“[...] a literatura, como toda e qualquer estrutura cognitiva, é um meio de dominarmos nossas angústias, não através do descarte del...
Dois papéis
“[...] a literatura, como toda e qualquer estrutura cognitiva, é um meio de dominarmos nossas angústias, não através do descarte delas, mas por força de outorgarmos uma forma precisa, cor e dimensão, ao que quer que seja que nós mais temamos.” [Harold Bloom] |
Espião-ator,
o seu teatro é fingir
de não fingidor
– o inverso da cena
do bom Terrorista,
cujo ofício maior
é explicitar um boom,
não causa pequena:
bem assim
mesmo quando este não usa
explodir com fúria
em qualquer país
ou paisagem,
ousando outra coisa
(talvez quatro rodas).
Este ainda
busca o aplauso
em forma de medo
de quem ande próximo,
arrancando
ou partindo ao menos
uma perna sua.
Então o outro
(o Ator-espião),
já que oculto,
será invisivelmente
mais numérico no mundo
do que o Terrorista
– existindo como o
não-a-olho-nu
em orientes,
europas e américas.
Em suma, boneca:
se quiser,
o Mordomo até
pode aterrorizar-te,
mas, sendo bom
ou imprevisível
em sua arte dissímula,
espionar nunca.
O homem-sombra
não deve ser ele.
O bomba é que sim,
como tal
fazendo boa figura.
Repetindo:
“O espião janta conosco”.
Jamais, todavia,
servindo o jantar.
De Bloom vai-se ao boom
com cuidado,
pois aqui, ali,
Bagdá
ou Barcelona,
há zonas múltiplas
de corpos sangrando
em que tropeçar.
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Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
Além de mim ninguém mas ao lado – meu Deus! – mais de sete bilhões de almas muitas delas acompanhadas das suas às vezes terríve...
Rap: para os meus pares e eu

Além de mim
ninguém
mas ao lado – meu Deus! – mais de sete bilhões
de almas
muitas delas acompanhadas
das suas às vezes
terríveis divindades.
Questão séria
quando se tem que viver
entre as já perigosíssimas
garras
deste cotidiano ateu
e as de alguma guerra
religiosa.
A que recorrer então
senão aos meus e aos teus
nem sempre rapidíssimos
pés?
Não sei se por tributo ou tripúdio
talvez se deva imaginar
alguma coisa
que soe como um rap trepidante
das pernas.
Existem já
afinal
quase dezesseis bilhões delas.
Que baixem os santos
ou a inspiração do céu dos neurônios
aos dentes cantantes!
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Ao Brasil Lava-Jato, com afeto. Minha laia terá que se conciliar com as outras e estas com ela – fogo mais água ou água mais ...
Laias
Minha laia
terá que se conciliar com as outras
e estas com ela
– fogo
mais água ou
água
mais terra ou ainda
terra
mais céu,
alfa, beta, gama e o resto.
Minha laia
será capaz de não cair
mais na tentação
de entrar em guerra
com as demais alas existentes
e mesmo
as que ela apenas imagina
no palco que tem por norte
o sol
quando o sul é a lua?
Minha laia e as restantes
deverão dividir
um piso único
já sem o peso da ira
sobre os seus ombros.
Até lá
(aleluia!) sobrevivam
as alcateias todas.
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“Sou de Esquerda” – não disse o Direitista. “Sou Direitista” – o de Esquerda não disse. Sandices? Não de verdade. Fascinante o qu...
Ode & Brecht 2
“Sou de Esquerda” –
não disse o Direitista.
“Sou Direitista” –
o de Esquerda não disse.
Sandices?
Não de verdade.
Fascinante
o que não se fala,
lado escuríssimo da lua,
metade
que, em geral,
mais do que se consola,
se escuda
com a outra
(escusa por acaso?)
metade,
quando as duas
juntas apesar de separadas
não se lambuzam.
Mais fascinante ainda
se o de Centro
cala de fato
“Não sou de Centro” –
e assim
vem para a folia também
Sua Excelência
(e Sua Excelentíssima)
a Esquizofrenia.
