedo, que faz parte do grupo de rodas de estribilho, em que se tiram versos e quadrinhas à medida que se entoa a canção — não o vimos referido em nenhum dos cancioneiros aqui citados. Uma das versões de Santa Leopoldina substitui o "Valentim traz, traz" por "Valentim záz-traz". Variantes há que dizem: "Quéde Valentim", "É de Valentim", "Pedro Valentim", ou "O que é de Valentinho". Em lugar de "Bela moreninha", usam também "Que bela moreninha" ou "ôi que bela moreninha". Outras versões cantam: "Pego na morena / Que esse par é meu", ou "Deixe a moreninha / Que esse par é meu". Modo de brincar — Forma-se a roda comum e todos entoam a canção, tirando-se versos ou quadras à vontade, mas na mesma toada do "Valentim", que serve de estribilho. Há variantes — e as anotamos em Vitória e Santa Leopoldina — em que o versos inicial "É de Valentim" se repete, cantado pelo coro, no final de cada verso das quadrinhas tiradas. Assim:
Coro: | | | | | | | | |
Que é de Valentim, Valentim traz, traz? Que é de Valentim? É um bom rapaz! Que é de Valentim? Valentim sou eu! Bela moreninha Que este par é meu! |
Solo: Coro: Solo: Coro: Solo: Coro: Solo: Coro: |
O morro da Fonte Grande É de Valentim. Tem descida e tem subida, É de Valentim. Também tem um moreninho, É de Valentim. Perdição de minha vila! É de Valentim. |
Coro: | | | |
Que é de Valentim, Valentim traz, traz? ... |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Eu sou pobre, pobre, pobre, De mavé, mavé dici. Eu sou pobre, pobre, pobre, De mavé dici. Eu sou rica, rica, rica, De mavé, ...
Eu sou pobre, pobre, pobre...
Eu sou pobre, pobre, pobre, De mavé, mavé dici. Eu sou pobre, pobre, pobre, De mavé dici. Eu sou rica, rica, rica, De mavé, mavé dici. Eu sou rica, rica, rica, De mavé dici. O que é que vós quereis? De mavé, mavé dici. O que é que vós quereis? De mavé dici. Quero uma de vossas filhas, De mavé, mavé dici. Quero uma de vossas filhas, De mavé dici. Qual é delas que vós quereis? De mavé, mavé dici. Qual é delas que vós quereis? De mavé dici. Quero a menina fulana, De mavé, mavé dici. Quero a menina fulana, De mavé dici. Que ofício dar a ela? De mavé, mavé dici. Que ofício dar a ela? De mavé dici. Dou o ofício de costureira, De mavé, mavé dici. Dou o ofício de costureira, De mavé dici. Este ofício não lhe agrada, De mavé, mavé dici. Este ofício não lhe agrada, De mavé dici. Dou o ofício de professora, De mavé, mavé dici. Dou o ofício de professora, De mavé dici. Este ofício lhe agrada, De mavé, mavé dici. Este ofício lhe agrada, De mavé dici. |
É um dos mais queridos brinquedos de "fileira" que se cantam no Espírito Santo. Dela há variantes diversas, alterando apenas o estribilho correto "Je m'en vais d'ici" (Vou-me daqui) — que ninguém canta — pelas formas adulteradas: "Je marré dici", "De mavé dici", "De marré dici", "De mazé dici" e "Je mouvé dici".
Segundo Cecília Meireles, ("Infância e folclore", A Manhã, 02/4/1942) o tema desta canção de roda "vem a ser uma reminiscência das antigas cerimônias da "escolha de noiva".
Mas, hoje em dia, este brinquedo tem outro sentido. Trata-se de adoção de meninos e meninas "pobres", com a promessa, por parte da "mãe" rica, mas sem filhos, de lhes dar ofícios condignos.
A cantiga é muito divulgada no Brasil. Além das variantes citadas por Cecília Meireles, conhecemos a que se vê em Os nossos briqnuedos, p. 99, em O Brasil cantando, n. 135, no Guia prático, n. 98 e na História da música brasileira, de Renato Almeida, p. 108.
As músicas fixadas quer por Alexina de Magalhães Pinto, quer por frei Sinzig (versões mineiras), divergem da que se canta aqui no Espírito Santo. São monótonas e, a nosso ver, menos belas que a variante capixaba.
A versão fluminense ambientada por Villa-Lobos, bem como a de Alagoas citada na História da música brasileira são idênticas à melodia que aqui fixamos.
Modo de brincar: Forma-se uma grande fileira de crianças, todas de mãos dadas, tendo ao centro a "mãe" pobre. Distante, voltada para elas, a "mãe" rica, mas em filhos. Começa o brinquedo e a fila numerosa, aproximando-se da mãe sozinha, entoa o "Eu sou pobre, pobre, pobre", e depois recua. Avança, então, a "mãe" sem filhos, cantando: "Eu sou rica, rica, rica". E o folguedo prossegue no diálogo da cantiga, com avanços e recuos de cada parte, passando a criança, quando o ofício lhe agrada", para a companhia da "mãe" rica, até que a fileira pobre esteja reduzida à "mãe" ou diretora do jogo.
Forma-se, então, a grande roda, e as crianças, de mãos dadas, giram rápido cantando repetidamente, tal como ocorre na versão de Cecília Meireles (op. cit.):
Fazeremos a festa juntos, De mavé, mavé dici. Fazeremos a festa juntos, De mavé dici. |
Em rodas de crianças maiores, o "fazeremos" se corrige em "vamos fazer".