Em (des)memória,
portanto,
esta penca de versos capengas
não aos três porquinhos
mas aos três portentos
e com justiça
seus capangas variados:
A. H. – J. S. – T. N.
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Que tempos são estes em que uma conversa sob as árvores é mesmo um crime terrível porque não é apenas uma conversa sob as árvores,...
Ode & Brecht
Que tempos são estes em que uma conversa
sob as árvores
é mesmo um crime terrível
porque não é apenas
uma conversa
sob as árvores,
mas uma floresta inteira
mais múltiplas florestas cerradas
em que conversas e folhas
se convertem em verdadeiros bilhões
não de palavras,
porém de cifrões, cifrões?
Que tempos são estes
em que galhos de frases
(“operações estruturadas”)
são verdadeiras fraudes?
“Ora,
amáveis Senhoras e Senhores”
(argumentaria o Sr. Tempo em pessoa),
“a era
que chamam de Agora
saibam do óbvio ou que ela não é
muito diversa das que foram,
os outroras
com suas sanhas, fúrias
e falcatruas variadas, embora as futuras
com seus frutos maduros
ou podres
ainda não estejam sob a minha alçada.
Eu
é que ora pergunto:
também estarão viciadas
as cartas
que amanhã se manipulem
na direita, no centro e na esquerda das mesas?
Nada
em que eu faça uma aposta
(para variar)
é a minha eterna resposta.”
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As Nações Unidas confirmaram [...] que afastaram [...] um de seus funcionários de alto escalão, acusado de ter entregue à Justiça da Fr...
Fatal, banal – ou in memoriam Franz Kafka
As Nações Unidas confirmaram [...] que afastaram [...] um de seus funcionários de alto escalão, acusado de ter entregue à Justiça da França documentos indicando que soldados franceses estupraram garotos em campos de refugiados na República Centro-Africana. [...] Alguns revelaram que foram abusados em troca de comida ou dinheiro. [Jamil Chade (Genebra), O Estado de S. Paulo, 02/05/2015.] |
Não leio jornais
sem que uma ou outra notícia
me deprima.
Muito parecidas
afinal –
ou com ares
de notícias-rima.
Barbáries de sempre,
fatos degradantes,
estranhas violências
ou baixezas
dos que (sim)
são meus semelhantes.
E isto (com certeza
de uma lâmina
nada cega)
vem cortando
na carne do mundo,
já não de ontem.
No Vale dos Vivos
(Vitória, Genebra,
região centro-africana,
qualquer outro cerne),
eu vacilo:
o que falo
apenas decorre
do mundo da carne?
Olho bem nos olhos
das estrelas,
encarando até
o buraco negro
invisível
na rota de leite cósmico
que nos coube:
não encontro
boas rimas
para as nossas faltas
nem as suas faltas
de resposta.
Que a notícia
oriunda da ONU
se evapore
(com mais rapidez
que uma nuvem
ou um óvni)
muito infelizmente
pouco importa.
Amanhã
outras e outras
falarão
com as mesmas
caras tortas:
sim, taras idênticas,
apesar
da enorme variedade
dos seus uniformes.
(Lamento muitíssimo
não ter vindo ao mundo
com um estômago lato
para findar remoendo
os itens: dinheiro
e uso sexeconômico
de alimentos.)
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Eu não vi o mar. Não sei se o mar é de lama. Não sei se ele fede. O mar não me abre portas. Eu vi a propina. A propina, sim. A propi...
Propina
Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é de lama.
Não sei se ele fede.
O mar não me abre portas.
Eu vi a propina.
A propina, sim.
A propina é grande
e legal também.
Na chuva de siglas
da eleição que ocorre,
a propina brilha.
A propina se vale
de todos os partidos.
Eu não vi o mar.
Eu vi a propina...
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João pegava Teresa que pegava Raimundo que pegava Maria que pegava Joaquim que pegava Lili que não pegava ninguém. João foi para o Senado,...
Quadrilha atualizada
João pegava Teresa que pegava Raimundo que pegava Maria que pegava Joaquim que pegava Lili que não pegava ninguém.
João foi para o Senado, Teresa para a Igreja Universal, Raimundo morreu de overdose, Maria ficou com um traficante, Joaquim foi pelos ares em nome do Estado Islâmico e Lili processou J. Pinto Fernandes porque ele mentiu que tinha visto de entrada para os EUA.
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Suck, baby, suck David Bowie Homens da lei (alguns) tentam fazer com que a Constituição e este ou aquele código jurídico aber...
Já que, em 2017, se falou em “suruba” no plano republicano
Homens da lei (alguns)
tentam fazer com que a Constituição
e este ou aquele
código jurídico
abertos a seu bel-prazer
façam boquete com eles,
tudo fluindo liso e doce
como mel.
Curioso:
quando buscam
esse prazer mais do que oral,
usam a boca
(veja)
numa verboralidade,
apesar de caríssima, deveras
sádico-banal.
Escorregam a língua
para lá
se ela deve estar aqui,
para ali
se ela deve lá cantarolar
e assim
ou em tais ocasiões
procuram fazer a lábia deles
salivar bem
a serviço de uns tantos
voyeurvilões,
bons clientes seus
que apreciam gozar apenas
fora
de jaulas.
Homens da lei
que – sim – frequentaram direito
as suas devidas aulas.
Alguns?
Muitos: mulheres legais
(por que não?) também
querem boquete
etc.
e assim
ou em tais ocasiões
procuram fazer a lábia delas
salivar bem
de novo a serviço de uns tantos
voyeurvilões,
iguais clientes bondosos seus
que nunca apreciam gozar
dentro
de jaulas.
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Existe um país onde faz uns bons meses a tortura do tédio inexiste. Que paraíso é este dizer não parece difícil para quem ...
Existe

Existe um país
onde faz uns bons meses
a tortura do tédio inexiste.
Que paraíso é este
dizer não parece difícil
para quem more dentro e fora
das nossas paredes.
*
Aqui mesmo
políticos de empresários,
empresários de políticos
emprestaram uns aos outros
funcionários públicos
em atos bem privados
entre mais desatinos
cifrados em M e B
ou de óbvios milhões e bilhões.
*
Existe um país (insisto)
como tantos países diversos:
neles juízes e polícias
ora fazem jus,
ora não
ao que devem fazer nas paisagens poluídas
que seguimos pisando.
*
Persiste um país
faz muitos meses em transe.
Se isto é bom
ou tremenda cruz-de-Cristo,
veja o quadro inteiro
para marcar o seu Xis.
*
Existe um país
que – sem tortura
confesso –
me leva a sentir saudade
da sensação de tédio,
embora – confesso também
com ternura –
meu novo tesão
não esteja de olhos e lábios abertos
para o tédio antes vigente.
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importantes políticos presos políticos presos importantes presos importantes políticos corruptos ladrões mentirosos mentirosos lad...
Voilà, voulers
importantes políticos presos
políticos presos importantes
presos importantes políticos
corruptos ladrões mentirosos
mentirosos ladrões etc
porém
não rebolemos tanto
porque a matemática é aqui
relativística:
por exemplo dez anos
se contraem para bem menos
do que dez anos
pena
o Conde de Monte Cristo
não ter nascido abaixo desta linha do equa
dor
que não sei qual diabólica tesoura
cortou
em pública inauguração (ou salt
ando
de uma espessa moita
noturna)
ou nenhuma pena
para quem aprecie como eu não
imensos dramas românticos
imerso numa terra
de arretados que tratam círculos
como retas
e retas (eta!) trapézios
de um Grande Circo Mirabolante
pensando melhor
ou ao jeito aguerrido intrépido de Gregório
rebolemos
nas avenidas dos nossos trópicos alegres
onde bem se mata
onde aliás o bem se mata
e democraticamente
o mal também
quantas vezes um quantas o outro
não tenho ótima visão
para dizer
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[...] Meto-lhe a pena goela adentro. E solitariamente, pouco a pouco, Do bojo tiro a pena, rasa em tinta... Alphonsus de Guimarães...