Em Manguinhos, em vez desses versos, canta-se repetidamente:
Eu de rica, fiquei pobre, De mavé, mavé dici. Eu de rica fiquei pobre, De mavé dici. |
E depois, da mesma forma:
Eu de pobre fiquei rica, De mavé, mavé dici. Eu de pobre fiquei rica, De mavé dici. |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Tenho uma linda laranja, ó maninha, — Que cor é ela? — Ela é verde-amarela, Vira Marina, esquerda janela. | bis | ...
Tenho uma linda laranja
Tenho uma linda laranja, ó maninha, — Que cor é ela? — Ela é verde-amarela, Vira Marina, esquerda janela. |
| bis | |
Talvez seja esta, depois da "Ciranda", a roda mais conhecida em todo o Espírito Santo. Localizamo-lo em Vitória, Linhares, São Mateus, Viana (Jabaeté), Guarapari, Mimoso do Sul, Vila Velha, Serra, Santa Leopoldina, Argolas, Manguinhos e Tucum.
Embora divulgada em vários Estados do Brasil, conforme testemunho de Ceília Meireles, em "Infância e folclore", (A Manhã, 10/6/1942), só a vimos mencionada no Guia prático, n. 70.
O arranjo do maestro Villa-Lobos, calcado em música popular recolhida na Paraíba do Norte, difere totalmente da melodia capixaba, que se nos afigura mais sonora, mais espontânea e viva. A letra que no Guia prático se registra parece-nos forçada, sem as elipses, tão freqüentes e naturais na fala infantil:
Trago eu lindas laranjas, oh! Maninha. De que cor são elas, Elas são verde amarelas Vira Maria a esquerda da janela! |
Em uma das versões de Vitória e na que recolhemos em Linhares, encaixa-se, no brinquedo, fragmento (letra e música) da cantiga "A canora virou". Depois que todas a s crianças virara à "esquerda janela", isto é, de costas para o centro da roda, voltam, uma a uma, à primeira posição, à medida que se canta:
A canoa virou, Deixai-a virar, Por causa de fulana Que não soube remar. |
Ou
O barco virou, Deixou de virar, Porque fulana Não soube remar. |
É assim, aliás, que se brinca a roda em Leopoldina, Minas, segundo refere Cecília Meireles no citado artigo.
Tal enxerto facilmente se explica: ambos os brinquedos têm a mesma dramatização. Ao cantarem "Vira fulana, esquerda janela", a criança nomeada se volta, de costa para o centro da roda, e assim sucessivamente todas elas, tal como na canção "A canoa virou".
O retorno à posição inicial é indicado, em outras variantes, porém na melodia de "Tenho uma linda laranja, aqui fixada, com a expressão final "Vira fulana, direita janela".
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Pedro Malasarte, ó maninha, Com sua canoa, ó maninha, Leva gente dentro, ó maninha, Leva coisa boa, ó maninha. A can...
A canoa virou...
Pedro Malasarte, ó maninha, Com sua canoa, ó maninha, Leva gente dentro, ó maninha, Leva coisa boa, ó maninha. |
|
A canoa virou, Deixai-a virar, Por causa de Maria Que não soube remar. |
| bis | | | |
Esta velha cantiga de roda, tão viva e maviosa, hoje quase só se canta em seus versos finais. É assim que a temos ouvido ultimamente, em vários pontos do Espírito Santo, muitas vezes até como simples complemento de outro brinquedo de roda, o "tenho uma linda laranja". É assim que a vemos registrada, quer em Os nossos brinquedos, de Alexina de Magalhães Pinto, p. 76; quer na Ciranda, cirandinha..., de J. Gomes Júnior e J. Batista Julião, n. 27; quer no Guia prático, de Villa-Lobos, n. 23, quer nos Jogos e canções infantis, do folclorista português Augusto Pires de Lima, p. 114.
A música recolhida em Os nossos brinquedos, sob o título "O barco virou" parece-se com a variante capixaba; esta, porém, é mais bonita e sonora. A que consta de Ciranda, cirandinha... só vagamente faz lembrar a nossa melodia. O mesmo se pode dizer com referência à que se vê no Guia prático.
A primeira parte da versão capixaba, não a encontramos em nenhum rimário infantil. É velha toada que se vai perdendo, infelizmente.
Modo de brincar: O folguedo da "A canoa virou" é ligeiro e divertido. Forma-se a roda grande e, girando, todos cantam a cantiga. Ao chegarem à parte mais conhecida: "A canoa virou, / Deixai-a virar, / Por causa de fulana / Que não soube remar" — a menina ou menino "que não soube remar" vira-se de costa para o centro da roda, e assim, à medida que são citados, vão-se virando, um a um, até ficarem todos, de mãos dadas, sempre girando, costas voltadas para o meio da roda. A cantiga prossegue, desvirando-se um a um, até retornarem todos à primitiva posição.
Nota — Ver a canção seguinte.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, Olhai pro céu, olhai pro chão pro chão, pro chão, Manda Deus Nosso Senhor, Senhor, Senhor, ...
Carneirinho, carneirão...
Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, Olhai pro céu, olhai pro chão pro chão, pro chão, Manda Deus Nosso Senhor, Senhor, Senhor, Para todos se ajoelhar! Carneirinho, carneirão, neirão... Olhai pro céu, olhai pro chão... Manda Deus Nosso Senhor... Para todos se sentar! Carneirinho, carneirão, neirão... Olhai pro céu, olhai pro chão... Manda Deus Nosso Senhor... Para todos se deitar! Carneirinho, carneirão, neirão... Olhai pro céu, olhai pro chão... Manda Deus Nosso Senhor... Para todos se levantar! |
Canção infantil cantada em todo o Espírito Santo.