Décadas depois
[...] Meto-lhe a pena goela adentro. E solitariamente, pouco a pouco, Do bojo tiro a pena, rasa em tinta... Alphonsus de Guimarães (Kiriale) |
O autor entra no poema
com o seu desespero noturno
e um tinteiro
em formato de cabeça de corvo.
No corvo-tinteiro
Alphonsus mergulha a pena
e logo elabora
as estrofes trêmulas de um louco,
embora combinando bons decassílabos
com versos hexassilábicos
sem perder o senso de simetria.
A pena
não nos decepciona na sua arte:
é instrumento de trabalho,
dor
e parte sutil do pássaro
cheio de tinta e silêncio
de que nasceu “A cabeça do corvo” de Kiriale.
Isto em melancolias de 1902.
Um século e treze anos após
(soma muito sombria)
o tempo seria de mouses,
teclados,
erros humanos lucrativos,
mais do que pena,
pânico,
terror ecológico:
um 2015 macabro, marcado
não por esqueletos, imagens de cemitério,
mas por uma Mariana mineira
coberta de barro venenoso,
veneno barrento
invadindo outras cidades,
rios e mares indefesos, fedor industrial
para o qual não há tinta
poética suficiente.
Tampouco o símbolo do corvo
parece soar com ju$tiça
ou agouro apropriado
em nosso agora de desatinos coletivos.
2
Eia,
Samarco!
Teu nome inspirante
já andava contido
nos fonemas amargos da palavra
Sarcasmo.
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Os homens fazem a guerra E as mulheres fazem renda [Gregório de Matos] Ande eu na Síria ou me dane em praça diversa do pla...
Ideias
Os homens fazem a guerra
E as mulheres fazem renda
[Gregório de Matos]
|
Ande eu na Síria
ou me dane
em praça diversa do planeta
ou mesmo nade
onde quer que águas ondulem,
ideias me tomam
e isto
é uma possessão demoníaca,
mas sem demos de enxofre,
chifres,
ossos e carnes que possam morder
a minha vista.
Em roças ou raças,
ideias nos tomam: agora
isto é
uma dominação
bem democrática
em que há potencial para matanças
sempre em nome de bens
e males
mais do que apenas
pessoais
(as muitas humanias só
idiossincráticas).
Ideias capturam aldeias,
idem
com bairros, cidades, até
Sumérias inteiras
de neurônios
dentro de todas as cabeças
assim como
quilômetros e quilômetros
de demências
com terras, águas, ares, circun
stâncias.
Ideias tomam bastilhas,
aspirinas
e mesmo tomam banhos
mais o que couber no verbo
e ainda o que não for
do seu tamanho.
Com as suas cabeleiras
ou carecas,
ideias não tomam apenas:
além
de deixar hematomas,
matam,
sendo uma vez
cogumelos de fogo
e na véspera
desesperados kamikases.
O mais estranho
porém: ideias
também fazem pazes.
2
Em Sírias não ardam vocês
nem eu repise
um dia as minhas várias
Brasílias
sem estar ao menos algumas horas
bem desperto e livre
de ideias.
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Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
Mal não fará se sabidos, se diletantes puderem me dizer reto ou torto: significa o que esse verbo vistoso repudiar? O empresário ...
Repudiar
Mal não fará se sabidos,
se diletantes
puderem me dizer
reto ou torto: significa o que
esse verbo vistoso
repudiar?
O empresário acusado
de corrupção,
acuado,
conjuga: Eu repudio!
Acusado
de corrupção, o ex-jogador,
acuado,
olha de través
e conjuga correndo: Eu repudio!!
Acuado,
o ministro acusado
de corrupção,
bem menos educado
do que nervoso,
conjuga: Eu repudio!!!
Outro político
acu(s)ado
etc.
& etc.
& mais etc.
& ainda etc.
conjuga: Eu repudio!!!!
Parece um verbo
delicioso.
Talvez até o meu poodle
(aquele que – juro! – foi só
um presentinho)
dê cinco latidos: Eu re-pu-di-o!!!!!
Ou nada disso
nas pontas da língua...