Variantes capixabas registram: "Nosso Senhor mandou dizer, dizer, dizer" (Mimoso do Sul); "Pai do céu manda dizer, dizer, dizer" (Vitória): Nosso Senhor manda dizer, manda dizer" (Guarapari).
Foi recolhida a cantiga também por frei Sinzig, no seu Brasil cantando, n. 132, com a nota: "Brinquedo de roda conhecido na Bahia, em Minas, no Rio e no Rio Grande do Sul". A música aí registrada apresenta o mesmo motivo, mas é muito mais monótona que a versão musical capixaba.
Também Alexina de Magalhães Pinto divulga uma variante mineiro, em Os nossos brinquedos, p. 14, com música parecida, porém diferente na 2a parte, que, a nosso entender, parece fugir ao clima suave e fácil em que, via de regra, vivem as cantigas infantis.
Consta, igualmente, do Guia prático, de Villa-Lobos, sob n. 31, em melodia fluminense, semelhante à nossa.
Modo de brincar: Forma-se a roda, e à medida que cantam, as crianças vão reproduzindo ou dramatizando o que "Manda Deus Nosso Senhor" — ajoelhar, sentar, deitar, levantar.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
ALMEIDA, Renato. História da música brasileira . 2. ed. Rio de Janeiro, F. Briguiet, 1942. ARAMBURU, Julio. El folklore de los niños . Bue...
Bibliografia
ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro, F. Briguiet, 1942.
ARAMBURU, Julio. El folklore de los niños. Buenos Aires, El Ateneo, 1944.
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[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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Periquito Maracanã, Cadê a tua Yayá? Faz um ano, faz um dia, Que eu não vejo ela passar. Ora vai chegando, Ora vai chegando, O...
Periquito Maracanã
Periquito Maracanã, Cadê a tua Yayá? Faz um ano, faz um dia, Que eu não vejo ela passar. Ora vai chegando, Ora vai chegando, Ora vai chegando, até chegar! Ora vai fastando, Ora vai fastando, Ora vai fastando, até afastar! Ora vai pulando, Ora vai pulando, Ora vai pulando, até pular! Ora vai rodando, Ora vai rodando, Ora vai rodando, até rodá. |
Cantado em vários pontos do Espírito Santo, este brinquedo de roda é dos mais alegres e movimentados que se conhecem.
Ligeiras variantes capixabas substituem "Maracanã" por "Manacanã" ou por "Maracaná", que, aliás, rima com "Yayá"; "Ora vai chegando", por "Ele vai chegando"; "cadê", por "quéde", quêde" ou por "onde está".
Em Vitória, ouvimos cantar a seguinte variante:
Periquito Maracanã, Quêde a tua Yayá? Faz um ane e quatro meses, Que eu não vejo ela falá; Por causo de teus carinho Meu amor não qué chegá. Vem chegando, Vem chegando, Vem chegando, até chegá. Vem rolando, Vem rolando, Vem rolando, até rolá. |
Não vimos mencionada esta cantiga — letra e música — em nenhum dos cancioneiros aqui referidos.
Modo de brincar: Arma-se a roda grande, e as crianças, de mãos dadas, cantam, rodando, os quatro primeiros versos. Em seguida, sem soltarem as mãos, fazem, cantando, tudo o que se diz na cantiga: chegam-se para o centro da roda, afastam-se, rodam, pulam, correm, chegam-se outra vez; isto, alegre e ruidosamente, até cansarem.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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Menina da saia branca, Que fazeis neste quintal? — 'Stou lavando meu lencinho Para a noite de Natal. — Aviai, andai depressa...
Barca nova
Menina da saia branca, Que fazeis neste quintal? — 'Stou lavando meu lencinho Para a noite de Natal. — Aviai, andai depressa, Vamos à praia brincar, Vamos ver a barca nova Que do céu caiu no mar. Nossa Senhora vai dentro, Nosso Senhor no altar, São José é o contramestre Com os anjinhos a remar. Rema, rema, remador, Que estas águas são de flor! Rema, rema, remador, Que estas águas são de flor. |
Velha cantiga de roda divulgada em todo o Espírito Santo. Recolhemos variantes em Vitória, São Mateus, Linhares, Santa Leopoldina, Serra, Manguinhos, Araçativa e noutros pontos do Estado.
Numa versão de Manguinhos, vilarejo de pescadores próximo a Vitória, substitui-se o verso — "Nossa Senhora vai dentro", por — "Nossa Senhora da Penha", evidente influência da Virgem do Convento, padroeira milagrosa da terra capixaba. Em Santa Leopoldina, também se canta o verso final assim alterado: "Que estas águas são de amor". Há tantas variantes que, em lugar de "Barca nova", cantam "Lancha nova", em vez de "remador" e "flor" — "remadores" e "flores". Na Serra, uma versão diz: "Nossa Senhora levando / Nosso Senhor no altar". No tradicional auto da Marujada, versão de São Mateus, enxerta-se o seguinte trecho, calcado, sem dúvida, nesta canção de roda, mas em toada de negro, muito diversa da melodia aqui registrada:
Vamos ver a Barca nova Que do céu caiu no mar, Nossa Senhora vem dentro, Os anjinhos a remar. São Pedro vem por piloto, São João por capitão, O Senhor Menino Deus Regente desta embarcação. |
Cecília Meireles que, em um dos seus interessantes sob o título "Infância e folclore" (A Manhã, 19/02/1942), focaliza esta antiga canção de roda e dela cita fragmentos e variantes — acha-a "uma das canções de mais poesia, tanto pelo que diz, como pelo que sugere".
Desta cantiga, Alexina de Magalhães Pinto registrou, em "Os nossos brinquedos", duas variantes — uma de Minas Gerais, intitulada "A praia", p. 5; a outra, do Rio de Janeiro, "A barca nova", p. 7. A música da versão mineira difere da nossa e, confessemos, é mais graciosa.
Com melodia muito parecida à de Minas, foi recolhida, pelos maestros João Gomes Júnior e João Batista Julião, outra variante sob o título "Vamos maninha" (Ciranda, cirandinha..., n. 27).
Em seu O Brasil cantando, n.158, frei Pedro Sinzig nos dá outra versão. A música é quase igual à melodia mineira de "Os nosso brinquedos", mas difere na 2a parte, onde um si bemol tira toda a graça do motivo.
O Guia prático de Villa-Lobos estampa, sob n. 127, o "Vamos, maninha", arranjo de melodia popular recolhida no Rio de Janeiro, bem diversa, aliás da cantiga capixaba e que é repetida com ligeira alteração no "chamado para brinquedo de roda" "À praia" (Guia prático, n. 33).
Modo de brincar: Arma-se a roda e todas as crianças cantam, girando, os versos da cantiga. Ao chegarem, porém, ao "Rema, rema...", rodam e cantam bem ligeiro, cada vez mais rapidamente, repetindo os dois versinhos finais até cansarem.
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Sereno, eu caio, eu caio, Sereno deixai cair; Sereno da madrugada Não deixou meu bem dormir. antiga de roda muito conhecida ...
Sereno
Sereno, eu caio, eu caio, Sereno deixai cair; Sereno da madrugada Não deixou meu bem dormir. |
antiga de roda muito conhecida e cantada no Espírito Santo, e das mais melodiosas. Brincam-na as crianças de Vitória, Araçatiba, Virgínia, Cariacica e Guarapari, conforme pudemos verificar. Mas é cantada em todos os pontos do Estado.
O tom da cantiga faz com que, em regra, se pronuncie alongadamente serenô ou serenu. Variantes: "Serenô, deixa eu cair", "Serenu, deixô cair" — "Serenô, deixais cair" — "Não deixas meu bem dormir".
Cecília Meireles, em um dos seus artigos "Infância e folclore", sob o título "Sereno da madrugada", faz referência a esta roda, muito divulgada também no Pará, se bem que em variante afastada. Vale a pena transcrever aqui a impressão que a cantiga deixou em Cecília Meireles: "Tal como se canta naquele Estado do norte, a cantiguinha encerra muito pouca coisa. No entanto, parece-me cheia da mais pura poesia, e, de repetir as suas linhas, convenci-me de que não há muitas em nosso folclore, que se lhe possam compara. Pode ser que o leitor estranhe tão forte afirmação para tão fraco texto. Mas é precisamente a tenuidade da letra, a sua incompletação, o sentimento de fragilidade existente na cantiga que a tornam incomparável na literatura infantil."
A não ser a citação de Cecília Meireles, não deparamos a menor referência à cantiga, em qualquer dos cancioneiros aqui mencionados.
Segundo informação do Dr. Christiano Fraga, da Subcomissão Espírito-santense de Folclore, esta cantiga obteve "o primeiro prêmio num concurso de canções estaduais típicas, organizado por uma emissora carioca".
Nas pesquisas que realizamos, não nos foi, porém, possível confirmar esse informe. Apuramos , entretanto, que, por volta de 1939, Almirante, o conhecido cultor da música popular brasileira, a quem consultamos pessoalmente, procurou interessar alguns compositores cariocas na utilização de nossa música tipicamente popular, tendo-lhes oferecido cerca de 50 temas folclóricos de sua coleção, para esse fim. Houve apenas um caso de aproveitamento. Antônio Almeida publicou "Serenô", em que aparecem a letra e a música de nossa cantiga. Por volta de 1940 ou 1941, os "Anjos do inferno" gravaram essa composição em disco Victor.
Almirante recebera a cantiga daqui de nosso Estado e admirava nela, particularmente, a perfeita articulação entre a música e a letra. Nesse registro primitivo, sempre que apareciam as palavras "eu caio" e "deixa cair", a melodia caía também para notas mais graves, numa correspondências perfeita. Mas Antônio Almeida alterou, em parte, essa forma melódica, sustentando as notas correspondentes a "eu caio", circunstância essa que feriu a sensibilidade artística de Almirante... e a nossa também, logo que soubemos do caso.
O disco e o rádio, isolados ou em conjunto, encarregaram-se de divulgar a estilização, provocando, pouco a pouco, entre nós, o quase desaparecimento da nossa forma tradicional, suplantada pela adaptação da Antônio Almeida. Graças a Deus, entretanto, ainda se ouve cantar o "Sereno" em terras capixabas — principalmente no interior do Estado — na velha versão original, com aquele "eu caio, eu caio" tão intimamente articulado com a melodia.
Modo de brincar: Brinca-se, como qualquer das cantigas de estribilho, alternando este com as quadrinhas tiradas, uma a uma, pelas crianças da roda, na mesma toada da cantiga. Por exemplo:
Coro: | Sereno, eu caio, eu caio, ................ ................ |
Solo: | Oh, que noite tão escura, Tão cheia de vagalume! Meu amor tão pequenino, Tão cheinho de ciúme... |
Coro: | Sereno, eu caio, eu caio, Etc... |
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Os olhos de Marianita São pretos que nem carvão. Atchim! Marianita, sim, Atchim! Marianita, não. | bis | | bis | Q...