Repudiar
será sentir um ódio secreto
ou
anticopernirrepublicano
pelo mundo girando
em torno do sol
e sem torta à mão
jogar pudim
no nariz dos outros?
Pudesse
algum repudiador
muito ajuizado,
arrependido ou não,
esclarecer tal verbículo
agora lunático.
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© 2016 Estação Capixaba - Todos os direitos ao autor. A reprodução de qualquer item sem prévia consulta e autorização configura violação à lei de direitos autorais e aos serviços de preparação para publicação.
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O popstar encenou num leito a sua própria (ainda que não imediata) morte. Ou melhor: assinou com a Própria um pacto com d...
David Bowie: 10/01/2016
Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)
Lino Machado chegou ao mundo em 1957, no Rio de Janeiro. Filho de pais portugueses, há alguns anos trabalha no Departamento de Línguas e ...
Lino Machado - Biobibliografia
Lino Machado chegou ao mundo em 1957, no Rio de Janeiro. Filho de pais portugueses, há alguns anos trabalha no Departamento de Línguas e Letras da UFES, tanto na Graduação quanto na Pós. Antes, havia batalhado no ensino secundário, em escolas públicas do seu Estado de origem.
O essencial da sua formação foi feito na Faculdade de Letras da UFRJ. Primeiro, graduou-se em Português-Literaturas (1979); depois, vieram o Mestrado e o Doutorado: versando a respeito da prosa do poeta de Orpheu, defendeu a dissertação Teatro e ficção em Mário de Sá-Carneiro (1988), seguida pela tese Consigo e contra si: Mário de Sá-Carneiro (1996), na qual procurou tratar em conjunto da produção do escritor.
Formando-se ao longo dos anos datados acima, explica-se, ao menos em parte, a atração de LM pela teorização de alguns autores quer do estruturalismo, quer do pós-estruturalismo. Não é preciso frisar que teóricos e críticos de tendências bastante diversas igualmente podem impressioná-lo.
Quanto a artigos, ensaios, comunicações e conferências, ou seja, textos seus mais curtos, o primeiro destes saiu em 1988 — para a sua alegria — na revista Colóquio/Letras n. 102, focalizando o romance português Amadeo, de Mário Cláudio. O trabalho mais ambicioso que redigiu, entretanto, resultou de um pós-doutorado, efetuado no Instituto de Letras da UFF (1998). Tal pesquisa ganhou formato de livro, trazendo como título As palavras e as cores: Guernica (e mais) na caligrafia de Carlos de Oliveira (Vitória: CEG-EDUFES, 1999).
Faz um bom tempo o seu campo de estudo privilegiado (mas não único) é o das relações entre a literatura (sobretudo a poesia) e as demais artes (principalmente as visuais), discutidas com o aparato conceitual da semiótica de Charles Sanders Peirce.
Embora a prosa narrativa e a dramática lhe interessem muitíssimo, a poesia é a modalidade artística que mais o atrai. Atrai-o, também, a leitura de textos de filosofia, quer os da vertente mais “logicista”, quer os da mais “literária”, o que, algumas vezes, se denuncia nos seus textos, de maior ou de menor fôlego.
A frase predileta de L. M. foi escrita por Jorge Luis Borges: uma que afirma não ser a simplicidade um dos atributos do universo.
DADOS (NÃO VICIADOS): Ex-carioca, Lino Machado nasceu em 1957. Desde 1993, trabalha na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Bom ou ruim, já possui um corpus de publicações literárias, o qual, em expansão, vem deixando de ser esguio, como manda o figurino anoréxico dos nossos dias:
“Meus & de mais” (poemas), folheto individual (Vitória, 2002);
“Quatro cadências” (poemas), em Instantâneo: fermento literário (Vitória, Secult, 2005);
“(Pseudo)glosas marginais ao cancioneiro medieval” (poemas, apesar do título!), na revista Floema (Vitória da Conquista, UESB, ano V, n. 5., jul./dez. 2009);
Várias composições líricas no site www.estacaocapixaba.com.br;
“Seis epígrafes & algumas gafes” (poemas), em Prêmio Ufes de literatura (Vitória, Edufes, 2010);
Sob uma capa (volume de poesia: Vitória, Secult, 2010);
“5 poemas quânticos precedidos por 7 estrofes pouco simples” (sem necessidade de comentários), em II prêmio Ufes de literatura (Vitória, Edufes, 2024);
Entre dois vetores (Vitória, Secult, 2014);
Canônimo (terceiro volume de poesia: ainda no Notebook do autor);
“Atrator(es)” (poemas), em III prêmio Ufes de literatura (em preparo).