Os olhos de Marianita
Os olhos de Marianita São pretos que nem carvão. Atchim! Marianita, sim, Atchim! Marianita, não. |
| bis | | bis | |
Quem fuma cachimbo, baba, Quem toma tabaco, espirra. Atchim! Que diabo é isso? Na panela tem feitiço! |
| bis | | bis | |
Embora se restrinja a duas quadrinhas apenas, é esta uma das mais queridas cantigas de roda em nossa terra. As crianças gostam dela e cantam-na freqüentemente.
É conhecida — cremos — em todo o Brasil, tendo sido registrada por D. Alexina de Magalhães Pinto em suas Cantigas das crianças e do povo, p. 44, sob o título "Atché!", mas em versão distanciada, quer na letra quer na música e na maneira de crincar. Cecília Meireles teve ocasião de se referir a esta ronda, pelo menos em dois dos seus preciosos artigos sobre "Infância e folclore" (A Manhã, 25/02/1942 e 15/7/1942). A cantiga que a ilustre folclorista cantava e ouvia cantar, nos seus folguedos infantis, era a "Marianita", com música igual à de "A moda da carranquinha", e com estes versos apenas:
Os olhos de Marianita São negros que nem carvão; Ó sim Marianita, ó sim, Ai, ó sim, Marianita, ó não! |
É possível, conforme deixa entrever Cecília Meireles, tenha a cantiga procedência lusa, talvez do Alentejo, pela versão que transcreve no seu artigo.
Uma variante próxima da versão capixaba figura no magnífico "Arquivo Folclórico" da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, organizado pela folclorista Oneyda Alvarenga. Na sua copiosa e importante coleção, a folclorista de São Paulo registra a seguinte letra da cantiga, recolhida, bem como a melodia, em Varginha (sul de Minas):
Os olhos de Maria São pretos como carvão, Assim, oh! Maria, Assim, oh! Maria, Assim, oh! Maria, Oh! Não! |
| bis | | | bis | | |
Em certos lugares do Estado não se canta a Segunda parte da cantiga, finalizando, porém a roda com os mesmos estreptosos "espirros", como na versão de Cecília Meireles e Alexina de Magalhães Pinto:
Atchim! Que diabo é isso? Na panela tem feitiço! |
Ou, em rima com o versos "São pretos que nem carvão":
Atchim! Que diabo é isto? Na panela tem feijão! |
Outro aspecto a fixar quanto à 2a. parte desta cantiga é que não a encontramos referida em nenhum dos estudos aqui citados, salvo na coletânea Vamos brincar de roda, que a registra como estribilho de outra cantiga, denominada "Atchim", de que só menciona esta estrofe:
Senhor chefe de polícia, Inspetor do quarteirão: Prendei esse maroto Levai para a correção. |
Assinalam as autoras que a cantiga foi assim recolhida no Rio de Janeiro. Quanto à melodia que fixaram, atribuindo-lhe procedência anglo-saxônica, verificamos que se assemelha de tal sorte à recolhida por nós que não hesitamos em afirmar a identidade primitiva de ambas.
Finalmente, devemos consignar que a versão transcrita no "Arquivo Folclórico" adota, de início, o mesmo motivo musical da versão capixaba, com ligeiras variações. Não havendo, porém, na letra, a palavra "Atchim..." etc., aparece, para terminação da estrofe, um final melódico inexistente nas outras variantes aqui citadas.
Modo de brincar: Roda simples, cantada por todas as crianças e "espirrada" nos momentos dos "atchins". Repete-se até cansar.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
— Num rochedo tão alto Que ninguém pode alcançar, Sentou-se a pobre viúva, Sentou-se e pôs-se a chorar, A chorar, a chorar. — O...
Pobre viúva
— Num rochedo tão alto Que ninguém pode alcançar, Sentou-se a pobre viúva, Sentou-se e pôs-se a chorar, A chorar, a chorar. — Ora diga, senhora viúva, Com quem quereis se casar: Se é com o filho do conde, Ou com senhor general, General, general. — Eu não quero nenhum desses moços Porque não são para mim; Eu sou uma pobre viúva, Triste, coitada de mim, Ai de mim, ai de mim. — Tingolê, tingolá, Toca a viola pra nós dançar, Tingolê, tingolá, Toca a viola pra nós dançar. |
De todas as cantigas referidas neste livreto, é esta — parece-nos — a mais difundida em terras brasileiras. Conhecemos versão pernambucana (Pereira da Costa, Folclore pernambucano); mineiras (Frei Pedro Sinzig, O Brasil cantando, n. 136, e Basílio de Magalhães, "A viuvinha" in Revista de Língua Portuguesa, II, p. 177); paulista (Afonso ª de Freitas, Tradições e reminiscências paulistanas, p.179): cariocas (Iris Costa Novaes, Diva Diniz Costa e Gedur de F. Pinto, Vamos brincar de roda, p. 118, e Cecília Meireles, "Infância e folclore", A Manhã, 10/12/1942).
Pelo estudo que faz Cecília Meireles, vê-se que a cantiga de roda cantada aqui no Espírito Santo difere, em certos pontos, acentuadamente, das versões cariocas ali referidas. Nestas há o enxerto da "Viuvinha da parte de além" ou "Eu sou viuvinha / das bandas d'além" — o que não ocorre em nenhuma das variantes capixabas. Esse acréscimo (cantado até com música diferente da 1a. parte, segundo Cecília Meireles) faz parte de outra cantiga de roda, o nosso "Ao passar da barca"(n. 3 deste caderno). Houve nessas versões cariocas e em outras, evidente contaminação entre as duas cantigas, resultante, por certo, da referência nelas feitas à mesma "viuvinha" que quer casar-se.
No Vamos brincar de roda não há, na cantiga "Senhora viúva", o enxerto da "Viuvinha das bandas d'além", mas, logo após o "Eu sou uma pobre viúva / Triste, coitada de mim", se encaixa o seguinte trecho, muito próximo da variante de Conceição da Barra, que vai transcrita no final destes comentários:
Morreu meu marido No meio das flores; Acabou-se a alegria, Acabaram os amores. Coberta de luto, De luto fechado, Semanas inteiras Eu tenho chorado. |
A melodia fixada em Vamos brincar de roda difere muito da versão musical espírito-santense, sendo interessante frisar que, iniciando ela com três compassos indecisos, termina a primeira parte com um motivo semelhante ao da conhecida ronda "O cravo brigou com a rosa", e a Segunda com outro que lembra o "Tenho uma linda laranja".
Na cantiga de roda capixaba, a parte final diverge do ar e tom melancólicos da inicial, quer na letra, quer na música. Aquele inesperado "Tingolê, tingolá", saltitante e alegre — que falta em todas as demais versões conhecidas — parece até que nem faz parte da ronda. No entanto, pela bonita variante de Conceição da Barra, transcrita no final deste estudo, — única assim completa, ouvida no Espírito Santo — vê-se que, após cantar as tristezas da viuvez, a "viuvinha", escolhendo o seu "par", com ele se casa. Daí a festa de bodas, em que todos dançam, e os "noivos" também, ao som do irrequieto "Tingolê, tingolá"...
Em variante de Santa Leopoldina, canta-se também, com referência a essa nova boda:
Tingolê, tingolá, Toca a viola pra nós dançar, Tingolê, tingolá, A viúva vai se casar! |
Localizamos a "Senhora viúva" em quase todas as cidades e vilas do Estado: Vitória, São Mateus, Conceição da Barra, Alegre, Santa Lepoldina, Vila Velha, Cariacica, Iconha, Colatina, itaguaçu, Serra, Domingos Martins, itarana...
Variantes: "Oh que rochedo tão alto" — "Eis um rochedo tão alto" — "Eis que tem um rochedo" — "Olha um rochedo..." — "Um rochedo tão alto" — "Ai, que rochedo tão alto" — "Tenho um rochedo..." — "Existe um rochedo..." — "Sob um rochedo..." — "Era um rochedo" — "Era um coqueiro tão alto" — "Tinha um coqueiro..." — "Existe um coqueiro..."
"Chegou uma pobre viúva / Chegou e pôs-se a chorar" — "Sentou-se a pobre a chorar" — "Triste de mim a chorar" — "Triste coitada a chorar" — "E pôs-se, então, a chorar, a chorar, a chorar."
"Pergunte à senhora viúva / Com quem ela quer se casar" — "Senhora dona viúva..." — "Ó senhora Viúva..." — "Me diz a senhora Viúva" — "Me diza, ó senhora Viúva..." — "Diga, senhora Viúva" — "Agora me diga, senhora Viúva..."
"Tingo-lelê, tingo-lelá..." — "Titingolê, titingolá..." — "Tindo-lelê, tindo-lalá..." — "Tindo-lê, tindo-lá..." — "Tindelê, tindolá..." — "Tiro-lê, tiro-lá..." — "Tingolei, tingolá..." — "Tinholê, tinholá..." — "Gingolê, gingolá..."
"Toca a viola pra nós dançar" — "Toca a viola pra mim dançar" — "Pega a viola pra nós dançar".
Modo de brincar: Forma-se a roda bem larga. No centro, a "Senhora viúva". Começa o coro a cantar até "General, general". Responde a "viúva"; "Eu não quero..." até "ai de mim". Então, todas as crianças, duas a duas, dançam animadamente ao som do festivo e bulhento "Tingolê, tingolá", cantando em andamento mais rápido que o inicial. Em certas variantes nossas, só a "viúva" dança, no meio da roda, com o "Par" que ela escolheu, enquanto o coro entoa o "Tingolê", acompanhado de palmas. Veja-se também a forma de brincar a roda na versão de Conceição da Barra:
As da roda cantam:
Oh, que rochedo tão alto Que ninguém pode alcançar; Sentou-se a pobre viúva, Sentou-se e pôs-se a chorar. Oh, senhora viúva, Com quem quereis se casar: Se é com o filho do conde, Ou com o senhor general? |
A do centro responde:
Não quero nenhum desses moços, Porque eles não são para mim; Eu sou uma pobre viúva, Triste coitada de mim. Morreu meu marido No meio das flores; Acabou-se a alegria, Acabou-se os amores. Eu estava de luto, De luto fechado; Semanas inteiras Eu tenho chorado. Ai, ai, eu vou, Eu vou morrer Em teus lindos braços Eu vou falecer. |
A do centro abraça, então, uma das que formam a roda, e a escolhida ocupará o seu lugar como "viúva".
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Lá vem a Sinhá Marreca Com seu samburá na mão. Ela disse que vem vendendo Padinhas de camarão | bis | | bis | A vel...
Sinhá Marreca
Lá vem a Sinhá Marreca Com seu samburá na mão. Ela disse que vem vendendo Padinhas de camarão |
| bis | | bis | |
A velha saiu da igreja Fazendo o sinal da cruz, Chorando porque não tinha Aquilo que acende a luz. |
| bis | | bis | |
Quem quiser dançar o miudinho Vai na casa de "seu" Chiquinho; Ele pula, ele dança, Ele faz o requebradinho. |
| bis | | bis | |
Cantiga de roda bem antiga em terras capixabas. É considerada roda velha e, por isso mesmo, vai caindo, infelizmente, no esquecimento. Se não surtir efeito a divulgação que este livrinho pretende dar, é possível que, dentro em breve, a "Sinha Marreca" tenha desaparecido totalmente do repertório das nossas rondas infantis.