Agora vale: lavei o vulcão que me coube neste Brasil mesmo depois de pôr em temperatura mais alta o meu pólo sul. Sustento (suspeito...
Rascunho de acordo pré-nupcial
Agora vale:
lavei o vulcão que me coube
neste Brasil mesmo
depois de pôr em temperatura mais alta
o meu pólo sul.
Sustento
(suspeito) hoje estar
em tropicais pratos limpos.
Espero o país
opine ao menos parecido
com isto
sobre a minha figura
mais par do que ímpar
ou já não tão polarizadora,
embora não de todo
(raios ultravioletas)
solar.
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Coisa curiosa: a poesia que a burguesia pede é mesmo a prosa. [publicado originalmente no site em 2004] Lino Mach...
Cazuza II: Sem (mais) retorno
[publicado originalmente no site em 2004]
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"Trago boas novas: eu vi a cara da morte e ela estava viva." "Brasil, mostra a tua cara. Quero ve...
Cazuza, a vida, o filme, e o que continuar a vir
[publicado originalmente no site em 2004]
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Sejamos toscos? Não. Ou sejamos mesmo todos toscos de costa a costa, não só do nosso continente, mas em cada canto em que houver ...
Duais
Sejamos toscos?
Não.
Ou sejamos mesmo
todos toscos
de costa a costa,
não só
do nosso continente,
mas em cada canto em que houver
uma casca de terra.
Podemos até
ser toscos salgados –
os mares estando ao alcance
dos nossos possíveis cascos.
Ou nada disso:
todos sejamos
(digo)
bem rápido a nata.
Bem, se não rápido,
aos poucos,
aos poucos –
e, se não todos,
muitos,
muitíssimos,
suando a camisa,
sujando-a até,
sejamos a nata.
Aqui,
nas cidades tensas,
febris,
nos mais densos matagais.
2
Ou apenas conseguimos
ser natoscos,
tosnatas,
embora com enorme sucesso?
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Mais Lidos
Recentes
Mais Lidos
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O povo, por simpatia ou temor por fanatismo, devoção ou sei lá o que, costuma atribuir a certos santos da corte celestial, poderes miraculo...
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Venda de Karl Bullerjahn, em Santa Maria de Jetibá. [In WERNICKE, Hugo. Viagem pelas colônias alemãs do Espírito Santo . Vitória: Arquivo...
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1. Nova Trento. — 2. Núcleo Timbuí na colônia de Santa Leopoldina. — 3. Núcleo Santa Cruz (Ibiraçu). — 4. Epidemia de febre amarela. — 5....
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(para visualizar o sumário completo do texto clique aqui ) Capítulo II – As colônias de alemães 1. O território [ 1 ] O povoame...
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ou Narração dos mais espantosos e extraordinários milagres de Nossa Senhora da Penha, venerada na Província do Espírito Santo, e em to...
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Situado entre a Bahia (ao norte), o Estado do Rio (ao sul), Minas Gerais (a oeste) e o Atlântico (a leste), possui o Espírito Santo variado...
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Vitória, 1860. Foto de Jean Victor Frond. Autor: Inácio Acióli de Vasconcelos Edição de Texto, Estudo e Notas: Fernando Achiamé...
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Nota ao título [ 1 ] Seguiu-se aqui, com pequenas variações, a versão do Jardim poético , conforme transcrita no Panorama das letras capi...
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Vasco Fernandes Coutinho (pai) veio como fidalgo da Corte Portuguesa. Era ele um herói lusitano, senhor dos mares e bravo soldado do Rei na...