É conhecida ainda em vários recantos do Estado: Vitória, Cariacica, Linhares, Alfredo Chaves, Manguinhos, Santa Teresa, domingos Martins, Guarapari, Vila de Itapemirim, Acióli e Colatina.
Variantes da 1ª quadra: "Lé vem a dona Marreca", "Ela disse que vende sardinha / Sardinhas e camarão", "Saldinhas e camarão", "Empadinhas de camarão", Sozinha de camarão", "Sozinha ela não vem não".
A velha saiu da igreja Com seu samburá na mão, Chorando porque não tinha Nem padre nem sacristão. Chorando porque não tinha O fosfo pra acendê a luz. |
Da 3ª quadra:
Lá vem o seu Chiquinho Dançando o seu miudinho Ele dança, ele pula, Ele faz seus requebradinhos. Ele toca, ele dança, Ele faz o requebradinho. |
Em certas versões, canta-se em primeiro lugar a 2a quadra. Noutras, intercalam, entre a 1ª e a 2ª, a 3ª quadrinha.
Até agora não vimos referida a "Sinhá Marreca" em nenhuma coletânea ou estudo de rondas infantis. Em Cantigas das crianças e do povo (p. 104), cita-se uma dança intitulada "O miudinho", onde se lê o seguinte verso, idêntico ao da nossa cantiga: "Quem quiser danças o miudinho". A música, porém, nada apresenta que lembre a melodia da "Sinhá Marreca".
Modo de brincar: É roda de fileira. Põem-se as crianças em fila, de mãos dadas, e de frente para a que faz de "Sinhá Marreca". Cantam todas as três quadrinhas da cantiga, enquanto a "Sinhá Marreca" faz, em mímica, tudo o que nos versos se vai dizendo: finge trazer na mão o samburá, faz o sinal da cruz, finge que chora. Por fim, ao iniciarem a 3a quadrinha, dirige-se ela, dançando o miudinho, pulando e se requebrando, até a fileira onde, postando-se em frente a uma das crianças, a escolhe para servir de "Sinhá Marreca". Recomeça-se a roda, até "enjoar". Também se brinca em roda fechada, com a "Sinhá Marreca" no centro.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
— Onde está a Margarida? Olê, olê, olá! Onde está a Margarida? Olê, seus cavalheiros! — Ela está em seu castelo, Olê, olê, olá!...
Onde está a Margarida?
— Onde está a Margarida? Olê, olê, olá! Onde está a Margarida? Olê, seus cavalheiros! — Ela está em seu castelo, Olê, olê, olá! Ela está em seu castelo, Olê, seus cavalheiros! — Mas eu queria vê-la, Olê, olê, olá! Mas eu queria vê-la, Olê, seus cavalheiros! — Mas o muito é muito alto, Olê, olê, olá! Mas o muro é muito alto, Olê, seus cavalheiros! — Vou tirando uma pedra, Olê, olê, olá! Vou tirando uma pedra, Olê, seus cavalheiros! — Uma pedra não faz falta, Olê, olê, olá! Uma pedra não faz falta, Olê, seus cavalheiros! — Vou tirando duas pedras, Olê, olê, olá! Vou tirando duas pedras, Olê, seus cavalheiros! — Duas pedras não faz falta, Olê, olê, olá! Duas pedras não faz falta, Olê, seus cavalheiros! — Vou tirando três pedras... |
É roda relativamente moderna entre nós. Toda ela é dialogada entre o "cavalheiro" e os elementos da roda eu ocultam a "Margarida".
Acerca desta cantiga há referências no livro de José A. Teixeira, Folclore goiano (p. 149). Termina assim a versão da "Margarida" de Goiás:
Tirando uma pedra, Olê, seus cavalheiros, Está descoberta a Margarida, Olê, olê, olá! Está descoberta a Margarida, Olê, seus cavalheiros! |
Não se registra aí a melodia, nem se diz qual o desenvolvimento do brinquedo.
Também nos Estudos de folclore, de Fausto Teixeira (p. 149), há um "Cadê a Margarida", variante mineira, sem registro da melodia. A maneira de brincar (que — parece — está truncada), difere em muitos pontos da nossa.
João Gomes Júnior e João Batista Julião citam, igualmente, a cantiga no seu livrinho Ciranda, cirandinha... (p. 33, n. 41). A letra aí referida assemelha-se à da cantiga capixaba, com pequenas divergências, v.g., o estribilho "O que, o que, o que / o que se vai fazer?" em lugar do nosso "Olê, olê, olá! / Olê, seus cavalheiros!"
Antes de nos referirmos à melodia registrada em Ciranda, cirandinha... torna-se necessário fazer aqui um parêntese. Já afirmamos que nossa preocupação principal na organização desta série de cadernos é seguir o critério da mais rigorosa fidelidade, porque entendemos que só assim poderão ter algum valor os trabalhos dessa natureza. Ora, não podemos duvidar de que tenha sido igualmente fiel o registro feito por João Gomes Júnior e João Batista Julião, no trabalho citado. Nesse pressuposto, a melodia por eles transcrita para esta cantiga revela mais um caso de interpretação de letras e motivos musicais, nas canções de roda que se ouvem pelo interior do país. A letra por eles recolhida assemelha-se, como dissemos, à versão capixaba de "Onde está a Margarida?". A música, porém, é inteiramente diversa. E nem podia deixar de o ser, pois ali vemos, com ligeiras alterações a melodia com que se canta "O pobre peregrino", não somente no Espírito Santo como no Rio de Janeiro (Vamos brincar de roda, p. 100), e certamente em muitos outros lugares.
O fato é deveras curioso e muito nos admira que os autores de Ciranda, cirandinha... não o tenham mencionado, porque é difícil que o ignorassem.
Modo de brincar: Forma-se a roda, bem unida e fechada e, no meio dela, escondida pelas saias das outras crianças, fica a "Margarida", agachada no chão. Do lado de fora o "seu cavalheiro", ou "cavalheiro", circula em torno da roda, a passo.
Começa, então, o diálogo entre o "cavalheiro" e a roda, e, à medida que ele canta "vou tirando uma pedra", puxa uma das crianças e a leva consigo, dando-lhe a mão. Continua a voltear, no mesmo sentido, tirando sempre mais uma "pedra" por estrofe cantada, até que terminem todas as "pedras". Desfeito, assim, o "muro", aparece a "Margarida", que logo se põe de pé e corre atrás das outras crianças, a fim de pegar uma delas. A que for presa irá ser a "Margarida", recomeçando-se a roda na mesma forma descrita.
Em variante de Vitória, logo que o "cavalheiro" tira a última "pedra" e aparece a "Margarida, forma-se, em torno desta, uma roda bem larga, e a "Margarida" vai pulando, cócoras, à frente de cada uma das meninas da roda, até dar uma volta inteira. Enquanto isso, o coro entoa o seguinte versos final:
Apareceu a Margarida, Olê, olê, olá! Apareceu a Margarida, Olê, seus cavalheiros! |
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
Quebra, quebra, Gabiroba, Eu quero ver quebrar; Quebra lá, que eu quebro cá, Eu quero ver quebrar. É o "Quebra, quebra,...
Quebra, quebra, Gabiroba
Quebra, quebra, Gabiroba, Eu quero ver quebrar; Quebra lá, que eu quebro cá, Eu quero ver quebrar. |
É o "Quebra, quebra, Gabiroba" uma das rodas mais alegres e rumorosas do nosso folclore infantil. Muito querida pelas crianças capixabas, não falta ela, em regra, nos folguedos de ronda. Cantam-na muito.
Não encontramos a menor alusão ao "Quebra, quebra, Gabiroba" nos cancioneiros aqui referidos, o que não significa seja desconhecida a cantiga nos outros Estados, tanto que, segundo informação que recebemos do folclorista Théo Brandão, da Subcomissão Alagoana de Folclore, por lá se conhece como marchinha o "Quebra, quebra Gabiraba":
Quebra, quebra Gabiraba Quero ver quebrar; Quebra lá, que eu quebro cá, Quero ver quebrar. Mamãe não quer, Papai fica com raiva, Por ver sua filha moça Dançando a Gabiraba. |
Existe em Campo Grande, município de Cariacica, neste Estado, uma variante que talvez seja a forma primitiva da cantiga. Nela se encontra a Segunda quadra da marchinha de Alagoas, com ligeiras alterações e melodia própria, completamente diversa da que registramos:
Papai não qué, Mamãe fica zangada, De vê a sua filha Requebrando a Gabiroba... |
Essa Segunda quadra não é apreciada na localidade, preferindo-se cantar a roda sem ela, como se faz em toda a parte. Se, porém, forem cantadas as duas partes, o modo de brincar será diferente, como adiante indicamos.
Também no Rio Grande do Norte, conforme nos escreveu o folclorista Veríssimo de Melo, da Subcomissão Norte-rio-grandense de folclore, se conhece um "Quebra, quebra, Guabiraba" como modinha e não como roda infantil.
Localizamos o nosso "Quebra, quebra, Gabiroba", como ronda, em Vitória, Porto de Cariacica, Vila de Itapemirim, Santa Teresa, Alfredo Chaves, Ibiraçu, Linhares, São Mateus e Domingos Martins. Não a ouvimos, porém nos velhos tempos, o que talvez indique sua recente intromissão entre nós.
Em 1929, Plínio de Brito que, na ocasião, pertencia à Rádio Roquette Pinto, escreveu para o Carnaval daquele ano a marcha "Quebra, quebra, Gabiroba, inspirada em tema popular.
Essa composição obteve logo grande sucesso, tendo conseguido manter prestígio nos últimos vinte anos, pois até hoje ainda é ouvida, principalmente no último dia de Carnaval, talvez por associação de idéias com o "quebra-quebra" final que precede o amanhecer da Quarta-feira de cinzas...
Foi gravada pela Colúmbia, com o concurso de Januário de Oliveira e Gaó, sendo possível que esse disco, devido ao título e à letra, tenha contribuído para a fixação relativamente recente dessa roda no Espírito Santo. É preciso notar, entretanto, que os motivos musicais da música da cantiga e da versão de Campo Grande não derivam da famosa marcha.
Modo de brincar: Roda de estribilho. Canta-se este e, depois, cada criança tira, em sua vez, uma trovinha, enquanto o coro entoa, no final de cada verso, "Eu quero ver quebrar..." Assim:
Solo: Atrás de tua passada Meus olhos seguindo vão Como soldado na praça, Atrás do seu capitão. |
Coro: Eu quero ver quebrar Eu quero ver quebrar Eu quero ver quebrar Eu quero ver quebrar |
Em seguida, todas as crianças: "Quebra, quebra , Gabiroba / Eu quero ..."
Na versão de Campo Grande, quando são cantadas as duas partes, a maneira de brincar é a seguinte: faz-se a roda; no centro, uma menina. Todas cantam a primeira quadra e, ao terminá-la, a do meio tira um "par" e com ele dança, ao som de palmas e do "Papai não qué...". Terminado, o par fica no centro e a menina que o havia tirado substitui-o na roda, prosseguindo o brinquedo assim por diante.
[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]
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João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.
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